Capitulo 6 - Uma decisão
arriscada.
A fuga da família real portuguesa
para o Brasil representou o início de uma nova era para a colônia que viu se
pela primeira vez em igualdade de posições com a metrópole portuguesa.
Dom João apesar de ser um indeciso
nato, foi o único monarca que conseguiu enganar a Napoleão Bonaparte, jogando
com os dois lados e sabendo escapar poucos momentos antes de perder sua coroa.
Esse monarca merece um lugar
melhor na nossa memória do que simplesmente: aquela imagem de um gordo e bobo
rei que adorava alguns franguinhos.
Nessa aventura do Paradoxo teremos
uma participação deste que foi o primeiro imperador a descer para nossa bela
terra, espero que todos apreciem esta narrativa e boa leitura.
Em Novembro de 1808 a cidade de
Lisboa vivia um verdadeiro alvoroço, as pessoas estavam com medo e divididas
entre ingleses e franceses.
Napoleão tinha decretado o
bloqueio comercial aos ingleses e o pequeno Portugal era o único país na Europa
que teimava em não seguir essa recomendação, afrontando assim o império francês
que já tinha tirado de seus reinos diversas das casas monárquicas mais fortes
da história.
O imperador francês vinha fazendo
ameaças constantemente a Portugal e logo a situação se tornou insustentável,
foi nesse contexto que cheguei a bela cidade que há alguns séculos atrás era
uma jóia da Europa, mas que com o passar do tempo, acabou se estagnando sob uma
falta de mudanças que pouco a pouco tornou a capital de onde partiam e chegavam
diversas idéias num mero entreposto comercial que era apenas ponto de parada
para os produtos que chegavam das colônias diretamente para a Inglaterra.
Caminhei pela cidade e pude sentir
o cheiro do medo, forte e ruim nas pessoas, além da sujeira que dominava por
todos os lados, era um cheiro tão podre que para me refugiar e esperar
novamente o portal que me levaria para outros lugares. Decidi entrar pela
primeira porta que me viesse a frente, quando dei na biblioteca nacional e fui
logo entrando para ficar longe de todo aquele fedor que o ar trazia para as
ruas.
Lá dentro fiquei sentado lendo
algumas boas obras, como os Lusíadas de Camões e relembrando os fatos que o
livro descrevia naquelas páginas antigas e bem cuidadas pelos trabalhadores ali
daquele local.
Enquanto me deliciava com o prazer
de uma boa leitura pude escutar o que se passava no reino naquele momento em
conversas dos funcionários e de alguns ministros reais que usavam aquele lugar
para realizar algumas conversas mais privativas, dada a descrição de todos ali
dentro, fiquei profundamente interessado na forma como eles descreviam o rei
que estava no comando: Os funcionários diziam ser ele um bom homem que se
preocupava com o povo, os ministros do lado francês e inglês divergiam de
opiniões chamando ora de muito indeciso, ora de pender para o lado de seus
rivais, resolvi então sair dali, não sem antes molhar um pano que encontrei ali
que servia para limpar os livros com um pouco de água de cheiro e enrolar no
nariz como os vaqueiros faziam no oeste americano, decidi ir ver pessoalmente
aquela figura, antes do dia acabar e eu ir para outro lugar.
Vagando pela cidade rumo ao palácio
vi muita gente caminhando pelas ruas sem saber para onde ir, a situação era catastrófica
e a vida da cidade parecia sentir isso em seu âmago. Ao chegar ao palácio,
fiquei impressionado da quantidade de religiosos que ali estavam, era como
estar num mosteiro, por todos os lados o rei se cercava de padres e monges num
ambiente fechado e pesado que contrastasse com a personalidade vacilante de um
regente totalmente confuso frente a vários papéis que demandavam sua visão e
decisão.
Ao ver aquele homem tão
desesperado frente a dois lados que exigiam sua posição me doeu o coração e
resolvi intervir, parei o tempo e me apresentei a ele, ao ver a mim, pensou que
eu era o demônio que tanto ouvia falar na fala dos padres durante as missas,
com o susto acabou por cair de sua cadeira e eu o ajudei a se levantar, o que
pareceu lhe dar coragem para perder o medo a meu respeito:
- Quem és tu? Horrível criatura, tu
vieste das profundezas do mais baixo inferno para lá me levar? E por que todo
mundo está parado como se o tempo tivesse parado de bater? Por um acaso estou
eu morto?
- Não sou nenhum demônio e suas
perguntas podem ser resolvidas com somente a informação de que sou eu o Tempo e
vim para lhe dar um conselho: Faça aquilo que se coração lhe mandar e mesmo que
fores fracassado, terá sempre o prazer de ter feito aquilo que lhe foi mais
certo.
- Mas como irei eu saber o que
quero? Os problemas do reino me pesam como o céu, não sou um monarca preparado para
governar essa nação, mal sei governar minhas próprias idéias que dirá a um
reino.
- Que tuas decisões sejam justas ao
teu próprio olhar, para que quando fores confrontado com teus atos no dia
final, tenha coragem de aceitar qualquer destino que o criador a ti designar,
faça isso e já estará bem avançado na arte governar a teu povo.
Desfiz a parada temporal e sai
deixando um atônito governante que entendeu seu papel e decidiu qual seria o
caminho a tomar, logo no inicio da noite que já banhava as praias do Tejo com
as luzes do luar. Sai daquele palácio e fui até o mar, olhar com saudade para
aquele mesmo lugar onde séculos antes eu tinha visto a partida da esquadra de
Cabral e Vasco da Gama, lembrando com saudade daqueles grandes homens e
pensando sobre como por vezes a responsabilidade de governar era um fardo
pesado para quem não foi preparado para ela.
Dom João decidiu que iria
atravessar o oceano para escapar de Napoleão, nascia assim um dos primeiros
atos rumo ao país que hoje conhecemos como Brasil.
Tenham um bom dia, fiquem com Deus e nós vemos na próxima aventura do Paradoxo.
Tenham um bom dia, fiquem com Deus e nós vemos na próxima aventura do Paradoxo.