domingo, 27 de julho de 2014

A saga do Paraíso: Entrando em Shangri - La



Um paraíso
Minha jornada pelo tempo acabou por me levar por vários períodos históricos, conheci diversos personagens importantes na história humana, meus poderes me permitem ficar somente um dia em cada lugar, num eterno viajar que me deixava feliz até que eu conheci um lugar muito especial: Shangri-la.
O portal me deixou ao amanhecer numa pequena cabana usada por alpinistas no meio do caminho para o cume do Himalaia, eu tentei abrir a porta para sair, mas a neve estava muito alta, tentei abrir um portal para sair dali, porém meus poderes não funcionavam, quando uma tempestade de neve se abateu sobre aquele improvisado abrigo e acabou por destruir ele e eu fui jogado no meio da nevasca, desacordado, parecia que o destino tinha preparado tudo para que ali fosse meu trágico fim, quando uma mão me salvou e foi me carregando para dentro de uma caverna.
Minha mente estava tonta, porém pude divisar que adentrava por uma série de túneis feitos e esculpidos, muito tempo, talvez antes mesmo dos seres humanos dominarem todo o mundo. Não sei quanto tempo passei desacordado, quando voltei a mim totalmente já deveriam ter se passado quase duas semanas, algo de errado deveria estar acontecendo.
Eu não poderia estar mais ali, quando recobrei os sentidos minhas roupas estavam mudadas, eu agora vestia uma túnica negra com capuz, me levantei da cama onde estava e sai por uma porta, para o que me pareceu ser uma vila chinesa muito antiga, onde pessoas de diversas etnias e tempos pareciam conviver pacificamente.
Por incrível que pareça todo mundo ali, parecia me ver normalmente, os homens me saudavam com um aceno de cabeça simples, as crianças corriam em volta de mim, os mais velhos pareciam olhar admirados para mim. Era como se todo mundo ali me conhecesse, porém eu nunca tinha visto aquelas pessoas, porém gostei de não ver olhares de nojo para minha aparência, nem ninguém me chamando de demônio simplesmente por eu aparecer para ele.
Tentei teletransportar me para algum lugar mais alto, no entanto não consegui, era como se ali meus poderes não funcionassem, era como se aquele lugar não tivesse um tempo próprio, vivendo a margem de toda a história. Confesso que fiquei um pouco decepcionado, pois pela primeira vez depois de muito tempo eu era normal, um ser humano com alterações biológicas que não precisava mais viajar por todas as eras.
Senti-me de férias e voltei para minha cama para descansar, quando me deu fome e uma espécie de serviçal trajado em uma roupa com fios de ouro veio até a mim trazendo frutas e uma jarra de água tão limpa que matou completamente minha sede. Confesso que nem conversei com ele e só depois de saciado dei por sua presença e agradeci lhe pela comida:
- Obrigado eu realmente estava com muita fome, qual é seu nome rapaz?
- Liu Xang, meu mestre, manda lhe chamar para vir ao palácio durante a noite para poder conversar com o senhor, aceitas a proposta?
- Claro meu rapaz, se eu ainda estiver aqui ao anoitecer, por que meus poderes me forçam a viajar pelo tempo.
Ele me olhou com um sorriso nos lábios e disse: - andarilho do tempo, tua jornada aqui não é necessária, pois onde tu estás não há morte, nem dor, nem tempo. Aqui o relógio não anda, o que é vivo não morre e a alegria da eternidade dura para todo sempre.
Após me dizer essas palavras ele saiu pela porta e me deixou espantado, mas ao mesmo tempo feliz como nunca antes eu fiquei em minha vida.
Fui até uma estante ao meu lado e vi diversos livros organizados, autores antigos como Sun tzu estavam lado a lado com autores modernos como Darwin e Freud e resolvi pegar alguns dos livros para passar o tempo, quando acabei perdendo a hora e quando dei por mim já tinha terminado a leitura de quase duas dezenas de livros, vagando entre teorias biológicas, filosofia, história e vários tratados de ciências exatas, acabei viajando e relembrando várias cenas que eu mesmo pude ver acontecendo, mas fui retirado da minha viagem quando um grupo de soldados juntamente com o serviçal que tinha vindo a minha casa pela manhã trazia a mim roupas para que me banhasse e fosse até a presença do mestre.
Peguei as peças de roupa e fui até o banheiro, onde rapidamente me lavei da viagem, numa peça que através de um vapor aquecia a água que caia por um pedaço de bambu numa espécie de chuveiro, um invento admirável para a falta de tecnologia que parecia haver ali.
Sai do banho e fui seguindo pelas ruas pavimentadas com pequenos desenhos em mosaico numa profusão de cores e numa limpeza que parecia até brilharem, no caminho pude perceber que todos caminhavam atrás de mim com a cabeça baixa e um olhar sério, no entanto não pensei se tratar de nada mais importante e segui pelo caminho que o criado desse tal mestre ia me apontando e fui passando por diversas ruas e conhecendo lugares interessantes, não me atrevi a perguntar muito por medo de estar sendo indelicado com aquele que tão gentilmente me hospedava.
Depois de muito caminhar, chegamos a um prédio grande, um castelo antigo com uma muralha onde diversos sentinelas faziam uma patrulha e ao olhar para aquela imponência fiquei imaginando quem teria feito tudo aquilo enquanto me aproximava dos portões.

Continua no próximo episódio...

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...