Um paraíso
Minha jornada pelo tempo acabou
por me levar por vários períodos históricos, conheci diversos personagens
importantes na história humana, meus poderes me permitem ficar somente um dia
em cada lugar, num eterno viajar que me deixava feliz até que eu conheci um lugar
muito especial: Shangri-la.
O portal me deixou ao amanhecer numa pequena cabana usada por alpinistas
no meio do caminho para o cume do Himalaia, eu tentei abrir a porta para sair,
mas a neve estava muito alta, tentei abrir um portal para sair dali, porém meus
poderes não funcionavam, quando uma tempestade de neve se abateu sobre aquele
improvisado abrigo e acabou por destruir ele e eu fui jogado no meio da nevasca,
desacordado, parecia que o destino tinha preparado tudo para que ali fosse meu trágico
fim, quando uma mão me salvou e foi me carregando para dentro de uma caverna.
Minha mente estava tonta, porém pude divisar que adentrava por uma série
de túneis feitos e esculpidos, muito tempo, talvez antes mesmo dos seres
humanos dominarem todo o mundo. Não sei quanto tempo passei desacordado, quando
voltei a mim totalmente já deveriam ter se passado quase duas semanas, algo de
errado deveria estar acontecendo.
Eu não poderia estar mais ali, quando recobrei os sentidos minhas roupas
estavam mudadas, eu agora vestia uma túnica negra com capuz, me levantei da
cama onde estava e sai por uma porta, para o que me pareceu ser uma vila
chinesa muito antiga, onde pessoas de diversas etnias e tempos pareciam
conviver pacificamente.
Por incrível que pareça todo mundo ali, parecia me ver normalmente, os
homens me saudavam com um aceno de cabeça simples, as crianças corriam em volta
de mim, os mais velhos pareciam olhar admirados para mim. Era como se todo
mundo ali me conhecesse, porém eu nunca tinha visto aquelas pessoas, porém
gostei de não ver olhares de nojo para minha aparência, nem ninguém me chamando
de demônio simplesmente por eu aparecer para ele.
Tentei teletransportar me para algum lugar mais alto, no entanto não
consegui, era como se ali meus poderes não funcionassem, era como se aquele
lugar não tivesse um tempo próprio, vivendo a margem de toda a história.
Confesso que fiquei um pouco decepcionado, pois pela primeira vez depois de
muito tempo eu era normal, um ser humano com alterações biológicas que não
precisava mais viajar por todas as eras.
Senti-me de férias e voltei para minha cama para descansar, quando me deu
fome e uma espécie de serviçal trajado em uma roupa com fios de ouro veio até a
mim trazendo frutas e uma jarra de água tão limpa que matou completamente minha
sede. Confesso que nem conversei com ele e só depois de saciado dei por sua
presença e agradeci lhe pela comida:
- Obrigado eu realmente estava com muita fome, qual é seu nome rapaz?
- Liu Xang, meu mestre, manda lhe chamar para vir ao palácio durante a noite para poder conversar com o senhor, aceitas a proposta?
- Obrigado eu realmente estava com muita fome, qual é seu nome rapaz?
- Liu Xang, meu mestre, manda lhe chamar para vir ao palácio durante a noite para poder conversar com o senhor, aceitas a proposta?
- Claro meu rapaz, se eu ainda estiver aqui ao anoitecer, por que meus
poderes me forçam a viajar pelo tempo.
Ele me olhou com um sorriso nos lábios e disse: - andarilho do tempo, tua
jornada aqui não é necessária, pois onde tu estás não há morte, nem dor, nem
tempo. Aqui o relógio não anda, o que é vivo não morre e a alegria da
eternidade dura para todo sempre.
Após me dizer essas palavras ele saiu pela porta e me deixou espantado,
mas ao mesmo tempo feliz como nunca antes eu fiquei em minha vida.
Fui até uma estante ao meu lado e vi diversos livros organizados, autores
antigos como Sun tzu estavam lado a lado com autores modernos como Darwin e
Freud e resolvi pegar alguns dos livros para passar o tempo, quando acabei
perdendo a hora e quando dei por mim já tinha terminado a leitura de quase duas
dezenas de livros, vagando entre teorias biológicas, filosofia, história e
vários tratados de ciências exatas, acabei viajando e relembrando várias cenas
que eu mesmo pude ver acontecendo, mas fui retirado da minha viagem quando um
grupo de soldados juntamente com o serviçal que tinha vindo a minha casa pela
manhã trazia a mim roupas para que me banhasse e fosse até a presença do mestre.
Peguei as peças de roupa e fui até o banheiro, onde rapidamente me lavei
da viagem, numa peça que através de um vapor aquecia a água que caia por um
pedaço de bambu numa espécie de chuveiro, um invento admirável para a falta de
tecnologia que parecia haver ali.
Sai do banho e fui seguindo pelas ruas pavimentadas com pequenos desenhos
em mosaico numa profusão de cores e numa limpeza que parecia até brilharem, no
caminho pude perceber que todos caminhavam atrás de mim com a cabeça baixa e um
olhar sério, no entanto não pensei se tratar de nada mais importante e segui
pelo caminho que o criado desse tal mestre ia me apontando e fui passando por
diversas ruas e conhecendo lugares interessantes, não me atrevi a perguntar
muito por medo de estar sendo indelicado com aquele que tão gentilmente me
hospedava.
Depois de muito caminhar, chegamos a um prédio grande, um castelo antigo
com uma muralha onde diversos sentinelas faziam uma patrulha e ao olhar para
aquela imponência fiquei imaginando quem teria feito tudo aquilo enquanto me
aproximava dos portões.
Continua no próximo episódio...
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