terça-feira, 5 de maio de 2015

Magia e morte.

Num crime onde o ciúme foi a causa, todos os detalhes parecem ser desencontrados, mas esse desencontro é somente uma falsa imagem que todo investigador precisa solucionar, as pistas vão nos dando a real cena, até que por fim conseguimos montar o real quebra - cabeças e descobrir o assassino, mas o que fazer quando todas as pistas levam a sujeitos diferentes?

Maria era uma jovem livre, que tinha saído de um  relacionamento sério a pouco tempo e gostava de dançar, ia a boates e namorava um por noite, suas amigas nos depoimentos costumavam relatar que ela sempre ficava com quem quisesse, tinha um charme todo especial e sabia levar na conversa qualquer homem.
Mas ela tinha uma personalidade volúvel que logo queria novidades e muitos ex - namorados dela já a ameaçaram para tentar voltar, algumas até relataram que um senhor de idade com quem ela namorou tinha se matado, mas nada foi provado ao abrirmos o caso novamente, apenas abriu mais uma possibilidade.
A jovem tinha sido morta as cinco da manhã da segunda feira, seu celular e todos seus pertences estavam ao seu lado e segundo o que conseguimos recompor das histórias, naquela noite ela reencontrou de uma só vez, mais de três ex namorados em uma boate e saiu de lá apressada depois que eles começaram a brigar por sua causa devido ao excesso de coragem.
Uma amiga relatou que ela saiu caminhando e não aceitou carona, disse que tinha que passar ainda em um lugar antes de voltar para casa.
Ela foi encontrada morta, suas mãos estavam amarradas em uma parede de cimento, ao seu lado vários símbolos rituais foram encontrados, seus itens foram encontrados ao lado do corpo, não havia sinais de luta, o corpo estava nu e a pele tinha sido retirada nos braços e pernas de modo que nessas regiões os músculos e tendões apareciam, contudo não havia sofrido violência sexual e seu rosto estava intacto.
Quem faz esse relato é o Inspetor Tavares e o faço para não me esquecer desse caso e também para provar que toda essa história é real e eu não estou louco ou sonhando, não espero que quem ler essas linhas concorde com tudo que vou dizer, mas posso dizer que cada palavra está nos autos de um longo processo que não deu em nada, além do meu afastamento temporário das ruas.
Entrei no caso por que era meu plantão e ao ver aqueles sinais perto do corpo numa construção deserta no centro antigo, me vi reparando nas expressões do rosto e ao contrário de outros corpos, o rosto dela não denotava nada era como se ela tivesse sido torturada sem sentir nada, somente sua pele tinha algo de estranho, ela tinha morrido há poucas horas, mas estava branca, completamente alva, até brilhava sob a luz da lua.
Quando a equipe dos legistas e da polícia científica chegaram eu fui procurar testemunhas, câmeras e detalhes fora da cena do crime, e numa lata de lixo encontrei os pedaços de pele da jovem arrancados com uma precisão cirúrgica e uma mandala que dias depois descobri, ela recebeu pelo correio de um endereço no Nepal, acionei a interpol que semanas depois me relatou que aquele lugar era um templo para a deusa Kali e que ali ninguém disse nada sobre terem mandado uma relíquia daquelas para o Brasil, quanto ao significado do objeto, disseram em um email se tratar de uma proteção contra necromantes.
_ Necromantes?
_ Sim, magos que lidam com os segredos da vida  e da morte
_ Não acredito em magia.
_ Mas deveria a julgar pelo caso.
Foi assim a única conversa que tive com Larcroide, um policial da Interpol que atuava na região do Nepal e que recebeu os dados por mim enviados para aquela agência.
Fiquei com aquilo na cabeça e resolvi perguntar em um lugar que eu sabia ter alguém que conhecesse aqueles símbolos.
Havia na cidade uma loja de artefatos místicos, seu dono era um antigo mágico de circo e estudante de história da magia, seu nome era Pierre, era um senhor de idade avançada que fumava bastante, além de coxear da perna devido a uma bala recebida durante o assalto.
Fui até a loja dele disposto a encontrar respostas, mas encontrei o lugar completamente revirado, alguém tinha invadido o local e revirado tudo, encontrei ele desmaiado nos fundos da loja, seus olhos tinham sido arrancados e vazavam sangue pelos buracos deixados, chamei o socorro e logo a cidade ficou toda abalada, a imprensa noticiava mortes rituais e faziam milhões de conjecturas.
O senhor Pierre por sorte perdeu a visão mas sobreviveu e dois dias depois tive a oportunidade de conversar com ele. A princípio ficou com medo de falar comigo, sua filha, Cassandra estava ao seu lado, mas após dizer que eu precisava dele somente para definir o que eram umas marcas místicas ele aceitou e a filha pegou as fotos que eu tirei e foi detalhando cada detalhe que via nelas ao pé do ouvido dele.
Ele se sentou na cama e com um profundo terror na voz disse me:
_ Você está diante de magia antiga, os símbolos são da tradição necromante advinda da antiga Enoque, provavelmente estás lidando com um místico muito poderoso, por que o ritual que ele fez arrancou a alma dessa jovem que consta nas fotos, arrancou a essência dela para poder voltar a ser jovem.
_ Existem necromantes que já viveram muitos anos usando essa técnica da absorção das almas dos outros, sempre jovens, até que acabaram se confrontando com forças maiores.
_ Obrigado pela ajuda! Teria esse necromante sido o responsável pelo ataque a sua loja?
_ Não sei dizer, fui pego de surpresa, minha filha ainda não teve tempo de arrumar os estoques, mas fico feliz que tenha se preocupado.
Enquanto eu saia recebi um bipe da delegacia, tinham encontrado vários corpos de jovens em uma fazenda no sul da cidade.
Fui enviado para lá, por que tinham as mesmas marcas que eu estava enfrentando. Ao chegar no lugar o cheiro de podridão era intenso.
Ao que parece um grupo de jovens assaltou um caminhão da necrópsia de uma cidade vizinha e usou os corpos dos cadáveres para fazer alguma espécie de ritual místico, eram as mesmas marcas realizadas na primeira cena de crime, as palavras do mágico no hospital com as órbitas vazias tinha entrado na minha cabeça, e uma dúvida começava a martelar meu cérebro, será que aqueles garotos não tinham trazido para a Terra algum espírito, ou monstro?
Foram encontrados diversos livros e logo foi encontrado uma queixa do pessoal de Santo Antônio que tinha perdido um caminhão do IML de lá, os corpos foram reconhecidos como um grupo de primos daquela cidade, aficionados por magia e conhecimentos afins.
Eram todos filhos do Coronel Hermelindo, um homem que tinha dinheiro e loucura para dar e vender, tinha desaparecido anos atrás e afirmava ter ido para o espaço, dar palestras sobre sucesso, na verdade essa fuga serviu para que escapasse de um mandado de busca e apreensão, permitindo que seu advogado pudesse tira - lo de uma ida para a cadeia.
Os jovens estavam mutilados e seus corpos estavam lívidos, com uma brancura completa, mas um detalhe a mais chamava a atenção, os corpos estavam vazios de todos os orgãos internos e ossos, eram meras cascas de músculos, pele e tendões.
Confesso que depois de ver as condições onde aqueles garotos estavam, resolvi ir a igreja, e no caminho tive uma experiência, meu carro foi envolvido na entrada da cidade por uma barreira mística que me levou a outra dimensão, onde meu carro foi destruído e eu fui envolvido em uma barreira de energia que foi me levando flutuando em todo o trajeto até uma espécie de castelo.
Tempos depois soube que eu estava no antigo templo a morte dos pré - diluvianos, mas naquele momento eu estava perdido de medo e só rezava mesmo sem muita convicção para que não acabasse morrendo, mas instantes depois eu estava diante de uma espécie de tribunal e as almas dos mortos estavam perante o julgamento e um homem vestindo uma capa, chegou até mim e tocou minha cabeça e no mesmo instante numa espécie de telão e depois disso as almas daqueles jovens foram devoradas diante dos meus olhos pelo homem de capa que se tornou jovem novamente e me expulsou de seu reino.
Eu fui a testemunha de acusação perante o júri, quando acordei estava a beira da estrada, entrei em crise de pânico, por que do meu lado estava o homem vestindo uma túnica negra que me ajudou a levantar e se foi.
De algum modo eu sabia ser ele o culpado, mas a loucura tomou conta da minha mente e sai correndo gritando e esbravejando que o fim estava próximo, passei meses assim, até que ataquei um pastor que me chamou de louco e acabei sendo forçado a me tratar.
Fiquei um bom tempo internado, completamente em crise, mas consegui recuperar a sanidade, por meio de remédios, terapia e de um forte princípio que tive em querer me salvar pelos meus filhos que são tudo para mim.
Termino esse relato desejando muito que o mundo saiba pelo que passei e que alguém ao ler essas linhas tente deter aquele homem, que ainda hoje me causa pesadelos.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...