quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A saga de Urso Justo (Histórias publicadas até agora)

A mensagem.

O rei mandou seu filho servir como mensageiro há um reino muito,‭ ‬muito distante‭! ‬O rapaz sempre fora para ele um belo problema e queria lhe matar para acabar com isso de uma vez e poder passar o trono para seu irmão caçula.

No entanto nem sempre o plano da certo e a armadilha que fora feita contra o mensageiro no caminho acabou resultando na morte de seus dois filhos,‭ ‬o que tinha partido e o outro que liderava o ataque,‭ ‬foram vitimados pelas mãos de um druida que era conhecido popularmente como:‭ ‬Urso Justo.

Movido pelo ódio e pela culpa o rei junta cinco mil de seus melhores homens deixando o reino quase desguarnecido e vai em busca daquele que segundo fez passar a mensagem ao povo,‭ ‬foi o assassino de seus príncipes.

Eles encontraram a cabana no alto de uma rocha conhecida como pico da tempestade,‭ ‬o lugar pertencia a ele mas no entanto estava vazio,‭ ‬foi dada a ordem para vasculhar tudo ao redor,‭ ‬no entanto os soldados demoraram muito a voltar e foi mandado que outros soldados fossem atrás dos primeiros mas estes também demoraram e assim se seguiu até que o rei ficou sozinho na cabana,‭ ‬com o medo aturdindo todos os seus sentidos,‭ ‬quase como se visse a morte em cada sombra que a luz de uma vela num canto projetava,‭ ‬a luminosidade ia descendo,‭ ‬descendo até que num determinado momento ele estava sozinho na escuridão,‭ ‬lá fora começou a chover e pode ouvir seu cavalo partindo com medo após um raio cair bem próximo a sua cabeça.

O rei caiu ao chão chorando e perguntando:‭ ‬Por que‭? ‬Por que‭? ‬O que tinha feito para aquilo estar acontecendo‭?

Quando esse pensamento passa lhe pela cabeça eis que surge um urso bem na porta da cabana,‭ ‬seus gritos são aterradores,‭ ‬mas pouco a pouco vão se transformando em sons humanos,‭ ‬Urso Justo era um transformo‭! ‬O rei parte para cima dele que desvia do ataque como se aquilo fosse feito por uma criança,‭ ‬puxa o braço dele e aponta as cabeças de seus filhos e fala com um sotaque de fera‭!

_ ‬Eu sei que você iria matar aquele para dar o reino ao seu preferido,‭ ‬no entanto,‭ ‬vi seu futuro rei‭! ‬Quando ficasse mais velho,‭ ‬teu primogênito te mataria,‭ ‬trancaria tua esposa no porão do castelo até que ela ficasse louca ou morresse pela fome e usaria dos teus bens que tanto lutaste para ter em prol dos prazeres da carne,‭ ‬gastando tudo em um banho de luxúria e álcool que deixaria até mesmo aos mais imorais com ânsia de vomito,‭ ‬enquanto seu povo estaria massacrado pela mão do rei,‭ ‬servindo como gado para o abate.

‭_ ‬Conversei com o destino e era esse seu fim,‭ ‬mas eu mudei tudo‭! ‬Agora você não tem filhos,‭ ‬não tem família,‭ ‬não tem reino,‭ ‬pois os bárbaros do norte nesse momento atacam suas muralhas e sem esses homens logo você irá perecer‭!

O rei cai em prantos,‭ ‬sua espada jaz longe,‭ ‬seu braço quebrado pelas mãos daquela fera e de algum modo aquelas palavras eram verdade,‭ ‬ele podia senti‭ – ‬las no seu coração,‭ ‬tudo estava acabado.

‭_ ‬Me mate então‭! ‬Acabe com isso de uma vez‭! ‬Gritou com o pouco fôlego que lhe restava‭!

_ Não sou eu que vai te matar,‭ ‬vi seu destino e te contei tudo isso por que você vai se apoiando assim que eu sumir até lá embaixo encontrará seu cavalo e vai se matar do alto da estrada olhando seu reino arder em chamas‭! ‬Você vai ver seu fim rei‭! ‬Ou passará o resto dos dias,‭ ‬agindo como um louco sendo chutado da porta das tabernas por falar obscenidades aos fregueses,‭ ‬dizendo isso desapareceu nas sombras da noite,‭ ‬deixando o rei ali com tanto remorso no coração que ao se levantar e pegar a espada fez algo que nunca tinha pensado,‭ ‬virou a ponta contra seu coração e num golpe só com toda a força cravou a lâmina em seu peito,‭ ‬o corpo caiu na terra banhando a com mais sangue naquela noite.

E dez dias depois os bárbaros realmente atacaram o reino e pilharam tudo quanto podiam,‭ ‬nesse meio tempo alguns mercadores encontraram os crânios de toda a tropa,‭ ‬incluindo o rei e seus dois filhos estendidos e unidos em torno de uma cabana no alto do pico da tempestade e desde então ninguém vai lá‭!
_ ‬Essa é a lenda do rei suicida e do fim do reino da Passagem.‭ ‬Agora vá deitar John,‭ ‬eu tenho que entregar uma mensagem para o rei amanhã e sua mãe não quer você faltando nas aulas de tiro com arco novamente,‭ ‬certo‭?
_ Tudo bem pai,‭ ‬e se virou para o canto indo dormir,‭ ‬quem sabe no que ele vagou durante seus sonhos‭? ‬Quem sabe quando ele irá contar essa história para seu filho‭? ‬Quantas questões o tempo trás‭!


Uma taberna no meio do caminho‭!

_ Tudo bem John‭! ‬Vou lhe contar outra história sobre o Urso Justo,‭ ‬mas só se você jantar e for dormir sem causar problemas tudo bem‭?
_ Certo papai‭!
E naquela noite,‭ ‬o garoto não causou nenhum problema para ir dormir,‭ ‬ficou esperando seu pai ir até seu quarto e começar mais uma das histórias que tinha aprendido no papel de escriba e mensageiro do rei.

Seu pai chegou uma hora depois e começou a história que tinha ouvido ser contar por um dos participantes desta:‭ ‬Um senhor com mais de sessenta anos,‭ ‬que administrava uma taverna‭  ‬que ficava próximo ao forte da Dor,‭ ‬seu estabelecimento marcava que ainda faltava um dia para se chegar a capital e quatro para chegar a fortaleza.

O lugar é cercado pela floresta,‭ ‬seus parentes nunca cortaram uma árvore na extensão da propriedade e as paredes são cheias de ervas e ramos que crescem por todos os lados.‭ ‬Dormir ali era como estar descansando a céu aberto com a desvantagem de não poder olhar as nuvens,‭ ‬mas com um caldo quente e secreto que quando ingerido parecia deixar mesmo aos desesperados com um sorriso no rosto.

Essa história começa com um velho sentado em sua lareira,‭ ‬lendo um livro muito antigo sobre plantas,‭ ‬um pergaminho antigo que para muitos não valia muita coisa,‭ ‬mas para ele era um valoroso achado.‭ ‬Eu era naquela época um aprendiz de mensageiro e estava preocupado com o caminho até o forte,‭ ‬onde era necessário avisar ao comandante que um grupo de cavaleiros necromantes estava chegando ao vale em breve.

Aquela noite eu não conseguia dormir,‭ ‬ao fechar os olhos via somente a morte saindo de cada lado da estrada,‭ ‬uma morte com manto preto e foice tal como as histórias contam.‭ ‬Cheguei para perto dele e fiquei ali parado diante do fogo,‭ ‬com tanto medo que nenhum pensamento meu parecia ser bom.

O velho me tirou dos meus pensamentos,‭ ‬era tarde e ele era quem administrava o lugar,‭ ‬seu nome é Senijac,‭ ‬um nome estranho,‭ ‬mas segundo ele me falou naquela noite,‭ ‬significa sabedoria da terra no lugar onde ele havia nascido.

Ele se levantou com dificuldade e me chamou para irmos a cozinha,‭ ‬por que um chá na noite tem poderes que nenhum médico é capaz de entender.‭ ‬Segui‭ – ‬o afinal precisava de uma companhia e naquela noite eu ouvi pela primeira vez falar do Druida Urso Justo,‭ ‬bebi o chá enquanto ele me contava sobre esse grande personagem do nosso povo que tão poucos parecem se importar‭!

A história que vou te contar foi aquela que ele me disse naquela noite...

Urso justo nasceu há muito,‭ ‬muito tempo atrás,‭ ‬numa época que os homens ao nascer vinham com dons de acordo com os deuses a quem seu povo servia.‭ ‬Era uma época muito antiga,‭ ‬onde o poder da magia era forte e o mundo ainda era jovem.

Todas crianças eram levadas ao oráculo no topo do monte conhecido como Salvação e lá passavam duas noites enquanto os profetas viam o futuro da criança e lhe abriam os dons em sua mente,‭ ‬e assim foi feito com aquele garoto,‭ ‬mas ao contrário das outras crianças,‭ ‬ele não ficou ali em meio a festa,‭ ‬quando olharam para ele todos os profetas antigos choraram,‭ ‬e se ajoelharam perante ele.

Eles virão o fim que aquela criança traria para os povos das tribos,‭ ‬ele seria o mais sábio,‭ ‬forte e leal druida e ganharia a imortalidade que todos os homens sonham,‭ ‬mas isso irá lhe custar caro‭! ‬Nunca será aceito entre meio as pessoas,‭ ‬viverá na solidão até secar no seu coração toda a humanidade e ele assumir a forma de uma fera todo o tempo.

O líder da tribo sabendo da profecia,‭ ‬tirou a criança no meio do ritual naquela noite e o levou para uma caverna onde sabiam que uma ursa muito violenta ali morava,‭ ‬uma ursa que já tinha matado vários guerreiros por simplesmente se aproximar do seu lugar de repouso.

Saiu contente pensando ter se livrado do mal,‭ ‬mas o destino é um senhor com uma ironia muito sutil e o animal feroz era na verdade a Deusa da natureza,‭ ‬que defendia seu templo na forma de uma ursa e ao ver aquele pequeno embrulho jogado no meio da lama se comoveu daquela pequena forma e o levou para dentro,‭ ‬ela voltou a forma humana e o levou para dentro,‭ ‬onde ficava um antigo lago,‭ ‬o pequeno foi alimentado em seu seio e cresceu forte,‭ ‬peludo e sábio,‭ ‬aos quatro anos conhecia mais sobre as plantas e os animais que muito mago da floresta aprenderia por toda a vida.

A deusa se apegou a ele a tal ponto que lhe concedeu um banho nas águas de seu lago,‭ ‬lhe dando imortalidade frente a qualquer arma feita de produtos da terra,‭ ‬dos céus e do ar.‭ ‬No solstício de verão,‭ ‬quando o garoto tinha cinco anos,‭ ‬ela foi até o templo dos antigos meditar e confraternizar com seus irmãos,‭ ‬deixando o a cuidar do lago.

Naquele dia os humanos estavam medindo forças entre si para ver quem seria o novo líder,‭ ‬ninguém mais falava sobre o garoto maldito e foram os maiores guerreiros tentar invadir aquela caverna,‭ ‬matar a ursa e voltar como líder por toda a vida.

No entanto eles não esperavam encontrar um garotinho ali e não esperavam que esse ao ser agarrado por eles falou algumas palavras numa língua antiga e os musgos que cresciam na entrada da caverna criaram braços e os tinham prendido e nem mesmo que naquele instante os lobos saiam da caverna e pularam em suas gargantas,‭ ‬um deles conseguiu lutar e escapou contando a história toda para a tribo‭!

Mas eles não tiveram chance,‭ ‬o garoto não sabia quem eram aqueles humanos e liderou a natureza contra sua pequena tribo,‭ ‬as raízes das árvores destruirão suas muralhas e os animais ferozes comeram as entranhas daqueles agressores que tentaram invadir o lugar sagrado de sua mãe.

Na sua fúria ele veio montado em um urso,‭ ‬mas foi atingido por seu pai munido de um arco,‭ ‬pouco antes do agressor acabar servindo como comida para um urso que saiu da floresta.

A flecha era envenenada magicamente e causava dores profundas,‭ ‬o disparo varou ele e se fixou na parede,‭ ‬as árvores e os animais se reuniram num clamor que trouxe sua mãe de volta ao plano dos mortais e vendo aquele mal,‭ ‬chorou e daquele dia em diante passamos a ter inverno,‭ ‬pois por ordem dos deuses ele não podia mais estar ao seu lado,‭ ‬tendo de viver em meio aos humanos,‭ ‬a sua imortalidade o salvou,‭ ‬mas passou a estar sempre com o coração em chamas numa dor que atualmente chamamos de depressão.‭ ‬O garoto se levantou dois dias depois e viu que ao seu redor tudo parecia o proteger.

Vagou pelos bosques até chegar no pico da tempestade onde entrou em contato com um necromante que iria sacrificar uma menina que nasceu com os cabelos brancos,‭ ‬vendo aquele homem fazer mal a um inocente ele usou a magia mais poderosa que um druida tem acesso,‭ ‬a fusão animal‭! ‬Ele sacrifica sua energia em troca de se tornar um animal,‭ ‬ele escolheu se tornar um urso e o mago maligno viu pela primeira vez ele se tornar um urso,‭ ‬tentou lembrar se de algo contra aquilo,‭ ‬mas não estava usando seu cajado,‭ ‬a garota desmaiou ao ver um urso do nada aparecer no exato instante e num tapa jogar o seu corpo lá de cima.

Um dos problemas de se tornar um animal é que você não controla seus poderes e ao ver a garota,‭ ‬os seus instintos lhe deram um abraço final que partiu os ossos do seu pequeno tórax,‭ ‬no entanto aquela criança tinha um poder muito cobiçado,‭ ‬um dom que lhe tornava valiosa e mortal,‭ ‬ela podia ver a hora da morte de qualquer um e tinha sido profetizado que no momento de sua morte,‭ ‬um imortal iria cumprir sua trajetória e assim se fez,‭ ‬o poder dela passou para ele que ainda na forma de urso viu a morte de tudo até onde sua vista alcança,‭ ‬um poder que o atormentaria por séculos...

Ao olhar para o garoto ao seu lado deitado numa cama feita de palhas,‭ ‬viu que ele dormia pesado e só então também percebeu que seu corpo todo estava dormente,‭ ‬era hora de dormir,‭ ‬amanhã a noite teria muito que fazer,‭ ‬outra hora terminaria essa história,‭ ‬saiu e foi para sua cama deitar‭!


Indo em busca da fonte das histórias‭


O mensageiro do rei fora designado para ir a um antigo templo,‭ ‬um oráculo perdido nas terras ao sul e de algum modo tinham sido atacados naquelas terras inóspitas somente um dos cavaleiros que fazia a escolta da comitiva tinha voltado.

O pai de John era o mensageiro,‭ ‬não se soube notícia dele,‭ ‬as histórias de Urso Justo tinham acabado e o garoto tinha ficado cada dia pior,‭ ‬sua mãe parecia não ser capaz de controlar o desejo do menino de partir em busca do pai,‭ ‬de alguma notícia sobre o que tinha acontecido.

Mesmo colocando o sob forte vigilância,‭ ‬o garoto conseguiu fugir carregando seu pequeno arco e alguns mantimentos e roupas,‭ ‬escapou da cidade rumo ao sul,‭ ‬seguia tomando por base a trilha que ia para a capital do reino,‭ ‬fazendo um caminho paralelo e se escondendo dos guerreiros que tinham sido mandados em sua procura.‭

‬Seu pai era um arqueiro e tinha lhe ensinado a esconder seus passos enquanto estava na floresta e ele tinha aprendido bem a lição,‭ ‬ninguém o tinha encontrado,‭ ‬ele comia pequenas caças que abatia pela floresta tomando cuidado para não entrar em confronto contra nenhum animal grande.

Sua maior preocupação era seu pai,‭ ‬nas últimas semanas tinha conseguido roubar de um livro na escola,‭ ‬pedaço a pedaço um mapa do reino que tinha dentro de sua mochila colado com cuidado em um pedaço de couro enrolado,‭ ‬era por meio daquele mapa que ele se movimentava.

Seu desejo de chegar até seu pai era maior do que tudo,‭ ‬mas não superava a sede e naquela manhã do quarto dia,‭ ‬ele estava sedento e depois de muito caminhar seu corpo começava a se deixar dominar pelo cansaço até que ouviu um som de um pequeno ribeiro de águas,‭ ‬rapidamente checou no mapa,‭ ‬mas ninguém tinha marcado nada na posição onde ele se encontrava e não havia nada ali que retratasse aquela nascente,‭ ‬morrendo de sede e com a inocência de uma criança pura,‭ ‬ele seguiu os sons e acabou atravessando a barreira entre o mundo real e o espiritual.

O garoto saiu cada vez mais da rota até chegar no ribeiro,‭ ‬no entanto aquelas águas eram do rio dos mortos,‭ ‬alguma criatura que viva estiver e dela beber no mesmo instante é envenenada,‭ ‬seu corpo apodrece até que ela cai na água e de lá não mais sai.

Quando ia levar suas mãos para beber,‭ ‬uma voz como um grasnado lhe fala:‭
_ ‬Ta maluco‭? ‬Humano idiota,‭ ‬não sabe que beber dessa água traz a morte‭! ‬Sai já daí‭!
O garoto parou um instante,‭ ‬apurou os sentidos e disparou uma flecha de onde tinha ouvido o som,‭ ‬afinal aquilo que disse essas palavras não era humano,‭ ‬e não merecia viver‭!

Quando sai atrás de cima de uma arvore um pequeno goblin,‭ ‬com dentes protuberantes e corpo verde todo baixinho‭! ‬Era uma criatura idiota que boa parte do tempo falava palavrão e comia peixes,‭ ‬não do rio dos mortos,‭ ‬mas de todos os outros da região,‭ ‬ele era mal como todos da sua raça,‭ ‬mas ele tinha algo de melhor que eles num ponto:‭ ‬Era o único goblin de todas as aldeias que sabia ler e escrever na língua dos humanos.‭ ‬Tinha roubado os materiais que os tutores usavam para ensinar as crianças bem nascidas numa vila do outro lado da barreira que o rio fazia entre os humanos e a magia.

Isso lhe dava algum respeito entre os goblins e fazia com que ele tivesse algum apreço pelos humanos,‭ ‬afinal eles lhe garantiam uma boa vida,‭ ‬com poucas aventuras e morte.‭ ‬Ele era tratado pelo rei como um intelectual,‭ ‬alguém que precisava pensar sobre o reino,‭ ‬nas regras e tudo mais e isso lhe permitia o privilégio de não participar das lutas.‭ ‬Que era algo muito apreciado e naquela manhã enquanto voltava de uma de suas incursões em busca de livros numa vila próxima,‭ ‬viu o garoto.‭

O nome daquela criatura é feio de se pronunciar na língua dele,‭ ‬mas caso os leitores queiram saber no idioma humano é algo como peido de velho na floresta fedida.

Ele apareceu atrás do garoto com o chapéu varado pela flecha,‭ ‬era um gorro de lenhador pontudo que agora tinha um adereço a mais,‭ ‬lógico que ele não iria falar para todos que tinha sido atacado por um mini‭ – ‬humano que fedia a fraldas e que era tão estúpido ao ponto de atravessar a barreira para beber a água do rio dos mortos
‭ _ ‬O que é você‭? ‬O garoto perguntou,‭ ‬puxando outra flecha na aljava e apontando para a cara do monstro,‭ ‬no entanto algo o fez parar,‭ ‬aquele gorro era dos mensageiros do rei,‭ ‬talvez a criatura soubesse o que acontecerá a seu pai.
‭_ ‬O que eu sou filhote de humano‭! ‬Eu sou um goblin,‭ ‬uma criatura maligna que é retratada nos contos como um ser muito imbecil,‭ ‬o que considero um verdadeiro ultraje ao meu povo,‭ ‬que apesar de não ter lá muita cultura,‭ ‬não é nenhum pouco estúpido e já consegue entender que uma roda é redonda.

O garoto ficou parado olhando para ele e depois riu muito,‭ ‬era muito estranho ver um monstro falar daquele jeito,‭ ‬defendendo goblins como se estes fossem algo bastante inteligente,‭ ‬era hilário,‭ ‬mas passado o surto de risadas retomou uma postura mais séria e usando todas palavras que conheciam,‭ ‬que não eram muitas conseguiu falar a seguinte pergunta:‭
_‬Como você conseguiu esse chapéu‭? ‬Ele faz parte do uniforme dos mensageiros do rei,‭ ‬poderia me dizer como o conseguiu‭?

O goblin parou,‭ ‬ficou olhando para aquela estranha criaturinha que a pouco zombara dele e agora vinha lhe pedindo um favor,‭ ‬tentava analisar se aquele menino não seria meio humano,‭ ‬meio goblin,‭ ‬afinal ele parecia tanto com os idiotas de sua aldeia que faziam piadas até mesmo do vento que soprava em volta de suas tocas,‭ ‬mas depois se lembrou que os humanos eram iguais ao seu povo em matéria de idiotice e muito poucos sabiam que a floresta tem seus segredos.‭ ‬O garoto pensou que ele tinha morrido,‭ ‬mas num instante ele saiu de seus pensamentos com a cabeça fervendo e respondeu:‭
_ ‬Um humano passou por aqui,‭ ‬ia em direção ao pico da tempestade pedir ajuda a Urso Justo,‭ ‬frente um perigo que a terra dos humanos corre,‭ ‬um perigo que ameaça destruir todos os dois mundos.


O perigo real se aproxima

_ Que perigo é esse que fez você até fechar os olhos de medo? Perguntou o garoto começando a ficar atemorizado só pela forma como aquela criatura tinha falado sobre essa tal ameaça!
_ Melhor você não saber, garoto! o terror que essa ameaça traz pode ser demais para sua cabecinha de filhote!
Se quiser um lugar quente para enfrentar a noite que está chegando e alguma comida e bebida melhor que essa que você iria tomar me siga, vou te levar para os elfos, fica só algumas horas daqui, ou o filhotinho de humano com flechas é fraco?
E ao fazer essa pergunta saiu rindo e correndo, o garoto sentindo se ofendido foi atrás dele com o arco armado, correndo rumo ao sul, seguindo por caminhos estreitos e esguios até que chegaram em uma ponte.
Para sorte do garoto, uma patrulha de arqueiros passava por ali e interceptou aquela cena, prendendo o goblin pela camisa eles rapidamente o imobilizaram.
O garoto perdeu a trilha da criatura, ficou parado analisando o chão para ver algum sinal de pegada quando surgiu na frente dele a bela Nargin, uma arqueira de longos cabelos negros e que tinha nos olhos a magia do povo antigo capaz de encantar qualquer um que para ela olhasse com o coração puro e sem maldade.
Sem dizer uma palavra, o garoto passou a segui - la com obediência, o grupo de elfos estava cansado demais para dar explicações e o garoto quando acordado da magia seria grato por tudo aquilo, afinal tinha sido salvo de virar um banquete para o rei trapaceiro gordão, senhor da tribo goblin que vivia próximo dali.
Seria algo interessante saber a história daquele garoto antes de levar ele para sua casa de volta, Nargin ficou pensando sobre o quanto os humanos estavam atravessando a fronteira, primeiro aquele grupo de cavaleiros atravessou a para tentar chegar ao pico da tempestade, mas acabaram cercados pelos orcs e somente um entre eles tinha sobrevivido, escapando correndo por entre meio as árvores e sendo salvo, mas isso já tinha algumas semanas e o rei ao saber da história dele tinha enviado o junto com um comboio para chegar até Urso Justo, no entanto ninguém tinha tido notícias dele ou de sua comitiva elfica que escoltava o.
Essa ausência de notícias fazia o coração da bela Nargin arder pois entre os membros daquela missão estavam seu amado Krasniel e seu pai Enduror e não saber nada sobre os dois era algo que tornava essas missões de patrulha um verdadeiro martírio para ela.
O garoto caiu no sono quando chegou na cidade de Nercotari, uma fortaleza - cidade que vivia cercada por muralhas e magia, ele foi levado até uma pequena hospedagem onde o rei abrigava seus hospédes, todos queriam saber sua história e estavam felizes daquele pequeno e indefeso humano ter sido salvo do goblin, este por sua vez acabou parando numa muralha fedida e úmida abaixo da muralha onde a chuva e o sol o castigavam diretamente, era um castigo deverás cruel para qualquer criatura, ainda mais que naquele lugar a solidão era completa não havia guardas e somente pequenos seres mágicos entregavam a comida duas vezes por dia e estar sozinho por tempos consideráveis causa a loucura mais rápido que um disparo de flecha.

O conforto e a masmorra .

Acordar na cidade dos elfos era como estar em um paraíso, certa vez ele tinha ido ao templo e tinha visto um sacerdote falar sobre como era a vida após a morte, a descrição batia realmente com o que ele estava vivenciando ali naquele momento.
A hospedagem era simples para o padrão dos elfos, tinha sido construída em mármore das minas dos gnomos, as camas eram feitas por magia com o entrelace de plantas e musgos extremamente macios que quando apertados soltam um aroma que causa bem estar, relaxa e cura pequenas feridas.
O garoto estava maravilhado com a mobília do quarto que falava com ele a todo momento, um sino lhe perguntava se queria comer algo, um armário se queria roupas, tudo ali era vivo por magia. Uma maravilha que nunca sonhará! Estava tão maravilhado que se esquecerá do goblin completamente.
Este por sua vez amaldiçoava o garoto e dizia a si mesmo que deveria ter deixado aquela pequena peste azarada morrer!
_ Que bebesse água do rio dos mortos! Há se pudesse voltar atrás e torcer aquele pescocinho e entregar para o rei aquele frango! Se remoendo de ódio a criatura falava baixo, sabia que tudo o que se passava naquele lugar era vigiado pelos psiônicos acima deles.
A chuva não parava de cair e as gotas feriam como agulhas na carne da criatura, que padecia por ter sido bondosa para com aquela peste.
_ Por que tenho de ser bom com humanos? Por que não consigo matar esse bando de idiotas como todos os meus sempre fizeram? e soltou um grito, estava cansado demais e se deitou num catre sujo que fedia a orc, provavelmente algum daqueles idiotas bárbaros tinha estado ali e acabado como todos os criminosos que caem nas mãos dos elfos, torturado mentalmente até que o cérebro se desligasse por excesso de dor e o coração parasse pela pressão exercida pelos poderosos carrascos do rei, os elfos com habilidades telecinéticas tão grandes que alguns diziam poder até mesmo prever o que aconteceria no futuro.
Semanas se passaram, o goblin ficou preso sofrendo e o garoto recebendo o melhor tratamento que aquela cidade poderia dar, o por que disso ninguém sabia explicar muito bem, a bondade do rei para com aquele filhote de humano extrapolava os limites do bom senso, todos na cidade comentavam e logo isso chegou aos ouvidos do rei, pois não havia segredo que se guardasse na mente ou no coração que logo não fosse do conhecimento de todos ali.
_ Se eles soubessem que eu mandei o pai desse garoto quase para a morte, junto com cinco guerreiros mais do que valorosos entenderiam minha benevolência, entenderiam que ao olhar na mente dele e ver a vontade de procurar o pai, o amor que sente por este eu sinto uma maldita culpa que me corroi o coração!
E mandou que o serviçal saísse dali e não dissesse nada a ninguém, que trouxesse o garoto a sua presença, junto com aquele pequeno monstrengo, precisava falar as palavras que tinha escutado para os dois, precisava lhes dar a verdade sobre o futuro, mas não seria aquilo pesado demais para a mente de uma criança? Teria ele força para saber tudo o quanto precisava?
Enquanto isso no pico da tempestade, um velho com o peso de milênios nos ombros saia de sua caverna pela primeira vez neste século, o escolhido para assumir os poderes estava chegando para vê - lo, assim que a esperança se acabasse!

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...