terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Um porco paranoico.



Meu nome é Marcos Paulo, e eu escrevo simplesmente para lhes narrar como acabei sendo responsável por trazer ao nosso mundo um personagem dos quadrinhos. Um suíno baixinho de pele rosada que anda por ai de barba e bigodes, é um tipo que parece um mendigo, fede e fala muito palavrão e que tem uma única missão na vida: Matar o coelho da páscoa e como ele é um desenho animado e não pode ser ferido, então já imaginaram a encrenca que será.
Para quem gostava de ver desenhos antigos, onde os animais trocavam tiros, se explodiam e jogavam o planeta de cabeça para baixo deve imaginar o tamanho da encrenca que minha ação trouxe para o mundo.
O leitor no entanto deve estar se perguntando como eu pude fazer isso? Como eu consegui quebrar as regras da física e da química? Tudo é culpa de uma cigana, que me vendeu um lápis que ela dizia ser mágico, paguei 30 reais para ela que saiu rindo da minha cara, enquanto eu fiquei com aquela sensação de que tinha sido feito de trouxa.
Gosto de desenhar, apesar de ser péssimo desenhista e nesse dia apontei meu novo lápis e comecei a rabiscar um personagem, não tinha nada na cabeça então fui montando os traços de qualquer jeito e escrevendo algumas características da personagem, como se não tivesse mais nada para fazer, acabou saindo um porco paranoico, viciado em pimenta malagueta, depravado com um inimigo bizarro.
Ele odeia o coelho da páscoa e acredita que as galinhas são vítimas do sádico coelhinho por isso põe ovos de chocolate, após terem seus corpos violados por ele.
Eu estava com sono e fui escrevendo toda sorte de referências bizarras que eu podia me lembrar, até que deixei cair o papel de lado e fui dormir.
Já passava das quatro da manhã e quando eu acordei no outro dia tinha um porco pequeno, com uma barba curta e olhos vazios, quase dementes. Vestindo um sobretudo castanho bem sujo, estava me perguntando onde estava o coelho da páscoa.
Eu acordei assustado, pulei da cama, derrubando ele para um canto, procurava o papel e o lápis, mas nenhum dos dois estava mais lá, até que vi o porquinho terminando de roer o lápis e depois soltar um brutal arroto.
Minha cabeça estava estourando, não sabia mais o que fazer. Tinha trazido ao mundo um personagem de desenhos com uma série de defeitos, nem de longe pensava que o tal lápis da cigana era real e fiquei por alguns minutos parado, olhando tudo em volta. Quando vi o porquinho saindo pela janela, e pulando o portão.
Ele foi até um cachorro grande que passava e mudou de roupa magicamente, se tornou um cowboy e saiu esporeando o cão, que louco de dor corria em círculos tentando se livrar daquela criatura.
Notei no entanto que ninguém além de mim estava vendo aquela cena, todos passavam e apenas mencionavam o fato do cachorro ter ficado louco.
Até que uma criança, não deveria ter mais de quatro anos e perguntou para sua avó: O porquinho está batendo no cachorro por que? A velha muito rispidamente puxou o menino sem entender o que ele estava perguntando e saiu com uma cara azeda.
Vendo que aquela situação poderia gerar confusão, eu corri até a geladeira e peguei um vidro de pimenta e apontei para ele, veio no mesmo instante quase magnetizado e pegou o vidro e o abriu e foi bebendo quase que com conta gotas, dando gemidos de prazer a cada gota que caía em sua língua quase como se tivesse extasiado, depois de beber o vidro todo em trinta minutos caiu no sono e dormiu por três dias e quando acordou parecia um bêbado, bateu na minha cara e pediu para que eu acordasse.
Acorda seu babaca, preciso saber onde é o banheiro?”
Ali na porta do lado, apontei e voltei a dormir, enquanto ele sentava no sanitário e cantava uma canção chorosa enquanto gemia fortemente, minha mãe gritava comigo para sair rápido do banho, sem entender que eu continuava dormindo longamente.
Me acordou novamente e perguntou o que tinha para comer, eu mandei ele se virar e preparar alguma coisa. Como me arrependi de ter feito isso após, ver como ele fizera um verdadeiro banquete, tinha feito macarronada, pizza, lasanha, carne assada no forno, arroz a grega, galinhada.
Quando senti o cheiro da comida, acordei espantado e olhei a geladeira, por sorte ele não tinha acabado com a comida.
Vendo meu espanto, ele riu e tirou do bolso um cartão onde se lia: Tudo o que você quiser.
Minha mãe acordou comigo comendo juntamente com ele, e tive de inventar uma longa série de mentiras para explicar, como eu que cozinho pouco, tinha preparado um verdadeiro banquete medieval.
O porquinho ria da minha cara, baixinho e eu fui ficando estressado, até ao ponto de gaguejar e começar a passar mal.
Quando minha mãe terminou de comer e foi ao banheiro peguei aquela bolinha de pelos e lancei na parede, fez um barulho tremendo, e eu fingi ter batido meu joelho na parede.
Olhei para ele com uma cara fechada e ele desapareceu, sumiu. Pensei que tinha terminado meu tormento. Mas não tive tanta sorte, na manhã seguinte ele reapareceu com uma caixa de chocolates, um pacote de batatas fritas e um macaco numa jaula para mim e um cartaz feito toscamente em cartolina que dizia, “Me desculpa, papai”.
Suspirei desalentado, tudo bem eu te perdoo, disse com voz cansada e uma tristeza aparente, ele no mesmo instante fez estourar trinta caixas de foguetes e soprou uma corneta.
Rapidamente eu fiz um gesto para que ele se calasse e entrando na mente dele, sussurrei ao seu ouvido: “ O coelho da páscoa pode te ouvir e mandar as galinhas te matarem, fique quietinho e não faça tanto barulho”.
Ele apenas acenou com a cabeça e saiu correndo por todo o quintal, procurando galinhas e coelhos e depois de alguns segundos, voltou vestido com um macacão do exército, com o rosto camuflado e disse: “Tudo seguro papai!”
_ Precisamos treinar o macaco para conseguir rastrear coelhos, leve ele para uma mata e treine o em combate e furtividade.
Ele saiu dali com o macaco na gaiola e eu fiquei quatro semanas sem ver aquele porco, comecei a pensar que estava começando a ficar esquizofrênico, mas para minha sorte ele voltou num momento em que eu precisava muito de ajuda.


Meu porco me salvou de um assalto

Sai para uma viagem em Goiânia por motivos de saúde, voltei para a cidade já a noite e estava tendo uma tempestade grande e a energia tinha caído, não se via nada nas ruas, eu ia caminhando rápido, até que ao virar uma esquina senti uma faca nas minhas costelas e logo depois um cara, alto de rosto branco e olhar insano me disse para passar tudo o que tinha.
Eu fiquei em choque, a escuridão e a chuva fizeram aumentar a adrenalina no meu sangue, me deixando paralisado, o bandido me deu um soco e eu cai ao chão, meu nariz tinha se quebrado, tudo ficou meio turvo e me lembro somente do meu porquinho aparecer e pular no bandido, pegando a faca dele e começando a acerta – lo, várias vezes, fiquei ali parado enquanto ele parecia possesso, arrancando cada pedaço do bandido e jogando num carrinho de churrasco que fez aparecer, as partes daquele homem caiam na grelha do carrinho, protegida da chuva por uma lona como se fossem bifes e depois de tê – lo matado, comeu os pedaços de carne com molho de tomate, enquanto a chuva corria loucamente.
Lembro somente de ter apagado, enquanto escutava barulhos de sirene. Acordei no hospital. O soco no nariz tinha interrompido minha respiração, fechando as vias aéreas e por muito pouco não morri.
Estava todo enfaixado quando acordei com um enfermeiro gordo, que cantarolava uma melodia de amor colocou no soro uma dose cavalar de dipirona que entrou nas minhas veias queimando, até chegar ao ponto que meu braço parecia estar em chamas.
Minha mãe veio e ficou horas comigo, até ficar muito cansada e ser substituída por uma de minhas tias. Meu porquinho só apareceu tarde da noite. Ficou todo feliz me puxando pela roupa do hospital e dizendo que tinha treinado o macaco para ser um operativo ninja, e que eu não precisaria me preocupar que agora ninguém iria me fazer mal, pois aquele mísero macaquinho iria me proteger.
Olhei bem para o animal, o remédio estava parando de fazer efeito e eu estava começando a sentir dor, o macaco estava vestido como um ninja e só se viam os olhos, lunáticos e insanos, olhando ao redor com uma frieza louca.
Aquela situação me deu medo, principalmente quando um enfermeiro do turno da noite veio me ver e o macaco pegou uma faca de cozinha que tinha nas mãos e fez um corte profundo na espinha do profissional que caiu no chão, morto sem nem ao menos reagir, enquanto o animal voltará para sua posição próxima a janela.
Ele me olhou como se esperasse aprovação, apenas disse lhe para falar ao macaco atacar somente quando eu gritasse. Ele chegou no ouvido do bicho e depois respondeu afirmativo e sabia que mais nenhum enfermeiro iria morrer.
O caso do enfermeiro foi considerado como um ataque cardíaco que tinha gerado uma paralisia na coluna, lamentei muito pela morte dele, não queria que aquilo acontecesse.
E iria lamentar mais ainda quando ligaram a televisão e eu vi, uma reportagem especial, um estúdio de filmes infantis estava queimando, vários profissionais de animação tinham as cabeças arrancadas e seu sangue estava por toda a parte e uma mensagem estava escrita em neon.
Morte aos inimigos dos humanos! Os aliados do coelho da páscoa pagarão”.
Horas depois chegaram umas crianças que estavam assistindo em casa a um filme sobre o coelho da páscoa, um desenho bobo que o pai tinha baixado da internet e dado para o filho naquela tarde, do computador da empresa onde trabalhava como técnico em informática.
Só falavam que um porco tinha invadido a casa, batido nelas dizendo para não verem aquilo, se não ficariam hipnotizadas pelo grande inimigo dos seres humanos e levado o DVD embora, saindo pela janela, batendo os braços como se fosse uma ave.
Mandaram chamar uma psicóloga e depois uma psiquiatra e dois pastores também passaram pelo quarto dos dois irmãos, todos na cidade acharam estranho aquilo e os boatos de um porco falante a partir dali se tornaram uma lenda urbana no município de Pontalina.

Eu tento treinar um porco na arte da guerra usando o cinema e falho consideravelmente.

Só fui ver o porco novamente quando estava em casa, já tinha me curado, mas não podia fazer movimentos repetitivos ou muito intensos.
Minha mãe tinha saído para ir a igreja e ele apareceu me trazendo alguns livros que rapidamente inseriu no meu tablet, fazendo os se transformar num pequeno cartão de memória.
Não estava falando nada e eu sabia que a paranoia com o coelho da páscoa estava no auge naquela cabeça, tentei acalma – lo e confesso até tentei fazer ele se sentir melhor, puxei o e abracei aquele porquinho, granadas do seu bolso e ele começou a falar frases sem sentido:
Por que os humanos ficam do lado inimigo?”
Será que Deus não irá punir a esse maldito coelho pervertido?”
Falava e chorava, até chegar a um ponto onde a cozinha da minha casa já estava começando a inundar. Disse apenas que ele precisava lhes mostrar a verdade, não mata – las se não elas iriam ter medo dele e o que os humanos temem, eles matam.
Dizia cada palavra com uma dificuldade tremenda, puxando a respiração a cada frase. Meus pulmões pareciam estourar, eu me levantei e caminhei até o computador, entrei num site de scans positivos, histórias de honra e coragem com heróis, ensinei ele a baixar e a ler as revistas e fui dormir.
Pensei que agora ele iria melhorar, tendo menos loucuras na cabeça, como eu estava enganado.
Ele usou seus poderes para criar as revistas, e abriu um porão embaixo do meu quarto, para onde foi carregando milhares de títulos. Ele ficou louco lendo revistas em quadrinhos, mas para meu azar não eram sobre os heróis com honra, mas sim os anti – heróis, os caçadores de recompensa, sem moral ou código de honra que interessavam a ele, consumiu todo o conteúdo dos sites de quadrinhos, dentro da tal fortaleza, enquanto eu ia lá uma vez ou outra, mais preocupado com aquele suíno doido, que ora aparecia vestido de Darth Vader e em outros momentos treinava tiro ao alvo com um coelho de pelúcia posicionado num alvo imaginário e após alguns tiros passava a acertar somente na cabeça.
Eu saia dali com medo, já estava com aquela criatura há dois meses e daqui dois dias seria o mês da páscoa, as lojas iriam se decorar de motivos do tema, passariam propagandas na TV, no rádio e até idiotas se fantasiariam de coelho para poderem levar outros imbecis a comprarem como loucos.
Tive uma ideia para tira – lo da Terra por um mês, criei num site de notícias falsas uma mensagem onde um repórter dizia que seriam mandados coelhos para a estação espacial afim de testarem novas experiências.
Fui o mais falso possível para que ele não percebesse o quanto eu estava preocupado, mostrei pelo tablet a notícia e esperei que ela tivesse o efeito desejado, ele sumindo da Terra por um bom tempo, procurando onde lançariam o foguete e como destruir os coelhos.
Mas na hora ele se agarrou em mim e se teleportou para os EUA, invadindo a área restrita da NASA, depois quando percebeu não ser ali, invadiu a área 51, nos dois casos eu era deixado a uma distância longa, enquanto ele entrava nas bases e destruía metade da paisagem.
Depois de destruir a área 51 e sair de lá carregado de itens de alta tecnologia que trouxera como souvenir, ele nos teleportou de volta para casa.
Fez alguns reparos no porão que agora se estendia por quase um quilômetro e era sustentado por vigas de aço. Montou um mega laboratório e só parava para tomar um vidro de pimenta malagueta a cada doze horas, parecia totalmente focado naquilo e eu me arrependi de ter enganado ele quando terminou de montar sua base, dizendo com um sorriso:
Agora nenhum coelho vai para o espaço matar nossos astronautas”. Enquanto no computador, se via todos os satélites de defesa conectados naquela sala, ao menor sinal de uma espaçonave saindo, ela seria deletada na hora.
O porquinho de algum modo tinha conseguido hackear todos os sistemas de segurança globais e poderia usa – los para atacar qualquer aeronave interespacial que fosse vista nos radares e para o azar dos pilotos, sete dias depois um grupo da estação voltou a Terra e quando entrou na nossa atmosfera, os satélites apitaram loucamente e ele apenas correu até um botão instalado na parede, que dizia em casos de coelhos, quebre.
No mesmo instante oito misseis nucleares de diversos países foram lançados no rumo do foguete que se transformou numa terrível bola de fogo nos céus, criando uma nuvem tóxica nas camadas mais elevadas que passou a impedir os seres humanos de viajarem para o espaço, se formou na segunda camada, uma espécie de anel de radiação que selou as brechas da camada de ozônio, impedindo a destruição ambiental do planeta.
Mas acelerou por todo mundo um surto de evolução como nunca antes se viu, a natureza em vários pontos começou a mudar, a crescer e ficar mais forte.
Os primeiros relatos nos jornais falavam em Cangurus começando a desenvolver cidades, depois vieram serpentes na China que se organizavam para atacar humanos e por fim, nuvens de moscas que conseguiam atacar como soldados de uma legião.
Aquele porquinho te causado a salvação da crise ambiental causada pela poluição, mas agora tinha tornado necessário aos seres humanos se adaptarem as novas condições ou abandonar o planeta.
Após uma série de catástrofes que devastaram grandes áreas do mundo nas semanas que se seguiram, com leões e humanos brigando por espaço, o governo dos EUA resolveu abrir um programa para se colonizar Marte.
Milhões de pessoas se ofereceram para viajar ao planeta vermelho, eu era uma delas, no aeroporto milhares de outros jovens estavam unidos para tentar se salvar, minha mãe tinha sido atacada por um grupo de cães raivosos, enquanto voltava da igreja, os cachorros cercam ela e um grupo de senhoras que voltavam sem escolta armada para os abrigos.
Não foi encontrado nada para eu fazer um enterro digno para ela e desde então não conseguia mais dormir passei a comer mal e quando ouvi sobre as colônias em Marte me vi na oportunidade de mudar tudo, de deixar tudo para trás.
Mas quando entrei no avião e decolei rumo aos Estados Unidos, meus olhos se abriram e eu vi o porquinho me cobrindo com sangue de coelhos.
Ele tinha me esmagado por engano, excitado quando eu lhe falei sobre o plano do coelho para ir ao espaço, tinha sem querer feito aparecer uma bigorna que havia me esmagado o crânio.
Na mesma hora ele reconstruiu minha cabeça, mas tinha me deixado completamente calvo e com um bigode gigantesco que simplesmente não sumia, crescendo novamente minutos após.
Os coelhos mortos tinham vindo de um pet shop em Goiânia onde vendiam coelhos como animais de estimação, ele atacou a loja, o criador, decapitando seu dono e roubando todos os animais.
Me contou que cortava a cabeça deles e derramava o sangue em mim, enquanto minhas células nervosas iam se reconstruindo devido ao uso excessivo de um remédio chamado ImagineX que estava me reconstruindo por dentro.
Perguntei se tinha algum efeito colateral e ele meio sem jeito falou:
Surto e alucinações, você verá e sentirá tudo que sua nova cabeça criar como real”. Fechei os olhos e respirei fundo, no mesmo instante vi uma cena onde eu esmagava o crânio daquele maldito porquinho e ela me pareceu tão real que eu podia sentir até os gritos dele.
Passei alguns minutos nesse frenesi assassino quando ele me acordou, jogando um dos corpos daqueles coelhos mortos no meu rosto.
_ O remédio que te salvou papai, agora vai te deixar maluco. Mas pensa pelo lado bom, não vai mais escrever com lápis, afinal agora você vai viver todas as suas aventuras e ao terminar de dizer essas palavras puxou o lápis mágico de um dos bolsos e me mostrou, eu rapidamente tomei dele e disse para não pegar minhas coisas.
Dei lhe uma missão de procurar o coelho da páscoa na China e ele partiu montado num pitbull que tinha sido selado para tal fim.
Rapidamente após vê – lo partir, peguei um papel e comecei a desenhar um portal dimensional que levaria ele direto para um mundo de desenhos animados, com diversas outras personagens, onde ele se tornasse algo comum.
Desenhei o portal para aparecer como um grande X no meu quintal, e logo que sai do meu quarto e fui checar, lá estava a marca bem no local onde eu tinha planejado.
Seis horas depois, o porco volta e nós começamos a conversar sobre as missões dele, o que tinha feito desde que sairá em sua busca, até que num determinado momento mudei de assunto e perguntei:
_ Foi você que fez aquele grande X no quintal?
_ Não fui eu não!
_ Então será que foi o coelho da páscoa que marcou a casa para nos destruir?
_ Ele rapidamente foi até lá e quando encostou o focinho no chão para cheirar a tinta do portal, uma grande luz surgiu do céu e o sugou para o mundo dos quadrinhos, o reino onde habitam todas as histórias fantásticas ou não.
Eu enfim acreditei estar livre dele para sempre, até mesmo reencontrei o papel com as anotações dele, caído atrás de uns arbustos.
Tranquei o lápis e o papel com as anotações do Paraoinc em um cofre dentro da minha casa, no porão secreto que ele criou, onde estavam todos os quadrinhos. Quarenta anos se passarão desde que ocorreram os fatos dessa aventura e minha vida tinha voltado a ser normal, nada mais de desenhos animados e coisas malucas, tinha me tornado somente um professor de história com grande foco na família e que ainda consumia quadrinhos em larga escala.

A Volta e o batismo do Paraoinc

Tinha notícias do porquinho sempre que algum produtor dizia escrever, filmar ou desenhar algo relativo a páscoa e de uma hora para outra os desenhos começavam a desaparecer como se fossem apagados.
Muitos paranormais acreditavam ter uma emanação mística maldita por trás do coelho da páscoa, mas na verdade eu sabia que o porquinho estava agindo no mundo da imaginação.
Me casei aos trinta e seis anos, depois de ter passado num concurso, o meu velho quarto na casa da minha mãe, continuava lá. A casa estava fechada e somente nas férias eu ia lá junto com ela, para darmos uma arrumada e pagarmos os impostos.
Eu gostava do lugar e todas as vezes, mesmo que com mais dificuldade ia até o porão, acendia as luzes e via tudo arrumado, toda aquela aventura ali e eu sem poder contar nada a ninguém, fazia parte do meu segredo.
Mas na minha última vez ali naquela casa, precisei levar minha mãe ao médico, ela tinha se machucado ao tentar tirar a poeira de um armário e corria o risco de ter quebrado algo.
Deixei meu filho sozinho na casa, Aquiles era seu nome e ele me causava problemas só pelo pavio curto, no geral era um garoto exemplar, seria perfeito se não tivesse um mau gênio e fosse quase arisco como um animal selvagem.
Sai com a avó do menino rumo ao hospital depois de fazer mil e seis recomendações para que tomasse cuidado. Ele apenas me fitava com os olhos aparentando tédio.
Nos saímos de carro a toda velocidade e ele entrou correndo dentro da casa e foi diretamente ao meu antigo quarto, e por algum grande azar encontrou a passagem para o porão, escondida embaixo da cama e ali viu todas as coleções e aparelhos eletrônicos, mas algo o fascinou ainda mais: O cofre colocado por mim próximo a parede.
Ele era obsessivo com criptografia, adorava decifrar códigos e ao ver o mecanismo foi logo tentando abrir ele.
Tendo uma boa memória e me conhecendo tentou os números dos filmes de espionagem e detetive, acabou conseguindo a combinação quando tentou 007221b
Ele abriu o cofre e encontrou um lápis e a folha do porquinho que eu tinha reencontrado quando ele foi sugado para os céus no grande raio.
Rapidamente leu os esboços do porquinho e começou a acrescentar mais detalhes. Eram a princípio somente quarenta palavras sobre o porquinho, ele fez os detalhes do passado dele até atingir a folha inteira e depois continuou até a outra, rasgando uma revista antiga que estava jogada numa mesa e continuou escrevendo até se sentir cansado e adormecer.
Eu voltei do hospital, após saber que minha mãe tinha apenas torcido o pé e que ficaria em observação por algumas horas, e quando ao chegar chamei o nome do meu filho e não ouvi nenhuma resposta fiquei preocupado, rapidamente corri a casa inteira e só então me lembrei do porão.
Entrei pelo alçapão e vi as luzes ligadas. O cofre estava aberto e o lápis jogado próximo a entrada. Numa parede no canto esquerdo do lugar estava escrito: Até breve papai.
Eu fiquei transtornado, peguei uma folha de papel e fui criando um novo personagem, precisava salvar meu filho e a mim mesmo, precisava deter aquele porquinho e assim nasceu o paradoxo, no instante que eu terminei os esboços cai no chão e já não era mais humano, minhas feições tinham se modificado e eu agora era um dos meus personagens, tinha me tornado o Paradoxo: O senhor do tempo e do espaço, precisava agora sair dali e usar o portal do tempo para voltar e impedir a mim mesmo de escrever aquele porquinho.
Mas no exato momento em que eu ia sair, o portal em forma de X me sugou para dentro de si e numa luz brilhante eu desapareci.

Acordando nas terras animadas

O portal tinha me levado até um deserto, no céu se viam umas letras escritas em amarelo: Numa galáxia tão, tão distante. Um guerreiro apareceu para salvar o povo da escravidão do lorde Dragão Sith de Gêmeos.
E no mesmo instante apareceram uma centena de monstros há uns trezentos metros, eram zumbis, orcs, e toda sorte de criaturas que vinham em minha direção.
Eu sai correndo, esperando conseguir alguma vantagem para poder enfrenta – los, quando tropecei em um sabre de luz laranja e quando me levantei já estava vestido com uma túnica cinzenta, peguei a espada do chão e dos meus lábios surgiu a seguinte frase: “Pelos poderes de Grayskull, eu tenho a força!”
No mesmo instante o sabre se acendeu e o simbolo do batman apareceu no céu assustando os guerreiros que partiam em debandada, enquanto eu ia atacando os com o sabre jedi. Me movia na velocidade da luz até que num determinado momento da luta, um raio caiu na minha cabeça e eu gritei involuntariamente: “Shazan!” e na mesma hora, ganhei super – força e ultra agilidade.
Voei em poucos segundos batendo nos guerreiros que faltavam e quando o deserto estava lotado de cadáveres eis que aparece o porquinho vindo ao meu encontro:
_ Papai, você está bem? Perguntou e foi me abraçando com carinho, eu confesso que tive vontade de mata – lo, mas me mantive quieto e perguntei:
Estou bem, quero saber onde está meu filho? Ele me olhou meio encabulado e disse: _ Ele voltou, o portal trouxe você e levou ele de volta para o seu mundo.
Eu fechei os olhos, as pálpebras cansadas e perguntei:
_ Você sabe como voltar para a Terra?
Ele riu e me olhou: _ Claro que sei, é preciso apenas encontrar o mago!
_ E onde este mago está?
_ No fim da trilha de tijolos brancos. E quando ele terminou de dizer isso, apareceu uma estrada que seguia para o norte, rumo a um palácio congelado.

Seguindo a trilha dos anéis.

A estrada de tijolos subia e descia em espirais que por vezes nos fizeram enfrentar dragões, lobisomens e até a um vampiro zoófilo que queria transar com o porquinho para nos deixar passar, mas que acabou sendo morto por ele, após chama – lo de pequeno.
A raiva fez aquele suíno crescer e ficar do tamanho de uma casa, seus músculos saltaram e ele bateu tanto no vampiro que ele acabou reduzido a pó, o gigante então preparou uma tigela de sucrilhos com banana e pegou o pó de vampiro e colocou no meio, comendo tudo e depois soltando um arroto que fez as árvores de um bosque próximo fugirem assustadas, deixando um pequeno templo perdido no meio delas exposto.
Chegamos a porta do lugar que estava fechada, havia algumas inscrições no chão, que não podiamos entender, por estar quase anoitecendo.
Nessa hora lembrei que o porquinho sabia ler quase todos os idiomas e usando o sabre de luz acendi o local e pedi que ele lesse as inscrições.
O cérebro dele começou a emitir uns barulhos estranhos e alguns segundos depois saiu um papel de sua boca com uma frase impressa:
Para entrar grite Sauroom com voz fina. Rapidamente o porquinho gritou e lá de dentro começaram a sair vilões e mais vilões, que fugiram levando o meu sabre de luz. Provavelmente para fazer coisas que não vem ao caso descrever, afinal crianças podem vir a ler essa história.
O porquinho entrou no lugar, que pareceu vazio, enquanto eu, vestido novamente de maneira normal o acompanhei.
Descemos o local por uma escada em forma de caracol até chegar a um amplo pátio, onde se viam várias mãos feitas em pedra maciça, cada uma continha um anel, sendo ao todo um total de 12 anéis na sala toda, três em cada canto, mas em uma das paredes as mãos estavam sem os anéis que tinham sido levados.
Enquanto eu ia analisando cada uma das mãos que tinham inscrições que explicavam o que o anel fazia, o porquinho ia pegando cada um deles:
Primeiro se tornou uma mulher, depois ganhou bafo de fogo, depois pegou outro anel que o fez ficar com os pés gigantes, nesse instante eu olhei para ele e vi uma asiática assando um espetinho de coelhos, enquanto coçava seus pés que pareciam duas enormes canoas indígenas.
Me virei para um dos anéis que eu ainda não tinha checado e vi nele escrito a frase “ A roda da fortuna, aposte com a sorte”.
Peguei ele rapidamente e no mesmo instante apareceu um apresentador que me pedia para rodar a roleta, onde estavam escritos desde coisas como: Ganhou uma vaca, até caiu no poço cheio de cobras.
Rodei a primeira vez e caiu no passe para seu parceiro, o porquinho então veio e rodou e então apareceu: O dobro ou nada.
Naquele momento surgiu mais uma roleta e nos dois rodamos no mesmo instante. Eu cai em batalha pelo tesouro e o porquinho em viagem a ilha da sua fantasia.
No mesmo instante eu fui mandado para uma espécie de calabouço, cheio de criaturas malignas e o porquinho foi parar numa ilha paradisíaca cheia de mulheres vestindo fio dentais minúsculos.
Ele se divertiu para valer disse que ficou dois dias naquela ilha, enquanto se divertia de várias maneiras com todas aquelas moças. Quando eu o revi novamente, ele estava me mostrando na câmera do celular, as diversas fotos que tinha tirado, todas tão obscenas que nem posso descrever.
Mas estou avançando a história, primeiro tenho de contar para vocês como eu escapei do calabouço.
Fui pelos telhados usando meus poderes matei as baratas que ali caminhavam que ao cair no chão ativavam as armadilhas preparadas para me matar, depois que o telhado acabou, fui correndo, enquanto atravessava um caminho cheio de flechas que saiam das paredes dispostas a me destruir até que por fim pulei em cima de uma bola de pedra e fui me equilibrando enquanto aquele enorme rochedo redondo ia avançando por uma espécie de túnel até que cheguei em uma arena onde eu me vi cercado por diversos gladiadores, que usavam uniformes espaciais e carregavam armas a laser gigantescas.
Eu usei meus poderes como mestre do tempo, para parar a realidade, roubei uma das armas dos meus adversários e acertei os demais e só então voltei a realidade ao normal, no mesmo instante os tiros disparados que estavam estáticos, foram até seus alvos e eu venci a primeira batalha. No mesmo instante os corpos carbonizados dos primeiros inimigos cairão ao chão e caiu do céu novamente o meu sabre laranja e eu voltei a estar vestido numa longa túnica marrom que agora fedia a pântano e na minha frente apareceu um velho baixinho vestido com uma roupa preta que gritou: “ Eu sou seu pai” e ficou parado esperando receber um abraço, eu avancei até ele numa velocidade que fez toda a arena voar pelos ares.
Cortei a cabeça dele e no mesmo instante apareceu um mapa com o caminho até o mago.
Fui enviado de volta para Sauroom, a sauna dos vilões e o porquinho também voltou de suas férias felizes.
Eu estava terrivelmente cansado e com uma fome imensa, estava fedendo horrivelmente enquanto aquele suíno parecia feliz e contente, cheirava a talco e estava vestindo um roupão de seda francesa e tinha um monte de marcas de beijo por todo seu pequeno corpo.
Fiquei furioso com ele, a inveja daquela paz e calma me fez ficar fora de mim e num instante me vi em cima dele, atirando o para cima e o cortando ao meio.
Naquele instante eu acordei em minha cama, estava ensopado de suor, minha mãe estava ao meu lado na cama. A chuva caía forte lá fora e o porquinho não estava mais lá.
Eu ainda tinha várias faixas cobrindo meu rosto e a respiração doía muito.
Tudo tinha acabado, pensei eu afinal, mas quando amanheceu vi o quanto eu estava errado. Um macaco pulou pela minha janela e me entregou uma carta e ficou parado exigindo uma gorjeta, dei para ele uma moeda de 1 real e rasguei o papel e ali dentro estava o esboço do porquinho feito por mim.
Não sabia o que fazer, resolvi que não iria rasgar aquele personagem e por fim o abracei com carinho, mesmo que fosse apenas insanidade minha, tinha sido um dos sonhos mais legais que eu já tinha passado, lágrimas cairão no papel e no mesmo instante um X surgiu no chão do meu quarto e eu acabei sugado para novas aventuras.
_ Não há final! Te decepcionei? Espero que não afinal ninguém é melhor que eu e se o papai não soube mostrar minhas qualidades é por que ele é um escritor um tanto medíocre para descrever minha personalidade marcante e explosiva, mas fiquem firmes que nas próximas histórias quem irá escrever serei eu mesmo.

Assinado: Paraóinc, ou Paranoico; PS: Eu me dei esse nome após vê – lo num anúncio de hospital psiquiátrico

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...