quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A placa.


Na estrada que liga Santo Antônio a Brasília tem uma curva e na beira do caminho uma antiga placa, com letras desbotadas, repleta de mofo e ferrugem.
Poucos motoristas das cidades ao redor tem coragem para sequer parar ali e verificar os dizeres daquele objeto, pois remetem a uma história que querem apagar.
Os mais jovens em sua impetuosidade e desrespeito pela tradição do local, não se importam com essas histórias, que consideram meras crendices bobas.
Um destes para mostrar sua coragem decide ir até a placa, urinar nela e depois grafitar um pênis.
Foram ele e mais alguns amigos, gravaram a cena de depredação do patrimônio público, quando um deles notou ao longe um brilho surgindo a distância, uma luz vaporosa, em tons esverdeados tóxicos.
Os rapazes mais corajosos correram em direção a nuvens enquanto os mais covardes voltavam para a cidade gritando a plenos pulmões.
E eu que estava com a câmera fiquei ali, parado, com as pernas paralisadas, tremendo de puro horror. Urina descia pelas minhas pernas, ao olhar para aquela nuvem de fumaça que parecia se adensar conforme os segundos se passavam, tive a certeza que iria morrer.
Meu coração parecia querer sair do peito. Minhas mãos suavam frio e poucos segundos antes da nuvem vir em minha direção, eu desmaiei e não lembro de mais nada.
A primeira cena que registrei quando acordei foram os ossos dos meus amigos próximos a placa, reconheci os rapazes que tinham sido corajosos e foram em direção ao desconhecido.
A placa estava coberta de sangue e pedaços de carne, como se o ar tóxico tivesse vomitado as entranhas de meus amigos ali para aumentar o aviso do perigo que estava naquele local.
Um senhor me encontrou em pânico, estava sentado em estado de puro choque. Ao meu lado estava a câmera.
Fui levado ao hospital, e depois de algumas horas, quando recuperei a consciência um policial apareceu para colher meu depoimento acerca do ocorrido.
Quando eu entreguei a fita da câmera, o caso criou contornos ainda mais assustadores, pois no meio daquela tempestade tóxica, era possível visualizar usando o recurso do zoom, a figura de um pequeno rapaz, com um barrete vermelho que vinha cavalgando uma espécie de nuvem na direção dos meus amigos que iam em sua direção.
Fui obrigado a ver no meu segundo depoimento a cena hedionda da morte deles, suas cabeças foram mastigadas por aquela massa gasosa que cuspiu os ossos dos crânios ao longe.
A cena terminava segundos depois comigo caindo desmaiado, o áudio no entanto era tão aterrador, que implorei para pararem imediatamente.
Nas semanas que passaram, repórteres do mundo inteiro tiveram contato com o caso e em vários sites da internet, o meu vídeo era exposto, o que me fez ficar afastado da rede.
Me isolei na casa de um tio, no Mato Grosso, um local afastado onde o acesso era muito difícil.
Foi quando recebi uma ligação de minha mãe, contando que todos os rapazes que tinham sobrevivido estavam morrendo de maneira súbita e brutal, narrou que todos estavam atemorizados e muitos começavam a me culpar pelo fato, chegando até a ameaça – la diretamente.
Senti um frio na coluna e disse para ela não se preocupar que tudo iria acabar bem.
Como eu estava errado, depois de dois dias, meu tio chegou correndo em casa.
Suas feições estavam lívidas, ele dizia que todos na região estavam loucos e falavam de um fantasma verde que procurava um forasteiro e quando não tinha a resposta esperada, devorava os sem pensar, tomando o corpo e deixando somente um punhado de ossos corroídos como ácido.
Quando ele terminou de me dizer isso, eu vi ao longe a forma horripilante vindo devagar, corri para o porão na esperança de me esconder e quando narro essas palavras em um velho computador, ouço meu tio dar seus últimos gemidos.
Adeus mãe, eu te amo.


Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...