Na estrada que liga Santo Antônio a Brasília tem uma curva e na
beira do caminho uma antiga placa, com letras desbotadas, repleta de
mofo e ferrugem.
Poucos motoristas das cidades ao redor tem coragem para sequer parar
ali e verificar os dizeres daquele objeto, pois remetem a uma
história que querem apagar.
Os mais jovens em sua impetuosidade e desrespeito pela tradição do
local, não se importam com essas histórias, que consideram meras
crendices bobas.
Um destes para mostrar sua coragem decide ir até a placa, urinar
nela e depois grafitar um pênis.
Foram ele e mais alguns amigos, gravaram a cena de depredação do
patrimônio público, quando um deles notou ao longe um brilho
surgindo a distância, uma luz vaporosa, em tons esverdeados tóxicos.
Os rapazes mais corajosos correram em direção a nuvens enquanto os
mais covardes voltavam para a cidade gritando a plenos pulmões.
E eu que estava com a câmera fiquei ali, parado, com as pernas
paralisadas, tremendo de puro horror. Urina descia pelas minhas
pernas, ao olhar para aquela nuvem de fumaça que parecia se adensar
conforme os segundos se passavam, tive a certeza que iria morrer.
Meu coração parecia querer sair do peito. Minhas mãos suavam frio
e poucos segundos antes da nuvem vir em minha direção, eu desmaiei
e não lembro de mais nada.
A primeira cena que registrei quando acordei foram os ossos dos meus
amigos próximos a placa, reconheci os rapazes que tinham sido
corajosos e foram em direção ao desconhecido.
A placa estava coberta de sangue e pedaços de carne, como se o ar
tóxico tivesse vomitado as entranhas de meus amigos ali para
aumentar o aviso do perigo que estava naquele local.
Um senhor me encontrou em pânico, estava sentado em estado de puro
choque. Ao meu lado estava a câmera.
Fui levado ao hospital, e depois de algumas horas, quando recuperei a
consciência um policial apareceu para colher meu depoimento acerca
do ocorrido.
Quando eu entreguei a fita da câmera, o caso criou contornos ainda
mais assustadores, pois no meio daquela tempestade tóxica, era
possível visualizar usando o recurso do zoom, a figura de um pequeno
rapaz, com um barrete vermelho que vinha cavalgando uma espécie de
nuvem na direção dos meus amigos que iam em sua direção.
Fui obrigado a ver no meu segundo depoimento a cena hedionda da morte
deles, suas cabeças foram mastigadas por aquela massa gasosa que
cuspiu os ossos dos crânios ao longe.
A cena terminava segundos depois comigo caindo desmaiado, o áudio no
entanto era tão aterrador, que implorei para pararem imediatamente.
Nas semanas que passaram, repórteres do mundo inteiro tiveram
contato com o caso e em vários sites da internet, o meu vídeo era
exposto, o que me fez ficar afastado da rede.
Me isolei na casa de um tio, no Mato Grosso, um local afastado onde o
acesso era muito difícil.
Foi quando recebi uma ligação de minha mãe, contando que todos os
rapazes que tinham sobrevivido estavam morrendo de maneira súbita e
brutal, narrou que todos estavam atemorizados e muitos começavam a
me culpar pelo fato, chegando até a ameaça – la diretamente.
Senti um frio na coluna e disse para ela não se preocupar que tudo
iria acabar bem.
Como eu estava errado, depois de dois dias, meu tio chegou correndo
em casa.
Suas feições estavam lívidas, ele dizia que todos na região
estavam loucos e falavam de um fantasma verde que procurava um
forasteiro e quando não tinha a resposta esperada, devorava os sem
pensar, tomando o corpo e deixando somente um punhado de ossos
corroídos como ácido.
Quando ele terminou de me dizer isso, eu vi ao longe a forma
horripilante vindo devagar, corri para o porão na esperança de me
esconder e quando narro essas palavras em um velho computador, ouço
meu tio dar seus últimos gemidos.
Adeus mãe, eu te amo.