sábado, 25 de outubro de 2014

O Limite entre o bem e o mal.

_ A guerra acabou tudo parece não fazer mais nenhum sentido!
_ Minha vida foi moldada para a batalha, cada parte do meu DNA foi feita para a guerra, mas ela acabou e agora o que eu vou fazer?
_ Um soldado de volta para casa não tem valor, é tratado igual a um excremento, lançado nas piores pocilgas só com seus monstros reais ou não!
_ Consciência é uma coisa que te atormenta, por que quando você está no front é matar ou morrer, mas quando volta para casa, o fantasma de todos os mortos volta para te atormentar, te mostrar o quão falho você é!
_ A vida parece não ter sentido, como se não bastasse sua mente que não lhe deixa dormir, as ruas estão cheias de vermes podres, estupradores e ladrões, espreitam em cada esquina enquanto os políticos cheiram as cinzas dos nossos mortos que para eles não passa de um sacrifício vivo, um sacrifício de sangue para satisfazer aos jornalistas que mostram em tempo real o genocídio do dia a dia, como divertimento para as crianças nas escolas.
_ Não tem graça ver pessoas morrendo, cada um que se vai tem muito choro, eu posso ver! Eu sinto a dor dessas mães que tem seus filhos mortos todos os dias, por que eu vi meu filho ser morto, por um figurão alcoolizado que passou por cima do meu garoto como um papel em sua Ferrari há mais de duzentos quilômetros e ninguém fez nada.
_ Não pude nem chorar sob o caixão da criança, o carro passou por cima e não sobrou nada para velar, o corpo estava tão amassado que poupei minha esposa de ver.
_ Mas ela não agüentou a perda e dois dias depois possuída pelo remorso de naquela tarde não ter ido buscar ele, como sempre fazia, pulou no rio e acabou morrendo após ingerir dejetos industriais lançados na água.
_ Eu perdi tudo! Essa frase me acompanha desde então, tentar me matar não acabaria com minha dor! Ainda tenho medo de morrer e depois ainda acabar me ferrando no além.
_ Sempre achei muito idiota beber para esquecer, por que os problemas voltam e voltam...
_ Eu sou militar treinado, tenho patente de Sargento do exército, e estou cansado de toda essa podridão, é hora de alguém comprar a briga dos que sofrem e não tem vez e voz, é hora de uma vingança!

_ Tudo estava tranqüilo naquele dia, a imprensa depois do suicídio de minha esposa tinha me esquecido por um tempo, mas logo voltariam repórteres querendo uma exclusiva e eu como sempre responderia com tantos palavrões quanto minha mente lembrasse, só quero paz e lembrar me dói muito!
_ Sai de casa um pouco para respirar no ar da manhã e logo vejo um garoto saindo de um beco com um monte de pedras na mão, me seguro para não bater nele e deixo passar, vou até o bar do Cardoso, comer algo, ele tinha um pequeno negócio dentro do bar, onde vendia almoço para as pessoas mais chegadas.
_ Oi seu Cardoso! Já tem uma quentinha pronta ai?
_ Claro, Machado, para você sempre tem algo!
_ Ele saiu detrás do balcão e veio me entregar uma sacola com minha marmita, mas no exato momento um meliante entrou na frente do comércio descendo de uma bicicleta com uma arma na mão e veio caminhando em nossa direção.
_ Estava perto de uma cadeira e rapidamente joguei nele, que deixou cair à arma da mão e ficou alguns segundos tonto no chão com o impacto da cadeira que o havia jogado bem para trás. Corri para cima dele por instinto e dei lhe chute no estômago com tanta força que pude ouvir algo dentro daquele rapaz se quebrando.
_ Peguei a arma com um pano que estava no varal e liguei para a polícia, falando com voz de comando e mandando algo ser feito imediatamente, passados quase trinta minutos, dois policiais apareceram e contei a eles o que havia ocorrido, rapidamente eles trocaram olhares e tiveram a audácia de tentar ganhar algum em cima de mim.
_ O senhor Sargento Machado, sabe que isso ai pode te dar encrenca, afinal o rapaz está quase morto! Que tal dar algum para nós resolvermos isso de uma maneira que fique legal para as duas partes?
_ Não gosto de gente desonesta, seus dois imbecis e saibam vocês que vou até a corregedoria dar parte de vocês dois, seus pedaços de bosta rala se tentarem alguma coisa contra mim, entendido?
O olhar dos dois foi fulminante, mas não se atreveram a responder por que a população vendo minha contenda com os policiais começou a aparecer aos montes e isso é coisa que corrupto não pode tolerar de jeito nenhum: Ser filmado pelo povo e acabar parando nas redes sociais, hoje em dia mesmo os mais pobres tem um celular com câmera e a possibilidade de ter acesso a rede e isso assusta muito aos corruptos e vagabundos que tentam, todo momento tirar algo em seu proveito usando da autoridade.
Depois desse episódio, ganhei um pouco de respeito de todos e também um belo alvo nas costas, não raras vezes meu prédio amanhecia pichado por traficantes e os lugares onde eu freqüentava passaram a ser ameaçados para não permitir minha entrada.
A vida tinha se tornado um inferno, resolvi dar no pé dali antes que algo desse errado, mas o fiz logo num dia em que vândalos tentavam incendiar os ônibus na central, era um inferno, exércitos de mascarados vinham de todos os lados, nem no Haiti durante a fase mais violenta do confronto tinha visto tamanha violência.
Uma turba veio em direção ao nosso ônibus e começaram a molhar com gasolina todo o veículo, eu lutei com eles por que uma senhora de mais idade não tinha conseguido sair do banco e se eles acendessem aquela gasolina iriam matar aquela idosa com toda certeza.
Eram apenas jovens, fracos e derrubei uns cinco antes da senhora conseguir sair do banco, quando eu vi que ela estava bem e fora de perigo, apertei o isqueiro e joguei na direção deles, saindo correndo em seguida.
Sai do ônibus e um grupo grande de baderneiros mascarados me espancou até quase a morte, só quando eu estava no hospital soube que se não fosse por interferência da população que me defendeu contra aqueles maníacos eu teria sido jogado nas chamas junto com os outros cinco rapazes que eu matei.
Quando eu estava no hospital, vieram muitos populares me saudarem, até mesmo pessoas da equipe médica que pareciam ver em mim a vingança que eles esperavam contra aqueles malditos vermes que por serem ricos pensam que podem tem o poder para roubar, pilhar e destruir, matando vidas no processo em nome de ideais tão idiotas que valeriam uma risada, se não tivessem pessoas envolvidas, gente com alta dose de violência, que não sabe por que luta, apenas pilha o mundo das pessoas de bem.
Ali no hospital tive a oportunidade de ver a notícia que tinham queimado minha antiga casa no meio da favela e o bar onde eu comprava minha comida, como forma de retaliação, quanto aos meus pertences, tudo que me importava eu já tinha perdido no incêndio, até mesmo meus documentos, tudo fora queimado naquelas chamas. O que me enfureceu foi saber que aqueles dois idosos tinham sido mortos por que simplesmente tinham sido amigáveis comigo, não havia palavras para definir o tanto que aquilo havia me deixado irritado.
Agora eu voltaria, assim que me recuperasse, a lição que atacar aqueles marginais ideologicamente imbecis me deu foi que as pessoas esperam alguma espécie de messias que as tire da bosta sem que seja necessário sujar as mãos.
Esse salvador será posto na parede de fuzilamento quando tudo terminar, mas sempre na história isso foi assim! Por que comigo seria diferente?
_ Por que você está assim tão irritado, moço! Perguntou uma criança que estava visitando a mãe na cama ao lado, que tinha recebido uma bala de um vagabundo ao ficar assustada e fazer um movimento brusco durante o assalto, o projétil tinha perfurado os rins e ela agora para poder viver esperava um transplante, ligada a uma máquina de hemodiálise pelo resto de seus dias.
_ Estou nervoso, menininha, por que os bandidos estão vencendo e não há nenhum herói para proteger a sociedade de tudo aquilo que há de ruim nas ruas.
_ O senhor, vai tentar achar o super homem? Será que ele consegue pegar os bandidos que mataram a vovó?
Eu chorei ao ouvir isso, mas me contive e disse: Tenho certeza que vou achar ele e os bandidos que fizeram mal a sua vovó irão pagar caro por isso.
O garoto saiu feliz dali e eu ainda deitado naquela cama sem poder mal me mexer sorri, enquanto o efeito do remédio me colocava novamente no sono.
Quando eu acordei novamente não tinha mais ninguém na cama ao lado, a mãe tinha morrido após uma falha na energia que fez a máquina parar por mais de duas horas.
Lembrou do seu rosto e lembrou se da criança a lhe perguntar por que ontem enquanto estava deitado assistindo a notícia numa pequena televisão no quarto ele tinha ficado tão irritado.
Lágrimas correram de seus olhos, a dor que ela estaria passando? Com quem agora estaria? Muitas perguntas passavam em sua mente, durante todos aqueles meses em que esteve hospitalizado.
Por fim teve alta e como não tinha mais casa, voltou ao lar dos soldados, seu velho quartel no interior, chegou logo que a noite despontou no horizonte, não tinha quase ninguém ali, a tropa estava num curso, mas o pessoal da administração e o tenente que tomava conta lhe deram um quarto e a promessa de lhe arrumar roupas, logo que amanhecesse.
Não importava mais nada, depois de tanto tempo só queria treinar novamente para estar preparado para o que iria enfrentar.
Naquela noite, a guerra começou, mas isso é uma história que ainda vou contar até por que agora é hora de ir dormir, por que amanhã, mais canalhas precisam morrer!







Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...