quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A ultima viagem partes 1 e 2

O ano é 2150, a missão era apenas uma entrega de armas em Bangwei, uma região a leste da cidade oriental. Um local deserto onde tudo o que se via era mato e restos do que já foram cidades, mas que acabaram sendo destruídas após a segunda guerra.
Meu nome é Salvatore e aquela fora minha primeira missão, porém tudo saiu errado, os guerrilheiros para quem venderíamos não chegaram e as forças da polícia internacional prepararam o cerco ao nosso comboio.
Os que morreram ainda deram sorte, pois os capturados foram espancados sem dó.
Torturas físicas, mentais, morais, foram algo que todos sofreram. Tinham um objetivo: Encontrar o Dom, mas ninguém revelou nada, pois a lealdade a família é tudo que nos resta.
Assim fomos mandados para a prisão de Stackley, um lugar que faz o inferno pregado pelo padre André durante a minha infância em Bio City, um lugar extremamente agradável, ali até mesmo Deus parece ter esquecido você.
Os guardas te batem a todo o momento, por qualquer motivo, a comida é horrível e mínima e você tem de trabalhar dezoito horas por dias em atividades de alto risco, sofrendo com a sacanagem dos guardas que fazem apostas para ver quem mata mais os presos.
Passei dois anos ali esperando o julgamento e no dia em que me levaria para ouvir minha sentença, um resgate ocorreu, pois estava na mesma nave que eu, um dos maiores assassinos da galáxia: O Infame pirata sideral, conhecido pela alcunha de o Palhaço, um cara que tempos depois eu fiquei sabendo ser o responsável pela destruição total de mais de vinte planetas habitados.
A nave foi atacada e vários soldados usando armaduras com camuflagem desceram e atacaram as sentinelas que nos levavam a sentença do juiz que provavelmente seria morte.
As celas foram abertas e todos os presos libertados, porém logo as naves auxiliares vieram em socorro e no embate todos os que sairão acabarão mortos.
Eu estava com tanto medo daquilo tudo, era novato e só fiquei ajoelhado rezando para alguém não me deixar morrer, vi muita coisa nessa vida e nem sei se Deus tem algum interesse em mim depois de tudo o que fiz, mas naquele momento quando a nave principal onde eu estava foi abatida e começou a cair, senti algo estranho, uma energia de vida maior que não sei explicar e fiquei ali parado.
As celas são projetadas com um material completamente inviolável e mesmo a minha estando aberta resistiu ao choque e eu acordei num lugar completamente estranho, dentro daquele cubículo, do céu a luta das naves prosseguia e quando sai dali com o braço e cinco costelas quebradas, tinha na mente somente um instinto de fuga, não importava o que fosse necessário, eu precisava fugir!
Sai correndo com imensa dor, esperando encontrar algum indício de civilização.
Andei por no máximo uns trinta minutos, até a dor ser mais forte que minhas forças e eu cair ali no chão desmaiado esperando o fim inevitável no meio daquela desolada floresta de árvores retorcidas e mudadas geneticamente para sobreviver ao sol que devido ao fim da camada de ozônio se tornará uma verdadeira fornalha, mesmo após a instalação da cúpula energética que filtra parte dos raios.
Era meu fim certamente, se ali não morasse um eremita, velho e desgrenhado que fora ver o que estava fazendo toda aquela barulheira que tinha lhe perturbado de sua meditação espiritual e isolamento.
Acordei duas semanas depois numa instalação bem antiga nos subterrâneos da ilha. Tudo ali era muito velho, ratos saiam pelos inúmeros buracos na parede e da maca onde eu estava podia ver milhares de pichações nas paredes, com temas e formas estranhas a mim.
Consegui andar me apoiando nas paredes lotadas de entulhos, procurando algum sinal de vida no meio daquele caos todo, ao sair do quarto onde eu estava vi uma trilha de sangue, no chão do corredor e em várias salas que não tinha portas pude ver corpos aos pedaços, esqueletos banhados em cal semi enterrados no chão.
Tudo ali estava se tornando sinistro demais, era opressivo estar naquela escuridão toda, o cheiro de morte misturado com cal e poeira era quase um alucinógeno que acabou por me deixar em pânico, meus ferimentos ainda não estavam sarados e o ar começou a faltar.
Apoiei meus braços numa maca semi – destruída no corredor daquele cenário caótico, puxando o fôlego com força, minha cabeça estava girando muito e  tudo parecia se transformar, era insano demais, já tinha visto pessoas que eram viciadas em drogas falarem a respeito dessas viagens mas nunca gostei disso e a família não permitia que usássemos nada.
Antes de desfalecer novamente ouvi passos metálicos vindos da porta, uma pessoa se aproximava e antes de eu perder a consciência pude ouvir uma frase dita por ele ao ver a mim ali naquele corredor:
_ Para alguém que sobreviveu há queda de uma nave em velocidade superior ao som, esse idiota tem uma mania de sair correndo que é irritante!
Ele pegou meu braço com força e retirou de um cinto bastante gasto um frasco que colocou numa seringa e aplicou todo o líquido no meu braço.
Não fazia idéia do que aquilo era, mas no mesmo instante eu religuei, meu coração estava batendo muito rápido, a dor era profunda, porém  minha mente não desligava mais. Era maravilhoso estar vivo e estranho poder pela primeira vez olhar ao homem que tinha me salvo pela segunda vez.
Um sujeito forte, com uma espada japonesa nas costas, a barba crescia por todos os lados no seu rosto e competia com as inúmeras cicatrizes, uma de suas mãos tinha sido decepada e no lugar ele havia encaixado um gancho que apresentava vários sinais de ferrugem, os pés eram próteses mecânicas que há pelo menos cem anos tinham sido desativadas e também apresentavam sinais de desgaste, sua roupa era marrom de sujeira e enquanto eu recuperava o fôlego pouco a pouco ele ficou parado sem se preocupar em retirar a seringa do meu braço, tudo em mim parecia estar ligado e rapidamente pulei do chão e ele riu, como um ar de zombaria e seriedade que lhe deu uma aparência de um animal que ajuda a uma presa a sair de um problema para depois mata – lá lentamente, aproveitando cada suspiro de dor de sua vítima, para poder se alimentar melhor!
_ Seja bem – vindo aos milagres da Cafeína misturada com Adrenocrômio, você não vai dormir por duas semanas com a dose cavalar que eu lhe dei, aproveite a vida, seja lá quem você for, seu idiota estúpido!
E ao terminar de dizer saiu devagar me deixando com muito mais perguntas do que respostas, pelo menos agora eu sabia que ali tinha uma saída, minha boca estava seca e fui atrás do velho, seguindo em velocidade bem baixa para não agravar meu estado.
Descemos vários lances de escadas, muitas pareciam ter sido escavadas na pedra bruta e conforme íamos descendo pude ver que uma cidade arrasada tomava forma ali no subsolo daquela ilha, uma terra arrasada que tinha sido soterrada por ação direta e pouco a pouco fora descoberta, provavelmente pelo meu misterioso salvador.



Acorde! Você não é mais o jantar!

Eu durmo como todas as pessoas, mas os sonhos que tenho tem o poder de previsões que muitas vezes parecem confusas, porém são imperativas e quase todas as vezes as cenas se repetem constantemente. Enquanto viajava pelo mundo dos sonhos desmaiado pelas drogas daquele feiticeiro, vi muitas cenas, não me lembro de tudo só que uma mulher parecia clamar por mim, com uma voz que começava o lamento fina como a de uma adolescente e terminava como um urro feroz e primal. Aquele sonho viria por mais algumas vezes ao longo daqueles dias em que tudo parecia mudar e minha cabeça parecia fluir numa órbita própria, como se meus pensamentos tomassem caminhos diferentes e mortais perante a tudo que eu via ao meu redor. Estar amarrado a uma mesa de sacrifício é algo no mínimo aterrador, ainda mais quando te dopam com uma droga alucinógena que te leva numa viagem só de ida para o país da loucura. Eu estava bem tonto, o mundo girava, os sons pareciam longe e as cores pareciam ficar mais fortes, abrir os olhos causava ânsia de vômito e mesmo estando assim maluco, algo dentro de mim sabia que em poucos minutos um machado ou outra arma do tipo cairia sobre a minha cabeça e essa premonição tentava a todo o instante me acordar. É estranho perceber que você está salvo por alguém que você caçou há algum tempo... Me lembro claramente dela chegar perto de mim e dizer: _ Ainda bem que você está vivo! Fique tranquilo, você não é mais o jantar, acorde assim que ouvir minha voz novamente. O som da voz dela entrando pelos meus ouvidos e a imagem sem nitidez que meus olhos captaram me causaram um efeito hipnótico que duraria cerca de três dias onde estive num transe completamente insano, uma viagem pelo expresso do além da imaginação que se eu contasse muito poucos aqui acreditariam em mim. Acordei numa casa altamente tecnológica, onde tudo parecia ser feito de micro – circuitos que se ajustavam as necessidades do portador, um sonho para todo amante da nanotecnologia estrutural. Ao abrir os olhos tudo parecia novo, nunca tinha ido tão a frente no tempo, ao meu lado tinha uma inteligência artificial na forma de monitor que parecia ajustar se a qualquer pedido meu, minhas roupas tinham mudado e eu agora me encontrava somente com um traje de energia moldado de acordo com as minhas formas, um traje que parecia ser inteligente e quando me levantei da cama onde estava se transformou exatamente no formato de minhas antigas roupas, achei aquilo tudo estranho mas estava mais preocupado em explorar o novo território onde me encontrava. Tudo ali parecia ser altamente tecnológico, era uma casa de dois andares, lotada de aparelhos eletrônicos em contraste com utensílios mais antigos de diversas cores e tempos. Um contraste entre abajures antigos e softwares modernos que era gritante demais, algo em mim dizia que aquilo cheirava mal, uma espécie de instinto gritava dentro da minha cabeça ao ponto de me fazer quase perder os sentidos, mas ainda sim segui em frente com minha exploração. Ao descer as escadas para a parte inferior me deparei com uma cena no mínimo incrível: Um coelho com um terno risca de giz jogava xadrez junto com um homem bem velho de chapéu pontudo e uma túnica cheia de estrelas que pareciam se mover conforme os gestos feitos por ele. Num outro canto duas senhoritas vestidas como princesas recebiam galanteios de homens armados com couraça metálica e um monte de outras cenas bizarras ocorriam livremente, como se ali mesmo os mitos mais bizarros pudessem tomar vida e lhe tomar para tomar chá. Meus olhos percorriam do alto das escadas todo aquele ambiente procurando algo que lhe fosse familiar parecido com algo normal para o ano onde me lembrava estar. Fiquei ali alguns minutos olhando até que uma figura tocou em meus ombros e disse: _ Olá criança! Tomei um susto gigantesco com aquela inesperada aparição e por pouco não ataco sem pensar. Me virei rapidamente e vi a mesma mulher de branco que, dias atrás, tinha me dado o colar que tantos problemas me causará. _ Quem é você? Perguntei com voz resoluta e rosto fechado. _ Eu sou Gaia! A mãe Terra e não fique com essa cara, estamos no planeta Irreália, você é uma atração para todos! Faz mais de duzentos anos que ninguém atravessa o portal até aqui. _ Você disse Irreália? A Terra onde todas as lendas e criações vivem? Pensava que era somente uma história que Merlim contava para nós entreter nos salões da antiga Camelot? _ Você diz aquele Merlim ali? Jogando Xadrez com o primeiro – ministro coelho? E apontou na direção do homem que eu tinha reparado primeiramente. _ Aquele é Merlim? Como pode ser? Ele está morto! _ Todos aqui somos mitos, Deuses e criaturas fantásticas que no mundo de hoje estamos mortos, mas a força de nossas histórias saiu do plano do real e criou seu próprio mundo isso é Irreália.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...