O ano é 2150, a missão era apenas
uma entrega de armas em Bangwei, uma região a leste da cidade oriental. Um
local deserto onde tudo o que se via era mato e restos do que já foram cidades,
mas que acabaram sendo destruídas após a segunda guerra.
Meu nome é Salvatore e aquela
fora minha primeira missão, porém tudo saiu errado, os guerrilheiros para quem
venderíamos não chegaram e as forças da polícia internacional prepararam o
cerco ao nosso comboio.
Os que morreram ainda deram
sorte, pois os capturados foram espancados sem dó.
Torturas físicas, mentais,
morais, foram algo que todos sofreram. Tinham um objetivo: Encontrar o Dom, mas
ninguém revelou nada, pois a lealdade a família é tudo que nos resta.
Assim fomos mandados para a
prisão de Stackley, um lugar que faz o inferno pregado pelo padre André durante
a minha infância em Bio City ,
um lugar extremamente agradável, ali até mesmo Deus parece ter esquecido você.
Os guardas te batem a todo o
momento, por qualquer motivo, a comida é horrível e mínima e você tem de
trabalhar dezoito horas por dias em atividades de alto risco, sofrendo com a
sacanagem dos guardas que fazem apostas para ver quem mata mais os presos.
Passei dois anos ali esperando
o julgamento e no dia em que me levaria para ouvir minha sentença, um resgate
ocorreu, pois estava na mesma nave que eu, um dos maiores assassinos da
galáxia: O Infame pirata sideral, conhecido pela alcunha de o Palhaço, um cara
que tempos depois eu fiquei sabendo ser o responsável pela destruição total de
mais de vinte planetas habitados.
A nave foi atacada e vários
soldados usando armaduras com camuflagem desceram e atacaram as sentinelas que
nos levavam a sentença do juiz que provavelmente seria morte.
As celas foram abertas e todos
os presos libertados, porém logo as naves auxiliares vieram em socorro e no
embate todos os que sairão acabarão mortos.
Eu estava com tanto medo
daquilo tudo, era novato e só fiquei ajoelhado rezando para alguém não me
deixar morrer, vi muita coisa nessa vida e nem sei se Deus tem algum interesse
em mim depois de tudo o que fiz, mas naquele momento quando a nave principal
onde eu estava foi abatida e começou a cair, senti algo estranho, uma energia
de vida maior que não sei explicar e fiquei ali parado.
As celas são projetadas com um
material completamente inviolável e mesmo a minha estando aberta resistiu ao
choque e eu acordei num lugar completamente estranho, dentro daquele cubículo,
do céu a luta das naves prosseguia e quando sai dali com o braço e cinco
costelas quebradas, tinha na mente somente um instinto de fuga, não importava o
que fosse necessário, eu precisava fugir!
Sai correndo com imensa dor,
esperando encontrar algum indício de civilização.
Andei por no máximo uns trinta
minutos, até a dor ser mais forte que minhas forças e eu cair ali no chão
desmaiado esperando o fim inevitável no meio daquela desolada floresta de
árvores retorcidas e mudadas geneticamente para sobreviver ao sol que devido ao
fim da camada de ozônio se tornará uma verdadeira fornalha, mesmo após a instalação
da cúpula energética que filtra parte dos raios.
Era meu fim certamente, se ali
não morasse um eremita, velho e desgrenhado que fora ver o que estava fazendo
toda aquela barulheira que tinha lhe perturbado de sua meditação espiritual e
isolamento.
Acordei duas semanas depois
numa instalação bem antiga nos subterrâneos da ilha. Tudo ali era muito velho,
ratos saiam pelos inúmeros buracos na parede e da maca onde eu estava podia ver
milhares de pichações nas paredes, com temas e formas estranhas a mim.
Consegui andar me apoiando nas
paredes lotadas de entulhos, procurando algum sinal de vida no meio daquele
caos todo, ao sair do quarto onde eu estava vi uma trilha de sangue, no chão do
corredor e em várias salas que não tinha portas pude ver corpos aos pedaços,
esqueletos banhados em cal semi enterrados no chão.
Tudo ali estava se tornando
sinistro demais, era opressivo estar naquela escuridão toda, o cheiro de morte
misturado com cal e poeira era quase um alucinógeno que acabou por me deixar em
pânico, meus ferimentos ainda não estavam sarados e o ar começou a faltar.
Apoiei meus braços numa maca
semi – destruída no corredor daquele cenário caótico, puxando o fôlego com
força, minha cabeça estava girando muito e tudo parecia se transformar, era insano
demais, já tinha visto pessoas que eram viciadas em drogas falarem a respeito
dessas viagens mas nunca gostei disso e a família não permitia que usássemos nada.
Antes de desfalecer novamente
ouvi passos metálicos vindos da porta, uma pessoa se aproximava e antes de eu
perder a consciência pude ouvir uma frase dita por ele ao ver a mim ali naquele
corredor:
_ Para alguém que sobreviveu há
queda de uma nave em velocidade superior ao som, esse idiota tem uma mania de
sair correndo que é irritante!
Ele pegou meu braço com força e
retirou de um cinto bastante gasto um frasco que colocou numa seringa e aplicou
todo o líquido no meu braço.
Não fazia idéia do que aquilo
era, mas no mesmo instante eu religuei, meu coração estava batendo muito rápido,
a dor era profunda, porém minha mente não
desligava mais. Era maravilhoso estar vivo e estranho poder pela primeira vez
olhar ao homem que tinha me salvo pela segunda vez.
Um sujeito forte, com uma
espada japonesa nas costas, a barba crescia por todos os lados no seu rosto e
competia com as inúmeras cicatrizes, uma de suas mãos tinha sido decepada e no
lugar ele havia encaixado um gancho que apresentava vários sinais de ferrugem,
os pés eram próteses mecânicas que há pelo menos cem anos tinham sido
desativadas e também apresentavam sinais de desgaste, sua roupa era marrom de
sujeira e enquanto eu recuperava o fôlego pouco a pouco ele ficou parado sem se
preocupar em retirar a seringa do meu braço, tudo em mim parecia estar ligado e
rapidamente pulei do chão e ele riu, como um ar de zombaria e seriedade que lhe
deu uma aparência de um animal que ajuda a uma presa a sair de um problema para
depois mata – lá lentamente, aproveitando cada suspiro de dor de sua vítima,
para poder se alimentar melhor!
_ Seja bem – vindo aos milagres
da Cafeína misturada com Adrenocrômio, você não vai dormir por duas semanas com
a dose cavalar que eu lhe dei, aproveite a vida, seja lá quem você for, seu
idiota estúpido!
E ao terminar de dizer saiu
devagar me deixando com muito mais perguntas do que respostas, pelo menos agora
eu sabia que ali tinha uma saída, minha boca estava seca e fui atrás do velho,
seguindo em velocidade bem baixa para não agravar meu estado.
Descemos vários lances de
escadas, muitas pareciam ter sido escavadas na pedra bruta e conforme íamos descendo
pude ver que uma cidade arrasada tomava forma ali no subsolo daquela ilha, uma
terra arrasada que tinha sido soterrada por ação direta e pouco a pouco fora
descoberta, provavelmente pelo meu misterioso salvador.