A perseguição começa.
A nave caiu na Terra no final do ano de
1967, numa pequena fazenda próximo ao município de Crixás e foi avistada nos
céus daquela cidade por vários moradores e por uma nave de aliens pacifistas
que foram atacados por um morador da região que atingiu um deles na testa, matando
o, mas acabou recebendo um tiro de laser que o matou tempos depois devido a um
câncer. Porém enquanto eles voavam de volta ao espaço perceberam as avarias no
casco da nave e acabaram explodindo nos céus, somente por sua curiosidade em
saber o que era aquela nave que virão caindo dos céus rumo ao planeta Terra.
Demorou vinte e três anos luz antes de eu
retornar a ver a luz do dia... Mas tudo recomeçou errado, pois o sistema da
nave ao cair na Terra sofreu várias avarias e assim transferiu para meu ser não
somente os conhecimentos que eu havia pedido, mas todo um banco de dados sobre
lutas com os mais diversos tipos de armas.
Além
de diversas partes do meu corpo foram alteradas de modo a me tornar uma
perfeita arma humana, não sei explicar até hoje os detalhes de tudo que
ocorreu, mas eu me tornei durante esses vinte e três anos presa naquela nave
uma verdadeira máquina de matar.
O sistema em que eu estive mantida durante
esse período todo me colocou em estado catatônico enquanto minha mente ligada
ao sistema aprendia os conhecimentos de modo direto, por meio da inserção
cerebral, porém o volume de dados era muito alto e mesmo meu cérebro sendo
feito em laboratório não agüentou aquela carga, então o programa da nave foi
forçado a apagar partes da minha vida, transferindo essas informações do
consciente para o subconsciente e assim naquela manhã eu acordei sem me lembrar
de nada do que havia ocorrido no espaço.
Minhas roupas tinham se quebrado por causa
dos efeitos do gás gelado que me manteve inativa por todo esse período e quando
eu acordei estava totalmente nua e meu corpo necessitava urgentemente de algum
líquido, assim abri um dos compartimentos onde vi várias tecnologias e tirei de
lá um frasco que continha um líquido incolor que parecia reagir ao meu toque,
abri a tampa e ingeri todo o conteúdo e cai no chão da nave inconsciente, por
sorte as portas ainda não tinham sido abertas, pois se não eu teria morrido,
pois meus pulmões antes da queda ainda não tinham voltado a funcionar novamente
e assim muito tempo passou enquanto meu DNA se fundia ao composto químico, numa
união que alteraria toda minha vida daquele momento em diante.
Não tenho idéia de quanto tempo fiquei
inconsciente, só me lembro que acordei com a nave pedindo socorro para mim, por
meio de uma conexão cerebral. Um grupo de humanos parecia estar tentando abrir
a nave usando suas primitivas ferramentas e somente uma palavra vinha na minha
mente enquanto eu lutava para acordar: Escudo, e assim pedi para que a nave
ativasse os escudos e de algum modo pude sentir um cheiro forte de carne
fritando pelo lado de fora do recinto, algo como carne humana eletrocutada.
Assustada pelo cheiro de queimado do lado
de fora, acordei rapidamente e olhei no painel da nave que marcava a data de
primeiro de janeiro de 2014, de algum modo eu havia dormido muito tempo enquanto
o liquido fazia efeito no meu corpo, no susto que eu tomei acabei desenvolvendo
pela primeira a força dos meus poderes, quando no susto acabei quebrando o
painel tentando entender melhor e assim a nave ficou impossibilitada de voar.
Meio assustada, sai dali carregando uma
bolsa somente, com o corpo completamente nu e abri manualmente a entrada da
nave e a visão que eu tive do lado de fora era aterradora: Milhares de corpos
jaziam ao lado da nave, com suas roupas ainda intactas, pessoas que pareciam
ser de diversas épocas, ossos que ainda carregavam suas roupas e fediam muito.
O lugar onde a nave parecia ter pousado era uma caverna com pequena atividade sísmica
próximo ao município de Crixás num pequeno monte que mais tarde ficaria
conhecido como Monte do Reino.
Sai dali totalmente nua, fui subindo por um
paredão enquanto ao longe pude sentir novamente o ar e ouvir um barulho muito
alto de máquinas que estavam muito acima de minha posição, possivelmente
minerando algo ali naquela região.
Gastei quase quatro horas na subida e
quando dei por mim estava noite alta e minha visão pouco a pouco foi se
acostumando a escuridão da caverna, de lá de cima pude olhar para baixo e
percebi que aquela nave tinha caído por mais de cinco mil metros de
profundidade.
Minhas mãos sangravam, quando pude sentir
barulhos mais para o interior da caverna e movida por alguma curiosidade fui
adentrando naquele recinto sem me dar conta do que estava prestes a presenciar.
Fui andando guiada somente pela minha
audição que parecia ter se ampliado muito e quando cheguei a entrada da
caverna, pude ver uma cena que me deixou estarrecido: Duas crianças estavam
amarradas enquanto um grupo de cinco homens montava vigia do lado de fora e uma
mulher conversava num telefone com uma voz zombeteira:
- Eu não quero nem saber! Se o pai das
piralhas não pagar, entrego elas em tirinhas para esse velho filho de uma puta.
- Você está duvidando de mim, seu bosta
então espera ai que eu vou mandar para ele um pedacinho delas, quem sabe a
cabeça?
E ficou ameaçando aquelas crianças que não
deveriam ter nem dez anos de idade com uma arma para que elas pudessem gritar e
depois desligou o telefone rindo, e saiu para o acampamento do lado de fora.
Fiquei por algum tempo olhando as
garotinhas, a mais nova só chorava enquanto a outra parecia ter um corte muito
profundo na cabeça e somente se ouvia gemidos daquele pequeno corpo.
Movida por algum instinto me escondi numa
parte mais próxima da caverna e quando a mulher voltou para novamente ameaçar
alguém pelo telefone, acertei a com uma pedra que estava próxima a minha mão,
mirando no rumo da cabeça, porém a força do meu arremesso fora muito maior do
que eu havia planejado e a pedra simplesmente varou o crânio dela de um lado ao
outro e caiu no chão próximo das garotas, fiquei assustada com minha força, me
senti bem por ter feito o que fiz e rapidamente arrastei o corpo daquela mulher
para o escuro da caverna e encontrei na parte de trás de sua calça uma pistola
calibre 45.
Munida somente com aquela arma esperei até
que seus comparsas viessem a procura dela, eu podia escutar até a respiração
deles e quando o primeiro veio, acertei lhe um tiro na mão que empunhava um
fuzil e rapidamente a arma caiu ao longe e ele gritou de dor, chamando seus
outros amigos que ao me ver próximo ao corpo do que parecia ser a chefe deles
ficaram sem reação por alguns segundos e foi nesse espaço curto de tempo que eu
aproveitei para livrar o planeta daquela corja maldita.
O primeiro eu acertei com um tiro na altura
do rim enquanto ele se abaixava para tentar ajudar ao amigo ferido, o disparo o
fez cair de dor com urina saindo por fora do ferimento e rapidamente acabou
caindo desacordado. O segundo quando olhou para o rumo onde eu estava e
percebeu tarde demais que minha arma já estava engatilhada e recebeu uma bala
que atravessou seu cérebro e ao se instalar na base do seu crânio, quando a
bala se fixou dentro dele, ela explodiu e voaram miolos dele por toda a
caverna, me deixando totalmente cheia de pedaços daquele corpo, o terceiro
deles saiu correndo gritando por reforços, mas não teve muito tempo para gritar,
eu sai para a entrada da gruta e antes que ele pudesse realizar muitos gritos
atingi o com a última bala que eu tinha no tambor da arma bem na espinha,
deixando na hora tetraplégico, como a saída da caverna era uma estreita trilha
encravada no paredão de rocha, o impacto daquela bala o fez cair da trilha e
seu corpo foi despencando até chegar ao fim alguns metros abaixo de onde estávamos.
Logo ouvi dois homens conversando entre si
e percebi que não teria mais problemas, os homens ficaram amedrontados e pela
primeira vez soube da lenda que corria a respeito do lugar onde eu estava:
- Por que ninguém lá de cima responde no
rádio?
- Será que a lenda é real?
- Que lenda seu idiota, desembucha logo que
papo é esse?
- Meu avô me contou certa vez que nessa
montanha mora um espírito que vem matando todos os que tentam perturbar a paz
desse lugar.
- Não sei você, eu não vou ficar mais aqui.
- Espera eu vou com você também
E assim as sentinelas, sumiram da minha
audição e pude me preocupar com as meninas que estavam bastante amedrontadas
com toda aquela confusão.
Ao chegar perto delas percebi que a criança
que tinha um corte na cabeça jazia perto dos portões da morte e que não
adiantava tentar salvar ela, mas a outra ainda estava viva e bem, porém tinha
entrado em estado de choque emocional por tudo o que havia visto.
Rapidamente peguei a calça e o casaco
daquela mulher que eu havia arrebentado a cabeça e só então me dei conta de que
o telefone tinha ficado ligado durante aquele período todo e que as pessoas com
que ela deveria estar falando deviam já ter entrado em choque, após ter
escutado toda aquela algazarra sem nenhuma resposta.
Peguei o aparelho e tentei discar de volta,
mas naquele instante vi dois helicópteros do exército nacional aparecerem no
horizonte e no puro instinto de sobrevivência me escondi com as meninas dentro
da caverna e por pouco não explodiram elas, soterrando aquelas pobres
inocentes.
Fiquei alguns segundos parada de olhos
fechados enquanto ouvia as tropas se aglomerando na base da caverna, pensando
numa forma de resolver aquela situação sem ferir aquelas pobre meninas.
Por um descuido meu quase que elas acabam
se ferindo, os militares já chegaram abrindo fogo e eu sem pensar muito parti
para cima deles, no puro instinto e quando dei por mim estava usando um dos
corpos como uma espécie de trenó para descer aquela elevação, escutava durante
o trajeto cada osso do corpo se partindo enquanto a descida se acentuava num
declive profundo, até que na base eu atingi uma sentinela que vigiava um dos
jipes no rosto, quebrando toda a sua mandíbula com um só tiro e pulei para
dentro do carro, ligando o e saindo dali rapidamente, a adrenalina no meu corpo
estava alta e num relance pensei ter visto um homem vestindo uma máscara que
parecia me olhar profundamente, passando por mim alguns instantes após eu
conseguir sair daquele local.
Tudo parecia novo e sentir o vento nos
cabelos pelos buracos de bala vindos daquele carro, me parecia uma sensação
deliciosa.
Fiquei muito mais preocupada com as meninas
que se encontravam tão mal do que com minha própria vida e minha mente ficou
inquieta tentando entender o que poderia ter acontecido durante o apagão que eu
sofrera e que só retornará quando estava já em cima daquele homem que usei para
descer.
O que estaria acontecendo com minha mente e
por que eu não me lembrava de nada naqueles minutos? E por que a figura daquele
homem de máscara que tão rapidamente passará por mim, tinha me deixado tão
apreensiva.
Tudo isso passava por minha mente enquanto
eu adentrava no cerrado, criando minha própria estrada, seguida por um
helicóptero militar que não me atingia com suas metralhadoras e mísseis por
alguma razão que a mim era desconhecida.
A noite chegou nesse ritmo alucinante e cada
vez mais os soldados pareciam estar com o ânimo redobrado, fui avançando em
ziguezague por vários quilômetros mantendo o acelerador sempre acima dos cento
e vinte quilômetros por hora, até que já com a noite alta, avistei uma cidade
grande, um lugar totalmente iluminado, uma bela cidade que somente passado
alguns dias viria saber se chamar Goiânia, um lugar onde eu esperava poder me
misturar na multidão que ali deveria ter, para poder tentar escapar, meu corpo
já começava a mostrar sinais de cansaço quando olhei para o lado num momento de
sono vi a mesma bolsa que tinha retirado da nave onde tinha acordado naquele
dia, atravessei ela nos ombros como uma proteção e pisei fundo, seguida de
perto pelos militares que quando perceberam que minha intenção era entrar na
cidade atiraram nos meus pneus tentando me parar, mas eu consegui guiar até uma
barreira policial e acelerei tudo o que podia para cima dos carros da polícia,
com o motor do jipe militar já em chamas pelos tiros que estavam sendo
disparados e lancei o carro para cima deles pulando poucos metros antes da
colisão e entrando num ônibus que tentava acelerar assustado no meio de toda a
confusão que tinha se formado.
Por sorte não fomos parados, pois ninguém
tinha percebido naquele momento que eu não estava mais no carro, assim segui
viagem por alguns metros até que o cobrador vendo que eu estava bem armada, ao
vir até mim querendo que eu pagasse a passagem, quando ele me acordou uma
pistola que estava no bolso interno do casaco apareceu e o homem pediu pelo
amor de Deus que eu não o matasse, disse a ele baixinho para não acordar os
passageiros que pareciam dormir profundamente durante o trajeto, que se o
motorista não reduzisse um minuto os dois sairiam vivos para contar aquele
momento ele correu no motorista que aumentou a velocidade, sem se importar com
a qualidade da estrada e durante todo o trajeto eu fiquei ameaçando o cobrador
com a pistola já quase sem balas até que chegamos a uma cidadezinha e eu fui
até o lugar onde o cobrador ficava e lhe perguntei com a arma apontada para sua
cabeça.
- Qual é o nome dessa cidade?
- Pontalina, moça, não me mate, por – favor!
Eu tenho filhos para criar .
- Eu vou sair aqui e se algum de vocês dois
falar algo sobre essa viagem para as autoridades mesmo que seja uma informação
mínima vai morrer de forma bem violenta e sua filha logo estará sem alguém para
chamar de pai, eu juro que se me entregarem acho vocês dois até no inferno,
seus malditos!
Era eu que os militares estavam caçando
naquela cidade e só nessa noite, matei quase duzentos homens, estão me
entendendo? E apontei a arma para o rumo do motorista que urinou nas calças de
medo ao ver o tamanho da minha arma.
Em uníssono, os dois concordaram que não
falariam e eu fui até o painel e abri a porta, enquanto todos os passageiros
esperavam para chegar ao outro lado do estado, desci na cidade de Pontalina,
pensando que tinha escapado, mas na verdade meus problemas só estavam
começando...
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