quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Abigail Mac, a história da loucura em forma humana

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        A história de Abigail Mac: A loucura personificada em forma humana.
   
Envio para a editora Paradoxo esse relato de minha humana, que traz consigo o que há de melhor em toda a humanidade: Loucura

    A história que vou contar a vocês é um relato sobre a loucura!Não há ninguém enlouquecido, apenas alguém que é a manifestação de toda falta de razão do mundo!
    O destino e a razão tiveram uma filha seu nome era Loucura, mas eles não podiam entender todos os poderes dela por isso abandonaram a ainda bebê num orfanato em Petrópolis, sem documentos, sem passado, ela recebeu o nome de Abigail por uma das irmãs do local, uma senhora que sempre sonhara em ter uma filha e nunca tinha conseguido.
    O tempo passou e Abigail se tornou uma criança altamente insana, como era de se esperar pelos seus poderes e pela sua história de vida. Ela era altamente instável e quando queria algo era praticamente impossível deter lhe a vontade, era uma vítima da própria mente insana que a cada dia se tornava pior.
    A irmã que cuidava dela, faleceu vítima de um acidente de carro e as outras freiras logo trataram de prende - la em um sanatório na mesma cidade, para elas Abigail era apenas um problema a desfeito.
    A razão para levarem ela para uma clínica psiquiátrica foi eu ter chegado e elas terem me visto conversando com aquela pobre menina.
    Não estranhem mas ela me chama de Amor e eu sou um gato enquanto estou na Terra, na verdade sou um fugitivo do inferno, uma alma torturada por diversos crimes que conseguiu escapar e tomou a forma de um pequeno bichano.
    A garota foi amarrada numa camisa de força e eu levado para o centro de zoonoses onde tentarão me matar num forno crematório, mas os guardas do lugar entenderão que comigo não se brinca. Quando foram me pegar na gaiola para levar me a morte eu mordi o pescoço de um dos veterinários e sai como um louco daquele lugar onde tantos animais eram mortos!
    A polícia foi acionada mas o enfermeiro no máximo deve ter pego alguma bactéria, pois raiva eu não tenho! Me vacino sempre com a ajuda de velhinhas idiotas e quase cegas com quem passava a maior parte do tempo, aproveitando para comer bem!
    O meu corpo está bem conservado e basta me mudar para outro gato sempre que os anos passam demais para mim. Eu voltei para perto daquela garota! Ela era demais, adentrei a mente dela com meus poderes telepáticos e vi que não havia nada ali, além da mais pura insanidade!
    Fui com a cara dela e resolvi ter ela como minha humana número 1, ela não poderia me arranjar comida, mas assistir a ela matar seria um prazer enorme para mim, que manipulando seus sentimentos e vontades conseguiria causar um verdadeiro caos na terra.
    Consegui chegar ao sanatório e pude ver ela ser levada para uma cela fria, cheia de ratos, imunda, ela estava amarrada em uma camisa de força, confesso que fiquei até com pena, cheguei mais perto ai então escutei o relato dos enfermeiros!
    _ Essa maluca mordeu o pulso de um dos nossos e agora ele está no hospital com risco até de perder a mão e acertou o enfermeiro que a sedou com um chute tão forte na virilha que o coitado está no hospital saindo sangue pela urina!
    _ Você está brincando! Uma menina de 10 anos de idade fazer isso com dois caras adultos? kkkkk, não acredito nem para te agradar João! Agora vamos levar ela para a solitária até ela se acostumar com gente.
    Fiquei feliz que minha menina tinha conseguido fazer um belo estrago e assim eu fui seguindo eles até que cheguei a cela, estava no telhado e para mim foi fácil descer pelo telhado e chegar até o local onde a coitadinha estava.
    Ela acordou e ainda sob uma descarga de adrenalina, golpeou a porta com os pés, deixando as marcas de seus dedos na porta de aço! Fiquei impressionado e rapidamente usei meus poderes telepáticos para acalma - la!
    _ Docinho! Fique calma, eles te prenderam, mas eu estou aqui! Vou te ajudar a ganhar um cachorro de ferro! Não é isso que você quer?
    _ Amor! Você está aqui! Que bom! Pensei que eles tinham te levado para o frigorífico! E veio até a mim me apertou com força suficiente e sentou num canto me colocando em seu colo e ficou a me dar carinhos!
    _ Confesso que apesar de ser um gato demoníaco não resisti a todo esse carinho e adormeci no seu colo enquanto ela falava coisas desconexas como: destino, ets, viajar, matar aos maus! Acordei com os gritos dela quando dois enfermeiros tentavam lhe dar os remédios, rapidamente sai da vista dos dois e ataquei um deles no calcanhar fazendo o cair e no mesmo instante ela acertou uma dentada no nariz de um deles com tanta força que o mesmo ficou na boca dela.
    O outro usou um bastão de choque para desmaiar a ela e a mim. Esse era o tratamento comum a todos dentro daquela pocilga! Eu e ela apanhamos várias vezes e diversos enfermeiros terminavam o turno de trabalho precisando de uma plástica.
    Cinco anos foram passando até que um dia ela estava muito agitada! Era o dia em que fazia quinze anos e uma freira do orfanato tinha lhe prometido uma festa nessa data.
    Não adiantava nada dizer que a irmã estava morta, ela não acreditaria em mim e só ficaria mais zangada ainda! Então resolvi ajudar ela a fugir!
    Todo dia eles a levavam para o banho e nessa hora eu planejei lhe ajudar a fugir! Convenci ela a ir docilmente com eles e no momento em que ela entrou no banheiro e eles retiraram os cadeados da camisa de força dela eu entrei no banheiro pela janela e dei um golpe dentro do olho de uma enfermeira velha! Ela me jogou dentro da sala de banho e eu tomei a ducha mais gelada do mundo, enquanto minha garota livre dos cadeados usou sua força para dar um chute na virilha da segunda enfermeira e pude ouvir a bacia da moça se quebrando e ela se contorcia com muita dor!
    A outra enfermeira saiu correndo e ao tropeçar em mim que estava saindo do banheiro acabou caindo no chão e fraturou a coluna, assim nós conseguimos dar algum tempo para nosso plano de fuga! Eu ia na frente enquanto ela ainda vestida com a camisa de força atacava qualquer um que entrasse no caminho.
    Eu conhecia todas as partes daquele cenário de horror, foram cinco anos apanhando e sendo retirado da cela por várias vezes e eu voltando sempre, passei a ter um fetiche nessa humana, uma fixação mental, uma loucura por ela! E por toda morte que ela causava por tão pouco!
    Durante nossa fuga outros doentes se juntaram a nós dispostos a fugir e isso foi uma benção providencial por que no meio da bagunça conseguimos fugir no meio do caminhão de lixo hospitalar que estava partindo naquele momento.
    Assim conseguimos fugir, muitos enfermeiros acabaram sendo mortos pelos doentes, algo em torno de trinta, mas pouco importava agora! Afinal tínhamos dado o fora e agora isso era tudo o que importava. Saímos do caminhão de lixo durante a noite quando eles descarregavam todo o material num aterro comum fora da cidade, infringindo um monte de leis.
    O motorista bem que tentou ligar para as autoridades, mas minha garota pegou um pedaço de vidro e cortou ele em pequenos pedaços. Primeiro ela o degolou com o vidro, depois abriu as tripas dele com um bisturi que caiu no chão junto conosco que eu lhe joguei nas mãos! Ela abriu o peito dele como um açougueiro, retirou tripas, pulmão, quebrou as costelas e cortou o coração dele, pondo no chão para me alimentar!
    O lixão estava vazio e o caminhão de lixo hospitalar estava ali parado em meio a nuvens de lixo, logo os trabalhadores viriam descarregar mais lixo ali e não seria bom eles encontrarem minha humana ali, assim comi aquele coração rapidamente e o gosto estava delicioso.
    Saímos dali no caminhão e ela logo bateu ele num poste, e fomos correndo pelas ruas da cidade, em um silêncio mortal onde até os cachorros fugiam de nós! Naquele instante entendi um dos poderes de minha pequena Abigail: A aura de loucura faz qualquer um que chegue perto dela fique totalmente insano, isso ocorreu a um bêbado que tentou puxar ela pela manga da camisa de força e acabou caindo ao chão babando e se debatendo como um bebê. Ela foi indo por instinto de volta para o lugar que considerava sua casa! O antigo orfanato que nesses cinco anos tinha sido transformado em uma loja de roupas, após uma investigação policial acabou se descobrindo um desvio de dinheiro das irmãs que era usado para pagar alguns pequenos luxos materiais enquanto as crianças morriam de fome e frio.
    O orfanato foi incendiado pela população e a loja comprou o terreno e fez ali uma filial enorme. Ela não se conformou com aquilo e ficou parada dentro dos muros da loja dando murros no chão, nem eu poderia aplacar a ira daquela garota naquele momento então resolvi deixar ela extravasar!
    Ela saiu gritando dentro da área de carga e logo um segurança que passava pelo local avistou ela mordendo caixas e chutando produtos dentro da zona de estoque depois de estourar a porta com uma árvore que ela arrancou! Foi maravilhoso de ver ela batendo a cabeça do segurança num vão da escada até o rosto dele estar completamente esmagado no chão.
    Foi divertido de ver ela destruir tudo, os outros seguranças provavelmente tinham selado os andares superiores e deveriam estar com medo demais por que uma loja daquele tamanho deveria ter uma equipe grande e no entanto só um tinha aparecido!
    Depois de destruir toda a paisagem ela foi se acalmando, cansada de tanto lutar e ficou sentada em meio a um monte de roupas meio rasgadas no chão, chorando e chamando o nome de Irmã Lúcia, perguntando cadê a festa que a senhora me prometeu?
    Fui chegando mais perto e com meus poderes telepáticos fui tentando acalmar ela, pedi para que trocasse de roupa caso contrário os homens maus que queriam machucar ela poderiam facilmente nos encontrar.
    Ela enxugou as lágrimas e me deu outro abraço apertado, cortou as mangas da camisa de força com um estilete usado para abrir caixas ali naquele depósito e libertou as mãos e depois foi fácil retirar a camisa de força, ela rapidamente arrancou as roupas do hospital e logo pude ver que ela ainda carregava no corpo as constantes surras recebidas no hospital, tendo hematomas negros por toda a perna, marcas que pareciam dançar conforme ela ia ficando com mais adrenalina.
    Abigail desprendeu os cabelos que viviam amarrados e trançados e pude ver uma grossa cabeleira vermelha, igual a de um Irlandês só que o seu cabelo parecia estar mais vivo como se ao parar de tomar os remédios ela tivesse retornado a ser ela mesma, voltado a vida!
    Rapidamente ela estava pronta! Vestindo uma blusa rasgada preta, uma calça toda cheia de furos e um tênis bem vagabundo, saímos dali já escutando o barulho das sirenes da polícia que vinham nós pegar!
    Saiamos correndo pelas ruas, enquanto o sol já estava raiando, até que chegamos a instalação de um circo que estava na cidade e dormimos em meio as lonas, até que pela manhã uma mulher ao acordar viu nos dois deitados ali no chão e se apiedou de minha humana, levou a para dentro e nós deu o que comer, nem perguntou nada! Apenas falou para o dono do circo que ela agora estaria conosco e o homem resignando se frente a imposição de sua maga resolveu aceitar!
    E assim começou nossa aventura no circo, mas isso eu deixo para outra hora, por que ela chegou agora e preciso lhe manter calma.

        Aventuras no circo

    Enquanto vivíamos no circo, Abigail passou a aprender falar, escrever e em pouco tempo já estava muito boa em equilibrismo, mágica, conseguia levantar sozinha o tronco que mantinha nossa lona no lugar!             Ela se tornou um faz tudo do lugar e todos gostavam dela, mesmo achando a meio perturbadinha pelo fato de que ela raramente conseguia se  manter em um só trabalho ali dentro e que quase nunca conseguia responder uma pergunta com uma resposta direta e inteligível!
    Minha tese para esse amor daquelas pessoas pela minha humana era algo bem simples! As pessoas do circo são párias sociais e não se importam muito com os defeitos dos outros afinal de contas eles próprios são cheios de defeitos e erros.
    Logo eles arrumaram para ela um sobrenome, data de nascimento, filiação, e o mais necessário para que ela tivesse documentos para poder não criar problemas durante as viagens, eu recebi banho todos os dias, para minha agonia e tristeza e passei a ser chamado de “ O gato mais inteligente do mundo” Por que conseguia andar na corda bamba com duas patas, uma tolice que qualquer felino da conta de fazer com um pouquinho de treino. Gostei daquele lugar, apesar da comida horrível! Eu conseguia me divertir e minha humana estava bem e não dava crises de raiva há um bom tempo!
    Tudo ia bem, nós tínhamos apresentações diárias e tudo corria as mil maravilhas até o dono do circo ser assassinado em um bar próximo a São Paulo, sua filha até tentou movimentar o lugar mas o show não era mais o mesmo e logo eles iriam a falência, minha humana e a mulher que nós adotou choravam muito na tenda e eu resolvi bolar um plano para salvar o lugar.
    Confesso que convencer Abigail era a parte fácil, o resto depois que me preocupava! Em especial o fato que eu não tenho sete vidas e achar outro gato tão bonito quanto eu era naquele momento não seria nada fácil!
    O plano era usar um truque de hipnose no gerente do banco para ele abrir a agência a noite para nós e darmos o limpa na grana,algo relativamente fácil se o maldito gerente não morasse a quilômetros da cidade em uma sítio e o truque durasse apenas alguns minutos, assim acabamos tendo de amarra - lo e entrarmos na agência pela porta lateral, o segurança que estava de plantão até sacou a arma mais era muito lento para a humana e logo acabou sendo rendido, os disparos no entanto foram escutados pelos vizinhos e assim fomos entrando no banco com as sacolas vazias e muitos planos na mente. Eu ia jogando as notas e ela ia colocando na sacola, pegamos quase quatrocentos mil reais naquele roubo e saímos correndo, abandonamos o carro que era do gerente lá dentro e o vigia desacordado e pelado estava dentro do banheiro trancado!
    Minha humana tinha pego as roupas do guarda e assim tínhamos conseguido sair pelas ruas sem chamar muitas suspeitas, chamamos um táxi que nós levou até um hotel próximo a estação do metrô da barra funda.
    Ali passamos a noite, verificando os relatos da polícia e planejando como iriamos voltar, até que naquela mesma noite vimos no noticiário que o circo tinha sido queimado acidentalmente pela filha do dono que encheu a cara de cachaça e tentou fazer o número do engolidor de fogo e acabou lançando uma chama alta demais que pôs fogo na tenda e quase matou a todos que estavam próximos! Por sorte apenas duas pessoas tinham sido feridas com gravidade, a mágica do circo e a dona do espetáculo. No entanto grupos de defesa dos animais já estavam processando o circo por manter animais em cativeiro e o lugar tinha sido lacrado pela vigilância sanitária.
    Não havia mais para onde voltar! Agora eramos procurados por roubo a banco e não tínhamos mais um lar. Resolvi convencer ela a entrar no mundo do crime, algo que prontamente rejeitou, queria ir até o hospital onde sua “mãe” estava internada e saiu ainda de noite, vestindo somente um vestido bem curto vermelho, peça que eu encontrei debaixo da cama  da pensão, provavelmente de alguma prostituta, quando ela saiu sua roupa à fez ser confundida com uma profissional do sexo por duas vezes, para azar dos engraçadinhos que cometeram o erro e acabaram com o nariz bem afundado no rosto.
    Ela chegou ao hospital e os seguranças não a deixaram entrar, eram muitos e estavam bem armados, ela começou a ficar nervosa até que vi sair pela porta giratória duas enfermeiras com jalecos brancos e eu resolvi falar para ela atacar uma delas e conseguindo pegar as roupas entrar no lugar.
    Virando a esquina as duas enfermeiras seguiram caminhos distintos, a primeira pegou um ônibus enquanto a segunda foi caminhando para casa até passar por nós e receber uma cotovelada na altura do pescoço que a nocauteou na hora, por sorte a rua estava deserta e ninguém viu nosso ataque depois de correr meio quarteirão para chegarmos até ela.
    Pulamos o muro de uma construção com ela sendo carregada por Abigail nos braços como um saco e a despimos no meio de uma construção paralisada da prefeitura de São Paulo, um lugar deserto. Ela foi despida ali mesmo no meio da areia, Abigail tirou até a calcinha da enfermeira e pegamos a bolsa tirando de lá o celular por sugestão minha e desligando o mesmo!
    A roupa estava um pouco amarrotada mas serviu para enganar perfeitamente aos seguranças que mal perceberam que a enfermeira era a moça que tinha barrado minutos atrás!
    Eu fiquei na rua, olhando o tempo e dando um trato numa gata de rua que deu mole para mim, afinal também tenho minhas necessidades e sabia que a humana agora não precisava de mim, contava apenas com muita sorte e que não desse nenhuma crise de raiva ali no meio do hospital, caso contrário veria muito médico aprender a voar sendo lançado pelas janelas.
    A gatinha e eu estávamos nos conhecendo intimamente e os nossos gritos de amor e prazer ecoavam por todos os lados enquanto minha humana estava chegando ao andar onde sua mãe estava internada.
    Um segurança tentou barrar sua entrada no quarto onde a maga e a filha do dono do circo estavam sendo tratadas e recebeu um golpe de mão fechada no pescoço que segundo eu li no jornal no dia seguinte, quebrou sua traquéia de modo que ele nunca mais iria falar na vida.
    Ela entrou e pode perceber que sua mãe estava mal, realmente mal, ela tinha sido a única a tentar entrar dentro da lona para resgatar Cibele a filha do dono do lugar e por isso tinha sido queimada tanto ou mais do que a moça bêbada!
    Pela primeira vez depois de quinze anos ela estava impotente frente aquela situação, ajoelhou se na cama e chorou como se aquilo fosse seu próprio fim, o coração dela parecia estar tão amargurado que queria sair do peito, aquele foi o último adeus pois ali em sua frente sua mãe faleceu, os aparelhos pararam e com eles o último sopro de sanidade de minha pequena humana se foi junto.
    Os médicos entraram e a encontraram chorando e rindo, vendo os últimos suspiros de umas das poucas pessoas no mundo que a tinha tratado bem, no mesmo instante vieram os seguranças pedindo explicações a ela sobre o ocorrido com o vigilante que guardava a entrada e quando ele a tocou, no mesmo instante seu corpo foi se metamorfoseando em um ornitorrinco pequeno e conforme ela ia encarando cada um dos que estavam ali naquela sala eles iam mudando de forma.
    O poder dela estava no máximo, a própria distinção entre real e irreal foi rompida dentro dos limites do hospital, quase como se ela tivesse criado uma dimensão paralela, boa parte dos doentes e do corpo médico ficou completamente insana, ao ver cenas impossíveis, tais como: Um elefante de bolinhas voando, ou cachorros que cantavam ópera... Tudo aquilo foi muito forte para alguns que chegaram até mesmo a morrer pelo choque.
    Ela foi descendo os andares enquanto eu estava terminando minha transa com a gatinha, até que no exato momento em que ela estava no nível da rua eu sai correndo para tentar acalma - la e acabei sendo transformado num corvo! Eu virei um passarinho! Lembro me que nunca tinha ficado realmente com raiva dela como naquele dia, mas ao olhar nos seus olhos entendi que não era hora para reclamar, por que aquele brilho que ele tinha era muito estranho, bastava ela focar o olhar em algo e aquilo mudava no mesmo instante, ela parecia possessa, igual aos filmes de terror, com a desvantagem que nos filmes de terror sempre tem um bonzinho idiota que no final derrota o mal! Algo que me deixa realmente irritado!
    Ela foi descendo a rua e tudo a sua volta parecia estar se alterando, prédios ganhando vida, pessoas começando a se transformar em postes e até mesmo um cachorro começou a entender sua realidade e começou a filosofar sentando no meio - fio sobre qual era o sentido da sua vida?
    Eu ia seguindo a do alto, torcendo para que ela caísse desmaiada de cansaço e aquilo tudo fosse desfeito e por sorte meus bons pensamentos acabaram funcionando e quando entramos na pensão ela apagou, por sorte tudo voltou ao normal, claro quando digo tudo entendam bem que estou dizendo das coisas físicas! A cabeça das pessoas que sentiram o poder de minha humana ficaram terrivelmente afetadas e nunca mais voltaram totalmente, os psiquiatras amaram esse incidente por que ganharam dinheiro e fama, inventando mil casos para explicar aquilo que eles chamaram de “delírio coletivo”.
    Eu voltei a minha forma felina que tanto amo, e fui arrastando ela até a entrada de nosso quarto, não podia pedir ajuda a ninguém por medo que descobrissem nosso dinheirinho extra, então peguei a pela gola e fui até chegarmos a porta, onde com alguns pulos consegui colocar a chave e girar, abrindo a entrada, ai só foi deixar ela lá dentro e fechar a porta.
    Confesso que esse trabalho foi cansativo, mesmo com minha força espiritual, cai em cima de um monte de lixo num canto próximo da porta e adormeci de cansaço.
    No outro dia quando acordei, ela já tinha se levantado, estava olhando para as pessoas com aquele mesmo olhar, sinistro e ao longe eu via um grupo que praticava caminhada fazendo toda sorte de babaquices, como se fossem meras marionetes, alguns inclusive estavam nus e acasalavam para o público que passava como se fossem cachorros. A polícia logo chegou e só nesse momento ela voltou para dentro e tomou um café velho e um pão embolorado que tinha sido deixado pelo antigo dono.
    Algo nela tinha sido mudado, ela estava começando a ter controle de alguns de seus poderes que mais tarde eu passaria a entender a natureza e a partir de então ela se tornou uma verdadeira bomba relógio prestes a explodir.
    Sabia que se ela quisesse eu estaria morto, ou transformado numa barata portanto tratei logo de ficar na minha e lhe obedecer, sempre de prontidão, apesar de que acompanhar o pique dela era algo bem difícil nos dias que se seguiram, ela saia toda hora pela cidade, desrespeitando o trânsito, hipnotizando donos de lojas de grife para darem suas roupas finas e caras para mendigos e pedintes nas ruas enquanto ela ficava vendo a cena toda e se divertindo, ela ria disso tudo, aliás era raro um momento que ela não risse, parecia que a alegria tinha a dominado, tudo era uma piada até mesmo ela tinha se tornado uma naquela cabeça insana e não sei por que passou a ser bem mais divertido.
    Duas semanas depois do incidente que fez sua primeira manifestação de poder, ela estava num shopping fazendo todos na praça de alimentação irem para o banheiro, ela alterava os lanches das pessoas por baratas, ratos, e outros animais nojentos e muitas pessoas que estavam comendo um gostoso hambúrguer no mesmo instante tinham cortado a garganta de um rato ou podiam sentir seu milk shake se transformando em um monte de escarro, algo delicioso para as pragas e ratos, uma vingança aos animais, mas extremamente nojento de se ver ao vivo. Nesse mesmo dia ainda no shopping quando passamos perto da vitrine de uma joalheira, entrou um grupo de criminosos no estabelecimento e a atendente se assustou e apertou o botão de pânico que ligou os alarmes, os bandidos atiraram na moça várias vezes, enquanto todos os clientes corriam e até eu mesmo me joguei atrás de uma lixeira ela ficou quieta olhando os anéis e quando se deu conta do ocorrido usou seus poderes para fazer os bandidos se matarem, um atirou no outro pensando que o comparsa era um policial e por fim o último dos bandidos se matou ali mesmo, um verdadeiro banho de sangue inútil e divertido.
    Ao terminar a matança ela gritou meu nome e fomos embora dali, no jornal do dia seguinte tinha os dizeres na capa: bandidos se matam em assalto a loja enquanto uma cliente assiste a tudo. O jornalista que escreveu inventou mil e uma conjecturas e a mídia toda também seguiu o mesmo estilo, o que levaria criminosos a se matarem durante um assalto? Por fim prevaleceu a idéia de que fora uma disputa durante o roubo por comando.
    Para finalizar essa parte das memórias da minha humana: Adoro como os humanos gostam de racionalizar sobre tudo, tentar dar ordem, número, classe... Parece ser o único sentido da vida para toda a civilização, algo engraçado , se vocês soubessem que somente a loucura impede o mundo de cair no caos, seria engraçado ver a cara de vocês se soubessem a verdade... Até a próxima história.
                        Assinado: Amor
   

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...