domingo, 24 de fevereiro de 2019

Risada.

Não havia nada de anormal na velha casa da colina. Era um local antigo e fechado há muitos anos onde somente aranhas e insetos viviam ali.
Os moradores do distrito quatro no entanto tinham medo até mesmo de olhar para ali. Corriam histórias de terror sobre o lugar e seu antigo: O coronel Stanford.
Na época eu era um delegado novato, vindo diretamente do curso de direito e da academia. Tinha a mente de um cientista e quando ouvia aquilo, não demonstrava externamente, mas por dentro debochava daquelas pessoas do interior.
Quando seis crianças desapareceram de uma van que as levaria para a escola, todos os pais subiram até ali e invadiram o local. 
A polícia foi chamada quando o caseiro foi espancado quase até a morte. 
Chegamos no local, a histeria era generalizada, um pastor local gritava que Deus estava enviando sua vingança para todos ali por terem aceitado que as obras do demônio fossem feitas ali.  
Levamos algumas dezenas para a prisão, incluindo o pastor.
Toda a situação era terrível. O prefeito e a imprensa estavam no nosso pé. Nenhuma pista foi encontrada no local, se o sequestrador passou por ali, o surto da população apagou qualquer evidência.
A população se tornou agressiva, estávamos pressionados a resolver o caso, não importa o custo.
As tensões chamaram os federais que ávidos em terminar aquele problema em modo recorde e assim poderem posar para a imprensa pegaram um suspeito simples, um vagabundo azarado que por acaso estava por perto na hora do acontecido e o prenderam.
Como erraram! Duas semanas depois as crianças foram encontradas decapitadas num ermo próximo a nascente de um córrego.
No lugar havia apenas uma mensagem escrita com o sangue das vítima: Uma longa risada.
Era o deboche final de um assassino serial que conseguiu escapar a lei. E o motivo pelo qual eu me aposentei.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

O plano

Viver em fuga é exaustivo. Saber que o silêncio e o cuidado são o essencial para ficar vivo é horrível.
Fui vítima de um serial killer anos atrás, meu nome é irrelevante. Já usei tantos que nem mesmo me lembro quem sou.
Escapei por que na luta contra ele consegui atirar no seu pé, fazendo o cair. 
Se eu tivesse sangue frio teria o matado ali, mas o instinto de fugir tomou conta e eu pulei a janela.
Fugi de tudo. A polícia me encontrou vagando. Foram na minha casa e não o encontraram, apenas uma mensagem: Eu vou te pegar.
Desde então, eu desapareci. Vivo na proteção a testemunhas e sou mais cuidadoso do que é necessário.
Só uso telefones descartáveis, nunca mais falei com familiares e não paro muito em nenhuma cidade. 
Sempre estou alerta. Esperar um ataque constante me deixou com paranoia. Dormir é um privilégio. Só consigo quando estou exausto.
Preparei um plano para escapar disso tudo. Um grande golpe para voltar a ter uma vida. Mesmo que para isso eu tenha de perder minha identidade para sempre.
Irei dar ao assassino um corpo. O plano começou quando passei a trabalhar numa funerária.
Lidava com a morte todos os dias, vendo em cada cadáver o meu futuro. 
Um dia apareceu um rapaz com meu peso e altura. Eu já tinha preparado radiografias com meus dentes, falsifiquei as. Tirei meu próprio sangue e coloquei como evidência daquele corpo.
Já tinha levado uma peça de roupa minha, vesti o com cuidado e apaguei os registros de sua entrada no necrotério.
Coloquei o corpo no meu carro e mandei uma mensagem de despedida para o agente da proteção a testemunha, para meu chefe na funerária, enviei até mesmo para minha família.
Queria que todos soubessem do meu suicídio.
Levei o carro até fora da cidade, deixei o celular ligado, coloquei álcool no corpo e um pouco de nafta dentro da boca dele. Acendi e sai dali.
Quando ouvi o carro explodi, sai correndo entrando no meio da mata, o mais longe que pude.
Tudo o que tinha agora estava na carteira. dez notas de cem reais e duas fotos.
Meu antigo eu tinha morrido.
Naquela noite eu dormi direito dentro de uma caverna próximo do local da explosão.
Tomei banho num rio próximo, e relaxei. Peguei uma carona para longe dali.
E fui pegando caronas, até me tornar ajudante de caminhoneiro.
Juntei mais dinheiro. Comprei uma mochila e várias peças de roupa.
Sempre mudava de nome. Mas como não tinha documentos evitava os policiais.
Numa parada de caminhões, roubei o documento de um cara que tinha sido espancado após roubar na sinuca.
Troquei a foto dele pela minha e a partir dali assumi a vida dele por um tempo.
Nunca parava quieto, e constantemente mudava minha identidade quando tinha oportunidade de roubar.
No entanto, numa parada de caminhões em Salvador, no banheiro saindo de um banho eu o assassino. Ele riu para mim e ficou ali parado usando uma bengala, enquanto eu ainda molhado fiquei paralisado de puro medo.
Sai dali correndo, e voltei a estrada. Sabia que ele estava atrás de mim. Tinha conseguido me seguir, mesmo depois de eu morrer.
Semanas depois fui a delegacia e contei a minha história.
Fui preso e levado a um sanatório, depois do meu advogado alegar insanidade. Me doeu ver meus filhos adolescentes virarem o rosto para mim. Ver na face da minha ex - esposa apenas uma expressão de nojo.
Escrevo isso, por que essa semana chegou um novo paciente. Um velho, manco, que sorriu quando me viu.
Sei que tenho pouco tempo. Ele veio para me matar. 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Aniquilador

Jason era uma ótima pessoa. Policial com ótima carreira.
Todos achavam que ele era um modelo. Mas atrás da fama havia um homem quebrado.
Venceu um grande assassino em série mas perdeu tudo.Usa remédios para depressão e paranoia.
Perdeu família e amigos. E só sobrou uma fração do homem que um dia existiu.
Vencer aquele criminoso foi o que o tornou famoso. Mas o preço pago foi caro demais.
O homem que para os jornais era uma lenda. Todo dia pensava em se matar. E sempre decidia não fazer pelo prazer de mandar mais gente para a cadeia. Seu foco era todo no trabalho.
Ele era preciso e inflexível. Perfeito para caçar. Péssimo para viver em sociedade. Não evita o uso da força. Tem várias queixas por violência com testemunhas. E a corregedoria só não o expulsou por que até dentro da corporação seu nome era uma lenda.
Todos ali eram lenientes com ele. Afinal ninguém enfrenta o demônio e fica inteiro. O mal tem poder de espalhar se naqueles que o enfrentam.
Quando ele pediu licença alguns meses depois para se tratar meses depois todos pensavam que ele voltaria diferente. Só não sabiam o quanto isso seria ruim.
Ele viajou para São Paulo e se submeteu a um teste com uma droga capaz de apagar qualquer evento traumático da mente. Nanotecnologia médica inteligente que faz a vitima dormir e reviver seus traumas enquanto vai apagando os.
O efeito deu errado. De algum modo a mente dele apagou tudo exceto a raiva e o instinto de sobreviver. A produção de adrenalina subiu as alturas. Os médicos tentaram desligar os nano robôs mas o equipamento não respondia.
As leituras indicaram a reconfiguração da mente dele em nível estrutural. Não havia nada a ser feito. O coração a qualquer momento explodiria enquanto os médicos ficariam apenas assistindo sem poder fazer nada. Nenhum sedativo fazia efeito.  Nem mesmo a morfina era efetiva.
Passadas algumas horas após a falha e ele acordou. Não respondia a nada, sua mente era uma confusão.  Os gritos da esposa sendo assassinada meses atrás voltaram a perturba-lo e ele inerte assistindo a ser morta com um pé de cabra. Durante a crise ele não se lembrou de nada.  Só voltou a consciência quando não havia mais ninguém vivo. O Centro  universitário Carlos Lattes estava em chamas e ele tinha sangue no corpo todo.
Tudo era confuso. A polícia o achou deitado próximo de uma árvore.  O levaram para a delegacia a principio como testemunha, mas depois de algumas horas, recuperaram as imagens das câmeras de segurança onde mostrava ele atacando os médicos e pesquisadores com uma pistola.
Ver a si mesmo matando dezenas de pessoas fez outra crise se desencadear.  Dessa vez foi na cela. Dezenas de presos foram surrados e mortos. Enquanto ele não tinha nenhum arranhão. Os guardas o colocaram no isolamento. E durante o período que esteve ali nada aconteceu. Quando uma comissão de direitos humanos obrigou o estado a manda lo para um sanatório. A dor de cabeça voltou e durante o transporte, ele desapareceu depois de atacar os guardas e não houve notícias dele em local algum.
As autoridades deram prioridade a sua caça. A interpol foi avisada e todos os orgãos de seguranças foram alertados.
E nos escombros do antigo centro de pesquisa uma equipe especial do exército nacional vasculhava tudo a procura dos computadores para recriar o processo que fez o assassino a quem a imprensa estava chamando de: O Aniquilador.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Reencontro

AVISO: Essa história é ficcional e satírica.
Eu estava entrando num restaurante para me encontrar com o barão quando vejo passar por mim três garçons carregando um pato estranho, que ao invés de asas tinha braços, a pobre ave se debatia e gritava dizendo que estavam cometendo assassinatos ali naquele estabelecimento.
Sua voz esganiçada parecia movida de um puro desespero.
Mesmo depois de ter sido expulso ele continuou dizendo aos gritos que tinham tentado o matar: Que ele era um cidadão e que isso iria acabar na delegacia.
A princípio muitos juntaram para assistir, afinal ver um pato falante não é algo comum. E o brasileiro tem em seu ser a alma de plateia, até um cavalo morto consegue juntar pessoas.
Eu sai lá fora para ver tudo aquilo quando duas viaturas pararam e quase levaram o pato preso, pensando se tratar apenas de um drone ou robô.
Logo, o pato sumiu e eu nem mesmo soube o que causou aquilo.
Voltei ao almoço com o barão, nos despedimos e quando vou embora vejo o pato, machucado e ensanguentado numa pilha de jornais velhos falando sobre a previdência.
Me comovi com aquela cena, peguei o disposto a leva - lo ao hospital veterinário mais próximo.
No caminho cruzamos com os tiroteios do meio dia. As balas gritavam por todos os lados, perdidas em busca de um alvo,
O pato falava frases sem sentido. Gritos de efeitos repetidos como verdades profundas.
Pensei naquela hora que se ele morresse eu teria carne para pelo menos mais uma semana.
Nessa hora ele acordou, e num pulo tentou sair fora do carro.
Gritava dizendo que eu era um agente inimigo disposto a leva - lo de volta ao laboratório, onde ele teria a mente limpa de toda capacidade crítica e ficaria horas sentado ouvindo discursos devidamente programados para me emburrecer em todos os sentidos.
Parei o carro num parque e ele saiu abraçando as árvores dizendo: Vocês sobreviveram! Guerreiras! Lutem por favor! Não deixem a vida morrer!
Perdi ele de vista no meio de um protesto. Professores queriam seus salários que estavam há 10 meses atrasados e ele resolveu se intrometer no meio. Soube que ele recebeu gás lacrimogênio e desmaiou, sendo pisoteado, encontrei o dias depois na porta da minha casa, rindo e brincando com algumas crianças enquanto parecia ensinar a elas jamais esquecer do que vale a pena.
Quando me viu, ele veio e me abraçou na altura do joelho!
_ Olá velho amigo! Uma pena que você abandonou seu sonho! Será que a criança que me criou teria orgulho de você hoje?

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...