domingo, 10 de dezembro de 2017

Um cadáver desconhecido.




Há dias um caso intrigava a todos no setor de necropsia do hospital.

Um corpo apareceu no setor de autópsias sem nenhuma identificação.

Uma Oriental, sem idade definida, tinha fraturas nos dedos dos pés e sinais de agulhas por todo o corpo, tinha também uma tatuagem na altura do seio direito onde estava escrito: J60.

Além disso seu corpo estava embalsamado em formol. Todo o sangue e orgãos internos haviam sido cirurgicamente retirados. E embaixo dela havia uma carta bem velha escrita em japonês, mas não era possível identificar o texto, pois algumas palavras tinham se apagado com o tempo.

Era algo impossível, os protocolos afirmavam que somente cadáveres identificados podiam dar entrada ali.

O chefe do setor de necropsia acionou a polícia e outro mistério então se iniciou: O cadáver não constava nos bancos de dados.

Aquela mulher parecia nunca ter existido. Não havia queixa de desaparecimento e suas digitais não estavam em nenhum banco de dados.

A imprensa soube do caso e este ficou na mídia por várias semanas. No entanto, ninguém apareceu com pistas que pudessem levar a solução desse mistério.

Parecia que esse seria mais um caso sem solução, se não fosse a ajuda de um menino, que levou a polícia as anotações de seu avô, detetive da polícia na década de 60.

Nas anotações havia um relato de um caso não solucionado envolvendo um maníaco que raptava mulheres e as matava com veneno e somente anos depois após devolvia o cadáver.

O avô do garoto ainda relatava que por pressão política, um açougueiro tinha sido preso apenas por ter sido visto próximo a casa de uma das vítimas, mas que ele não seria o culpado.

A equipe responsável por resolver essa questão foi até o arquivo da polícia. Um local pouco cuidado devido a falta de recursos, mas que ainda estava minimamente funcional.

Encontraram com alguma dificuldade os registros do caso. Naquela época não havia tantos exames periciais e todas as evidências que apontavam para os suspeitos era frágil.

Nos registros do caso encontraram diversos testemunhos sobre os raptos acontecidos, dentre os quais estava o de Joana Kohinawa. Uma japonesa que tinha vindo morar com os familiares brasileiros após a morte dos seus pais, mas tinha sumido ao desembarcar no porto de Santos.

Os relatos falavam de vê-la entrar em um carro e depois não havia mais nenhuma pista.

Em meio aos registros, foi encontrado um mapa da cidade daquela época, onde estava marcado cada ponto onde haviam sido sequestradas as vítimas daquela época.

Três meses após o caso voltou ao setor de impossibilidades, mas uma série de acontecimentos faria toda a polícia do estado ser envolvida em uma caçada infernal a esse maníaco que resolveu retornar.


terça-feira, 21 de novembro de 2017

Tópicos sobre casamento

*Casar é como ganhar na loteria. Pode até te deixar rico, mas no geral não compensa.
*O amor no dia do sim é eterno.  No dia que chega as contas começa a querer mandar o outro para o inferno.
*Felizes para sempre é uma ilusão.  Um dos dois estará morto ou divorciado.
*Casar é como pegar prisão perpétua.
*Toda noiva sonha com um princípe.  Todo noivo com uma empregada.  Só depois do sim, descobrem a verdade.
*Casar é dobrar o serviço e dividir o dinheiro.
*Toda mulher casada ganha um porco e todo homem casado ganha uma psicopata de véspera.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

O carro parte 1

Havia numa pequena cidade apenas um carro. Era um lugar pacato e humilde. Com pessoas ainda vivendo no campo de acordo com as colheitas.
O veículo ficava na casa de um velho coronel, tinha sido doado a ele por um homem na capital.
Era um carro moderno, potente.  Mas tinha um detalhe estranho:  Toda manhã ele aparecia com manchas de sangue. Os cães ao verem o carro saíam ganindo pela estrada.
Logo começaram a aparecer mortes. A polícia de uma cidade próxima foi chamada e logo ficou provado que em todos os casos ocorreu atropelamentos.
O coronel acabou preso. O carro foi levado para o pátio da polícia.  No outro dia um advogado contratado conseguiu tira lo da cadeia.
No entanto o carro continuou preso e naquela noite, o vigia do deposito foi morto. Encontraram no enfartado atrás de uma coluna.  Sua face demonstrava um profundo estado de pânico, os peritos que fotografaram o corpo ficaram impressionados com a expressão de pavor. E um detalhe os perturbou mais ainda: O carro estava parado ao lado do corpo, as luzes piscavam e as portas estavam abertas.
Era como se comemorasse a morte do vigilante.
Há outras histórias no imaginário local, em breve as narrarei para vocês...

sábado, 6 de maio de 2017

Encontro com a morte




Naquela noite José saiu de casa. Estava cansado das brigas com a esposa. Desde sua demissão tinha perdido a paz em casa.
Não conseguia nenhum trabalho. Os filhos cresciam como estranhos para ele. Os amigos tinham o abandonado.
Tudo tinha dado errado. Ele caminhava pelas ruas vendo pessoas apressadas voltando para a casa.
Por um momento as invejou. Tudo que ele queria era ter novamente seu emprego. Mas a firma tinha de mandar alguém embora e como ele era quem tinha mais idade acabou sendo escolhido.
_ Dei meu sangue para o sucesso daqueles crápulas; Resmungou baixo como se temesse ser ouvido por alguém.
Passou na porta de uma igreja, pensou em entrar, afinal sua mãe enquanto era viva tinha sido muito ativa ali, mas logo o porteiro não o deixou entrar. Suas roupas estavam sujas e rasgadas em vários pontos.
Aquela recusa foi como a gota d’água que transbordou o copo. Ele saiu dali xingando a vida e foi caminhando.
Logo viu um antigo bar, um local sujo onde os ratos entravam com botas para não se contaminarem.
Tomou coragem e entrou, foi atendido por um velho vestido em trajes rotos que passava um pano em um copo, no chão próximo dele um bêbado estava inconsciente.
Sentou se, decidido a beber pela primeira vez. Iria se matar, não aguentava mais. Sentia ódio de si mesmo, da humilhação sofrida, de não se sentir mais útil para nada.
Tinha somente dois reais no bolso. Pediu uma dose da cachaça mais forte que havia. O dono do bar estranhou, mais atendeu seu pedido sem questionar.
Tomou a e rapidamente ficou bêbado. Sua mente ficou embaçada e logo começou a alucinar.
O local onde estava não era mais um bar, mas um poço e ao seu lado não havia mais um velho e sim um homem vestido em uma roupa preta.
Em seu delírio, José perguntou se tinha morrido e a figura a sua frente apenas acenou negativamente.
_ Então o que eu estou fazendo aqui?
Em uma voz que não parecia ser humana, a criatura disse: _ Por que eu vim te dar uma escolha. Sou mais velha que a humanidade e entendo sua dor. Se você quiser morrer te levarei, porém seus filhos vão morrer daqui dois anos. Sua esposa vai ficar viciada em anti – depressivos e todos que te conhecem irão partir mais cedo.
Ao receber essa resposta, caiu de joelhos ao chão e implorou para viver. Lágrimas caíram de seus olhos.
A emoção forte curou o efeito do álcool. Quando sua mente retornou a realidade saiu correndo dali, e viveu feliz para sabendo que sua existência tinha importância.
Mesmo que tudo esteja ruim. Morrer não é a solução!

domingo, 30 de abril de 2017

Laboratório na rua 34

Na rua 34 havia um antigo complexo de pesquisas fechado após um incêndio anos atrás.
Os moradores próximos desde então escutavam passos, gritos, gemidos e viam luzes todas as noites.
A polícia era chamada mas nada era encontrado.
O local virou a lenda da cidade e um grupo de garotos resolveu apostar quem teria coragem de dormir ali dentro.
João, o mais corajoso topou a aposta. Iria ganhar 500 reais ao todo na segunda feira.
Os pais do rapaz não suspeitaram de nada.  Ele disse que iria passar a noite com sua avó.
Chegou no local as cinco da tarde. Pulou o muro e seguiu. Com uma barra de ferro arrombou o cadeado e entrou.
O cheiro de podridão era forte. Logo não aguentou aquele odor terrível e putrefo e vomitou e quando se abaixou viu a cabeça de um mendigo dez passos a direita.
Era um senhor que tinha passado por ele várias vezes catando lixo.  Rapidamente tentou correr, mas as pernas travaram. Um tentáculo horrível o prendeu.
Ele ainda carregava a barra de ferro e num golpe desesperado acertou o que chamou de monstro.
A criatura soltou o por alguns instantes dando o tempo necessário para ele correr.
O rapaz ainda carrega na altura dos quadris marcas de queimadura que ele diz ser fruto desse contato.
Sua mente retorna a cena por várias e varias vezes, esta preso nesse cenário e provavelmente não irá sair.
Toma medicamentos fortes e tem de ser contido a noite, pois ataques de pânico no escuro e tenta desesperadamente fugir.
Trecho do diário do doutor em psiquiatria Abdul Alzahred

sábado, 29 de abril de 2017

Bilhetes

Pedro e Jorge eram dois amigos de infância. Viviam unidos e felizes. Eram inseparáveis.
Até ficarem jovens e passar em seu caminho uma mesma moça.
Seu nome era Luíza, morena bonita, de olhos verdes e voz suave.
Ela deu vazão ao amor dos dois. Primeiro as escondidas com um e outro.
E por fim ela passou a joga – los como brinquedos. Sua mente era má! Ela usava os para conseguir qualquer coisa.
O amor havia cegado a mente dos dois ao ponto de nada mais importar.
Viviam em função dela. E por fim Pedro matou Jorge em uma emboscada. Tinha enganado o ex – amigo fingindo ser Luíza e o levou a um pântano antigo.
Enquanto o outro procurava pela amada, uma flecha o matou, disparada a média distância.
A ponta cravou no coração. Logo a família deu falta do rapaz e começou uma busca por ele.
Encontraram o apodrecido ainda no mesmo lugar, no entanto um pedaço de papel ficou intacto:
Um bilhete de Luíza o chamando para se encontrarem. Logo a moça foi presa e a população revoltada com a covardia do ato, invadiu a delegacia a tirou de lá e a linchou.
Quando soube disso horas depois, Pedro pegou uma arma antiga que seu avô guardava num baú em um dos quartos, se trancou no quarto, municiou a arma e disparou contra a cabeça.

Foi encontrado minutos após. Em seus minutos finais escreveu em um papel as seguintes palavras: _ “ Eu o matei, Luíza era inocente!”

O último pedido de um condenado

Penitenciária Hellgate: 11 de março de 2070

_ Não havia outro meio para ajudar minha família.

Começo essas memórias com o fim de explicar para o meu filho como vim parar no corredor da morte.
Eram tempos difíceis. Após uma tentativa de golpe de estado por parte da frente ampla fui forçado a fugir do país junto com sua mãe e vários outros funcionários do governo.
Nos refugiamos em Buenos Aires e de lá partirmos rumo a Paris. Ali sem emprego muitos foram forçados a cair na marginalidade.
Meu pai era chefe de polícia no Brasil e me ensinou a atirar muito bem. E com a falta de emprego e as ondas de ataques promovidos por islâmicos radicais, acabei me filiando a uma máfia que comandava a cidade de Calais e tinha extensão em vários locais da França.
Eu era bom para atirar e logo fiz carreira exterminando inimigos. Não conseguia olhar nos olhos de minha esposa, tinha vergonha do que fazia. Precisava do dinheiro. Ninguém dava empregos a brasileiros, ainda mais refugiados.
Então eu prosseguia. Era frio e preferia usar um rifle de franco atirador, disparava sempre para matar. Até que um dia veio um pedido estranho: Queriam que eu matasse o emissário da ONU que faria uma inspeção na região, após um massacre contra duzentos muçulmanos ocorridos num campo próximo dali.
No entanto eu estava incomodado em fazer aquilo. Não se tratava de matar um criminoso, mas sim um homem completamente inocente.
Não transpareci nada disso perante meus empregadores. Porém secretamente tramei um plano para fugir junto com minha esposa para os Estados Unidos. Seria o fim do meu tormento. E eu poderia me vingar de todos os bandidos para quem trabalhei.
Era suicídio caso fosse descoberto, mas imaginei que devido a minha precisão e submissão em todos os trabalhos, meus empregadores não seriam cautelosos o bastante para me vigiar de perto.
Comprei um celular descartável. E olhando as notícias do dia, vi onde o emissário passaria a noite.
Naquela noite não voltei para casa. Fiquei numa rua próxima esperando algum funcionário do hotel sair.
Um rapaz passou por mim, caminhava com o uniforme escutando música e nem percebeu quando eu o ataquei, deixando o desacordado, peguei suas roupas e voltei para o trabalho.
Passei pela guarda reforçada facilmente. Os policiais esperavam um ataque terrorista direto, com atiradores, homens bomba ou algo parecido. Não fui sequer revistado, mesmo estando carregando uma pistola pequena na bota esquerda.
Soube com a recepcionista que ele estava na suíte presidencial no último andar. Quando cheguei minhas pernas queimavam, mas sabia que tinha valido a pena, ir pelo elevador resultaria numa revista, onde eu provavelmente seria morto.
Cheguei na porta do quarto e quando bati logo ele atendeu. Com uma voz embargada e meio sonolenta me perguntou o por que daquilo e eu sussurrei de maneira decidida:
_ Por que a máfia quer te matar amanhã e eu sou a única pessoa que pode te salvar.
Ele rapidamente ficou alerta e me pediu para entrar. Falava um francês com muito sotaque britânico.
Começou logo uma sucessão de perguntas que eu prontamente fui respondendo.
Até que por fim me perguntou: _ O que para entregar os nomes desses homens que tramaram minha morte?
_ Que você leve minha esposa para os Estados Unidos e coloque no programa de proteção a testemunhas.
_ Isso pode ser arranjado hoje ainda, e pegou um celular e chamou um inspetor da interpol, que foi até minha casa e acompanhou minha esposa até o avião.
Logo após eu revelei todos os detalhes que sabia. Minha confissão precisa e detalhada resultou numa grande operação que prendeu vários membros dos partidos de centro, esquerda e até da frente nacional.
No entanto a justiça francesa me considerou culpado de uma dezena de crimes e fui condenado a prisão perpétua, durante esse primeiro período na prisão, acabei sofrendo mais de vinte atentados. Por fim matei o diretor da prisão e minha sentença foi progredida para a pena capital.
Estou a poucas horas do fim. Soube na cadeia do seu nascimento Joaquim. Não podia te ligar, nem te mandar carta, nem mesmo ter uma foto sua. Ou você poderia ser morto.

Espero que satisfaçam meu último pedido antes de me enforcarem e entreguem essas memórias a ti. Perdoe seu pai. Eu queria poder estar ao teu lado. Cuide de sua mãe e não siga pelo caminho do mal, ele sempre leva a morte!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Flores no túmulo.


Existem antigas histórias sobre o cemitério da cidade.
Relatos de fantasmas, uivos, sons de correntes e outras fantásticas histórias.
Mas nada se compara ao que eu vi naquela noite de 1 de novembro.
Eu trabalho como guarda noturno da prefeitura, vigiava o patio onde ficavam as máquinas do munícipio, mas acabei sendo transferido para o cemitério.
O guarda que trabalhava ali tinha falecido poucos dias atrás de um ataque cardíaco.
Eu fazia rondas todos os dias, olhando cada um dos caminhos que há no cemitério.
E todas as noites quando chegava próximo de uma antiga sepultura no extremo leste do cemitério, via uma luz acesa, e quando me aproximava esta desaparecia.
Vasculhei toda a área, olhei por sinais de pegadas. Não tinha medo de histórias com assombrações, isso era bobagem de filmes.
Mas conforme a cena ia se repetindo, dia após dia, comecei a reparar mais nos barulhos a noite e parei pouco a pouco de fazer a ronda.
Meus nervos estavam começando a sentir o abalo daquele ambiente agourento .
Um dia antes de ir ao trabalho tomei um pouco de cachaça. Não aguentava mais ficar com medo.
Naquela noite impelido por uma valentia insana fui até o velho sepulcro onde a luz acendia e comecei a xingar a morta.
Falei obscenidades terríveis, desafiei a luz. E no mesmo instante surgiu aos meus pés uma pequena flor e depois outra até estar completamente coberto por flores brancas e esporoantes.
Logo um vento forte se abateu ali e eu respirei um pólem alúcinogeno que fez minha mente se expandir.
Eu vi os espiritos dos mortos, vi suas sombras, vi a morte e o demônio.
E vi no túmulo em que me sentara uma garota, vestida de branco, brilhando e rindo, fazendo o sinal da cruz ao olhar para algo atrás de mim.
Foi então que eu vi a figura alta de um homem corpulento, vestia se da noite, carregava uma foice, era a morte!!

Relato retirado dos diários do doutor Abdul Alhazred

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Uma descoberta inesperada.




O livro escrito pelo árabe louco, cujas lendas superam em muito o limite da imaginação humana. O necronomicon traz fórmulas e antigos segredos dimensionais que enlouquecem só de pensar.
Sua história é demoníaca e não sei de muitos detalhes, além do que já foi publicado.
Meu nome é Antônio Bueno da Silva. Trabalho como arquivista na biblioteca imperial na cidade do Rio de Janeiro.
Encontrei uma passagem secreta, que abria para um antigo lance de degraus que terminava em uma série de prateleiras baixas e muito mofadas.
Repleto de tomos, pergaminhos e manuscritos muito antigos, aquele local foi descoberto por acaso enquanto analisava as paredes a procura de uma infiltração que há muito tempo não fora consertada pelo governo carioca.
Eu estava só no momento, era novato e tinha ido trabalhar, mesmo enquanto os outros funcionários tinham entrado em greve.
Caminhei por aquela sala baixa, quando esbarrei num corpo num dos cantos, próximo a um diário, que parecia ser o alimento de traças e mofo há algumas centenas de anos.
Peguei as finas folhas com cuidado, e levei o para cima, e pouco a pouco movi os demais livros encontrados ali para a sala da restauração, misturados há várias obras antigas que estavam ali paradas por falta de materiais para serem recuperadas não seriam percebidas.
Limpei uma mesa e comecei o processo de restaurar o pergaminho que encontrará. Gastei nisso sete longas horas, mas quando a noite já estava caindo eu consegui ler.
Descrevi a história de um sábio que fora feito cativo e levado a Portugal pouco antes de D. Sebastião morrer na África, um homem culto conhecedor de mistérios antigos que viajará o mundo e vinha apavorando a colônia portuguesa nas Índias.
Procurei pelo nome e vi num pedaço quase borrado pelos produtos que usará para tirar o mofo um nome: Ali Alzahed.
Anotei o nome, iria pesquisar mais sobre ele na internet, quando chegasse em casa, pois a rede do prédio tinha sido cortada por falta de pagamento.
O relato prossguia falando que Dom Sebastião se interessou pelos seus conhecimentos e em pouco tempo administrava a biblioteca imperial.
Foi então onde passou a trazer livros interditos de vários lugares do mundo e passou a copia – los.
Relata, o que parece serem esboços de um culto entre os bibliotecários e copistas do rei organizado por ele. Uma ordem esotérica tão secreta cujos relatos nunca tinha ouvido falar.
Eles juraram proteger o conhecimento antigo e profundo, dos deuses há muito esquecidos daqueles não iniciados.
Espalharam cópias em pontos por toda Portugal. Mas veio então a derrocada de Ali, sua aparência não mudará nada em mais de cinquenta anos que servia a família imperial e com a morte do rei nas campanhas da África, as intrigas da corte o forçaram a sumir.
Se tornou um próscrito e foram enviadas cartas a todas as províncias e capitanias para que fosse morto caso encontrado.
No entanto ele não sairá de Portugal, passando a viver numa torre em Coimbra.
Há um hiato de tempo em que não tenho como provar, precisaria ter dinheiro para bancar mais pesquisas em fontes portuguesas.
Volto a ter relatos legíveis dele no início da guerra contra a França.
_ Provavelmente é um filho, ou herdeiro do nome, algo comum entre esótericos, pensei eu.
Mas ao passar uma lupa no texto notei com espanto e pavor que a caligrafia era a mesma. Idêntica a tal ponto que somente uma única pessoa redigira aqueles pápeis.
Fala de como conseguiu organizar no meio da fuga real, o envio dos livros.
E os contratempos ocorridos quando os navios partiram sem levar as obras.
Conta detalhes sobre correspondências com pessoas no mundo inteiro e de como todos pareciam interessados pela recente descoberta de Ali: Um manuscrito roubado da biblioteca proibida do Vaticano dois anos antes, por um ladrão que fora junto com o diplomata português para a corte do papa.
O necronomicon, o livro narra fórmulas escritas para fins além da compreensão. Mas sua descrição estava nos trechos finais da mensagem, em uma linguagem codificada tão incrivel que não consegui ler.
Não há mais páginas e eu não contei a ninguém sobre o caso. Tenho comigo em meu apartamento todos os livros achados naquela antiga sala.
Iriam ser jogados fora pelos técnicos do laboratório. Para eles não era nada além de velharia. Peguei todos e levei os comigo em segredo.
Desde então passo boa parte dos dias restaurando artesanalmente os compêndios e tenho ficado assustado.
São fórmulas de magias proibidas. Relatos místicos tão absurdos quanto estupendos, diários antigos que dão a localização de itens que antes apenas pertenciam a lendas.
Ontem aconteceu algo inesperado. Sonhei com sombras me perseguindo e eu me sufocando.
Vi pessoas dançando em uma praia suja, corpos de diferentes etnias nus e grotescamente pintados em uma orgia ritual tão insana que não me atrevo a descrever.
E eu estava ali no meio daquilo, meu corpo preso em um tronco ardia como sacríficio há uma divindade muito mais antiga que o tempo.
Pretendo fugir. Enviarei esse relato há meus amigos.
Aviso do servidor de e-mail: Trecho do e-mail corrompido. Ative seu antivírus antes de enviar ou receber mensagens.
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Desaparecerei. A ignorância é uma benção, nunca busquem a verdade! E sempre deixem os acasos fechados!

Amor e loucura.



Desde que eu te conheci amei as flores porque lembravam você.
Gostava do sol e da alegria do mundo desperto.
Hoje só tenho paz em oníricas viagens, quando por um relance você reaparece.
Sua feição bela e alva como na primeira vez que eu te vi.
Quando você morreu, perdi o sentido da vida, decaí ao ocultismo, as drogas e
choro cada noite quando acordo.
 Surto em viagens loucas a procura da fórmula para te trazer de volta.
Por que por um mero instante eu consegui.
Roubei do museu de Paris, o tomo antigo e interdito escrito pelo árabe louco Abdul Alhazred, que segundo os antigos relatos podia trazer os mortos de volta a vida.
Fiz tudo que estava ali, levei semanas montando o ritual.
Sei que pareço um degenerado ao falar dessa forma e que muitos não entenderiam, mas eu fiz por amor.
Matei cinquenta pessoas e vinte cabeças de gado para conseguir o sal que traria ela de volta.
Sabia que a polícia iria vir atrás de mim. Que a morte dos mendigos e loucos não passaria despercebida, mas não me importava. Quanto mais eu folheava o livro, mais frenético ficava.
Até que veio a noite final, tudo deu errado. Ela apareceu para mim apenas por um momento.
Comprei um corpo de uma criança morta recentem de um perito corrupto da  polícia cientifica.
Algo deu errado,  não coube a alma dela, que se dissolveu deixando para trás um maldito cheiro pestilento.
O livro não deixava claro como deveria ser o corpo. A página estava rasgada, creio que por outro ocultista
Foi então que a polícia chegou e me prenderam. Provavelmente o livro está desaparecido, mesmo louco por meu objetivo eu percebi que haviam pessoas me seguindo.
Pessoas de várias partes do mundo, homens e mulheres que desapareciam quando eu os olhava fixamente.
A minha pena já está dada. Morri no dia que eu a vi perecer novamente.
Não haverá tribunal nem sentença. Apenas esse depoimento de um coração despedaçado pelo amor que dilacerou minha mente e deixou para trás apenas culpa e dor.
Depoimento prestado por Charles Ward horas antes de se matar com um cadarço em sua cela na delegacia central.

sábado, 21 de janeiro de 2017

A assombração.



Caminhar pelo centro da Cidade de Goiás a noite é um convite ao pesadelo.
As ruas mau iluminadas pela bruxuleante luz de antigos postes e as fachadas imponentes das catedrais causam sensações aterrorizantes em mentes sensíveis.
Eu tinha saído do hotel as cinco da tarde para uma reunião na casa de um deputado. Iriamos criar uma nova droga financiada pelo governo e a comissão que aquele senhor presidia exigia dez por cento do contrato para aprovar.
Consegui negociar e reduzi a margem da propina para cinco por cento e o restante em lucro direto pela venda da patente para o sistema público de saúde.
Era uma droga contra a nova febre que tinha se alastrado pelo nordeste e já vinha matando milhares de pessoas todos os anos.
Sai dali tarde da noite, me ofereceram carona, mas por algum motivo eu os temi e decidi ir a pé.
Eram poucas quadras que me separavam do hotel.
Do alto das sacadas com cerâmicas portuguesas, plantas exuberantes pareciam brilhar ao meu redor.
Quando passei próximo a uma casa de paredes caiadas, com gárgulas na porta, aconteceu algo inesperado.
Um dos animais de pedra chamou meu nome:
João, João! Um som profundo e desencarnado me paralisou e levou meus olhos até os dois demônios de pedra.
No mesmo instante uma das criaturas se levantou e começou a recitar um poema.
_ Meu senhor morreu de peste.
_ Minha senhora de malária.
_ O filho de tristeza.
_ A filha fugiu para Cantuária.
_ Somos guardiões de uma mansão esquecida.
_ Olhamos pelos mortais e sua vida ensandecida.
_ Somos guardiões, de horríveis feições, mas pelo bem combatemos.
_ Tua alma está suja, hoje pelo Deus que há nos céus, iremos lhe limpar!
E quando terminou essa frase tocou na outra peça de mármore que adquiriu vida.
Ao ver aquilo as minhas pernas saíram da paralisia e mesmo tendo defecado em minhas calças pelo medo, sai berrando a plenos pulmões.
Percebia as luzes se acendendo enquanto eu corria até a exaustão.
Cai exausto próximo ao rio vermelho, fora dos limites da cidade.
As árvores emitiam um leve farfalhar com suas folhas e somente a lua nos céus permitia me discernir o caminho por mim percorrido.
Minhas roupas estavam fétidas, fezes escorriam pelas pernas. Eu estava mais calmo, respirava profundamente e percebi que tudo deveria ter sido um delírio, uma histeria frenética, causada pela aparência sinistra da cidade a noite.
Caminhei em direção a água para tentar me limpar um pouco e voltar pela trilha, toquei a água do Rio e no mesmo instante senti uma pancada nas costas que me empurrou para as águas.
Fiquei desacordado por alguns segundos e acordei assustado enquanto lutava para voltar a superfície.
Gritei pedindo socorro, estava sem forças, até que uma patrulha da polícia ouviu meus gritos e tirou me quase inerte da água.
Quando recuperei a consciência no hospital, decidi que iria me limpar. Não queria ser perseguido por aquelas horrendas aberrações.
Contei tudo para o senhor delegado, tanto da minha experiência sobrenatural, quanto dos esquemas de corrupção que envolvem a assembleia estadual e o governador.
Peço somente que eu fique preso aqui para escapar daquelas malditas criaturas.

Esse foi o depoimento do homem, os documentos dele nos mostraram que era o chefe do departamento de ciência médica da universidade estadual, no seu celular encontramos as provas necessárias para levar a condenação das autoridades.
No entanto é preso informar a autoridade judicial que a testemunha acabou cometendo suicídio.
Os peritos analisaram a cena e constataram que ele praticou tal ato em um surto histérico.
Outros detentos no mesmo pavilhão disseram que ele gritava frases sem sentido, pedindo para que algo se afastasse.
No demais está em anexo todos os laudos e depoimentos feitos durante a investigação.

Dr. Marcos Almir Fernandes.
Delegado chefe da cidade de Goiás.



Corpos carbonizados

Muitos anos trabalhando no instituto médico legal não me prepararam para aquela cena e nem para o que viria depois.
Fui chamada para uma cena de crime, um assassinato, chegando ao local percebi que poucas evidências se manteriam por muito tempo ali.
Era um arcada em forma de u, escura, de aparência pestilenta do alto escorria um líquido marrom que seguia por uma canaleta até cair no esgoto central.
O policial que guarnecia o local me levou até o cadáver, enquanto caminhava pude ouvir pequenos guinchados de ratos, enquanto atravessamos aquele espaço, manchado de bolor que rescindia uma aroma horrendo.
Em toda Paris locais como aquele eram comuns, e eu torcia para que o novo prefeito conseguisse destruir todas aquelas velharias imundas.
Chegamos a uma casa de pedras antigas, parecia ser um antigo palacete, mas hoje servia como uma pensão pouco respeitável no extremo norte da cidade.
O corpo era de uma mulher, tinha um dos lados da face queimado horrivelmente. O crime tinha acontecido a pouco tempo, pois ao chegar próximo da morta, ainda era possível sentir o cheiro de carne queimada.
Sua roupa estava em trapos e somente alguns pedaços de pano, ainda inteiros, tampavam seu corpo.
Os braços tinham cicatrizes e as pontas dos dedos estavam carbonizadas, pondo a mostra os ossos dos dedos.
Os dentes estavam em pedaços, marcas no lado da face não tinha sido torrada mostravam sinais de um brutal espancamento que no outro lado estavam escondidos pela carne incinerada.
Enquanto analisava, tirava fotos, procurava documentos, sentia uma repulsa por aquele cadáver tão grande. Que piorou quando eu a vi no laboratório.
As entranhas tinham sido incineradas. Era como se ela houvesse sido incendiada de dentro para fora.
O caso tomou os jornais e dois dias depois alguns amigos reconheceram a jovem que era notícia como sendo uma brasileira de nome: Marina, que vivia numa pensão em Rouen, há vários quilômetros de Paris.
Não faziam ideia do que havia acontecido para levar a jovem a um fim tão cruel.
Por sorte ela era descuidada e deixou o celular no pequeno apartamento onde residia mais duas colegas.
Pesquisei no registro de chamadas do aparelho. Encontrei o último número, mas algo estranho ocorreu quando mandei o computador procurar o registro daquele telefone.
A máquina simplesmente pifou. Num súbito desligamento que me assustou bastante. Cai para trás e só alguns minutos depois me recompus.
Avisei meu chefe sobre o que tinha acontecido e ele receoso de ataques terroristas ou de hackers, acionou o serviço de defesa.
Passei horas escrevendo relatórios, dando depoimentos e fui proibida de deixar Paris.
Me deram duas semanas de suspensão e eu sabia que nesse meio tempo estaria sendo vigiada a todo momento pelo serviço secreto.
Na primeira noite foi quando começou, um mensagem no celular de um número anônimo me mandava esquecer aquele caso.
Fiquei apavorada e peguei um táxi até a delegacia mais próxima. Contatei um detetive que estava de plantão e este me prometeu investigar o caso.
Quando voltei para casa, a porta estava aberta e em cima da minha cama tinha um punhal e numa das paredes escrito com uma tinta negra os dizeres: Desista!
Eu gritei histericamente e isso alertou os vizinhos que vieram a mim e logo chamaram a polícia.
Em minutos minha casa estava cheia de peritos, de policiais e agentes do serviço secreto.
Fui colocada no serviço de proteção as testemunhas e por quase dois meses tive um pouco de sossego.
Passava os dias trancada em casa, lendo muito até que por fim resolvi escrever essas notas em um notebook velho, deixado pelos agentes num canto, junto a outros materiais eletrônicos antigos.
No décimo quarto dia de julho, os agentes que protegiam minha casa saíram mais cedo. Era feriado e eu sabia que só estaria protegida novamente a noite.
Todos iam a festas e eu iria ficar ali, prisioneira de um assassino que conseguiu despistar os esforços de todas as forças de segurança da França.
Pela televisão acompanhei a aparição de vários outros casos estranhos por todo o país. Alguns sensacionalistas já começavam a criar a narrativa de um culto a demônios e os associava aos imigrantes, em especial aos africanos, impulsionando o renascimento da xenofobia.
O governo já estava usando até o exército naquela série de casos, as eleições se aproximavam e todos os lados envolvidos usavam dos ocorridos como propaganda de campanha.
Naquela noite dormi cedo e acordei com um punhal cravado a poucos centímetros da minha vagina. Na janela a luz da lua brilhava a palavra: Saudade!
Entrei em pânico e sai correndo porta afora, gritando como louca, fui levada a um hospital e de lá a outra casa de segurança, dessa vez dentro de uma base.
Peguei o notebook da antiga casa. Assim que isso acabasse eu publicaria essas histórias.
Relato retirado de um computador usado pela agente Marie Le Miscret, o comboio que a levaria para fora de Paris foi completamente destruído por uma bomba plantada embaixo da rua e acionada no exato momento que passaram por ali.
A mochila foi lançada alguns metros para o lado e ficou intacta próximo ao meio fio.
Os corpos não puderam ser identificados, incinerados e despedaçados de tal modo que pareciam apenas uma massa de carne em meio ao metal retorcido.

Howard Philips – Perito chefe da área de informática.
Sessão 4 – Departamento de assuntos secretos.


O diário de Carlos Alquevarado.



Semanas atrás recebi uma carta do meu avô, um antiquário, que vendia e comprava arte em todo Brasil e hoje fiquei sabendo da sua morte, na catacumba da velha igreja de Nossa senhora do Rosário, na cidade de Goiás.
Transcrevo a nesse e-mail para o senhor delegado, com o interesse de ajudar lhe nas investigações.
Não irei pessoalmente ao Brasil, pois pretendo cumprir a vontade dele e por temer que o assassino ainda esteja a solta.
Marina Augusto Silva


Na cidade de Cruz da Fortaleza existem poucos lugares onde se pode conseguir livros, um deles é o velho antiquário do senhor Alquevarado, um homem velho, de aparência austera e arrogante.
Minha avó me contou que aquela família tinha chegado a cidade anos atrás, sempre encerrada em mistérios imemoriais.
Os mais supersticiosos diziam serem eles feiticeiros, que tinham fugido da Espanha para escapar da inquisição.
Mas eu não acreditava nisso, pensava serem bobagens de velhos, quando vi uma placa na porta do antiquário dizendo que precisavam de ajudante, aceitei a vaga.
Era o final dos anos 80 e eu tinha 15 anos, minha família passava dificuldades e eu resolvi aceitar aquele emprego.
Trabalhava com afinco, recebendo 100 reais por mês e pouco a pouco fui ficando amigo da filha do meu patrão, uma criança de 5 anos chamada Maria.
Ela gostava de histórias e como eu passava quase o dia todo lendo devido a ausência de clientes, contava lhe as narrativas das mil e uma noites.
Gostava de vê – la narrar as histórias para o pai, quando este lhe pegava no colo. O homem parecia ficar feliz com isso e muitas vezes me dava notas menores como gratificação pelas histórias que eu contava.
Minha memória fraqueja pela idade e não me lembro o nome dele. Muitos episódios menores ocorreram durante o tempo que estive empregado ali, caixas que sumiam, livros antigos que chegavam todo dia 6 de cada mês.
Eu lia alguns desses, mas não entendia nada, eram todos em idiomas esquecidos, com símbolos, desenhos e fórmulas bem antigos. Até tentei pesquisar sobre alguns daqueles desenhos em enciclopédias na biblioteca da cidade, mas nenhuma delas tinha nada a respeito.
Até o dia em que eu fui ordenado a limpar a loja, tirando a poeira de tudo e depois eu estaria liberado. Estranhei aquilo, mas não discuti, comecei a limpeza dos itens da pequena loja pela manhã e na hora do almoço já estava tudo terminado.
Bati na porta do escritório do senhor Alquevarado, ele abriu e com olhar assustado me entregou um pequeno livro como presente.
Não sabia que aquela seria a última vez que eu o veria.
A noite, um guarda encontrou a porta da loja acesa durante a ronda, entrou e encontrou os corpos do homem e da filha carbonizados.
A esposa, que vivia reclusa dada a tuberculose morreu pelo choque da notícia. E por mais incrível que apareça eu ganhei a loja e um legado que até hoje me assombra a noite.
A lenda do local se adensou e até hoje tem pessoas que não entram na pequena porta próxima a velha catedral.
Eu enterrei o velho livro junto ao corpo de meu antigo patrão. Fiz isso depois de ler que ele e seus antepassados tinham trazido a terra uma antiga e repulsiva criatura, numa mansão velha na cidade de Pirenopólis, um antigo demônio noturno, e de como tinham se tornado lacaios dessa criatura, fornecendo lhe tomos antigos, comprados de mercadores amedrontados, para que o horrendo ser estudasse artes místicas.
As lendas eram verdadeiras, temo só de imaginar que horrores tenebrosos habitam essa maldita casa no fim de uma rua pouco movimentada. Uma construção de pedra reforçada que ainda hoje existe e que por direito me pertence, mas eu jamais pisarei ali dentro, os horrores descritos no velho livro me atemorizam até hoje.
Escrevo essas memórias para avisar a você, Marina, a herança que eu herdei é sua, e por isso não quero vê – la em perigo quando eu partir.
Você foi para a Europa com uma bolsa de estudos estudar arte, fique por ai! Jamais retorne ao Brasil, nunca pise novamente nesse país!
Posso estar louco, mas há poucos dias recebi uma carta, escrita numa tinta pegajosa, de um vermelho vivo quase aberrante.
Os dizeres da carta me avisavam que Nephesh tinha se libertado e que eu teria de cumprir meu trato e dar lhe mais livros ou morrer.
Não sei o que fazer, pretendo fugir dessa horrível criatura, ela não vai me matar, ela não vai me matar!
Adeus, e não venha nem mesmo ao meu funeral! Te amo demais para te ver morrer.

Augusto Silva Campos”

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Sangue



A casa no fim da rua sempre esteve fechada. Desde que mudei para essa cidade nunca soube de moradores naquela antiga mansão.
Era uma casa em estilo colonial, feita de pedra maciça que estava em ruínas.
Ouvia os garotos mais velhos contarem histórias terríveis sobre aquela mansão. Falavam de uivos, fantasmas e desaparecimentos. Mas eu sabia que eles gostavam de mentir para assustar.
Minha mente sempre foi curiosa e nunca fui de ter medo. E logo vim a me interessar pela antiga construção.
Fui a biblioteca da cidade e comecei a perguntar aos velhos que eu conhecia sobre a real história que havia ocorrido ali.
Mas ao invés de me contar a verdade, se evadiam com meias palavras e mudavam de assunto.
Aquila ausência de fatos, era como um convite para eu saber mais. Certo dia não voltei para a casa depois da escola.
Resolvido a descobrir o mistério, pulei o velho muro, o jardim era seco, e por todo lado via se pedaços da construção que parecia estar prestes a desmoronar.
Dei a volta na casa, fotografando cada detalhe do exterior, na esperança de saber mais sobre ao pesquisar na internet.
Pus meu celular no bolso e abri a porta. Era uma antiga porta de carvalho reforçada com uma espécie de brasão entalhado na maçaneta e nos umbrais.
Na hora que abri senti um forte cheiro de mofo e um outro odor que não sei precisar, fugi dali e alguns passos depois fiquei paralisado de puro horror, estava próximo ao muro e dali podia ver as janelas da casa, e quando olhei para uma delas no lado esquerdo da casa, senti algo me olhando.
Fiquei paralisado e devo ter caído desmaiado e só me recordo de acordar completamente cego.
Apalpei o chão e sentir a poça de sangue que tinha formado ao meu redor. E ouvir uma risada e alguém gritar as seguintes palavras: “Nephesh Adah Kelin.”
Os policiais foram acionados por algum vizinho ao ouvir meus gritos. Não sei de mais nada, não lembro de mais nada. Minha mente volta novamente para aquela cena macabra todas as noites e me recordo da voz em minha mente.
Depoimento do garoto Mateus Silva, durante suas sessões.
Doutor Abdul Alhazred

Anexado ao inquérito policial



quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A placa.


Na estrada que liga Santo Antônio a Brasília tem uma curva e na beira do caminho uma antiga placa, com letras desbotadas, repleta de mofo e ferrugem.
Poucos motoristas das cidades ao redor tem coragem para sequer parar ali e verificar os dizeres daquele objeto, pois remetem a uma história que querem apagar.
Os mais jovens em sua impetuosidade e desrespeito pela tradição do local, não se importam com essas histórias, que consideram meras crendices bobas.
Um destes para mostrar sua coragem decide ir até a placa, urinar nela e depois grafitar um pênis.
Foram ele e mais alguns amigos, gravaram a cena de depredação do patrimônio público, quando um deles notou ao longe um brilho surgindo a distância, uma luz vaporosa, em tons esverdeados tóxicos.
Os rapazes mais corajosos correram em direção a nuvens enquanto os mais covardes voltavam para a cidade gritando a plenos pulmões.
E eu que estava com a câmera fiquei ali, parado, com as pernas paralisadas, tremendo de puro horror. Urina descia pelas minhas pernas, ao olhar para aquela nuvem de fumaça que parecia se adensar conforme os segundos se passavam, tive a certeza que iria morrer.
Meu coração parecia querer sair do peito. Minhas mãos suavam frio e poucos segundos antes da nuvem vir em minha direção, eu desmaiei e não lembro de mais nada.
A primeira cena que registrei quando acordei foram os ossos dos meus amigos próximos a placa, reconheci os rapazes que tinham sido corajosos e foram em direção ao desconhecido.
A placa estava coberta de sangue e pedaços de carne, como se o ar tóxico tivesse vomitado as entranhas de meus amigos ali para aumentar o aviso do perigo que estava naquele local.
Um senhor me encontrou em pânico, estava sentado em estado de puro choque. Ao meu lado estava a câmera.
Fui levado ao hospital, e depois de algumas horas, quando recuperei a consciência um policial apareceu para colher meu depoimento acerca do ocorrido.
Quando eu entreguei a fita da câmera, o caso criou contornos ainda mais assustadores, pois no meio daquela tempestade tóxica, era possível visualizar usando o recurso do zoom, a figura de um pequeno rapaz, com um barrete vermelho que vinha cavalgando uma espécie de nuvem na direção dos meus amigos que iam em sua direção.
Fui obrigado a ver no meu segundo depoimento a cena hedionda da morte deles, suas cabeças foram mastigadas por aquela massa gasosa que cuspiu os ossos dos crânios ao longe.
A cena terminava segundos depois comigo caindo desmaiado, o áudio no entanto era tão aterrador, que implorei para pararem imediatamente.
Nas semanas que passaram, repórteres do mundo inteiro tiveram contato com o caso e em vários sites da internet, o meu vídeo era exposto, o que me fez ficar afastado da rede.
Me isolei na casa de um tio, no Mato Grosso, um local afastado onde o acesso era muito difícil.
Foi quando recebi uma ligação de minha mãe, contando que todos os rapazes que tinham sobrevivido estavam morrendo de maneira súbita e brutal, narrou que todos estavam atemorizados e muitos começavam a me culpar pelo fato, chegando até a ameaça – la diretamente.
Senti um frio na coluna e disse para ela não se preocupar que tudo iria acabar bem.
Como eu estava errado, depois de dois dias, meu tio chegou correndo em casa.
Suas feições estavam lívidas, ele dizia que todos na região estavam loucos e falavam de um fantasma verde que procurava um forasteiro e quando não tinha a resposta esperada, devorava os sem pensar, tomando o corpo e deixando somente um punhado de ossos corroídos como ácido.
Quando ele terminou de me dizer isso, eu vi ao longe a forma horripilante vindo devagar, corri para o porão na esperança de me esconder e quando narro essas palavras em um velho computador, ouço meu tio dar seus últimos gemidos.
Adeus mãe, eu te amo.


Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...