sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Segredo Lunar

 Roswell 1970

Tenente Coronel Jackson Davids.

Responsável pela farsa do homem ir a lua em 20 de julho de 1969.


O homem nunca foi a lua.
Na verdade a lua veio até nós.
Meses antes da farsa acontecer. O alto comando recebeu uma mensagem de rádio vinda de fonte desconhecida.
O áudio dizia: Jamais saíam do seu planeta.
Inicio essas palavras com a certeza que serei considerado louco, traumatizado e que quando isso chegar a ser publicado não terei nenhuma honra ou credibilidade. Mas quero apenas afirmar que cada palavra é verdade e foi vivida por mim em seus mínimos detalhes e dissabores.
Os generais consideraram tudo aquilo como apenas uma tentativa de desinformação por parte dos soviéticos.
Alguns mais nervosos ordenaram que se fizesse um pente fino para buscar a fonte daquela piada.
No entanto alguns homens da Casa Branca, mais receosos do que pragmáticos. Mandaram a todos que preparassem uma grande peça de teatro.
Eu fui escolhido como responsável para recrutar os melhores técnicos e preparar o filme que iria ser exibido.
Para corroborar a farsa, um satélite com tecnologia de fotografia iria tirar fotos do planeta do alto.
Gastaram se meses, alguns testes foram feitos. O grande público estava atônito. Os astronautas eram os heróis do momento.
Ninguém sabia que aqueles homens na verdade foram apenas peões sacrificados.
A nave não tinha combustível para voltar, caso eles conseguissem sair fora da nossa atmosfera.
No dia especificado pelas autoridades, os astronautas partiram. Logo perdemos a comunicação com a nave.
Concluí a peça, garantindo que cada membro da equipe, incluindo os autores ficariam calados em troca de dinheiro.
Soube que alguns não cumpriram o contrato e acabaram sendo mortos rapidamente pelo governo.
Confesso que assisti com orgulho minha farsa sendo transmitida por todas as TVS.
Nada me deixou mais feliz. O sacrifício não seria vão.
No entanto algo me fez ficar preocupado. Os homens sobreviveram e foram para a lua de verdade. Isso não era possível segundo os cientistas.
Nenhuma estrutura de metal seria capaz de sobreviver a pressão do espaço.
Eu fui convocado as pressas para estar presente na reentrada. Quando os homens descessem iria instrui-los sobre como proceder. E caso fossem alienígenas preparar dublês com capacidade para substitui-los nas aparições públicas.
A cápsula que os trouxe de volta caiu em solo, no deserto do Texas, a outra cápsula que caiu no mar, foi solta de um avião B17 horas depois de descobrirmos algo terrível.
Dentro da cápsula não haviam pessoas. Mas sim pequenos seres parecidos com cães.
As criaturas fora do contato com o sol pareciam apenas doces filhotes de cachorro.
Mas um dos militares ao tirar o animal da cápsula semi incendiada, o expôs ao sol e o que vimos foi um crescimento assombroso.
A pequena criatura duplicou de tamanho em instantes. Sua ferocidade era impressionante, quase dizimou a todos, as balas pareciam não afeta - la, foi quando um dos soldados em seus momentos finais sacou uma granada e jogou dentro da boca daquela maldita fera.
A explosão fez voar as entranhas do ser em todos nós. Ficamos ensopados com aquilo e por várias semanas continuei com aquele cheiro de enxofre e metano.
Enquanto a população ouvia espantada sobre a experiência lunar dos nossos sósias rapidamente ensaiados, em uma transmissão com as perguntas previamente preparadas.
Nós na atual área 51. Anteriormente, chamada de zona de isolamento, preparávamos uma operação de contenção.
Foi apagado o incêndio nos restos da cápsula. As criaturas foram acomodadas em caixas de chumbo isoladas, usadas para conter outros espécimes advindos de acidentes com OVNIS anteriormente registrados.
Sua contenção foi feita na base alfa, dentro de um complexo de proteção dividido em sete níveis.
Na zona superior haviam baterias de mísseis, sistemas de radar, duas unidades especiais.
Nas zonas inferiores, as portas eram de titânio reforçado e cada centímetro era monitorado por lasers.
A alimentação dos espécimes ficava a cargo de alguns dos cientistas militares mais renomados da nação.
Foram realizados testes clínicos, testes de senciência e de inteligência e todos se mostraram aptos no mesmo nível de um cachorro.
Tudo o que podia ser previsto naquela época foi feito, mas não era o bastante. 
De algum modo, duas noites depois de sua entrada na base as criaturas conseguirão escapar.
Não se sabia como, foi emitido um alerta vermelho, a casa branca foi avisada e o país inteiro colocado em alerta.
O medo do espaço era tão real quanto o medo dos comunistas. E assim cada um dos que trabalharam naquele lugar foi detido preventivamente para a segurança da nação.
Escrevi essas palavras na prisão a que fui submetido. Nos intervalos, entre limpezas de celas aliens, ou surras dos membros da cia para nos fazer confessar ou as humilhações dos outros comandantes que chegavam até a virar baldes de merda na minha cabeça somente pelo prazer de rir.
Foi preciso trinta anos para eu ser libertado. Afinal agora todos os que eu amava me odeiam e eu não passo de um desonrado sem nada, nem mesmo uma aposentadoria.
Considero essas palavras como minha última vingança.
Trabalhei muito para mandar via correio uma cópia disso para cada jornal decente do país.
Talvez nesses novos tempos, a imprensa tenha deixado de ser a grande mão para se tornar algo livre.
E se pensam que sou apenas louco, diria para fazerem perguntas aos sósias que ainda estão vivos, questione os sobre suas dívidas antes de entrarem para o jogo, pergunte sobre como eles eram conhecidos no cinema da época. Procurem quem foi o mecânico em Casa Blanca e verão um rosto muito famoso dos astronautas de araque.

Perdão a nação.
Perdão a minha esposa e filho.

Daily Herald, Boston. 01/02/1990 

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Simargl

Londres. 02/01/1992.

Para minha pequena Sara.

Quando você ler essa carta, eu estarei morto. Dei instruções específicas para que você só a receba quando eu me for.
Meu pequeno bebê, hoje você deve ter dez anos. Eu não passei nenhum tempo com você.
Saio da vida com a culpa de um devotado, que percebeu tarde demais que sua causa era na verdade mera vaidade.
Ganhei notoriedade na universidade como pesquisador de doenças mentais.
Me afastei de sua mãe tão logo ela me disse que você estava por nascer.
Confesso que te amaldiçoei, disse a ela que eu não queria ter uma família e ela saiu em prantos.
Ainda tenho pesadelos com aquele dia.
Sai da universidade doutorado e fui a procura de viajar. Meus pais tinham me deixado uma herança e eu vaguei por todo lado a procura de entender melhor as doenças.
Nesse meio tempo escrevi livros, soube só recentemente que meu advogado fez com que eu não lhe pagasse nada.
Me senti péssimo, quando vi as diversas cartas e emails que sua mãe me mandou.
No último deles, ela me amaldiçoou com uma vida bem curta. 
Quem diria que ela teria razão. 
Vou contar o que me levou a morte.
Eu tinha ido morar na Rússia, próximo a nascente do rio Volga.
Trabalhava numa pesquisa com doentes mentais em um sanatório isolado, no norte do país.
Era um local lúgubre, terrivelmente fechado. Demorava horas, indo por estradas de terra parcialmente congeladas.
Os doentes no local viviam com doenças pulmonares constantemente e eram tratados ali mesmo, apenas sendo separados dos demais.
A taxa de suicídios era muito alta. Comecei a questionar alguns funcionários, conversar com alguns doentes e assim pouco a pouco minha presença deixou de ser agradável e se tornou mal vista.
Até chegar um ponto onde eu fui mandado embora dali, quando numa noite fria questionei um dos enfermeiros por que a calefação dos pacientes tinha sido desligada e ele me mandou voltar para meu quarto.
Naquela madrugada tive uma longa discussão com o diretor do hospital. Fui jogado fora dali junto com meus pertences.
Estava uma noite fria e eu tive de caminhar por algumas horas com o vento cortando minha face.
Quando voltei a estrada principal, um caminhão parou e me deu carona até o posto mais próximo.
Comi uma refeição pequena, liguei para casa e oito horas depois um carro de minha família me levou de volta para casa.
Descansei por algumas horas e depois escrevi um artigo nervoso e mandei para o Pravda.
Acusava o hospital de vários crimes. O caso virou um escândalo e rapidamente as autoridades fecharam o hospital psiquiátrico.
Muitos dos doentes foram mostrados na televisão, seu estado esquelético e apático chocou a todos e houve uma grande mobilização em prol da causa dos doentes mentais.
Passaram se vários meses e eu até esqueci do artigo e de tudo que vivi ali. Meu vício pela fama se ergueu novamente, eu ainda era uma celebridade na internet e gostava cada vez mais disso.
 Ir a programas de entrevista se tornou meu maior objetivo, amava os holofotes e quando apareceu uma carta ameaçadora dizendo que eu seria morto na noite de Simargl.
Fiz um estardalhaço, contratei seguranças e consegui uma coletiva dizendo que eu não me amedrontaria jamais. 
Acusei as autoridades de quererem me calar e entre berros de delírio megalomaníaco disse que iria concorrer a presidência daquele país.
Fui dormir aquela noite feliz e nem dei bola quando um dos empregados desmaiou ao ver no gramado da frente diversas pegadas, pareciam ser de lobo, no entanto, eram maiores e tinham as beiradas queimadas, como se a grama tivesse sido incendiada.
Ri daquilo e mandei reforçar a segurança. 
Considerei apenas que quem queria me amedrontar realmente estava se esforçando.
Passei o resto daquele dia no computador, escrevia furiosamente discursos que usaria em minha campanha. As vezes me empolgava demais e os bradava para as paredes.
Os empregados devem ter me achado louco ali naquele momento de empolgação.
Pena que nenhum deles sobreviveu.
Lembro de ter ido dormir as 2 da manhã, tive um sono pesado e só acordei quando um homem, vestindo uma fantasia de lobo parecia estar em cima de mim.
Tentei lutar, me debater, mas ele me imobilizou e injetou no meu pescoço um líquido com uma seringa.
Os jornais na manhã seguinte mostraram minha casa sendo invadida por uma turba de agentes federais, policiais e jornalistas.
Os empregados e a equipe de segurança foram degolados.
Por todo lado haviam pegadas de lobo, repletas de barro e sangue.
Pelo menos foi isso que me disseram, fiquei três dias em coma e desde então minha saúde só tem piorado.
A morte me espera. Fugi da Rússia, vim para Londres.
Os médicos dizem que eu fui envenenado por radiação. Meu ego enfim me levou ao final trágico que todos me diziam que levaria.
Não quero partir sem me redimir com minha namorada dos tempos de universidade, a mulher a quem eu amei e fui amado.
A mulher a quem eu abandonei em prol de um delírio.
No fim é irônico que a lenda de um cão que está preso e devoraria o universo caso fosse solto tenha sido usada para encobrir meu assassinato.
Esse cão é meu vício por grandeza.
Não espero que me perdoe. Apenas saiba que horas antes do fim, seu pai tentou se redimir.
Viva e não seja como eu. O segredo do sucesso é acordar, quem necessita de algo é escravo disso.

Seu pai.

Daniel Mac'namar

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O que é real?

São Paulo 20/12/2001

Para meu amigo Lucílio 

Não era conhecido por minhas crenças, na verdade, até bem pouco tempo atrás era um cético completo que ria de toda essa ideia de espiritualidade.
Acostumei me a dizer: A ciência um dia ainda iria suplantar a todos os mitos e livre desse mal, as pessoas iriam entender a vida em essência.
Você mesmo em algumas ocasiões me dizia para não ser tão radical em meu ceticismo, repetia incansáveis vezes que há mais coisas do que a mera lógica.
Escrevo esta carta para lhe dizer que estava certo, e caso saiba da minha morte, entenderá por meio destas mal fadadas linhas o que de fato aconteceu comigo.
Como bem sabe passei em um concurso e fui lecionar numa pequena cidade do interior.
Era um local pequeno, onde os cheiros ainda existem, pães, flores, perfumes. Não há somente fuligem e fumaça intoxicando os pulmões.
O povo era me indiferente, cordiais, porém distantes. Me acostumei com tudo e com meu salário podia manter uma vida saudável, tanto física quanto economicamente. Algo que até então eu jamais tinha pensado, visto que sou um consumista inveterado, como você bem sabe.
Mas tudo mudou desde o último dia das bruxas. Todos na cidade pareciam temer tanto aquele dia que não havia ninguém na praça a noite, de minha janela numa casa bem no centro podia ver que até mesmo os mais ávidos comerciantes fecharam suas portas tão logo a noite chegou.
Fiquei curioso com aquilo e comecei a fazer algumas perguntas informais. Ninguém quis responder e alguns me mandaram não ser bisbilhoteiro. 
Mas como bem sabe, obedecer nunca foi uma de minhas maiores características e um acaso da vida me permitiu entender melhor o que se passava.
Encontrei um bêbado conhecido do local, seu nome era Ivan, e em troca de duas doses no bar local me contou toda a história.
A cidade tinha sido construída em cima de um cemitério indígena e todos evitavam sair a noite desde o dia das bruxas até a noite do dia 21 de dezembro por medo do portão do inferno.
Segundo a lenda, um pajé amaldiçoou os primeiros colonos daquelas terras, pouco antes de morrer disse: "Que os seus deuses mandem para essa terra todo o medo!"
Ri abertamente da história, algo que ofendeu Ivan que resolveu não me contar mais nada.
No entanto segui as pistas dadas por ele e na próxima noite estava eu no bairro antigo. Tinha medo de ser assaltado.
Queria provar se havia algo sobrenatural ali. Tinha apenas uma caneta e um papel, queria narrar meu encontro ali ao vivo e mandar para um jornal junto de um texto onde zombaria das crendices do povo interiorano.
Era noite alta e nada acontecia. Estava feliz vendo me como um superior. Quando ao longe ouvi um uivo.
Pela primeira vez naquela noite cedi a minha imaginação e meu coração começou a pulsar mais rápido. Registrei as horas: Eram 3 da manhã em ponto. A lua cheia estava alta, de repente comecei a perceber que o frio havia aumentado.
Desisti da ideia daquilo quando escutei o segundo uivo dez minutos depois, não era nada que se ensine nas aulas de biologia, parecia que o som não entrava pelos meus ouvidos, mas era sentido por todo meu corpo.
Andava de volta para casa com a mente repleta de xingamentos a mim mesmo por ser tão covarde, quando me afastei alguns passos, eu vi um lobo negro.
Era tão grande quanto um boi adulto. Tinha um pelo longo avermelhado, olhos completamente negros.
Podia ver sua respiração no ar frio que estava fazendo. Tudo parecia congelar e eu me sentia morto.
Urina escorria por minhas calças e eu sequer murmurei uma palavra sequer.
Era a presa dos filmes de documentários na África, aterrorizado demais para me mexer.
Fui salvo por um padre que no último instante, apareceu e jogou sobre mim um balde de água.
Ao sentir o cheiro daquele líquido a criatura se amedrontou e saiu ganindo até sumir.
Nesse instante eu desmaiei e acordei na minha casa no outro dia.
Havia apenas um bilhete ao meu lado: Marcaste sua vida para sempre. Sua sina virá te buscar até o solstício de verão. Adeus.
Tomei banho, na tentativa de acalmar meus nervos. Mas nem por um instante parei de tremer. 
Minha voz aquele dia na aula parecia não querer sair. As palavras me fugiam como loucas e eu acabei dispensando a última turma mais cedo para sair da escola antes que ficasse escuro.
Não havia contado a ninguém o que acontecerá durante todo dia. Quando escutei a conversa de duas senhoras dizendo:
"_Pobre padre Pedro. Morreu estraçalhado perto da paróquia perto das quatro horas da manhã".
Sai correndo assustado e fui em direção da igreja. Um pequeno enterro estava presente e no momento que eu entrei um homem bem velho, a quem eu nunca tinha visto antes, começou a me acusar.
"+ Eis ai o assassino arrogante! De que adianta tua ciência? Não é tu mais sábio do que nós?"
Seu rosto parecia a máscara de um Torquemada antigo. Corri dali rapidamente, comecei a juntar minhas coisas. Na manhã seguinte iria embora dali.
Voltei para a casa de minha mãe no dia seguinte. Deixei uma vida para trás. Todos ficaram espantados ao me ver de volta a capital.
Me arrisquei até a ir naquela noite a uma pizzaria sozinho, precisava relaxar meus nervos.
Quando voltei para casa, a porta estava arrombada e lá dentro os dizeres:
_" Você é meu!"
A polícia até tentou me oferecer proteção. Mas eu me internei num hospício. O lugar era uma fortaleza, os remédios me permitiram dormir.
Mas numa noite, eu tive um pesadelo e a criatura apareceu novamente, dessa vez não era mais vermelho e sim branco como a neve.
Em meu sonho zombou de mim, disse muitas coisas e por fim falou que em breve eu iria ser carregado para o inferno por minha arrogância.
Termino dizendo que a vida me é um fardo terrível desde que passo ela em companhia constante do medo.
Essa carta só chega a ti após eu subornar um enfermeiro com o segredo da senha do armário de remédios, algo que eu descobri prestando atenção ao doutor que me trata, um bom senhor, completamente desatento.
Um abraço desse que aprendeu tarde demais a ser humilde.

Daniel 


terça-feira, 27 de novembro de 2018

Sumiços

Era uma noite fria. Eu e mais dois homens íamos assaltar um mausoléu no antigo cemitério da cidade.
Estava escuro e o vento cortava enquanto aguardava meus parceiros, fumava um cigarro calmamente.
Naquela hora estava pensando no ouro que um dos fundadores da cidade tinha mandado enterrar junto de si ali naquele local.
Meus parceiros chegaram, arrombamos rapidamente o portão. Naquela noite não tinha vigia. Estava tudo escuro. Pegamos as lanternas e nos dividimos para procurar a entrada do mausoléu no centro exato daquele local enorme.
Eu fui para a direita, meu outro parceiro para a esquerda e o terceiro foi para o centro.
Era possível ouvir meus passos, não havia nenhum som e por alguns minutos continuou assim até que eu escutei um grito.
Era um pedido de socorro, muito alto e desesperado. Repetiu se por três vezes e então parou.
Estava completamente perdido, no meio das lápides.
Me sentei em uma delas para descansar e cai num torpor estranho. Sonhei que era carregado por um lobo negro que repetia constantemente: Não volte aqui!
Quando me dei conta estava noite alta e eu estava próximo ao portão de saída do cemitério.
Ao meu lado estavam o relógio de um dos meus parceiros e o anel do outro.
Não pensei duas vezes, corri o máximo que pude. E por vinte anos guardei essa história.
Quando meu neto me contou que um grupo de crianças iria pular o muro para passar a noite ali no antigo cemitério como prova de coragem no colégio fiquei receoso de acontecer algo de ruim com elas.
Por isso tentei impedi-las, fiquei com o carro parado por horas na entrada lateral, onde supus que eles iriam tentar entrar. 
Não sabia, no entanto, que eles haviam entrado por outro ponto.
Passei várias horas esperando, estava quase pensando em ir embora, quando veio na minha mente o mesmo som, o uivo gutural que mandava as crianças irem embora dali.
Minutos depois ouvi gritos, sem pensar muito, liguei o carro e bati contra o portão, encontrei um dos meninos desacordado.
Gritei pedindo socorro e um lixeiro que passava ao longe veio e me segurou a criança enquanto eu rapidamente lhe contei a história e sai a procura dos outros.
Meu coração pulsava rápido, o fôlego por várias vezes faltou e eu pensei que iria desmaiar.
Por todo lado havia apenas granito com lodo. Não era possível se direcionar ali dentro, o local era amaldiçoado.
Eu gritava a plenos pulmões por ajuda sem sucesso. Lutava contra o cansaço e torcia para que ninguém morresse naquela noite.
Não sei quanto tempo se passou até eu encontrar outra criança.
Estava em estado de pânico, me atacou enquanto gritava de puro horror.
A mente do coitado nunca mais foi a mesma. Precisou ser internado num hospital psiquiátrico, onde até hoje não se recuperou.
As outras crianças nunca mais foram encontradas. Por um tempo a polícia me considerou culpado, acabei sendo indiciado até, mas o processo foi extinto por falta de provas.
Meses depois uma menina sumiu de casa e toda a população ficou apavorada.
O surto de medo se tornou em histeria quando encontraram as roupas dela, ensanguentadas, na porta do antigo cemitério.

O local foi invadido por uma turba ensandecida que atacou tudo que viram pela frente, inclusive o vigia do local, um pobre homem magro como a noite que estava ardendo em febre.
Foi incendiado vivo pela multidão e enquanto ardia muitos juram tê-lo ouvido rosnar como um cão.
Eu me mudei dali após o acontecido. Adquiri a síndrome do pânico e até o menor sussurro a noite me deixava apavorado.
Cheguei numa nova cidade a espera que tudo mudasse. Saia para passear todas as noites numa pequena praça, logo fiz amigos e estava indo ao clube da terceira idade, dançar e jogar conversa fora.
Toda essa paz, no entanto, durou um mês. 
No primeiro dia de janeiro de 2004, cheguei em casa e a porta principal estava repleta de marcas, como se um lobo tivesse tentado entrar ali a força. A entrada cheirava a enxofre puro.
Eu passei mal de tanto medo e tive um infarto. Fiquei semanas internado e meu pânico se apossou de mim.
Na última sexta vi um homem no hospital que parecia com o vigia do antigo cemitério. Ele me olhou e riu, e quando o fez pude notar a dentição igual a de um cão.
Fugi do hospital rapidamente, passei em casa, arrumei a mudança, iria partir numa fuga alucinada.
Mas minha condição era frágil e eu acabei demorando demais.
Ouvi um grande rosnado lá fora e percebi que já era noite. Corri para um quarto no andar superior. Escrevo essas palavras enquanto ouço o arrombar a porta.
Ele não vai me pegar com vida!


Relato escrito pelo professor Alex Pereira, de sessenta e dois anos, pouco antes de se matar.
Parte do relatório policial.
Não foram encontrados sinais de arrombamento e nenhum dos vizinhos ouviu nenhum barulho a noite.

O caso foi tratado como delírio paranoico.
 Delegado Alberto dias
02/01/2004

O verdadeiro lar.

Caminhei pela rodovia a noite toda. Meus pés doem. Minhas mãos já não aguentam mais.
Estou atordoado pelo que fiz. Não posso acreditar que fui capaz de matar.
A adrenalina percorre o meu corpo e é como se eu visse tudo em câmera lenta.
Ouço motoristas me xingando, sinto o vento frio na pele, vejo algumas árvores bem a frente.
Abandonei meu carro a muito tempo. Nem me lembro que direção tomei. Só quero fugir. Seguir adiante até ser preso ou me matar de culpa.
Não sei se vale a pena continuar vivo, depois de dois dias caminhando, sinto dor em cada parte do meu corpo.
Não como, nem bebo. Estou alucinando com tudo que fiz.
A briga, os gritos, o empurrão e o trágico final. Tudo voltava para me punir.
Quando olhei para a ponte a minha frente, não pensava em nada além de dar fim naquela insanidade.
A adrenalina, o impulso, as vertigens, tudo unido me acompanhou nos segundos até o abraço a terra que me tirou as pernas.
Os médicos chegaram tempos depois, me encontraram numa poça de vômito e sangue, disseram que eu ria alucinado dizendo:
_ Eu escapei, pode vir me buscar! Sou mais forte que você!
Acabei internado no hospício. Onde estou há uns vinte anos.
Minha família me abandonou, não tenho amigos lá fora. Agora estão me mandando para fora, dizem que estou são.
A contragosto vejo se aproximar a hora de sair do meu mundo de volta a realidade.
Ser atormentado pelas visões é meu maior medo. Gosto de dormir em paz todos os dias. E só tenho isso aqui!
Uma tia vem me buscar. É uma senhora respeitável com uma casa limpa, a única parente que me quis.
De fato não deve ser agradável ter em sua casa alguém com meu diagnóstico.
Na primeira noite ali sou atacado pelas vozes, a imagem da minha culpa volta.
Eu não grito. Acordo e escrevo essas últimas palavras e termino apenas dizendo: Não se deve tirar um homem de seu verdadeiro lar!
Carta encontrada ao lado do corpo de Raul Mendes, esquizofrênico encontrado morto ao lado de duas caixas de remédios tarja preta.
Sua tia, uma ex professora que mora num sítio a poucos quilômetros da cidade chamou a polícia.
Ela afirmou que naquela noite tomou um remédio para dormir e que não ouviu nada.
Apenas soube que estava morto na manhã seguinte quando foi chamar o sobrinho para tomar café.
O caso foi encerrado como suicídio.

Tenente Fernando Santos.
Relatório final do caso 1345.
1/01/2001

domingo, 25 de novembro de 2018

Impossível

"Era mais um dia comum no instituto médico legal, pessoas mortas entrando, parentes reconhecendo e cadáveres sendo abertos.
Não havia nada de novo ali. Éramos apenas quatro períodos para uma região inteira. Seis cidades do interior passavam por ali.
Não tínhamos equipamento e não raras vezes ficávamos ali até depois do expediente por pena de uma mãe enlutada que não queria esperar até o dia seguinte para enterrar seu filho.
Era um trabalho triste, onde até o ar tinha cheiro de morte. Não raras vezes eu tinha pesadelos com os mortos. Sonhava com eles me atacando, me segurando e depois me abrindo. Era terrível, acordava com a mandíbula tensa, os pulsos fechados e todo corpo dolorido.
Passei a usar remédios para dormir, após consultar um psiquiatra, caso não funcionasse eu iria ter de tomar mais medicamentos.
Fiquei dois dias dopado a tal ponto que não me lembro sequer se eu estivesse no meu trabalho.
O mundo era apenas um pesadelo psicodélico terrível, onde meus medos me atacavam de todas as formas possíveis.
Mas mesmo assim não deixei de ir trabalhar. Era a minha noite de escala, tomei um banho, meu atestado acabaria em uma semana. Porém eu não me importei. O hábito faz o monge, e eu segui a rotina que minha memória estava acostumada.
O porteiro do prédio, abriu a contra gosto a porta e me deixou entrar. Era um ex policial, que tinha início de Parkinson, conseguiu um emprego por ser amigo do diretor da unidade, como forma de ajudar a pagar as despesas, visto que a aposentadoria não dava para nada.
Por volta das duas da manhã, eu estava com muita dor, saí no meio de uma autópsia e fui a cozinha fazer um pouco de café. Era tradição entre todos ali, fazer uma larga quantidade de café, de modo a poderem trabalhar com mais facilidade em meio aquele caos.
Quando voltei a mesa de autópsia, o corpo não estava mais lá.
Fiquei aterrorizado, minhas pernas tremeram ao olhar no chão e ver o sangue por todo lado. Era como se meus pesadelos tivessem acordado.
Cai no chão e não sei o que aconteceu. Lembro de ouvir a voz do vigia, tentava me acalmar. Mas por um instante minha mente alucinou e eu vi a moça com o peito aberto ali na minha frente. 
Eu dei um soco na alucinação e quando ela caiu no chão, subi em cima dela e a enforquei até ter certeza de sua morte.
Quando me levantei de cima do morto imerso numa explosão de felicidade, grito de puro pavor, minha culpa me estraçalha e por um impulso e pego a arma dele e dou um tiro nos miolos.
Mas a arma falha das três primeiras vezes. Na quarta eu completo meu intento, mas isso apenas me deixa paralisado da cintura para baixo.
Eu mereço estar nessa ala do manicômio, matei um homem, ignorei meu atestado e fiz tudo isso no mais puro estado de torpor.
Mas o que me deixa mais impressionado é lembrar do relatório médico parado na minha frente, e ter a total certeza que havia uma mulher naquela madrugada. Uma mulher que misteriosamente desapareceu."
O paciente não tem mais sequelas mentais depois dos acontecimentos que o trouxeram até aqui.
Creio que em breve estará apto para viver novamente em sociedade.
Não o libero ainda por medo dele acabar se matando, toda essa alucinação impossível se mistura a culpa do ato hediondo por ele praticado e isso poderia acabar em suicídio.

Adendo.
Fomos forçados a libera-lo, o advogado dele conseguiu reverter sua sentença. E por fim, minhas piores suspeitas se confirmaram.
Ele se jogou na linha do trem.
Dr Abdul Alhazred.
São Paulo, 30 de dezembro de 2005

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Em busca do passado. Primeira parte

Era uma noite chuvosa, minha mãe tinha saído para trabalhar. Ela era tenor num teatro. Seu nome é Irene Adler.
Não conheço meu pai, nem a família de minha mãe.
Sei que ela é do velho continente, tem vários fotos num álbum antigo com lugares na Europa.
Polônia, Boêmia, Inglaterra, Rússia, Itália...
Tentei perguntar várias sobre essas fotos a minha mãe, porém sempre recebia respostas vazias ou ela ficava completamente irada e exigia que eu parasse.
Me sinto como alguém sem passado, como num conto de terror. Já pensei até que tinha sido roubada de alguma família. Que meu pai me odeia, ou que minha mãe seja uma criminosa.
No entanto todas essas ideias pareciam loucas demais.
Pelo menos era isso que eu achava até encontrar o diário de minha mãe.
Perdido no meio de algumas caixas num sotão velho, eu o achei trancado com dois cadeados. Algo incomum. Era um cadeado antigo, e sua condição não estava das melhores. eu forcei por três deles e por fim cederão e eu pude ler o conteúdo.
Algumas partes estavam em escrita cifrada, não sabia como ler, no entanto uma das páginas estava em linguagem comum e falava do homem que roubou o coração de minha mãe: Sherlock Holmes.
Era possivelmente aquele o nome do meu pai. Fiquei alguns minutos fantasiando como ele seria.
Confesso que ao ler aquelas palavras me senti invadindo um pedaço do passado de minha mãe ao qual eu não tinha dinheiro.
No entanto ela me negará qualquer informação e por isso continuei.
Quando cheguei ao fim, encontrei diversos recortes de jornal protegidos por uma capa que parecia com plástico.
Diversos roubos por toda a Europa, e nas costas a letra de minha mãe se gabando de como tinha sido fácil, em outros deixava anotações para melhorar na arte de seduzir ou de ter mais cuidado com esposas ciumentas e armadas.
Por fim, escondido no forro do caderno estava uma carta. Alguém chamado John Stanton, provavelmente meu avô, amaldiçoava a filha por sua vida libertina, dizia que sua saída tinha sido uma benção e que ela deveria negar ao próprio nome se não quisesse trazer ainda mais vergonha a todos.
Chorei de pena e raiva. Estava aturdida com tantas informações e confesso que perdi a noção do tempo.
Nem percebi quando minha mãe chegou, nem quanto tempo ela ficou parada na porta do sotão me olhando com o caderno nas mãos.
A expressão dela era de pura fúria, me tomou o caderno e me deu um tapa no rosto, gritou para eu sair dali.
Fui para meu quarto e pelos dias que se seguiram ficamos em silêncio. Mal nos víamos e ela falava pouquíssimo comigo.
Comecei a me sentir atormentada por aquele silêncio e decidi conversar, mas quando me aproximei, ela apenas me pediu: Saia.
Aquilo me encheu de raiva. Fiquei furiosa e decidi preparar um plano para conhecer meu pai e o mundo inteiro.
Eu sabia onde ficava o talão de cheques e as letras de crédito de minha mãe, conhecia a senha do seu cofre.
Tirei algumas notas e abri uma conta no banco nacional.
Com uma parte do dinheiro comprei uma passagem num trem de passageiros, o atendente não perguntou por meus documentos e apenas me pediu um nome.
Me apresentei como Júlia Stanton.
A passagem estava marcada para o último trem com destino a Boston.
Deixei um bilhete dizendo que iria ver meu avô em Richmond, perambulei pela cidade, vestida com roupas masculinas que minha mãe sempre mantinha num grande báu. Tinha algum dinheiro no bolso e meus documentos originais. Teria de arranjar alguém para fazer outra identidade, caso fosse necessário.
Carregava outras duas numa sacola, além de um vestido, mantinha os seios enrolados em uma faixa.
Passei por policiais que perguntaram se eu tinha visto uma jovem nas imediações da estação. Eu fingi ter voz grossa e apontei na direção errada de uma estação de transporte a cavalos, dizendo ter visto ela entrar ali.
Meu trem chegou no horário pontual e eu embarquei.
Não conhecia nada, mas tinha me cansado de não saber, queria conhecer o mundo. Mal sabia eu quem realmente era minha mãe e quantos problemas isso me causaria.

Mistério ou fraude?

Dia 1
Perdido há meses nessa ilha. Não tenho ninguém.
Ouço vozes, minha mente começa a ceder. A sanidade em breve irá embora.
Se alguém me encontrar algum dia saberá o quão desafortunado sou.
Meu nome é James Adrian Colheen. Capitão do Newport da armada britânica.
Estávamos navegando rumo a Argentina para a guerra das Falklands.
Meu piloto dormiu um pouco, por isso saímos da rota original.
Era de manhã quando eu percebi isso e passei a recalcular nosso itinerário.
Quando de repente ao atingirmos as coordenadas 26° 37′ 45″ N, 70° 53′ 1″ W
Todo o horizonte desapareceu. Não havia mais água. O navio estava encalhado em uma poça de areia.
Os homens começaram a enlouquecer quando viram vindo dos céus seres alados, criaturas terríveis de cor negra.
 As criaturas pousaram no navio e começaram a emitir um chiado constante e assustador.
Não sei descrever como era o grito em si, mas ao ouvi - lo sentia minha alma querendo abandonar o corpo.
Não havia como eu fazer nada, minhas pernas não se moviam.
Ouvia ao meu redor o grito dos meus homens e barulhos deles sendo estraçalhados.
Juntei toda a coragem e emiti pelo rádio um pedido de ajuda. Mandei diversos SOS. 
Tinha a tola esperança de tudo aquilo ser um pesadelo e num instante eu acordar.
Mas eu senti algo atrás de mim, um vulto negro me tocou, era como se aquele toque tivesse congelado minha alma. 
Fiquei paralisado, enquanto via um ser assombroso, não tinha rosto, era apenas um buraco vazio de onde saíam centenas de vermes.
Num instante de pura sorte, minhas pernas se libertaram e eu corri.
Pulei do navio e cai direto na areia que me puxou para baixou
Fui sugado até cair do céu novamente no mar.
Estava com as roupas puídas e tinha uma dor profunda na perna direita, algo que me faz manquejar até hoje.
Dois dias atrás encontrei alguns baús no meio de um arboredo, próximo a caverna onde durmo.
Dentro desses báus, achei papel e tinta e talvez escrevendo eu consiga superar a ausência de alguém para conversar.

Dia 2
Não sei o que aconteceu, parece que vários objetos estão aparecendo por toda a ilha. 
Desde madeira calafetada usada em navios antigos, até itens feitos de um material que não posso distinguir.
Minha dieta escassou se muito, a árvore que eu comia alguns frutos parou de produzir, na verdade, secou totalmente. Parece ter sido atacada por um parasita que cresceu em todas suas folhas.

Dia 3 
O clima piorou, não consigo sair, mesmo estando ainda no atlântico está chovendo areia e a leste vejo a formação de um grande ciclone que irá atingir a ilha em dois quartos de dia.

Dia 4.
 A ilha parece um grande depósito de lixo.
Materiais antigos e completamente distintos apareceram após a tempestade, por sorte apareceu um pouco de comida em condições e rum.
Agora conseguirei acalmar um pouco meus nervos.
Ao andar na parte norte da ilha vi uma pegada muito estranha, era enorme de um animal que desconheço, só tinha três dedos e era semi - triangular.

Dia 5
Devo ter enlouquecido. Vi um dinossauro hoje. Existe uma saída dessa ilha ao norte. 
Não devo ir mais para lá, acho que minha mente está alucinando. A partir de hoje apenas recolherei os dejetos e tentarei proteger minha caverna.

Dia 6.
Hoje fui atacado por pequenos homens portando machados feitos de pedra. Surpreendido, peguei um galho em chamas de minha fogueira e contra - ataquei os.
Esses selvagens não falam meu idioma, matei dois deles queimados, para meu azar, eles queimaram alguns itens que eu estava juntando.

Dia 7. 
Essa noite não dormi, ouvi novamente o grito das criaturas. Irei para o norte, preciso fugir. Eles não irão me pegar.


Diário recuperado em uma expedição arqueológica a leste de Teotihuacan no México. Preservado em uma caverna dentro de um jarro recoberto com entalhes astecas o caderno de couro parece autêntico. No entanto seu relato é tão desencontrado que os arqueológos John Deven e Sir James Wilhein não crêem ser verdade.
No entanto seu achado virou notícia nos jornais e muitos teóricos da conspiração afirmam que se trata da prova final que atesta o fato de o triângulo das Bermudas sem um portal para seres de outra dimensão.
Pesquisas sobre o relato mostram que seu escritor realmente existiu e o navio Newport fez parte das embarcações que iriam ir lutar na Argentina, era uma corveta menor, preparada para atacar submarinos.
Feita durante a segunda guerra o navio dispunha de um sistema de canhões para médio alcance, sonares e um sistema de mísseis.
Como diria Shakespeare
“Há mais coisas entre o céu e na terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia”.

domingo, 18 de novembro de 2018

A carta

Minha alma despida naquele olhar.
Tudo se perdeu quando ela partiu.
Em sonhos ainda a vejo.
A lua parece seu olhar.

Encontrei isso quando meu pai desapareceu. Tinha se passado algumas semanas após minha mãe falecer vítima de um câncer terminal.
Desde então vivi na casa de parentes. Cresci, estudei, me formei e hoje trabalho como professor.
Acabei esquecendo de tudo dessa época. Se tínhamos cachorro ou gato, onde morávamos, quem eram meus amigos. Foi tudo para um sotão na mente e lá ficou por longos vinte e seis anos.
Até o dia em que recebo uma carta do correio com um selo do Congo. A encomenda foi entregue junto com as contas habituais e quando olhei o remetente quase tive um troço: Lá estava o nome do meu pai.
Escreverá uma série de poemas sem sentido em pelo menos três idiomas.
As palavras estavam fora de ordem, os tempos verbais pareciam rebuscados demais.
Olhei para aquelas cartas por horas. Naquele dia não fui trabalhar. Aleguei estar passando mal com dor no joelho.
Foram horas a fio estudando e pesquisando para entender as palavras e num lampejo juvenil me passou a ideia de ser um código de espião, algo feito com estenografia. Mas logo meu lado racional e ponderado tomou conta e disse bem alto que era apenas a carta de um esquizofrênico que me abandonou anos atrás.
Tirei fotos dela e guardei num pen drive. Iria pedir para uma amiga que era psicóloga analisar o conteúdo e guardei os papéis dentro da gaveta do criado mudo próximo a minha cama.
Adormeci e sonhei com espiões, códigos e um monte de sinais numa caverna.
Acordei disposto a nunca mais me deixar fantasiar daquela forma para não acabar num hospital psiquiátrico.
Me sentia tonto e achei que era fome.Olhei para o relógio e já se aproximava do meio dia. Tomei um banho e fui até o restaurante almoçar.
Quando volto, minha casa tinha sido arrombada. Estava tudo revirado. Rapidamente disquei o número da polícia e dentro de 30 minutos uma viatura estava parada em minha porta.
Os policiais conversaram com vizinhos, tiraram fotos da casa toda e foram embora já próximo das cinco da tarde.
Nesse meio tempo a minha mente estava a mil. Parecia que o meu corpo estava aceso. Não sabia se era por medo ou adrenalina. Mas a parte de mim que tinha fantasiado mais cedo parecia dizer: "Eu estava certa!"
Me sentei no chão. Pessoas passavam por mim. Algumas tentavam me consolar dizendo que o país estava terrível e que eu tinha sorte de estar com os bens de valor.
Eu respondia no automático. Não me lembro de ter dito nada além de muchochos e acenos de cabeça.
Na verdade eu queria todos fora dali. No fundo eu sabia o por que do roubo. Era a carta que o ladrão estava atrás. E provavelmente ele a levará.
Assim que todos se foram, chamei um chaveiro que me cobrou oitenta reais para trocar a fechadura da porta.
Eu já tinha olhado na gaveta onde tinha deixado a carta e ela fora realmente levada.
Passei o resto do dia arrumando minha casa. Não estava tão bagunçado e logo eu percebi que alguém deveria ter tentado fazer parecer um assalto, quando na verdade sabiam que o carteiro me entregará a carta.
Tentei me controlar mas naquele instante um profundo pavor tomou conta de mim. A paranóia criou ares de verdade e eu me senti como personagem principal de um romance policial barato repleto de clichês de mortes e assassinatos.
A vontade que eu tinha era correr. Sair dali, desaparecer. Meu eu racional tinha tirado férias e eu estava histérico até que a campainha tocou.
O susto foi tão grande que só não urinei me todo provavelmente por que a bexiga não tinha nada.
O gosto amargo na boca cresceu muito. Ouvi chamarem meu nome e uma voz na minha cabeça decidiu se esconder.
Peguei uma bengala que ficava debaixo da cama, tinha sido operado anos antes e usei a na fase final da recuperação. Havia a deixado ali por hábito e um pouco de desleixo com a arrumação.
Fiquei atrás da porta do quarto num ponto cego. Minha respiração estava rápida e eu parecia absorto num frenesi. Mataria minha mãe se ela passasse na minha frente.
Não sei quanto tempo se passou até eu ouvir a porta sendo arrombada. Tentei gritar mas a voz não saiu.
Relembrando desses momentos ao escrever esse texto percebo o quanto eu sou um covarde. Logo eu que afirmava a racionalidade do ser humano fui tomado pela mais antiga de todas as emoções: O medo.
Ouvi passos vinham em direção ao quarto. As pernas tremiam. Num ímpeto de fúria ataquei. e consegui desmaiar aquela que eu acreditava querer me matar.
Liguei a luz e então eu percebi que a mulher que eu praticamente fraturara a cabeça estava longe de ser uma assassina.
Era baixinha, de cabelos castanhos com mechas loiras, um profundo óculos no rosto, olhos provocantes e um nariz adunco. O corpo não era forte, se eu a visse na rua num momento normal acharia a atraente.
Mas ali era diferente, a pancada que eu tinha dado na nuca dela era um ponto roxo visível até por um míope.
Verifiquei se estava armada e só relaxei quando percebi que não estava.
Chamei a polícia e uma ambulância. Não queria ser culpado por um assassinato e estava com medo dela ter reforços do lado de fora  esperando uma ordem dela para me matar.
A viatura dessa vez demorou cinco minutos. Disseram que tinham vindo rápido por estarem em patrulha.
Mas eu notei que um dos policiais estava com um silenciador na arma.
Rapidamente dei um soco nele que caiu para trás, sangrando, o outro saiu atirando para todo lado. Eu fui salvo, não fazia idéia de quem seria.
Daí em diante eu apaguei. Me lembro de acordar na traseira de uma caminhonete indo por uma estrada visceral.
Quem dirigia era a mulher a quem eu agredirá na noite passada.
Ela olhou para mim e sorriu:
"Sou muito boa em me fingir de desmaiada. Seu golpe não me pegou. Esse roxo que você viu foi feito por outra pessoa, professor".
Desmaiei novamente, era muita informação para eu absorver.
Daí em diante minha vida foi uma porcaria de ação o tempo todo. Fugir e me esconder se tornou padrão.

Experimento

2009
Base 4.

Dr. Harvey Cosgrove.

Estudo com a bactéria intitulada K.

Os primeiros testes mostraram que a estrutura do agente bacteriológico é formada de carbono e revestidas por uma espécie de membrana senciente. Qualquer tentativa de retirar parte da mesma resulta numa poderosa reação em cadeia.
Não tem nenhuma semelhança com as demais bactérias já catalogadas.

Sua extensão é de dois metros e se encontra atrelado a uma planta. Impossível detectar a espécime.
Segundo o relatório dos militares, foi encontrado em uma área confidencial.

O agente inócuo se torna altamente letal. Atingindo o cientista que tentou realizar o procedimento, causando sua morte em instantes e depois volta então a se tornar inócua.
Os efeitos no corpo humano são similares ao Ebola. No entanto não há transmissão para outros seres humanos.
 
Foram colocadas duas cobaias para realizar a extração de parte da bactéria. Os dois morreram imediatamente.

A criatura resiste a todos os remédios conhecidos. Sua estrutura molecular pode se adaptar as agressões e evoluir.

Posso afirmar que é um ser consciente. A estrutura dela se adaptou e agora cresceu uma camada de esporos em torno da mesma, sua estrutura já passa dos três metros. Responde a presença de qualquer ser vivo no local. Protocolos de contenção acionados.

Major Manson traz um plano para transformar a bactéria em arma.
Doutor Spencer é contra, e é automaticamente cortado do projeto.
Assumo seu lugar e imediatamente conduzimos testes para criar um padrão de agressão no agente.

Foi inserido na estrutura da criatura, por meio de um robô, algumas moléculas de um vírus para tentar enfraquece - la.
Resultado. O ambiente onde ela está se tornou tóxico.
A fumaça foi extraída e analisada. Altamente letal. Causa em ratos morte instantânea.

Primeiro uso em humanos autorizado. Dezenas de condenados a morte são mortos por esse gás.
Me sinto como se fosse Mengele em Auschwits. É terrível. Os corpos foram testados após a morte. Todos tiveram sintomas parecidos com o Ebola. Apenas um fato diferente ocorreu. Suas células passaram a conter traços da bactéria.
Os corpos foram incinerados cinco horas depois de iniciados os testes, quando foi percebido o crescimento de esporos dentro da cavidade toráxica de um deles.
As roupas de chumbo não nos protegeram totalmente. Quatro cientistas são incinerados após morrerem com efeitos do gás.

A base é lacrada. Estamos sós.
A contenção não é mais suficiente. A criatura continua a se expandir.

Faz quatro dias que estamos isolados de tudo.
Escrever mantém minha sanidade.
Não há nada o que fazer.
Ouvimos apenas o ranger do metal sendo pressionado pela planta.

A porta se rompeu durante a noite...

Trechos de um diário encontrado no meio da selva no Congo. Pelo explorador português Carlos Almeida.



Veneno direcionado

Não há muito para dizer. Todos os alunos daquela classe foram mortos por uma espécie de bactéria que não somos capazes de detectar. O micro - organismo não afeta outras pessoas, além das que pereceram. 
Os exames iniciais atestam que não é algo do planeta. Pelo menos não é catalogado nos bancos de dados da OMS. Nos microscópios a bactéria tem toda a estrutura diferente daquelas já catalogadas.
Todas suas células carregam uma camada de proteção.
O chefe do departamento iniciou os protocolos internacionais para guerra. Os militares levaram todas as amostras. Forçaram os cientistas a assinar termos de confidencialidade.
Tudo que as crianças mortas tocaram desapareceu. As famílias foram levadas, desinfectadas e depois movidas para outras residências. Suas casas tinham sido demolidas. Até mesmo o pequeno laboratório forense em que eu trabalhava desapareceu. Todos fomos aposentados ou transferidos para outras cidades.
Já faz quarenta anos desde esse incidente que foi totalmente abafado.
Mas agora outro grupo foi infectado. Pelos jornais eu acompanho tudo e tenho total certeza é a mesma bactéria.
O problema é: Foi usada num ataque terrorista em nosso país. E devastou todos os idosos de Nova York.
Qualquer pessoa acima dos 60 anos foi eliminada. A velocidade da contaminação é impressionante. Todas as fontes de água, o ar da cidade e até algumas plantas foram atingidas. No entanto somente humanos morreram.
Fui aos jornais. Contei minha história. Não tenho mais medo do governo. A notícia se espalhou e levou a Casa Branca a dar várias explicações. Desde então estou sendo seguido.
Provavelmente se alguém ler isso eu estarei morto.
Então minhas últimas palavras serão: Investigue o que aconteceu com aquelas crianças.
Busquem a resposta que fomos proibidos de procurar

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...