O livro escrito pelo árabe louco,
cujas lendas superam em muito o limite da imaginação humana. O
necronomicon traz fórmulas e antigos segredos dimensionais que
enlouquecem só de pensar.
Sua história é demoníaca e não sei
de muitos detalhes, além do que já foi publicado.
Meu nome é Antônio Bueno da Silva.
Trabalho como arquivista na biblioteca imperial na cidade do Rio de
Janeiro.
Encontrei uma passagem secreta, que
abria para um antigo lance de degraus que terminava em uma série de
prateleiras baixas e muito mofadas.
Repleto de tomos, pergaminhos e
manuscritos muito antigos, aquele local foi descoberto por acaso
enquanto analisava as paredes a procura de uma infiltração que há
muito tempo não fora consertada pelo governo carioca.
Eu estava só no momento, era novato e
tinha ido trabalhar, mesmo enquanto os outros funcionários tinham
entrado em greve.
Caminhei por aquela sala baixa, quando
esbarrei num corpo num dos cantos, próximo a um diário, que parecia
ser o alimento de traças e mofo há algumas centenas de anos.
Peguei as finas folhas com cuidado, e
levei o para cima, e pouco a pouco movi os demais livros encontrados
ali para a sala da restauração, misturados há várias obras
antigas que estavam ali paradas por falta de materiais para serem
recuperadas não seriam percebidas.
Limpei uma mesa e comecei o processo
de restaurar o pergaminho que encontrará. Gastei nisso sete longas
horas, mas quando a noite já estava caindo eu consegui ler.
Descrevi a história de um sábio que
fora feito cativo e levado a Portugal pouco antes de D. Sebastião
morrer na África, um homem culto conhecedor de mistérios antigos
que viajará o mundo e vinha apavorando a colônia portuguesa nas
Índias.
Procurei pelo nome e vi num pedaço
quase borrado pelos produtos que usará para tirar o mofo um nome:
Ali Alzahed.
Anotei o nome, iria pesquisar mais
sobre ele na internet, quando chegasse em casa, pois a rede do prédio
tinha sido cortada por falta de pagamento.
O relato prossguia falando que Dom
Sebastião se interessou pelos seus conhecimentos e em pouco tempo
administrava a biblioteca imperial.
Foi então onde passou a trazer livros
interditos de vários lugares do mundo e passou a copia – los.
Relata, o que parece serem esboços de
um culto entre os bibliotecários e copistas do rei organizado por
ele. Uma ordem esotérica tão secreta cujos relatos nunca tinha
ouvido falar.
Eles juraram proteger o conhecimento
antigo e profundo, dos deuses há muito esquecidos daqueles não
iniciados.
Espalharam cópias em pontos por toda
Portugal. Mas veio então a derrocada de Ali, sua aparência não
mudará nada em mais de cinquenta anos que servia a família imperial
e com a morte do rei nas campanhas da África, as intrigas da corte o
forçaram a sumir.
Se tornou um próscrito e foram
enviadas cartas a todas as províncias e capitanias para que fosse
morto caso encontrado.
No entanto ele não sairá de
Portugal, passando a viver numa torre em Coimbra.
Há um hiato de tempo em que não
tenho como provar, precisaria ter dinheiro para bancar mais pesquisas
em fontes portuguesas.
Volto a ter relatos legíveis dele no
início da guerra contra a França.
_ Provavelmente é um filho, ou
herdeiro do nome, algo comum entre esótericos, pensei eu.
Mas ao passar uma lupa no texto notei
com espanto e pavor que a caligrafia era a mesma. Idêntica a tal
ponto que somente uma única pessoa redigira aqueles pápeis.
Fala de como conseguiu organizar no
meio da fuga real, o envio dos livros.
E os contratempos ocorridos quando os
navios partiram sem levar as obras.
Conta detalhes sobre correspondências
com pessoas no mundo inteiro e de como todos pareciam interessados
pela recente descoberta de Ali: Um manuscrito roubado da biblioteca
proibida do Vaticano dois anos antes, por um ladrão que fora junto
com o diplomata português para a corte do papa.
O necronomicon, o livro narra fórmulas
escritas para fins além da compreensão. Mas sua descrição estava
nos trechos finais da mensagem, em uma linguagem codificada tão
incrivel que não consegui ler.
Não há mais páginas e eu não
contei a ninguém sobre o caso. Tenho comigo em meu apartamento todos
os livros achados naquela antiga sala.
Iriam ser jogados fora pelos técnicos
do laboratório. Para eles não era nada além de velharia. Peguei
todos e levei os comigo em segredo.
Desde então passo boa parte dos dias
restaurando artesanalmente os compêndios e tenho ficado assustado.
São fórmulas de magias proibidas.
Relatos místicos tão absurdos quanto estupendos, diários antigos
que dão a localização de itens que antes apenas pertenciam a
lendas.
Ontem aconteceu algo inesperado.
Sonhei com sombras me perseguindo e eu me sufocando.
Vi pessoas dançando em uma praia
suja, corpos de diferentes etnias nus e grotescamente pintados em uma
orgia ritual tão insana que não me atrevo a descrever.
E eu estava ali no meio daquilo, meu
corpo preso em um tronco ardia como sacríficio há uma divindade
muito mais antiga que o tempo.
Pretendo fugir. Enviarei esse relato
há meus amigos.
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Desaparecerei.
A ignorância é uma benção, nunca busquem a verdade! E sempre
deixem os acasos fechados!