terça-feira, 17 de janeiro de 2017

A caverna

Marcos era um detetive da pequena cidade de Cruz da Fortaleza, o ano é 1929, a crise faz o governo Vargas queimar sacas de café, por todo o lado a pobreza se espalha.
Em uma antiga mina desativada, próximo a divisa com a cidade de Goiás, foi encontrado um corpo, uma jovem assassinada no meio da caverna foi achada por um agricultor que ao passear de cavalo pela região estranhou urubus voando ao redor da entrada da caverna.
O local parecia com um templo pagão, imagens esculpidas em barro e bronze se espalhavam por todos os lados.
Um caderno com anotações foi encontrado ao lado do corpo, um homem que assinava apenas com a letra H começava dizendo que tinha descoberto uma antiga cidade no norte, em meio a floresta Amazônica.
Ele entrou em um templo junto com uma equipe de amigos para filmar o novo local, eram estudantes e pensaram que ganhariam muito dinheiro.
Algumas páginas para frente ele diz que quando entraram no local uma sombra tomou conta de seus amigos que começaram a agir como animais.
Ele entrou correndo no local, com medo daquilo e avançando com cuidado chegou até o centro do templo, onde num altar repleto de teias de aranha ele encontrou uma pequena figura feita de bronze.
A imagem era perturbadora, parecia ser humana mas não tinha rosto, apenas uma forma brilhante e esverdeada.
Seu corpo pareceu ir sozinho rumo a estátua e quando ele a tocou sentiu se angustiado, pensou em se matar ali naquele momento, mas logo foi tomado por uma fúria assassina e correu até a porta, onde seus amigos estavam e os matou, enquanto eles ainda agiam animalescamente.
Depois disso ficou desacordado por horas, não se lembrava de nada, quando levantou no entanto estava com as roupas sujas de sangue e corpos abertos ao seu redor tinham as vísceras a mostra, vermes apareciam pelos buracos.
Sua mente estava confusa e uma ânsia de vômito fortíssima invadiu o, forçando o a se agachar em meio a podridão que saiu de seu estômago pode ver pedaços de carne perdidos em meio ao suco gástrico apodrecido.
Só então ele percebeu que tinha tirado a vida daqueles corpos, dos seus amigos. Se sentiu sujo, imundo, correu em meio a floresta, gritando, sem saber que carregava a estátua dentro da mochila.
Caiu exausto e por sorte foi encontrado por um grupo de ribeirinhos que pescavam próximo aquele local e ouviram no.
Acordou depois de algum tempo num barco sozinho no meio do Rio Solimões, ao longe ele viu homens brigando com facões e jogado na margem a estátua.
Na mesma hora saiu em disparada do barco e como louco nadou até a margem, pegou a estátua e correu pela mata. Os homens na beira do rio ainda brigavam, o som dos facões foi se afastando até o ponto de sumir.
Quando percebeu que estava a salvo com sua posse sua mente desanuviou se e ele sentiu fome.
Por sorte tinha chegado próximo a um acampamento indígena. As mulheres ao vê – lo chegar saíram correndo, os homens da tribo tinham saído para caçar e quando chegaram o encontraram comendo e bebendo água tranquilamente.
Foram para o atacar, mas no mesmo instante viram o objeto e caíram ajoelhado diante dele.
O pajé da tribo ficou lívido e pediu que lhe entregasse aquilo para que ele devolvesse ao lugar de onde não deveria ser tirado. Falava em português com sotaque e quando terminou de falar, os olhos da estátua brilharam e o homem começou a gritar que estava em chamas.
A história do caderno de anotações parou e só foi retomada quase no fim.
O misterioso H dizia que depois de fugir da tribo, ele chegou a Goiás, o objeto místico tinha sido furtado e ele iria recorrer a uma magia profana para encontrar seu mais valioso bem.
O relato continua com ele descrevendo que não tem muitos momentos de lucidez, sua mente parece estar se expandindo rápido demais e ele começa a passar várias horas do dia ouvindo vozes que não parecem ser humanas, vindas de outras dimensões e que sentia se perseguido a noite, não conseguindo dormir.
A história do caderno termina com ele narrando como enganou uma jovem moradora da fazenda Rio Azul a segui – lo e como ele a enganou e prendeu, enquanto preparava o ritual.
Termina com apenas uma descrição, eu sei onde ele está, preciso chegar logo!

2

Anos se passaram e nada mais se soube dessa estátua nem do cultista responsável por essa morte.
Os ribeirinhos da região evitavam até mesmo passar próximo ao local do antigo templo e a história se tornou uma lenda para assustar crianças travessas.
Setenta anos depois um explorador espanhol, Ramon Alzareda, ao coletar informações da região para um livro acabou ouvindo a história do templo e dos fatos ocorridos na época e se interessou.
Ninguém no entanto quis leva – lo até o local, precisou desembolsar uma grande quantia para convencer um dos pescadores a guia – lo até o templo perdido em meio a floresta e mesmo assim este não quis passar a noite ali.
Ficou combinado que iria voltar dentro de dois dias para busca – lo.
O pesquisador foi deixado num igarapé próximo, já era tarde e com dificuldade chegou até a entrada do local, ali encontrou vários ossos humanos e de animais que formavam um pavoroso cenário.
O cheiro de podridão que saía da entrada era tremendo, ao tocar na parede da entrada notou que ela estava repleta de vermes que passeavam pela pedra repleta de limo.
Montou acampamento na entrada da caverna, comeu uma pequena refeição e se banhou nas águas, tomando cuidado para não ser atacado por animais ferozes.
Só então se preocupou em entrar no local, riu um pouco das lendas que os ribeirinhos contavam, pegou um pequeno diário de anotações e as escreveu, iria usa – las para ilustrar um artigo sobre a ignorãncia dos povos ribeirinhos.
A noite ele foi em direção da caverna, tirou da mochila um lampião e iluminou uma inscrição que estava na entrada, tinha estudado na universidade de Salamanca sobre idiomas antigos conseguia reconhecer alguns dos símbolos ali retratados.
Era uma linguagem arcaica que lembrava um pouco o idioma dos sumérios, parecia com um aviso. Não entre nesse templo, pois aqui habita Aztoth, o mal que devastou Atlântida.
Ramon riu daquilo, pegou um pequeno diário e desenhou os escritos. Iria envia – los para seus professores de arqueologia.
Avançou pelo antigo templo, parando para ler as inscrições nas paredes, relatos antigos feitos em tinta, eram avisos sobre a criatura que ali habitava, seus feitos e a loucura que ela causava.
Ele tocava as inscrições, raspando o mofo e tirando os vermes que se acumulavam nas paredes, até que quando raspou um pouco da pedra para tirar uma amostra para enviar a um laboratório, o fragmento que pegou se transformou em sangue e escorreu por suas mãos rapidamente caindo no chão e no mesmo instante o local começou a esfriar,
Começou a ter uma vertigem e piscou os olhos e por um momento ele sentiu se entrando no estômago de uma grande fera.
Mas logo a sensação passou, no entanto sentiu que o ar tinha esfriado e a medida que dava passos seu corpo parecia esfriar mais ainda.
A luz começou a oscilar, ele tirou pilhas do bolso e colocou as no aparelho, mas não adiantou.
Começou a ter dificuldades para ler as inscrições, os avisos foram ficando mais sérios, avisando que ali dentro estava algo que enlouquecia os homens.
No momento que leu essas últimas inscrições, pisou em falso na escada e liberou um alçapão que o fez cair por vários metros.
Seu caderno escapou de suas mãos, caindo no chão de pedra, próximo a saída. Ramon caiu alguns andares abaixo, em um baque surdo, o lampião desceu e ficou poucos passos dele, iluminando o que parecia ser um pátio de pedra, repleto de ossos, alguns recentes vestiam se como os guaranis em seus rituais.
O ar fedia a morte, as paredes eram negras e viscosas, repletas de sangue seco. Ele sentia uma presença próximo a ele, tentou se levantar, mas percebeu que tinha torcido o pé.
Tentou gritar por socorro, mas só então se lembrou que não viria ninguém para busca – lo, sua mente pensou por vários minutos em maneiras para conseguir sair dali, até que resolveu ir se arrastando apoiado sob os joelhos até mais adiante.
O barulho dos ossos quebrando, junto aos gemidos dele formavam um som assustador, ele ofegou depois de alguns metros, quando resolveu descansar, olhou para cima e percebeu que a parede acima dele se movia vagarosamente para baixo.
Voltou a engatinhar rumo a uma porta que o salvaria de ser esmagado. Tinha deixado o lampião para trás e estava totalmente no escuro. Tateando o chão, ele conseguiu avançar mais um pouco, até sentir uma presença ao seu redor. Gritou procurando saber quem estava ali e só ouviu o barulho dos morcegos ao longe.
O pulmão doía, o pé latejava, as pernas e os braços estavam cortados, seu coração batia rápido e o medo começava a preencher cada espaço da sua mente.
Quando começou a escutar um som que lembrava tambores e o que pareciam ser cantos em sons que a laringe humana não era capaz de compreender.
Pensou estar alucinando e que sua mente cedia a excentricidade do local, mas então se lembrou do corpo encontrado ainda recente no espaço anterior que tinha aparência guarani e pensou que eles estariam na próxima sala, fazendo algum ritual.
Talvez o matassem por profanar alguma cerimônia sagrada deles, mas a sua esperança na espécie humana era maior que o medo e ele avançou seguindo o som, até se deparar com um portal de mármore, que pela brancura em meio aquelas trevas conseguia se destacar mesmo na ausência total de luz.
Suas forças estavam se acabando, ele tentou gritar, mas somente fez com que o ar gelasse ainda mais, respirava ofegante pela boca, quando o barulho de sons cessaram e ele passou a escutar água.
Se colocou de pé, mesmo sentindo muita dor e começou a caminhar cambaleante rumo a água. Andou por corredores, passou por monumentos esculpidos na rocha até chegar a um rio que corria subterrâneo.
As águas corriam ali rumo a saída ele pensou, se abaixou e quando pôs as mãos na boca para matar a sede, sentiu que água se tornava viscosa, uma lama enegrecida que escorreu por sua mão e depois foi avançando por todo o seu corpo.
Ramon saiu dali correndo, foi encontrado quatro dias depois em estado deplorável, gritava e se contorcia como louco pela equipe do exército mobilizada para resgata – lo.
Levado a um hospital psiquiátrico, ele falava de monstros, de sombras e de monstros tão impossíveis que os médicos acreditavam que tivesse surtado.

Raras vezes voltava a sanidade e nesses momentos gostava de conversar, e eu como estagiário do manicômio Santa Edwirges ouvia o com prazer, apenas para me entristecer toda vez quando após falar do rio, ele entrava novamente em surto psicótico e começava a surtar e gritar, sendo necessário ser contido e sedado para acalma – lo.

Besouro no chão



Aquele era um caso estranho, um corpo foi encontrado no meio de um prédio abandonado, os peritos chegaram e nada foi encontrado, nem mesmo um vestígio, uma pegada, uma simples digital.
O corpo não disse muito também, não tinha marcas, ferimentos nem mesmo havia drogas nas veias. Nada foi encontrado nos bolsos, a roupa estava intacta. Era como se ela fosse uma boneca de cera, branca, com cabelos sujos, vestida com uma túnica branca quase transparente, mostrando a forma do corpo torneado e forte da policial.
Parecia que ela tinha sido colocada ali, o prédio estava abandonado e repleto de sujeira, os mendigos que ali habitavam esporadicamente não disseram nada. No entanto nenhum deles podia ser acusado de nada e logo foram liberados para voltar as suas vidas miseráveis.
O único detalhe que a perícia achou foi uma pequena mosca de ouro, que estava presa por um alfinete no vão do elevador desativado.
A identificação da moça, mostrou que ela era parte das forças de segurança do primeiro Ministro Israelense, uma soldado treinada e que estava no Brasil como parte da comitiva que veio para protege – lo durante as olimpíadas e que desapareceu dois dias antes do fim dos jogos enquanto estava em um treinamento junto as tropas de segurança do Brasil.
Várias pessoas foram chamadas para depor, seus testemunhos eram desencontrados e não trouxeram grandes progressos, o único ponto em comum era que todos se lembravam de ter deixado a em frente ao hotel em que estavam hospedadas as forças de segurança de Israel.
Os funcionários falaram pouco acerca da chegada da policial, nas câmeras ficou provado que ela realmente entrou no horário que os policiais tinham relatado.
Um detalhe no entanto chamou a atenção do investigador Cléber, responsável pelo caso, as câmeras mostravam ela entrando, no entanto a porta do quarto dela, que se abria somente com um cartão de acesso ainda estava trancada.
Os funcionários abriram a porta com uma chave extra e ali dentro tudo estava revirado, manchas de sangue estavam por todos os lados e uma mensagem escrita num espelho do banheiro mostrava um símbolo antigo.
O investigador saiu do hotel e chegou em sua casa, logo começou a procurar na internet dados a respeito e só achou em um site de teoria da conspiração sobre uma antiga seita: Os adoradores do escaravelho, uma seita muito antiga que tinha várias ramificações ao longo do Oriente médio, recentemente um de seus locais de culto foi estourado em Israel após a morte de um garoto sequestrado e aniquilado em um ritual místico, a policial responsável era justamente a que foi morta no Rio de Janeiro, que havia levado a prisão um poderoso político do país, envolvido com o grupo e com o assassinato.
O simbolo da seita era igual ao encontrado no vão do elevador, Um símbolo que parecia levar ao assassino.





O corpo sumiu.

Logo pela manhã, o investigador recebeu uma ligação da central, o corpo da policial tinha sido roubado do IML, cinco peritos e um segurança foram encontrados mortos, o centro de necropsia tinha sido atacado a noite por homens fortemente armados.
_Tudo agora se complica, ele pensou após receber as informações da central.
_ Agora não tenho mais corpo, só esse broche e nada mais.
Saiu pela porta de sua casa, e quando começou a dirigir percebeu que estava sendo seguido, acelerou em meio a trânsito do Rio de Janeiro e se evadiu dos seus perseguidores retornando no meio de um túnel em alta velocidade.
Os seus perseguidores logo estariam novamente no seu rastro, abandonou o carro assim que chegou num ponto de ônibus, levou somente uma pequena pochete onde tinha os documentos do carro e o broche, sua arma e a carteira com documentos e dinheiro.
_ Se conseguiram entrar até no IML, que é perto da central, eu iria ser um alvo rápido, seria apenas mais um policial morto serviria apenas para divertir diálogos de esquerdistas maldosos.
A rota do ônibus seguiu, e antes que chegasse na última estação, uma mulher fez sinal e o motorista parou.
Ela deu alguns passos e atirou na cabeça do motorista, no mesmo instante, apertou um botão que estava em uma das mãos e o veículo foi pelos ares no mesmo instante.
Cléber e os demais passageiros acabaram incinerados. As investigações, vasculharam em meio dos escombros e encontraram dentro de um pedaço da pochete, o estranho broche, mas não tiveram a perspicácia de procurar na internet a procura dos dados sobre a origem do objeto.
A seita tinha recrutado anos atrás a jovem que tinha cometido aquele atentado em um sanatório e a guardavam sendo drogada em um quarto fechado, esperando para usa – la a fim de resolver algum problema.
O grão mestre olhou o caso nos jornais e deu um riso, resolveu todo o problema que os assassinos da ordem tinham causado por vingança.
Logo tudo aquilo estaria esquecido e os mortos seriam apenas um número na estatística e um discurso na boca dos hipócritas.
Outra pessoa pegou o jornal de uma lixeira e viu a notícia da morte do policial, olhou para o céu e declamou em alta voz:
_ Deus, poderoso pai do universo, leve para seu seio todos os idealistas, todos os tolos que buscam melhorar o mundo, eles são nobres demais para essa existência medíocre.
A cena poética daquele homem maltrapilho, chamou a atenção de alguns que passavam pela movimentada avenida. Mas logo a rotina os consumiu e eles voltaram a ser cegos a realidade dos desfavorecidos.
Enquanto isso aquele homem, caminhava alheio ao tempo e as pessoas, vagava meditando sobre a vida, apreciando a paisagem, pulava longas alturas e já tinha ajudado muitas senhoras assaltadas por bandidos.

A sabedoria e a paz que ele transmitia eram paradoxalmente opostas a sua própria condição maltrapilha, mas somente aqueles que viram a verdade podem se permitir não ser presos pela imagem dos outros.

Três pedidos.



Sebastião era um garoto solitário. Vivia numa opulenta biblioteca que seu pai tinha. Sua saúde era precária, tinha contraído Tuberculose numa viagem que fizera as Índias com o pai, o navegador Bartolomeu da Gama.
Tinha ficado em Lisboa enquanto o pai partiu novamente rumo as Índias, financiada por mercadores ávidos por especiarias orientais.
O menino passava o dia imaginando histórias, lia com avidez contos fantásticos de cavalaria, com guerreiros ferozes que tinham os instintos altamente treinados ao ponto de farejar inimigos, ver longas distâncias e ouvir uma flecha sendo disparada.
Era fascinado pelas noveletas de cavalaria e o criado da família ia sempre ao mercado de livros em busca dessas obras.
Lisboa não vivia bons tempos, a fome havia transformado muitos homens em salteadores e numa dessas idas ao mercado, o empregado acabou sendo assaltado, correu atrás do ladrão e conseguiu alcança – lo, no entanto não recuperou o livro de seu senhor, apenas conseguiu tirar do bandido uma sacola, onde viu uma lâmpada, um item dos mouros, amaldiçoado pela igreja.
Temeu dar aquilo ao garoto, mas quando chegou e viu o olhar bravo daquele menino mimado temeu pelo seu emprego. Era mordomo da família há anos e não sabia se conseguiria outro emprego como aquele em tempos de crise.
Entregou o objeto ao garoto orando para São Sebastião de quem era devoto para não o mandar embora. O fascínio nos olhos do garoto era visível, logo ele saiu dali e correu para o quarto.
Pegou o livro Orlando Furioso e folheou as páginas até achar uma que tinha uma gravura de uma lâmpada mágica.
Viu num canto do livro que “ a lâmpada realiza todos os desejos, basta esfrega – la.”
O menino começou a esfregar a lâmpada, e está começou a sair uma fumaça mágica.
A fumaça ia aumentando na medida que ele friccionava o objeto, até que o gênio saiu do objeto e lhe deu direito a três desejos.
O menino ouviu a fala do gênio em sua mente, a criatura de corpo azulado e sem feições parecia se com uma fumaça de incenso que ardia nas igrejas, só que em proporções que lembravam um corpo humano.
O garoto nem pensou duas vezes, desejou que todos os cidadãos de Lisboa fossem como os heróis de cavalaria, com visão, audição e olfato perfeitos.
O gênio respondeu em sua mente: Está feito. O segundo pedido ele gastou pedindo a volta da sua saúde.
No mesmo instante estava recuperado totalmente. O terceiro pedido foi para ir até onde o pai estava naquele momento.
E assim o garoto foi transportado até a nau, onde seu pai se agarrava ao timão para tirar o navio de uma tempestade no cabo das tormentas, quando num dado momento viu num vislumbre seu filho cair ao mar, mas nem deu importância pensando se tratar apenas de uma vertigem passageira.
O garoto morreu naquele mesmo ano, um dia se passou em Lisboa e todos tinham ficado felizes com a execução do mordomo da família Gama, acusado de bruxaria e queimado vivo pela inquisição.
No outro dia todos acordaram e quando o sol lhes tocou os olhos ficaram cegos, sua retina queimou com a luz do sol.
O piar dos pássaros parecia com um grito de uma tropa em combate, o cheiro amplificado dos esgotos nas ruas nauseou a todos e muitos morreram vomitando até as tripas, loucos pelas novas sensações que suas mentes não estavam preparadas.
O rei a família real por sorte estavam fora, juntamente com todo seu séquito. Nenhum dos cronistas da corte presenciou a loucura que se abateu sobre a cidade.
Um dos homens da guarda, enlouquecido pelo barulho incessante em sua cabeça botou fogo no arsenal e as chamas se espalharam por toda a cidade, incendiando milhares de pessoas e destruindo as construções por onde passava.
Quando um mensageiro num forte próximo a cidade viu aquilo avisou a família real. Os padres da Inquisição que ficavam em Coimbra também foram avisados. Todos ficaram apavorados com os relatos desencontrados dos sobreviventes que pareciam acometidos de uma insanidade total e completa.
O caso foi julgado por um tribunal da inquisição e todos os que escaparam da tragédia foram mortos e enterrados em catacumbas abaixo da igreja dos Anjos.
Nenhum cronista foi autorizado a publicar sobre os eventos ocorridos naquele primeiro de novembro do ano de 1755 e a história foi reescrita. Disseram que um terremoto tinha causado um incêndio e matado a todas as pessoas, mesmo aos que sobreviveram ao fogo.
A população não ousou questionar e o rei temendo que o medo fizesse as pessoas evitar a cidade de Lisboa, ordenou que sob pena de lei que ninguém jamais deveria falar daquele dia onde o demônio agiu na capital do império Português.

O pai de Sebastião morreu de cólera na costa Africana, seus barcos se amotinaram, jogaram o segundo – oficial no mar e resolveram seguir ao costume francês e se tornarem saqueadores.

Um pedaço de pergaminho



Não sei dizer onde estou, enquanto escrevo estas frases em um pedaço rasgado de um pergaminho antigo.
Estou preso em uma cripta repleta de tomos antigos em línguas antigas, que meus conhecimentos não conseguem sequer assimilar.
Meu nome é Randolfo Pereira, Doutor em línguas antigas e professor da universidade estadual.
Lembro me de ter recebido uma carta escrita a mão por um colega meu, que me convidava a ver textos que tinha conseguido de um mercador no Cairo recentemente.
Na carta pedia que eu enviasse para ele o número de minha conta bancária que enviaria o valor da passagem.
Me diverti com a ideia de uma viagem, dei o número e no mesmo dia, apareceu o valor suficiente para quatro passagens.
Eu sempre fui ganancioso e naquele momento aceitei sem pensar.
Chegando na capital do Egito fui levado em uma limusine até uma antiga vila fora das cidades próximo as colinas de Golan, na fronteira com Israel.
Os vidros do carro não me permitiam ver detalhes da estrada e confesso que o isolamento acústico era um incômodo terrível, me sentia como um animal vendado indo em direção ao abate.
Quando cheguei fui vendado por um homem muito forte e alto que pôs a mão em meus ombros e me levou por uma série de corredores até que descemos por escadas em espiral e uma porta se fechou atrás de mim.
E cá estou eu em meio a papiros velhos, com o corpo dolorido e passando privações de luz e companhia. Me trazem alimento, mas não me permitem ver e ouvir nada.
Consigo ler algumas das inscrições de papiros amarelados e livros manuscritos em capas de couro quase apodrecendo. O mofo é nauseante e não tenho certeza de quanto tempo estou aqui, apenas sei que preciso escapar!

Palavras encontradas pela polícia de Israel no bolso de um cadáver próximo a embaixada brasileira em Tel – Aviv. O corpo estava enrijecido em uma posição aterradora, o rosto tinha uma expressão horrenda, como se tivesse visto algo horrível. A causa da morte foi um AVC fulminante, no entanto quando os legistas abriram o cadáver notaram que não havia coração em seu peito, e nenhum corte tinha sido feito em todo abdômen, tornando o caso deverás estranho, e atraindo todo o jornalismo sensacionalista do mundo.

Houve diversas relações possíveis feitas: Iluminnati, maçonaria, Rosacruz, Seitas da idade média, cultos africanos animistas, demonologia. E no fim nada foi encontrado.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...