Marcos era um detetive da pequena
cidade de Cruz da Fortaleza, o ano é 1929, a crise faz o governo
Vargas queimar sacas de café, por todo o lado a pobreza se espalha.
Em uma antiga mina desativada, próximo
a divisa com a cidade de Goiás, foi encontrado um corpo, uma jovem
assassinada no meio da caverna foi achada por um agricultor que ao
passear de cavalo pela região estranhou urubus voando ao redor da
entrada da caverna.
O local parecia com um templo pagão,
imagens esculpidas em barro e bronze se espalhavam por todos os
lados.
Um caderno com anotações foi
encontrado ao lado do corpo, um homem que assinava apenas com a letra
H começava dizendo que tinha descoberto uma antiga cidade no norte,
em meio a floresta Amazônica.
Ele entrou em um templo junto com uma
equipe de amigos para filmar o novo local, eram estudantes e pensaram
que ganhariam muito dinheiro.
Algumas páginas para frente ele diz
que quando entraram no local uma sombra tomou conta de seus amigos
que começaram a agir como animais.
Ele entrou correndo no local, com medo
daquilo e avançando com cuidado chegou até o centro do templo, onde
num altar repleto de teias de aranha ele encontrou uma pequena figura
feita de bronze.
A imagem era perturbadora, parecia ser
humana mas não tinha rosto, apenas uma forma brilhante e esverdeada.
Seu corpo pareceu ir sozinho rumo a
estátua e quando ele a tocou sentiu se angustiado, pensou em se
matar ali naquele momento, mas logo foi tomado por uma fúria
assassina e correu até a porta, onde seus amigos estavam e os matou,
enquanto eles ainda agiam animalescamente.
Depois disso ficou desacordado por
horas, não se lembrava de nada, quando levantou no entanto estava
com as roupas sujas de sangue e corpos abertos ao seu redor tinham as
vísceras a mostra, vermes apareciam pelos buracos.
Sua mente estava confusa e uma ânsia
de vômito fortíssima invadiu o, forçando o a se agachar em meio a
podridão que saiu de seu estômago pode ver pedaços de carne
perdidos em meio ao suco gástrico apodrecido.
Só então ele percebeu que tinha
tirado a vida daqueles corpos, dos seus amigos. Se sentiu sujo,
imundo, correu em meio a floresta, gritando, sem saber que carregava
a estátua dentro da mochila.
Caiu exausto e por sorte foi
encontrado por um grupo de ribeirinhos que pescavam próximo aquele
local e ouviram no.
Acordou depois de algum tempo num
barco sozinho no meio do Rio Solimões, ao longe ele viu homens
brigando com facões e jogado na margem a estátua.
Na mesma hora saiu em disparada do
barco e como louco nadou até a margem, pegou a estátua e correu
pela mata. Os homens na beira do rio ainda brigavam, o som dos facões
foi se afastando até o ponto de sumir.
Quando percebeu que estava a salvo com
sua posse sua mente desanuviou se e ele sentiu fome.
Por sorte tinha chegado próximo a um
acampamento indígena. As mulheres ao vê – lo chegar saíram
correndo, os homens da tribo tinham saído para caçar e quando
chegaram o encontraram comendo e bebendo água tranquilamente.
Foram para o atacar, mas no mesmo
instante viram o objeto e caíram ajoelhado diante dele.
O pajé da tribo ficou lívido e pediu
que lhe entregasse aquilo para que ele devolvesse ao lugar de onde
não deveria ser tirado. Falava em português com sotaque e quando
terminou de falar, os olhos da estátua brilharam e o homem começou
a gritar que estava em chamas.
A história do caderno de anotações
parou e só foi retomada quase no fim.
O misterioso H dizia que depois de
fugir da tribo, ele chegou a Goiás, o objeto místico tinha sido
furtado e ele iria recorrer a uma magia profana para encontrar seu
mais valioso bem.
O relato continua com ele descrevendo
que não tem muitos momentos de lucidez, sua mente parece estar se
expandindo rápido demais e ele começa a passar várias horas do dia
ouvindo vozes que não parecem ser humanas, vindas de outras
dimensões e que sentia se perseguido a noite, não conseguindo
dormir.
A história do caderno termina com ele
narrando como enganou uma jovem moradora da fazenda Rio Azul a segui
– lo e como ele a enganou e prendeu, enquanto preparava o ritual.
Termina com apenas uma descrição, eu
sei onde ele está, preciso chegar logo!
2
Anos se passaram e nada mais se soube
dessa estátua nem do cultista responsável por essa morte.
Os ribeirinhos da região evitavam até
mesmo passar próximo ao local do antigo templo e a história se
tornou uma lenda para assustar crianças travessas.
Setenta anos depois um explorador
espanhol, Ramon Alzareda, ao coletar informações da região para um
livro acabou ouvindo a história do templo e dos fatos ocorridos na
época e se interessou.
Ninguém no entanto quis leva – lo
até o local, precisou desembolsar uma grande quantia para convencer
um dos pescadores a guia – lo até o templo perdido em meio a
floresta e mesmo assim este não quis passar a noite ali.
Ficou combinado que iria voltar dentro
de dois dias para busca – lo.
O pesquisador foi deixado num igarapé
próximo, já era tarde e com dificuldade chegou até a entrada do
local, ali encontrou vários ossos humanos e de animais que formavam
um pavoroso cenário.
O cheiro de podridão que saía da
entrada era tremendo, ao tocar na parede da entrada notou que ela
estava repleta de vermes que passeavam pela pedra repleta de limo.
Montou acampamento na entrada da
caverna, comeu uma pequena refeição e se banhou nas águas, tomando
cuidado para não ser atacado por animais ferozes.
Só então se preocupou em entrar no
local, riu um pouco das lendas que os ribeirinhos contavam, pegou um
pequeno diário de anotações e as escreveu, iria usa – las para
ilustrar um artigo sobre a ignorãncia dos povos ribeirinhos.
A noite ele foi em direção da
caverna, tirou da mochila um lampião e iluminou uma inscrição que
estava na entrada, tinha estudado na universidade de Salamanca sobre
idiomas antigos conseguia reconhecer alguns dos símbolos ali
retratados.
Era uma linguagem arcaica que lembrava
um pouco o idioma dos sumérios, parecia com um aviso. Não entre
nesse templo, pois aqui habita Aztoth, o mal que devastou Atlântida.
Ramon riu daquilo, pegou um pequeno
diário e desenhou os escritos. Iria envia – los para seus
professores de arqueologia.
Avançou pelo antigo templo, parando
para ler as inscrições nas paredes, relatos antigos feitos em
tinta, eram avisos sobre a criatura que ali habitava, seus feitos e a
loucura que ela causava.
Ele tocava as inscrições, raspando o
mofo e tirando os vermes que se acumulavam nas paredes, até que
quando raspou um pouco da pedra para tirar uma amostra para enviar a
um laboratório, o fragmento que pegou se transformou em sangue e
escorreu por suas mãos rapidamente caindo no chão e no mesmo
instante o local começou a esfriar,
Começou a ter uma vertigem e piscou
os olhos e por um momento ele sentiu se entrando no estômago de uma
grande fera.
Mas logo a sensação passou, no
entanto sentiu que o ar tinha esfriado e a medida que dava passos seu
corpo parecia esfriar mais ainda.
A luz começou a oscilar, ele tirou
pilhas do bolso e colocou as no aparelho, mas não adiantou.
Começou a ter dificuldades para ler
as inscrições, os avisos foram ficando mais sérios, avisando que
ali dentro estava algo que enlouquecia os homens.
No momento que leu essas últimas
inscrições, pisou em falso na escada e liberou um alçapão que o
fez cair por vários metros.
Seu caderno escapou de suas mãos,
caindo no chão de pedra, próximo a saída. Ramon caiu alguns
andares abaixo, em um baque surdo, o lampião desceu e ficou poucos
passos dele, iluminando o que parecia ser um pátio de pedra, repleto
de ossos, alguns recentes vestiam se como os guaranis em seus
rituais.
O ar fedia a morte, as paredes eram
negras e viscosas, repletas de sangue seco. Ele sentia uma presença
próximo a ele, tentou se levantar, mas percebeu que tinha torcido o
pé.
Tentou gritar por socorro, mas só
então se lembrou que não viria ninguém para busca – lo, sua
mente pensou por vários minutos em maneiras para conseguir sair
dali, até que resolveu ir se arrastando apoiado sob os joelhos até
mais adiante.
O barulho dos ossos quebrando, junto
aos gemidos dele formavam um som assustador, ele ofegou depois de
alguns metros, quando resolveu descansar, olhou para cima e percebeu
que a parede acima dele se movia vagarosamente para baixo.
Voltou a engatinhar rumo a uma porta
que o salvaria de ser esmagado. Tinha deixado o lampião para trás e
estava totalmente no escuro. Tateando o chão, ele conseguiu avançar
mais um pouco, até sentir uma presença ao seu redor. Gritou
procurando saber quem estava ali e só ouviu o barulho dos morcegos
ao longe.
O pulmão doía, o pé latejava, as
pernas e os braços estavam cortados, seu coração batia rápido e
o medo começava a preencher cada espaço da sua mente.
Quando começou a escutar um som que
lembrava tambores e o que pareciam ser cantos em sons que a laringe
humana não era capaz de compreender.
Pensou estar alucinando e que sua
mente cedia a excentricidade do local, mas então se lembrou do corpo
encontrado ainda recente no espaço anterior que tinha aparência
guarani e pensou que eles estariam na próxima sala, fazendo algum
ritual.
Talvez o matassem por profanar alguma
cerimônia sagrada deles, mas a sua esperança na espécie humana era
maior que o medo e ele avançou seguindo o som, até se deparar com
um portal de mármore, que pela brancura em meio aquelas trevas
conseguia se destacar mesmo na ausência total de luz.
Suas forças estavam se acabando, ele
tentou gritar, mas somente fez com que o ar gelasse ainda mais,
respirava ofegante pela boca, quando o barulho de sons cessaram e ele
passou a escutar água.
Se colocou de pé, mesmo sentindo
muita dor e começou a caminhar cambaleante rumo a água. Andou por
corredores, passou por monumentos esculpidos na rocha até chegar a
um rio que corria subterrâneo.
As águas corriam ali rumo a saída
ele pensou, se abaixou e quando pôs as mãos na boca para matar a
sede, sentiu que água se tornava viscosa, uma lama enegrecida que
escorreu por sua mão e depois foi avançando por todo o seu corpo.
Ramon saiu dali correndo, foi
encontrado quatro dias depois em estado deplorável, gritava e se
contorcia como louco pela equipe do exército mobilizada para resgata
– lo.
Levado a um hospital psiquiátrico,
ele falava de monstros, de sombras e de monstros tão impossíveis
que os médicos acreditavam que tivesse surtado.
Raras vezes voltava a sanidade e
nesses momentos gostava de conversar, e eu como estagiário do
manicômio Santa Edwirges ouvia o com prazer, apenas para me
entristecer toda vez quando após falar do rio, ele entrava novamente
em surto psicótico e começava a surtar e gritar, sendo necessário
ser contido e sedado para acalma – lo.