terça-feira, 27 de agosto de 2019

Tiro perfeito

Eu estava ali há muitas horas. Esperava o momento perfeito. Meu contrato era claro. Só seria pago se a bala atravessasse a testa de maneira reta.
Olhar a vida de alguém através da mira de um rifle há mais de 400 metros é como brincar de morte.
_ Um disparo meu e qualquer um deles já era. O gordo com seu cachorro quente, a senhora passeando com seu cachorro, as crianças e suas bicicletas, um casal de idosos carregando sacolas de compras.
Eu poderia matar a todos. Mas naquele dia assim como em todos os outros eu tinha um alvo.
Um banqueiro que roubou mafiosos e ganhou de brinde uma bala no meio da testa.
O suor escorria pelos meus poros como a porcaria de um rio.
Ele saiu do banco ali naquela rua no centro de Zurique, em pleno verão europeu. Eu vi a bala entrando em sua cabeça.
Fiquei ali alguns minutos assistindo a cena. Os gritos das pessoas em volta, os olhares amedrontados, o pânico generalizado, tudo era uma fascinante imagem que me deixava sempre em êxtase.
Me sentia como um artista. Sai devagar do prédio onde estive durante dois dias. Era uma espelunca de apartamentos baratos para alugar há 600 metros do local.
Quando estava dentro do ônibus, a bomba deixada por mim explodiu causando um enorme estrondo.
O cheiro de fumaça e os gritos me pareciam com uma sinfonia onde cada ponto era ensaiado com maestria.
O motorista parou e foi ajudar e eu sai com calma e desapareci no meio da multidão. Duas horas depois estava em um trem para Berlim. Perto da fronteira um grupo de policiais entra no trem durante uma das paradas.
Eles carregam nas mãos folhetos com minha foto. Eu tinha sido exposto!
O coração bateu mais rápido e eu fiquei apavorado. Entrei numa das cabines, abri a janela do lado oposto a plataforma e me segurei numa das beiradas na lateral do trem.
Minha respiração estava acelerada. O coração bombeava sangue com vontade. Só conseguia pensar como tinha sido descoberto?
Alguém me queria morto e eu não conseguia pensar quem era. Mas iria me vingar assim que saísse daquela enorme enrascada.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Um sonho em meio as tragédias


Era noite em São Paulo. A cidade que nunca dorme continuava a brilhar com suas luzes e néons e eu de uma calçada parecia perdido ali no meio do caos.
O natal se apresentava por todo o lado. Crianças felizes brincavam carregando presentes, árvores e papai Noel estavam ali na minha frente e eu continuava ali na calçada.
Sentia me desprezado, não era visto. Dentre todos os heróis eu só me identificava com o homem invisível.
Vagava perdido entre mulheres seminuas se oferecendo para executivos em carros de luxo e traficantes vendendo pó.
Eu naquele momento era só mais um garoto que fugiu de casa, cansado de apanhar.
Minha mãe morreu no parto e desde que eu me entendo por gente meu pai me chamava de assassino. Suas amantes me maltratavam e não raras vezes eu terminava o dia todo roxo.
Fui tirado da escola nos primeiros anos e posto para trabalhar dentro de casa, onde eu era saco de pancadas de tudo e todos.
Antes de eu preferir o frio que a família eu pensei em me matar, mas não tive coragem para isso.
Preferi escapar e deixar tudo para trás. Mudei de nome e passei a vagar.
Às vezes roubei para comer, noutras vezes dormi junto a lama e tive somente a companhia dos cachorros.
Caminhava pelas ruas sem ser notado. Era somente retirado a base de pancada pelos seguranças dos comércios quando pedia alguma esmola.
Muitos que fechavam o vidro na minha cara tinham no carro um adesivo: Deus é amor! Outros tinham Jesus que me deu!
E eu ficava pensando: Se esse é o amor, imagine o ódio! E se Jesus deu um carro para ele, por que eu passo fome?
Um dia tentei entrar em uma igreja. Li um panfleto amassado no chão de uma rodoviária e quis saber como era. Fui barrado na porta.
Disseram que eu não estava bem trajado. Ameaçaram chamar a polícia para mim. Sai dali chorando. Sob a desconfiança de dois porteiros desconfiados sumi no frio da cidade e dos corações.
Tive várias oportunidades para cair na droga. Muitos amigos foram levados para esse vício.
Eu sempre tive medo, bebida e drogas lembravam meu pai.
Fome era uma constante. Frio era a companhia nas madrugadas. Fugir a única opção.
Mas naquela noite, olhando para uma igreja bem iluminada com o símbolo da cruz pintado na fachada fiz um pedido pela morte.
Eu queria morrer. Pelo menos morto eu poderia descansar. Cansei das agressões da vida, dos olhares tortos, de tudo...
Pedi para morrer e me lembrei do panfleto onde dizia: Pedi e vos será dado!
Havia dois dias que não comia nada. Deitei próximo de uma árvore. A noite estava fria e meus olhos pesaram.
Aquela mulher idêntica à foto que tinha num quadro na casa do meu pai parecia gostar de mim. Se sentir querido alimenta mais do que pão.
Sua presença era fria e ela apenas sorria para mim. Tinham olhos profundos e bem azuis que contrastavam contra sua roupa de tom negro.
Eu estava cercado por toda sorte de deliciosos alimentos e em meu delírio fiquei feliz.
Em meu delírio eu era feliz. Mas ai os médicos me acordaram.
E eu voltei a mim num hospital. Estava com soro numa mão e de tempos em tempos uma enfermeira aparecia.
Logo, apareceu uma assistente social e conseguiu contatar meu pai que veio a contragosto junto com sua esposa.
Quando me viu ficou profundamente contrariado. Mas manteve a aparência até a enfermeira sair do quarto e disse:
_ Em casa eu te acerto!
E voltou a disfarçar. Eu estava apavorado. Quando ganhei alta três dias depois, estava em pânico, tentei lutar para não voltar mas meu pai disse que eu era louco e os médicos e a assistente acreditaram nele.
Caminhei pelo corredor me sentindo morto. Iria ser sangrado igual o vi fazer com um porco.
Abaixei a cabeça e caminhei. Sentia o sangue gelar. Não tentei gritar ou algo do tipo. Enfim parecia que meu desejo seria atendido, mas da pior maneira possível.
No trajeto para casa meu pai e sua esposa pareciam concentrados em discutir. Eu evitava olhar para eles. Tinha medo de ser assassinado ali mesmo.
Pararam em um posto de gasolina e minha madrasta teve a oportunidade de me amedrontar:
_ Pequeno fugitivo! Seu pai quer te matar lentamente! Ele ficou furioso quando soube que você estava vivo!
_ Eu até sinto pena de você. Disse e riu longamente como o guinchar de um porco.
Meu pai voltou e seguimos até sua casa. Era fora de São Paulo e pegamos a rodovia rumo ao interior. Cada metro rodado aumentava meu medo.
Num instante de pavor desejei que o carro perdesse o controle e batesse de frente com uma carreta.
Passou menos de um minuto após eu ter esse pensamento e meu pai atende o celular e começa a xingar alguém do outro lado da linha, ele perde a atenção por um micro instante da estrada quando manda a pessoa do outro lado da linha ir a merda.
O carro gira e sai da pista certa, uma carreta acerta o carro na parte traseira e atravessa o canteiro e é atingido por outro caminhão que pega o carro pela frente.
Eu voei pela janela e fiquei desacordado por alguns minutos. Quando voltei a mim estava machucado, porém conseguia correr.
Não me preocupei com meu pai e sua mulher. Nem sei o que aconteceu a eles.
Sai dali e entrei num matagal bem espesso e pouco a pouco fui me perdendo ali dentro.
No fim próximo a uma árvore gigante eu encontrei novamente com ela e saímos para viver um mundo de fantasias.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Um assassino no clube de dança.

A cidade era apenas um vazio.
Semanas de homicídios sem nenhuma resposta da polícia.
O vazio das ruas era notório.  Patrulhar as ruas era aterrorizante.
Somente uns poucos bares abriam e nestes haviam somente alguns bêbados casuais.
Eu estava andando no centro da cidade. Um local onde normalmente existe vida em abundância e agora estava tudo parado.
Quando ouvi um grito vindo da boate Luna.
Era uma mulher que berrava a plenos pulmões por socorro.
Avisei meu parceiro que estava na outra esquina.
Invadimos o local e conseguimos ver o assassino.
Era um homem velho, com rugas enormes no rosto e cabelos brancos. Porém tinha uma força fora do comum.
Estava montado em cima de uma moça, pequena, loira e frágil.
Tinha uma faca numa das mãos.
Mal pensei duas vezes e atirei na cabeça do suspeito que caiu para o lado sem dar nenhum berro.
A moça conseguiu se libertar, no entanto, saiu correndo dali com alguma dificuldade.
Ficamos sem entender nada até o corpo do criminoso explodir, causando uma nuvem de enxofre que encheu toda a pista.
Apaguei após lutar para achar a saída dali.
Fui encontrado pelos bombeiros horas depois.
Mas meu parceiro não foi encontrado em lugar nenhum e as mortes continuam a acontecer.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Literatura e história

Lidar com texto de fantasia fazendo a ponte para a realidade muitas vezes é explicar uma ampla gama de conceitos e símbolos de um período.
Quando eu falo 1984 de George Orwell não é apenas uma obra de ficção, mas trabalha o imaginário de uma ditadura em essência é literal.
Ali tem todos os elementos do que realmente é um governo autoritário:
_ Controle do pensamento.
_ Controle de natalidade.
_ Toque de recolher.
_ Cerceamento da linguagem.
_ Grupos de fanáticos a defender o regime
_ Controle da educação.

Tem todos esses elementos e outros tantos mais.
Na literatura não há somente monstros e dragões. Existe o contexto de uma época que quando abordado em profundidade e contextualizado traz uma maior capacidade de entender conceitos.
 
A literatura lida com o universo do simbólico que é em uma esfera maior a causa por trás das ações e das formas em cada período histórico.
O ser humano não é somente uma máquina racional. Tem dentro de si uma série de valores e pensamentos que são meramente simbólicos.
Tratarei mais a fundo disso em outros textos aqui.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Por que brancos destroem florestas

A quem quiser eu irei contar.
Debaixo de uma lua clara e um céu cheio de estrelas a cintilar.
Havia há muito tempo atrás uma fada, primeira das criações, tinha o poder da ordem e da constância. Fazia as florestas crescerem, os bebês nascerem e os brotos gerarem.
Um dia ela entrou numa floresta e passou por um índio que não a cumprimentou.
Ciumenta e enervada ela lhe deu um castigo. Tirou dele toda cor. Deixou o branco como a lua.
Aquele homem foi caçoado na tribo e ficou muito irado.
Acabou vivendo nas matas sozinho e por fim a onça o comeu.
Ao chegar até Tupã seu espirito clamou por justiça e o rei dos céus lhe deu uma segunda chance e ainda lhe deu uma mulher para ser sua.
Separou o de sua tribo e o levou a terra longínqua.
Mas ele vingativo quis sempre caçar a fada que o amaldiçoou e desde então destrói todas as florestas até um dia ter sua desforra.

Origem do saci

Há muito tempo atrás.
Quando os homens vieram presos da África para a terra Brasil.
Havia um negro menino que não abaixou a cabeça.  Era melhor que os filhos dos brancos em tudo.
Vivia rindo e mesmo quando chibatado zombava de seus captores.
Era valente e muitas vezes fugia da escravidão.
Um dia uma sinhá ficou louca de raiva quando o menino deu um beijo em sua filha.
Ela mandou levarem ele para a floresta e ali cortarem sua perna e o deixarem para morrer.
O menino foi levado rindo. E mesmo enfrentando a morte não abaixou a cabeça e nem deixou de rir.
Jaci vendo que ele iria morrer e admirada da coragem do pequeno menino lhe deu uma carapuça que caiu da lua e quando o menino a tocou o vento o abraçou e ele se tornou um com ele.
O Iaci Iaterê ou Saci Pererê nasce a partir dali.
O menino que não se inclinou se tornou o protetor de todos os abandonados.
As crianças que se perderam sozinhas se tornam sacis.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...