quinta-feira, 31 de julho de 2014

Um conselho contra a indecisão de um rei



Capitulo 6 - Uma decisão arriscada.
A fuga da família real portuguesa para o Brasil representou o início de uma nova era para a colônia que viu se pela primeira vez em igualdade de posições com a metrópole portuguesa.
Dom João apesar de ser um indeciso nato, foi o único monarca que conseguiu enganar a Napoleão Bonaparte, jogando com os dois lados e sabendo escapar poucos momentos antes de perder sua coroa.
Esse monarca merece um lugar melhor na nossa memória do que simplesmente: aquela imagem de um gordo e bobo rei que adorava alguns franguinhos.
Nessa aventura do Paradoxo teremos uma participação deste que foi o primeiro imperador a descer para nossa bela terra, espero que todos apreciem esta narrativa e boa leitura.

Em Novembro de 1808 a cidade de Lisboa vivia um verdadeiro alvoroço, as pessoas estavam com medo e divididas entre ingleses e franceses.
Napoleão tinha decretado o bloqueio comercial aos ingleses e o pequeno Portugal era o único país na Europa que teimava em não seguir essa recomendação, afrontando assim o império francês que já tinha tirado de seus reinos diversas das casas monárquicas mais fortes da história.
O imperador francês vinha fazendo ameaças constantemente a Portugal e logo a situação se tornou insustentável, foi nesse contexto que cheguei a bela cidade que há alguns séculos atrás era uma jóia da Europa, mas que com o passar do tempo, acabou se estagnando sob uma falta de mudanças que pouco a pouco tornou a capital de onde partiam e chegavam diversas idéias num mero entreposto comercial que era apenas ponto de parada para os produtos que chegavam das colônias diretamente para a Inglaterra.
Caminhei pela cidade e pude sentir o cheiro do medo, forte e ruim nas pessoas, além da sujeira que dominava por todos os lados, era um cheiro tão podre que para me refugiar e esperar novamente o portal que me levaria para outros lugares. Decidi entrar pela primeira porta que me viesse a frente, quando dei na biblioteca nacional e fui logo entrando para ficar longe de todo aquele fedor que o ar trazia para as ruas.
Lá dentro fiquei sentado lendo algumas boas obras, como os Lusíadas de Camões e relembrando os fatos que o livro descrevia naquelas páginas antigas e bem cuidadas pelos trabalhadores ali daquele local.
Enquanto me deliciava com o prazer de uma boa leitura pude escutar o que se passava no reino naquele momento em conversas dos funcionários e de alguns ministros reais que usavam aquele lugar para realizar algumas conversas mais privativas, dada a descrição de todos ali dentro, fiquei profundamente interessado na forma como eles descreviam o rei que estava no comando: Os funcionários diziam ser ele um bom homem que se preocupava com o povo, os ministros do lado francês e inglês divergiam de opiniões chamando ora de muito indeciso, ora de pender para o lado de seus rivais, resolvi então sair dali, não sem antes molhar um pano que encontrei ali que servia para limpar os livros com um pouco de água de cheiro e enrolar no nariz como os vaqueiros faziam no oeste americano, decidi ir ver pessoalmente aquela figura, antes do dia acabar e eu ir para outro lugar.
Vagando pela cidade rumo ao palácio vi muita gente caminhando pelas ruas sem saber para onde ir, a situação era catastrófica e a vida da cidade parecia sentir isso em seu âmago. Ao chegar ao palácio, fiquei impressionado da quantidade de religiosos que ali estavam, era como estar num mosteiro, por todos os lados o rei se cercava de padres e monges num ambiente fechado e pesado que contrastasse com a personalidade vacilante de um regente totalmente confuso frente a vários papéis que demandavam sua visão e decisão.
Ao ver aquele homem tão desesperado frente a dois lados que exigiam sua posição me doeu o coração e resolvi intervir, parei o tempo e me apresentei a ele, ao ver a mim, pensou que eu era o demônio que tanto ouvia falar na fala dos padres durante as missas, com o susto acabou por cair de sua cadeira e eu o ajudei a se levantar, o que pareceu lhe dar coragem para perder o medo a meu respeito:
- Quem és tu? Horrível criatura, tu vieste das profundezas do mais baixo inferno para lá me levar? E por que todo mundo está parado como se o tempo tivesse parado de bater? Por um acaso estou eu morto?
- Não sou nenhum demônio e suas perguntas podem ser resolvidas com somente a informação de que sou eu o Tempo e vim para lhe dar um conselho: Faça aquilo que se coração lhe mandar e mesmo que fores fracassado, terá sempre o prazer de ter feito aquilo que lhe foi mais certo.
- Mas como irei eu saber o que quero? Os problemas do reino me pesam como o céu, não sou um monarca preparado para governar essa nação, mal sei governar minhas próprias idéias que dirá a um reino.
- Que tuas decisões sejam justas ao teu próprio olhar, para que quando fores confrontado com teus atos no dia final, tenha coragem de aceitar qualquer destino que o criador a ti designar, faça isso e já estará bem avançado na arte governar a teu povo.
Desfiz a parada temporal e sai deixando um atônito governante que entendeu seu papel e decidiu qual seria o caminho a tomar, logo no inicio da noite que já banhava as praias do Tejo com as luzes do luar. Sai daquele palácio e fui até o mar, olhar com saudade para aquele mesmo lugar onde séculos antes eu tinha visto a partida da esquadra de Cabral e Vasco da Gama, lembrando com saudade daqueles grandes homens e pensando sobre como por vezes a responsabilidade de governar era um fardo pesado para quem não foi preparado para ela.
Dom João decidiu que iria atravessar o oceano para escapar de Napoleão, nascia assim um dos primeiros atos rumo ao país que hoje conhecemos como Brasil.

Tenham um bom dia, fiquem com Deus e nós vemos na próxima aventura do Paradoxo.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...