segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Em busca do passado. Primeira parte

Era uma noite chuvosa, minha mãe tinha saído para trabalhar. Ela era tenor num teatro. Seu nome é Irene Adler.
Não conheço meu pai, nem a família de minha mãe.
Sei que ela é do velho continente, tem vários fotos num álbum antigo com lugares na Europa.
Polônia, Boêmia, Inglaterra, Rússia, Itália...
Tentei perguntar várias sobre essas fotos a minha mãe, porém sempre recebia respostas vazias ou ela ficava completamente irada e exigia que eu parasse.
Me sinto como alguém sem passado, como num conto de terror. Já pensei até que tinha sido roubada de alguma família. Que meu pai me odeia, ou que minha mãe seja uma criminosa.
No entanto todas essas ideias pareciam loucas demais.
Pelo menos era isso que eu achava até encontrar o diário de minha mãe.
Perdido no meio de algumas caixas num sotão velho, eu o achei trancado com dois cadeados. Algo incomum. Era um cadeado antigo, e sua condição não estava das melhores. eu forcei por três deles e por fim cederão e eu pude ler o conteúdo.
Algumas partes estavam em escrita cifrada, não sabia como ler, no entanto uma das páginas estava em linguagem comum e falava do homem que roubou o coração de minha mãe: Sherlock Holmes.
Era possivelmente aquele o nome do meu pai. Fiquei alguns minutos fantasiando como ele seria.
Confesso que ao ler aquelas palavras me senti invadindo um pedaço do passado de minha mãe ao qual eu não tinha dinheiro.
No entanto ela me negará qualquer informação e por isso continuei.
Quando cheguei ao fim, encontrei diversos recortes de jornal protegidos por uma capa que parecia com plástico.
Diversos roubos por toda a Europa, e nas costas a letra de minha mãe se gabando de como tinha sido fácil, em outros deixava anotações para melhorar na arte de seduzir ou de ter mais cuidado com esposas ciumentas e armadas.
Por fim, escondido no forro do caderno estava uma carta. Alguém chamado John Stanton, provavelmente meu avô, amaldiçoava a filha por sua vida libertina, dizia que sua saída tinha sido uma benção e que ela deveria negar ao próprio nome se não quisesse trazer ainda mais vergonha a todos.
Chorei de pena e raiva. Estava aturdida com tantas informações e confesso que perdi a noção do tempo.
Nem percebi quando minha mãe chegou, nem quanto tempo ela ficou parada na porta do sotão me olhando com o caderno nas mãos.
A expressão dela era de pura fúria, me tomou o caderno e me deu um tapa no rosto, gritou para eu sair dali.
Fui para meu quarto e pelos dias que se seguiram ficamos em silêncio. Mal nos víamos e ela falava pouquíssimo comigo.
Comecei a me sentir atormentada por aquele silêncio e decidi conversar, mas quando me aproximei, ela apenas me pediu: Saia.
Aquilo me encheu de raiva. Fiquei furiosa e decidi preparar um plano para conhecer meu pai e o mundo inteiro.
Eu sabia onde ficava o talão de cheques e as letras de crédito de minha mãe, conhecia a senha do seu cofre.
Tirei algumas notas e abri uma conta no banco nacional.
Com uma parte do dinheiro comprei uma passagem num trem de passageiros, o atendente não perguntou por meus documentos e apenas me pediu um nome.
Me apresentei como Júlia Stanton.
A passagem estava marcada para o último trem com destino a Boston.
Deixei um bilhete dizendo que iria ver meu avô em Richmond, perambulei pela cidade, vestida com roupas masculinas que minha mãe sempre mantinha num grande báu. Tinha algum dinheiro no bolso e meus documentos originais. Teria de arranjar alguém para fazer outra identidade, caso fosse necessário.
Carregava outras duas numa sacola, além de um vestido, mantinha os seios enrolados em uma faixa.
Passei por policiais que perguntaram se eu tinha visto uma jovem nas imediações da estação. Eu fingi ter voz grossa e apontei na direção errada de uma estação de transporte a cavalos, dizendo ter visto ela entrar ali.
Meu trem chegou no horário pontual e eu embarquei.
Não conhecia nada, mas tinha me cansado de não saber, queria conhecer o mundo. Mal sabia eu quem realmente era minha mãe e quantos problemas isso me causaria.

Mistério ou fraude?

Dia 1
Perdido há meses nessa ilha. Não tenho ninguém.
Ouço vozes, minha mente começa a ceder. A sanidade em breve irá embora.
Se alguém me encontrar algum dia saberá o quão desafortunado sou.
Meu nome é James Adrian Colheen. Capitão do Newport da armada britânica.
Estávamos navegando rumo a Argentina para a guerra das Falklands.
Meu piloto dormiu um pouco, por isso saímos da rota original.
Era de manhã quando eu percebi isso e passei a recalcular nosso itinerário.
Quando de repente ao atingirmos as coordenadas 26° 37′ 45″ N, 70° 53′ 1″ W
Todo o horizonte desapareceu. Não havia mais água. O navio estava encalhado em uma poça de areia.
Os homens começaram a enlouquecer quando viram vindo dos céus seres alados, criaturas terríveis de cor negra.
 As criaturas pousaram no navio e começaram a emitir um chiado constante e assustador.
Não sei descrever como era o grito em si, mas ao ouvi - lo sentia minha alma querendo abandonar o corpo.
Não havia como eu fazer nada, minhas pernas não se moviam.
Ouvia ao meu redor o grito dos meus homens e barulhos deles sendo estraçalhados.
Juntei toda a coragem e emiti pelo rádio um pedido de ajuda. Mandei diversos SOS. 
Tinha a tola esperança de tudo aquilo ser um pesadelo e num instante eu acordar.
Mas eu senti algo atrás de mim, um vulto negro me tocou, era como se aquele toque tivesse congelado minha alma. 
Fiquei paralisado, enquanto via um ser assombroso, não tinha rosto, era apenas um buraco vazio de onde saíam centenas de vermes.
Num instante de pura sorte, minhas pernas se libertaram e eu corri.
Pulei do navio e cai direto na areia que me puxou para baixou
Fui sugado até cair do céu novamente no mar.
Estava com as roupas puídas e tinha uma dor profunda na perna direita, algo que me faz manquejar até hoje.
Dois dias atrás encontrei alguns baús no meio de um arboredo, próximo a caverna onde durmo.
Dentro desses báus, achei papel e tinta e talvez escrevendo eu consiga superar a ausência de alguém para conversar.

Dia 2
Não sei o que aconteceu, parece que vários objetos estão aparecendo por toda a ilha. 
Desde madeira calafetada usada em navios antigos, até itens feitos de um material que não posso distinguir.
Minha dieta escassou se muito, a árvore que eu comia alguns frutos parou de produzir, na verdade, secou totalmente. Parece ter sido atacada por um parasita que cresceu em todas suas folhas.

Dia 3 
O clima piorou, não consigo sair, mesmo estando ainda no atlântico está chovendo areia e a leste vejo a formação de um grande ciclone que irá atingir a ilha em dois quartos de dia.

Dia 4.
 A ilha parece um grande depósito de lixo.
Materiais antigos e completamente distintos apareceram após a tempestade, por sorte apareceu um pouco de comida em condições e rum.
Agora conseguirei acalmar um pouco meus nervos.
Ao andar na parte norte da ilha vi uma pegada muito estranha, era enorme de um animal que desconheço, só tinha três dedos e era semi - triangular.

Dia 5
Devo ter enlouquecido. Vi um dinossauro hoje. Existe uma saída dessa ilha ao norte. 
Não devo ir mais para lá, acho que minha mente está alucinando. A partir de hoje apenas recolherei os dejetos e tentarei proteger minha caverna.

Dia 6.
Hoje fui atacado por pequenos homens portando machados feitos de pedra. Surpreendido, peguei um galho em chamas de minha fogueira e contra - ataquei os.
Esses selvagens não falam meu idioma, matei dois deles queimados, para meu azar, eles queimaram alguns itens que eu estava juntando.

Dia 7. 
Essa noite não dormi, ouvi novamente o grito das criaturas. Irei para o norte, preciso fugir. Eles não irão me pegar.


Diário recuperado em uma expedição arqueológica a leste de Teotihuacan no México. Preservado em uma caverna dentro de um jarro recoberto com entalhes astecas o caderno de couro parece autêntico. No entanto seu relato é tão desencontrado que os arqueológos John Deven e Sir James Wilhein não crêem ser verdade.
No entanto seu achado virou notícia nos jornais e muitos teóricos da conspiração afirmam que se trata da prova final que atesta o fato de o triângulo das Bermudas sem um portal para seres de outra dimensão.
Pesquisas sobre o relato mostram que seu escritor realmente existiu e o navio Newport fez parte das embarcações que iriam ir lutar na Argentina, era uma corveta menor, preparada para atacar submarinos.
Feita durante a segunda guerra o navio dispunha de um sistema de canhões para médio alcance, sonares e um sistema de mísseis.
Como diria Shakespeare
“Há mais coisas entre o céu e na terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia”.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...