segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Magia não é assunto para crianças.



João apesar da pouca idade era fascinado por bruxas, feitiço e toda sorte de brincadeiras que envolvessem o mundo dos mistérios. Sua família bem que tentou dissuadi – lo desse interesse, mas a proibição teve apenas o efeito de aumentar ainda mais o seu interesse pelo assunto.
Quando fez cinco anos ele aprendeu na escola a usar o computador e começou a pesquisar tudo o que podia sobre o tema, logo se tornou um mágico amador bastante competente e começou a ganhar moedas para fazer truques com moedas e bolinhas, mas isso não era o bastante, ele estava realmente interessado em conhecer mais a magia e resolveu fazer algo que todos não aconselhavam: O jogo do copo.
Era um ritual antigo para chamar espíritos que nos dias atuais tinha se convertido numa espécie de brincadeira para jovens intrépidos e estúpidos. No passado esse feitiço era usado como forma de barganhar com seres que já morreram a fim de conseguir algum benefício e já teve efeitos catastróficos, causando vários casos de mortes sem motivo e internações em hospitais psiquiátricos.
Mas essa parte não era descrita na internet, apenas mostravam a parte legal, e assim João resolveu tentar. Preparou toda a cena necessária, colocou os copos em cima de uma mesa, tarde da noite após os pais terem ido dormir.
Começou a invocar diversos nomes místicos até que por fim perguntou se havia algum espírito na mesa e os copos se moveram e passaram por cima das letras correspondentes a palavra sim, colocadas em cima da mesa.
_ Posso conversar com você? O garoto perguntou sem vacilar a voz, mas com o coração quase saltando pela garganta.
_ Sim, mas você vai se arrepender se continuar. O copo se moveu formando a frase.
O garoto ignorou o aviso e perguntou: _ Me diga seu nome?
_ Jack, os copos se moveram e no mesmo instante a vela se apagou. Alguns minutos se passaram e o garoto já estava removendo os itens para não ser pego pelos pais e acabar de castigo, quando começou um grande alvoroço no quarto da pequena Sofia, a irmã mais nova de João que tinha apenas dois anos.
Os pais correram para o quarto do bebê que ficava ao lado e quando lá chegaram encontraram o corpo da filha completamente esquartejado e uma inscrição na parede ao lado dizia:
_ Obrigado João, você me libertou do inferno! Assinado: Jack o Estripador.
A mãe da criança ficou horrorizada, acabou morrendo em estado de coma profundo, os médicos diziam que a cena tinha sido muito traumática e era provável que a mente dela jamais se recuperasse.
O pai nos meses que se seguiram passou a beber e quase nunca ia a casa, dizia ter medo do filho, falava que o garoto tinha feito um pacto com o diabo e entregará a irmã para ter alguma coisa em troca.
A criança quando soube do ocorrido ficou em pânico, o pai ao vê – lo lhe deu um soco e saiu carregando a esposa para o hospital, os vizinhos o insultaram, até mesmo sua avó tinha o chamado de maldito.
 Nada fazia sentido, vez ou outra o pastor amigo da família vinha até a casa, lhe dava alguma comida, orava, e ia embora. Sempre que ele voltava da escola a polícia passava na porta, até que numa noite a voz de um homem o chamou do lado de fora.
_ Venha João é hora de você se tornar o maior mágico que já existiu!
Interessado em aprender ainda mais, ele abriu a porta, no mesmo instante não havia ninguém na rua, apenas um cachorro de olhos vermelhos. O garoto tentou correr e fechar a porta, mas o cão num pulo caiu em cima dele, impedindo o de se mover.
No instante em que a fera lhe paralisou uma voz entrou em sua cabeça e disse é hora de receber o pagamento pela sua invocação garoto! Não tenha medo afinal você me invocou!
E no mesmo instante a pele da pequena criança ia queimando e pela boca dele o cão ia despejando fogo, mas não para o corpo, mas para a alma. Tudo em magia tinha seu preço e aquelas palavras que ele usará para conjurar o copo eram na verdade um pacto demoníaco para dar a alma dele em troca da liberdade de um prisioneiro, dando até a especificação de quem queria que fosse solto, um assassino que tivesse matado a própria mãe, um dos crimes mais nefastos para a alma, que torna o ser que o comete um pária eterno.
A polícia encontrou o corpo do garoto incinerado na porta da casa, o pai foi avisado e logo que se recobrou da bebedeira comprou gasolina em um posto e embebedou todo o lugar, não deixou nada sem ensopar e depois quando estava do lado de fora acendeu um fósforo e jogou dentro da casa, que no mesmo instante se incendiou.

O homem acabou preso, foi para a igreja, e sempre contava essa história para crianças que gostavam de magia. 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Redenção

A dor de um passado perdido


Amélia era uma mulher que ganhava a vida fingindo ser uma cigana. Atendia em um pequeno estabelecimento na cidade de Sumaré em São Paulo.
Tinha trinta anos e já haviam passado por uma série de situações difíceis, seus pais tinham morrido em um acidente de carro, sua avó tinha falecido de um ataque cardíaco e ela morava com um tio, que já estava perto de morrer.
A filha desse senhor era uma pilantra que roubava o próprio pai descaradamente, fazendo com que a aposentadoria dele não durasse quase nada, enquanto ela aproveitava a vida de bar em bar.
A jovem todos os dias seguia para o seu emprego, o disfarce de madame Sorah tinha sido forjado por um amigo que espalhou um boato que ela tinha poderes místicos, e a partir dos primeiros clientes a farsa foi sendo aprimorada.
Até o ponto em que ela tinha três clientes por dia, cobrando quase cem reais de cada uma para falar coisas sem sentido, profecias de cunho duvidoso que sempre deixavam as clientes, mulheres ricas e crédulas, felizes que teriam o amor verdadeiro.
Mas algo tinha dado errado, o esquema tinha sido descoberto e quando ela chegou ao ponto alugado encontrou a polícia com várias viaturas. Pensou em correr, mas ficaria pior acabou passando ao largo e foi detida, quando seu sócio no esquema criminoso lhe denunciou para os policiais, quando ela passava.

Um pesadelo que não acaba


A noite na cadeia foi horrível, os gritos das presas dentro das celas era aterrador. Amélia estava numa cela especial, na triagem e no outro dia iria para o pavilhão 6 das ladras e estelionatárias, enquanto aguardava julgamento.
Naquela noite o sono demorou a chegar, sua mente vagou por vários cenários até cair adormecida. Mas o sono não trouxe a paz que seu corpo precisava, pelo contrário a levou para um pesadelo de horror, onde seu corpo era queimado por demônios insanos.
E quanto mais ela gritava, mais as chamas ardiam, os gritos dela na cela de triagem assustaram as outras presas, tentaram acorda – la, mas não era possível, sua mente estava presa dentro daquele cenário de horror.
As visões a faziam gritar o tempo todo, foi levada para a enfermaria e lhe aplicaram um sedativo forte, mas erraram a dose e ela acabou tendo um acidente vascular cerebral que lhe deixou imóvel da cintura para baixo.
Quando acordou quase um ano depois, não conseguia mover as pernas, tinha uma longa cicatriz próxima à virilha.
Ela tentou gritar, mas sua garganta não conseguia produzir sons altos, estava em um hospital psiquiátrico, com um diagnóstico de colapso mental severo.
Visões de eventos que haviam ocorrido com ela, iam e vinham em sua mente, se lembrava do estupro que havia sofrido no hospital da cadeia, por um enfermeiro, que tinha conseguido com uns amigos no hospital para onde ela tinha sido transferida, que a criança fosse retirada com sete meses e levada.
Ela chorava lágrimas de pura dor, o ar não preenchia os pulmões, quando viu um enfermeiro chegando para lhe aplicar os remédios.
Quando ele chegou, pensou que ela ainda estava dormindo e tentou acariciar seus seios dizendo obscenidades. Mas sem que ele percebesse a mão direita dela foi até o carrinho e pegou um pequeno bisturi que estava ali para pequenas suturas e sem pensar duas vezes acertou ele na virilha.
O homem ficou sem voz, tentava gritar, mas a dor dos testículos lacerados pela pequena lâmina era forte demais.
Ela pulou da cama e foi se arrastando até uma cadeira de rodas. Ia se matar, não aguentava mais viver daquela forma, era como se tivesse entrado num pesadelo que não acabava.
Conseguiu se ajeitar em cima da cadeira de rodas e rapidamente foi andando pelos corredores. Entrou no elevador de serviço e com alguma dificuldade apertou o botão para ir até o terceiro andar.
O hospital psiquiátrico na cidade onde ela estava era um antigo teatro reformado para atender aos pacientes debilitados mentalmente, por um padre Jesuíta de nome Albert de Lacroix desejoso de cuidar daquelas pobres almas desamparadas da sociedade por volta de 1960.
O prédio tinha sofrido diversas reformas, mas ainda mantinha as características do antigo teatro, tendo três andares, com arcadas gregas e teto em abóbada com temas religiosos pintados.
Sua estrutura era toda projetada para dar um ar de aconchego e tranquilidade para quem ali entrasse, mas quando Amélia chegou até o último andar e se viu defronte a antiga sacada de onde os atores no passado chamavam as pessoas na rua para vir assistir a peça, tinha apenas um objetivo: Se matar!

No último instante a salvação aparece.


Para aqueles que não acreditam em milagre talvez essa parte seja deverás exagerada, mas enquanto Amélia dava as últimas passadas para morrer, alguém lá embaixo já esperava por ela, um homem vestido com simplicidade, apenas uma camisa branca longa, e calça jeans simples, com um sapato surrado e um chapéu de palha que parecia destoar de todo o visual dando a aparência de um caipira com algumas posses, tanto que enquanto esperava olhando para os céus, algumas pessoas de mais idade que o viram sentado num banco próximo ao hospital lhe cumprimentavam com o adjetivo: Coronel, algo que ele não entendia, mas as respondia com toda a educação.
_ Vá com Deus, boa senhora!
_ Que Deus lhe abençoe meu bom ancião.
As pessoas estranhavam a forma culta de falar daquele homem, mas todas saiam com a impressão que ele era um bom sujeito e no fim ficaram felizes por terem perdido alguns minutos para cumprimentar ele.
No exato instante que Amélia apareceu a face na frente do hospital, ele fez um gesto com as mãos e no mesmo instante a cadeira que ia caindo levando para a morte aquela jovem mulher foi parando no ar, até cair suavemente no pavimento do hospital pelo lado de fora.
O coração dela batia acelerado, não acreditava que ainda estava viva e não entendia como as pessoas passavam por ela quase encostando as suas pernas e não a viam, como se ela não existisse.
_ Eu morri? Ela perguntou para aquele homem que a carregava até um carro parado duas esquinas abaixo.
_ Você ainda está viva, ganhou uma segunda chance para salvar o mundo e conseguir aquilo que mais deseja.
_ E o que seria isso que eu tanto desejo?
_ Paz. Ele respondeu laconicamente e dos olhos dela começaram a sair lágrimas. Em nenhum momento tentou reagir, estava sem entender tudo aquilo e aceitou passivamente entrar no carro e ir com ele por uma estrada de terra.
Chegaram num sítio na região de Guarulhos, um lugar afastado cercado por colinas com árvores altas e frondosas.
O lugar era afastado e parecia destoar de todo o resto da paisagem, quando o homem que dirigia saiu do carro, lhe pegou no colo e a levou até uma cadeira na entrada, onde havia uma criança brincando em um berço de palha, um menino lindo, moreno de cabelos encaracolados e olhar doce.
Ao ver aquela criança ela ficou feliz e levou a mão para toca – lo. No mesmo instante aquele homem, veio do carro trazendo a cadeira de rodas.
Vejo que já conhece seu filho não é Amélia? Ele disse sem o menor sinal de ironia ou sarcasmo. No mesmo instante ela sentiu uma felicidade tão profunda que não sabia o que explicar, com muito custo conseguiu pegar a criança e quando a teve em seus braços, o leite em seus seios apareceu como que por puro instinto e ela deu seu leite para o pequeno Jasão, nome registrado por uma criminosa que o tinha conseguido do pai da criança a sete meses e desde então vinha tentando negocia – lo com casais em redes de adoção ilegais pela internet.
_ Ainda quer se matar, Amélia? Ele perguntou sorrindo.
_ Não, nunca, jamais quero cometer uma loucura, agora que tenho-o para mim.
_ Que bom, você ganhou uma segunda chance, cuide bem desse menino e não se preocupe em como irá viver, o padre da cidade irá trazer comida e algum dinheiro para você, já está tudo conversado.
E se aproximando dela deixou uma pasta com vários documentos, seu nome agora é Amanda Meirelles, a criança se chamará Frederico, tome os papéis e lembre se de não ir muito longe daqui, existem pessoas que podem te matar para tentar conseguir a criança, que no futuro será um grande cientista que criará a vacina contra uma epidemia lançada daqui a vinte anos.
_ Que Deus te proteja Amanda, aquele estranho homem disse e sumiu como num passe de mágica, deixando o carro e a casa aos cuidados da mulher que daquele dia em diante viveu feliz, isolada em meio as colinas, orando a Deus todos os dias pela graça concedida a ela.
A história dela terminará em um hospital, sessenta anos depois, sendo velada pelo filho, que desde cedo demonstrou aptidão para biologia e um talento nato para tratar com as pessoas.
Conseguiu uma bolsa para estudar na melhor universidade de São Paulo e foi subindo os degraus da academia até se tornar uma autoridade em matéria de infectologia.
Quando no ano de 2018 o surto de Zika Vírus se tornou incontrolável, ele com quase cinquenta anos dedicados a pesquisa de vírus e bactérias foi um dos responsáveis por conseguir mapear o código genético da doença, criando um antídoto capaz de quebrar as moléculas do vírus no corpo humano, permitindo que o sistema de defesa eliminasse a doença ainda nos seus estágios iniciais.
Fred como era conhecido pelos amigos, foi criado com amor e carinho por Amanda, é o fruto de uma segunda chance dada por Deus a ela por meio de um emissário divino, o guardião da linha do tempo: O agente Paradoxo.



Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...