sábado, 18 de maio de 2019

O ciúme mata!

Delegacia de crimes de Cruz da Fortaleza.

Ficha de depoimento.

Eu sempre fui apaixonado por ti. Meu amor por você era puro e sincero. Não acreditei quando começaram a chegar aos meus ouvidos notícias de que me traía. Mas um dia meus olhos te viram beijar os lábios de outro homem.
Meu ímpeto de fúria e espanto era tanto que naquela noite não voltei para casa. Tinha perdido para mim todo o sentido. Meu mundo inteiro tinha caído. Os votos do nosso casamento para mim eram eternos, mas se foram.
Pensei que iria enlouquecer. A tristeza me dominava. Voltei a beber, algo que tinha abandonado. Deixei de ir a igreja e fiquei cada dia mais isolado. Não aguentei olhar em teus olhos, por isso saí de casa sem dar explicações.
Me afastei dos amigos e passei a viver num apartamento no centro velho. Nem mesmo banho eu tomava e durante um mês fui enlouquecendo pouco a pouco, até que num ímpeto de fúria decidi mata-la.
Queria vingança. A bebida falava mais alto que minha razão. Meu coração partido e a dor da traição me deixaram sem nenhuma piedade. Atravessei a cidade com a ira fria de um assassino. Não havia em mim o menor medo ou consciência.
Eu era apenas uma máquina de matar. Alguém que acreditava não ter nada a perder. Esperava que o amante e ela estivessem deitados na cama, se possível que ainda estivessem nus. Seria a desforra completa, tirar lhes a vida no local que tinham me tirado tudo.
Cheguei em minha casa pouco depois das 2 da manhã. Não havia ninguém na rua. Vi que um carro estava parado ali na entrada. Isso me fez ficar ainda mais possesso de ira. Arrombei a porta dos fundos e com cuidado fui até a cozinha onde peguei uma faca. 
Enquanto caminhava para o quarto, vi um homem parado na sala, vestia se socialmente e tinha um paletó jogado numa poltrona próxima. Ele dormia pesadamente e não percebeu minha aproximação. Acertei uma facada diretamente no peito, ele apenas gemeu e ficou mole.
Morreu sem emitir nenhum gemido. Depois de mata-lo procurei em seu paletó para saber quem era e não vi nenhuma identificação. No entanto havia num dos bolsos, um coldre com uma arma, uma pistola carregada.
Eu decidi esperar ela acordar. Queria mata - la acordada. Me sentei ao lado do cadáver com um sorriso demoníaco e as horas passavam, nem mesmo o frio que batia no meu rosto me incomodava. Era como se eu fosse um animal a espera da caçada. O tempo demorou a passar e toda vez que meu ânimo caía, meus olhos iam em direção ao corpo inerte do meu lado e era como se jogassem gasolina no meu ânimo homicida. 
Ela acordou as 7 da manhã. Tal como todos os dias estava atrasada. Foi rapidamente até o banheiro, tomou um banho, ouvi ela se vestindo e na hora que o trinco da porta girou, apontei a arma.
Quando os olhos dela me viram, tentou correr, voltar para o quarto. Mas disparei sem nenhuma clemência. 
Vê - la morrer aos poucos me trouxe um alívio momentâneo. O alívio que eu sentia pela vingança terminou quando os policiais chegaram e me levaram para a cadeia. Me contaram que eu tinha matado o irmão de minha esposa que era um policial federal e a estava ajudando a testemunhar contra a empresa onde trabalhava ligada ao crime organizado.
Há perdão para mim?

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...