quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Eu chorei no fim de Camelot



É estranho perceber que como algumas pessoas que conhecemos são importantes para nós, sinto falta daquele corvo ao meu lado mesmo hoje depois de tudo que passei, pois sabia que ele era leal e bom, não importa que circunstâncias estejam acontecendo ao seu redor, ele sempre permaneceria fiel a seus ideais.
 Logo que Munim se juntou a minha jornada como protetor de toda linha do tempo, novamente fui mandado para o passado, na antiga Bretanha, onde pude ver o fim de um dos mais belos e pacíficos reinos de toda a história, uma das cenas mais terríveis que tive de presenciar: o fim de Camelot, o pacífico lugar de paz, comandado pelo bondoso Arthur acabou perecendo frente à enorme força de Morgana, uma bruxa que sempre sonhou em governar aquele reino, mas vendo seus planos frustrados decidiu então destruir todo o lugar. A tristeza que passei nessa história ainda hoje me atormenta e lembrar e as vezes tão doloroso que muito poucas vezes relembro os acontecimentos desse dia.
 Eu Já tinha ido a Camelot há muito tempo atrás quando o rei que agora era levado para a ilha sagrada de Avalon para descansar eternamente ainda era só uma criança e pude ver ele erguer pela primeira vez a sagrada espada Excalibur e com aquele poder lutar em defesa de ideais nobres e se tornar um rei tão bondoso e justo que muito poucos conseguiram se comparar.
Ver aquele castelo e tudo a sua volta serem queimados foi uma cena aterradora, ouvir os gritos dos moribundos que sobreviveram por mais algum tempo e sentir o cheiro dos ossos de vários homens bons servindo de combustível para o fogo me fez ser assaltado por memórias felizes de minha última visita e resolvi sair dali em direção ao lago, pois precisava chorar e não queria que minhas lágrimas caíssem tão próximas daquela cena de morte tão forte e grotesca.
 Sai dali por não agüentar ficar em um ambiente tão opressor e assim fui caminhando com Munim pousado em meu ombro em direção ao lago e pude ver uma sacerdotisa celta: Viviane a senhora do lago, remando um barco pequeno que ia atravessando aquelas águas rumo a um reino místico que depois daquele momento estaria para sempre selado aos mortais, marcando o fim de toda a mágica que tinha no mundo e abrindo passagem para a dependência humana de tecnologias mecânicas para substituir o misticismo.
 Ao chegar ao lago pude ver um homem ali na beira do lago indo rumo a morte certa, com ferimentos grandiosos que em instantes estariam para matar ele. Com tristeza no coração por estar vendo um homem a ir pela estrada da morte Munim que estava em meus ombros chorou sem dizer uma palavra e suas lágrimas caíram no chão do lago e pareceu como se a terra chorasse aquela morte e ao longe a barqueira que estava a carregar o corpo do bondoso rei para o descanso final parou, olhou para trás e com um gesto chamou o corvo para si, numa voz que parecia emanar diretamente da água:
- És bem vindo nobre ave para ir para Avalon e lá permanecer para todo o sempre.  Você, peregrino do tempo, temo não poder fazer a mesma proposta, mas peço que os deuses te abençoem para enfrentar os males que teu futuro te aguardam e lhe deixo um conselho: nunca deixe de acreditar em você e saiba que por mais difícil que possa parecer a luz sempre brilha mais forte quanto mais escuro estiver.
Após ouvirmos essa frase o corvo saiu de meus ombros voando e pousou no pequeno barquinho e novamente chorou diante do corpo daquele homem tão honrado e depois de algum tempo o barco seguiu viagem rumo ao destino final e ele ficou ao lado dele e em telepatia disse a mim:
- Quando eu partir para Avalon levarei comigo tua nobre pessoa, andarilho do tempo, Arthur não será esquecido e sua história estará para sempre a inspirar escritores, poetas e leitores que ao desbravarem as lendas que foram criadas sobre aquele reino se tornam pessoas melhores.
Fiquei ali olhando enquanto o barco partia rumo ao portal para Avalon, tentado a partir junto a eles, porém a memória de minha missão divina falou mais forte e assim fiquei ali vendo as cinzas da queda ainda em meus olhos e com uma profunda tristeza fiquei ali parado tentando entender como tudo aquilo pode ocorrer.
Porém mesmo tomado ainda por mais tristeza encontrei algum alívio ao saber que enquanto Munim estiver ao lado daquele bom monarca, sua história não estará esquecida e os tempos áureos de Camelot serão eternos na memória dos homens.
“Todo aquele que a memória chora por sua morte, jamais será esquecido”
Sai dali vagando pela floresta e chorei nas cinzas do belo castelo e banhado pela chuva fiquei ali esperando que o portal me levasse para outro lugar onde algo de melhor estivesse acontecido, enquanto caminhava o sol voltou e se pôs e em meio a uma fogueira próxima aquelas terras onde antes reinava a paz fiquei a pensar onde estaria a espada de Arthur? Será que teria sido levada para Avalon ou ainda estaria entre os humanos? E em meio há perguntas e lembranças, adormeci antes do portal vir e assim findei mais um dia de minha vida.
Espero que tenham gostado desse pequeno relato, fiquem com Deus e bom dia a todos.


O tempo passou, e os cavaleiros da Távola redonda continuam a me inspirar, decidi nessa história criar algo com eles num momento triste, onde o rei de Camelot parte rumo a Avalon ao seu sono final. Espero que todos tenham gostado como eu gostei de escrever essa bela obra, onde tento reunir o Paradoxo com a história do reino de Camelot nos vemos na próxima aventura!


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Um debate com a memória e o pensamento.



Na mitologia nórdica, Odin tinha dois corvos Hugin e Munim (pensamento e memória), que lhes contariam tudo o que estaria acontecendo, lhe dando conhecimento de todos os fatos passados em todos os reinos espirituais.
Porém nem mesmo o conhecimento de tudo conseguiu impedir a queda de Asgard, as aves conseguiram escapar do Ragnarok e ainda continuam a buscar conhecimento mesmo não tendo para quem contar o que sabem.
Os humanos desde tempos imemoriais associam o corvo com a tempestade, talvez por que num passado não tão distante eles realmente serviam para avisar aos homens a hora que a tormenta chegava.
Bruxas e feiticeiros foram mortos na idade média simplesmente por ter um desses em uma gaiola, o que era considerado sinal mais do que suficiente por inquisidores sem compaixão que em honra de uma pureza religiosa que vai contra o amor pregado por Deus, exterminaram milhares de pessoas, num terror que ficou conhecido como Inquisição.
- Por que a humanidade não entende que amar ao seu próximo como amam a si mesmos é a lei mais básica vinda dos céus para eles? Por que não conseguem parar de disputar espaço como feras numa selva?
Eu estava a indagar numa floresta da França em 1910, sabia que daqui ha poucos anos um sanguinário ditador alemão iria varrer aquelas árvores e matar milhares de soldados inocentes forçando os franceses há um regime de terror que duraria por tempo demais.
Enquanto eu andava de um lado para o outro na floresta pude perceber que dois corvos estavam a me seguir, porém esses animais não pareciam ser comuns, tinham algo de mágico neles que só passados alguns minutos pude me dar conta de sua presença.
- Mostrem quem são vocês e por que estão ai me olhando, criaturas mágicas!
E tive como resposta duas vozes estridentes dentro da minha cabeça:
 - Não se estresse conosco, Andarilho do tempo, pudemos ver sua mente e a dúvida de que te consome pode ser respondida. Os homens gostam de se provar, eles tem a vontade de evoluir há todo custo e não medem conseqüências para provar o quanto são bons, eles gostam de pensar que lutando podem ser melhores. A ganância é sua maior virtude e também sua perdição.
- Mas por que ser assim? Será que acreditam num futuro melhor lavando o chão com o sangue de seus semelhantes, qual o sentido disso?
Eles riram com escárnio na minha cabeça e responderam: - Somos imortais e escapamos do fim da era dos deuses nórdicos e Odin fez essa mesma pergunta em uma de suas visões do que Midgard se tornaria no futuro, já próximo da última batalha. E sabe o que a profetiza de Asgard disse: - Os humanos são como o vento, não tem como se controlar, não tem como se prever e suas alterações de curso podem ter frutos bons ou frutos malignos, depende deles e não cabe aos imortais tentar entender por que são assim, afinal a vida deles é tão curta que eles se agarram a ela a cada novo amanhecer. Nada neles pode ser visto de uma maneira simples, pois eles carregam forças tão poderosas dentro de si, que é difícil até para mim ver seu futuro.
- Então Odin também tentou compreender a humanidade?
- Sim, todo imortal fica chocado com o lado ruim das sociedades humanas desde tempos imemoriais, porém nem todos conseguem ver algo que só se pode aprender estando no meio dos humanos.
- E qual seria esse fato por vocês aprendido?
- Eles são mais generosos do que os imortais, pois aprenderam que para viver é preciso pensar em comunidade.
Dito isto Hugin partiu rumo aos céus, voando alto enquanto Munim desceu da árvore até o meu ombro e disse na minha mente:
- Quero viajar contigo, de ir e voltar no tempo, estou cansado de ficar aqui preso no meio dos humanos, quero ir adiante, se importa em me levar contigo?
- Não me importo nobre pássaro que tu venhas em minha companhia, sinto feliz por ter um companheiro nesse meu viver totalmente alternado entre diversas realidades.
Caminhamos pela floresta, conversando sobre os tempos antigos e revivendo tempos onde o mundo era completamente diferente até que a noite chegou e sobre o abrigo de uma fogueira esperamos até dar meia noite e o portal se abrir nos levando para uma nova aventura.
E assim passou a viajar comigo por algum tempo o corvo que dá vida a memória da antiga cidade de Asgard, uma imortal ave que será muito importante para a minha próxima aventura, aguardem.

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Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...