É
estranho perceber que como algumas pessoas que conhecemos são importantes para
nós, sinto falta daquele corvo ao meu lado mesmo hoje depois de tudo que passei,
pois sabia que ele era leal e bom, não importa que circunstâncias estejam
acontecendo ao seu redor, ele sempre permaneceria fiel a seus ideais.
Logo que Munim se juntou a minha jornada como
protetor de toda linha do tempo, novamente fui mandado para o passado, na
antiga Bretanha, onde pude ver o fim de um dos mais belos e pacíficos reinos de
toda a história, uma das cenas mais terríveis que tive de presenciar: o fim de
Camelot, o pacífico lugar de paz, comandado pelo bondoso Arthur acabou
perecendo frente à enorme força de Morgana, uma bruxa que sempre sonhou em
governar aquele reino, mas vendo seus planos frustrados decidiu então destruir
todo o lugar. A tristeza que passei nessa história ainda hoje me atormenta e
lembrar e as vezes tão doloroso que muito poucas vezes relembro os
acontecimentos desse dia.
Eu Já tinha ido a Camelot há muito tempo atrás
quando o rei que agora era levado para a ilha sagrada de Avalon para descansar
eternamente ainda era só uma criança e pude ver ele erguer pela primeira vez a
sagrada espada Excalibur e com aquele poder lutar em defesa de ideais nobres e
se tornar um rei tão bondoso e justo que muito poucos conseguiram se comparar.
Ver
aquele castelo e tudo a sua volta serem queimados foi uma cena aterradora,
ouvir os gritos dos moribundos que sobreviveram por mais algum tempo e sentir o
cheiro dos ossos de vários homens bons servindo de combustível para o fogo me
fez ser assaltado por memórias felizes de minha última visita e resolvi sair
dali em direção ao lago, pois precisava chorar e não queria que minhas lágrimas
caíssem tão próximas daquela cena de morte tão forte e grotesca.
Sai dali por não agüentar ficar em um ambiente
tão opressor e assim fui caminhando com Munim pousado em meu ombro em direção
ao lago e pude ver uma sacerdotisa celta: Viviane a senhora do lago, remando um
barco pequeno que ia atravessando aquelas águas rumo a um reino místico que
depois daquele momento estaria para sempre selado aos mortais, marcando o fim
de toda a mágica que tinha no mundo e abrindo passagem para a dependência humana
de tecnologias mecânicas para substituir o misticismo.
Ao chegar ao lago pude ver um homem ali na
beira do lago indo rumo a morte certa, com ferimentos grandiosos que em
instantes estariam para matar ele. Com tristeza no coração por estar vendo um
homem a ir pela estrada da morte Munim que estava em meus ombros chorou sem
dizer uma palavra e suas lágrimas caíram no chão do lago e pareceu como se a
terra chorasse aquela morte e ao longe a barqueira que estava a carregar o
corpo do bondoso rei para o descanso final parou, olhou para trás e com um
gesto chamou o corvo para si, numa voz que parecia emanar diretamente da água:
-
És bem vindo nobre ave para ir para Avalon e lá permanecer para todo o
sempre. Você, peregrino do tempo, temo
não poder fazer a mesma proposta, mas peço que os deuses te abençoem para
enfrentar os males que teu futuro te aguardam e lhe deixo um conselho: nunca
deixe de acreditar em você e saiba que por mais difícil que possa parecer a luz
sempre brilha mais forte quanto mais escuro estiver.
Após
ouvirmos essa frase o corvo saiu de meus ombros voando e pousou no pequeno
barquinho e novamente chorou diante do corpo daquele homem tão honrado e depois
de algum tempo o barco seguiu viagem rumo ao destino final e ele ficou ao lado
dele e em telepatia disse a mim:
-
Quando eu partir para Avalon levarei comigo tua nobre pessoa, andarilho do
tempo, Arthur não será esquecido e sua história estará para sempre a inspirar
escritores, poetas e leitores que ao desbravarem as lendas que foram criadas
sobre aquele reino se tornam pessoas melhores.
Fiquei
ali olhando enquanto o barco partia rumo ao portal para Avalon, tentado a
partir junto a eles, porém a memória de minha missão divina falou mais forte e
assim fiquei ali vendo as cinzas da queda ainda em meus olhos e com uma
profunda tristeza fiquei ali parado tentando entender como tudo aquilo pode
ocorrer.
Porém
mesmo tomado ainda por mais tristeza encontrei algum alívio ao saber que
enquanto Munim estiver ao lado daquele bom monarca, sua história não estará
esquecida e os tempos áureos de Camelot serão eternos na memória dos homens.
“Todo
aquele que a memória chora por sua morte, jamais será esquecido”
Sai
dali vagando pela floresta e chorei nas cinzas do belo castelo e banhado pela
chuva fiquei ali esperando que o portal me levasse para outro lugar onde algo
de melhor estivesse acontecido, enquanto caminhava o sol voltou e se pôs e em
meio a uma fogueira próxima aquelas terras onde antes reinava a paz fiquei a
pensar onde estaria a espada de Arthur? Será que teria sido levada para Avalon
ou ainda estaria entre os humanos? E em meio há perguntas e lembranças,
adormeci antes do portal vir e assim findei mais um dia de minha vida.
Espero
que tenham gostado desse pequeno relato, fiquem com Deus e bom dia a todos.
O
tempo passou, e os cavaleiros da Távola redonda continuam a me inspirar, decidi
nessa história criar algo com eles num momento triste, onde o rei de Camelot
parte rumo a Avalon ao seu sono final. Espero que todos tenham gostado como eu
gostei de escrever essa bela obra, onde tento reunir o Paradoxo com a história
do reino de Camelot nos vemos na próxima aventura!
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