segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Reencontro

AVISO: Essa história é ficcional e satírica.
Eu estava entrando num restaurante para me encontrar com o barão quando vejo passar por mim três garçons carregando um pato estranho, que ao invés de asas tinha braços, a pobre ave se debatia e gritava dizendo que estavam cometendo assassinatos ali naquele estabelecimento.
Sua voz esganiçada parecia movida de um puro desespero.
Mesmo depois de ter sido expulso ele continuou dizendo aos gritos que tinham tentado o matar: Que ele era um cidadão e que isso iria acabar na delegacia.
A princípio muitos juntaram para assistir, afinal ver um pato falante não é algo comum. E o brasileiro tem em seu ser a alma de plateia, até um cavalo morto consegue juntar pessoas.
Eu sai lá fora para ver tudo aquilo quando duas viaturas pararam e quase levaram o pato preso, pensando se tratar apenas de um drone ou robô.
Logo, o pato sumiu e eu nem mesmo soube o que causou aquilo.
Voltei ao almoço com o barão, nos despedimos e quando vou embora vejo o pato, machucado e ensanguentado numa pilha de jornais velhos falando sobre a previdência.
Me comovi com aquela cena, peguei o disposto a leva - lo ao hospital veterinário mais próximo.
No caminho cruzamos com os tiroteios do meio dia. As balas gritavam por todos os lados, perdidas em busca de um alvo,
O pato falava frases sem sentido. Gritos de efeitos repetidos como verdades profundas.
Pensei naquela hora que se ele morresse eu teria carne para pelo menos mais uma semana.
Nessa hora ele acordou, e num pulo tentou sair fora do carro.
Gritava dizendo que eu era um agente inimigo disposto a leva - lo de volta ao laboratório, onde ele teria a mente limpa de toda capacidade crítica e ficaria horas sentado ouvindo discursos devidamente programados para me emburrecer em todos os sentidos.
Parei o carro num parque e ele saiu abraçando as árvores dizendo: Vocês sobreviveram! Guerreiras! Lutem por favor! Não deixem a vida morrer!
Perdi ele de vista no meio de um protesto. Professores queriam seus salários que estavam há 10 meses atrasados e ele resolveu se intrometer no meio. Soube que ele recebeu gás lacrimogênio e desmaiou, sendo pisoteado, encontrei o dias depois na porta da minha casa, rindo e brincando com algumas crianças enquanto parecia ensinar a elas jamais esquecer do que vale a pena.
Quando me viu, ele veio e me abraçou na altura do joelho!
_ Olá velho amigo! Uma pena que você abandonou seu sonho! Será que a criança que me criou teria orgulho de você hoje?

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...