segunda-feira, 2 de setembro de 2019

O Absurdo corriqueiro

Mais uma morte. Num beco sujo, cercada de lixo e ratos. Nada vai ser feito. É apenas mais um cadáver esperando para alimentar o cemitério.
Crianças pobres, prostitutas, mendigos... Todos os dias morrem centenas deles ao redor do mundo e ninguém se importa.
Os jornais já se cansaram da morte de gente pobre, não gera a menor audiência. As pessoas já estão amortizadas com a criminalidade crescente. Não dói mais. Não afeta mais. É apenas mais uma estatística.
Eu sei disso por que trabalho no serviço funerário, lido com essas pessoas em suas horas finais. Eu cavo lhes a cova e os coloco ali e vejo os depois de cinco anos, quando vou esvaziar as lápides para dar espaço aos que estão chegando.
Era tudo comum para mim até aquele dia. Abri o cemitério para mais um cortejo, mas não era para nenhum estranho. Minha filha tinha sido atingida por uma bala perdida enquanto voltava da escola.
Ana era apenas um lindo bebê com 3 anos de idade, que sonhava em ser bailarina.
Eu estava desesperado. Vivia no meio dos corpos a todo momento. Meu serviço como coveiro me dava uma certa armadura contra alterações fortes. Mas naquele momento eu só queria vingança.
Queria matar quem fez aquilo com minha pequena luz.
Foi fácil encontrar testemunhas após eu comprar uma arma. Tive acesso a diversos vídeos de segurança.
Os policiais do distrito tentaram me parar e quase me prenderam. Eu passei de vítima a procurado em cinco dias de investigações.
Dei um tiro no joelho de um detetive e fiz ele me contar tudo o que sabiam até então.
A balística não tinha sido feita, o exame forense menos ainda e tudo que havia eram fotos e testemunhas. Tudo por que o governador cortou a verba para investigações em prol da sua campanha para reeleição.
Fiquei irado ao saber daquilo. Abandonei o detetive no carro e num surto roubei uma moto e entrei dentro do palácio do governador.
Descarreguei a minha arma e a que eu roubei do detetive em todos os seguranças que ali estavam.
Encontrei a família do governador jantando e ele num escritório próximo falava ao telefone.
Veio correndo quando atirei no seu filho mais velho que tentou me impedir.
Depois eu atirei em sua esposa e por fim gastei a última bala na cabeça do governador.
Pensei que sentiria alívio. Mas fugi quando num vislumbre vi a imagem da minha filha e ela fugia de mim.
Fiquei perturbado ao ver o que tinha feito. Peguei um papel na sala e escrevi tudo o que consigo me lembrar. É uma tentativa de não ser ignorado. Não contarei quem me deu minha arma e nem mesmo contarei tudo o que fiz nesses últimos dias.
Mas quero que minha versão dos fatos apareça; Para que eu não seja apenas mais um no absurdo corriqueiro atual.


terça-feira, 27 de agosto de 2019

Tiro perfeito

Eu estava ali há muitas horas. Esperava o momento perfeito. Meu contrato era claro. Só seria pago se a bala atravessasse a testa de maneira reta.
Olhar a vida de alguém através da mira de um rifle há mais de 400 metros é como brincar de morte.
_ Um disparo meu e qualquer um deles já era. O gordo com seu cachorro quente, a senhora passeando com seu cachorro, as crianças e suas bicicletas, um casal de idosos carregando sacolas de compras.
Eu poderia matar a todos. Mas naquele dia assim como em todos os outros eu tinha um alvo.
Um banqueiro que roubou mafiosos e ganhou de brinde uma bala no meio da testa.
O suor escorria pelos meus poros como a porcaria de um rio.
Ele saiu do banco ali naquela rua no centro de Zurique, em pleno verão europeu. Eu vi a bala entrando em sua cabeça.
Fiquei ali alguns minutos assistindo a cena. Os gritos das pessoas em volta, os olhares amedrontados, o pânico generalizado, tudo era uma fascinante imagem que me deixava sempre em êxtase.
Me sentia como um artista. Sai devagar do prédio onde estive durante dois dias. Era uma espelunca de apartamentos baratos para alugar há 600 metros do local.
Quando estava dentro do ônibus, a bomba deixada por mim explodiu causando um enorme estrondo.
O cheiro de fumaça e os gritos me pareciam com uma sinfonia onde cada ponto era ensaiado com maestria.
O motorista parou e foi ajudar e eu sai com calma e desapareci no meio da multidão. Duas horas depois estava em um trem para Berlim. Perto da fronteira um grupo de policiais entra no trem durante uma das paradas.
Eles carregam nas mãos folhetos com minha foto. Eu tinha sido exposto!
O coração bateu mais rápido e eu fiquei apavorado. Entrei numa das cabines, abri a janela do lado oposto a plataforma e me segurei numa das beiradas na lateral do trem.
Minha respiração estava acelerada. O coração bombeava sangue com vontade. Só conseguia pensar como tinha sido descoberto?
Alguém me queria morto e eu não conseguia pensar quem era. Mas iria me vingar assim que saísse daquela enorme enrascada.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Um sonho em meio as tragédias


Era noite em São Paulo. A cidade que nunca dorme continuava a brilhar com suas luzes e néons e eu de uma calçada parecia perdido ali no meio do caos.
O natal se apresentava por todo o lado. Crianças felizes brincavam carregando presentes, árvores e papai Noel estavam ali na minha frente e eu continuava ali na calçada.
Sentia me desprezado, não era visto. Dentre todos os heróis eu só me identificava com o homem invisível.
Vagava perdido entre mulheres seminuas se oferecendo para executivos em carros de luxo e traficantes vendendo pó.
Eu naquele momento era só mais um garoto que fugiu de casa, cansado de apanhar.
Minha mãe morreu no parto e desde que eu me entendo por gente meu pai me chamava de assassino. Suas amantes me maltratavam e não raras vezes eu terminava o dia todo roxo.
Fui tirado da escola nos primeiros anos e posto para trabalhar dentro de casa, onde eu era saco de pancadas de tudo e todos.
Antes de eu preferir o frio que a família eu pensei em me matar, mas não tive coragem para isso.
Preferi escapar e deixar tudo para trás. Mudei de nome e passei a vagar.
Às vezes roubei para comer, noutras vezes dormi junto a lama e tive somente a companhia dos cachorros.
Caminhava pelas ruas sem ser notado. Era somente retirado a base de pancada pelos seguranças dos comércios quando pedia alguma esmola.
Muitos que fechavam o vidro na minha cara tinham no carro um adesivo: Deus é amor! Outros tinham Jesus que me deu!
E eu ficava pensando: Se esse é o amor, imagine o ódio! E se Jesus deu um carro para ele, por que eu passo fome?
Um dia tentei entrar em uma igreja. Li um panfleto amassado no chão de uma rodoviária e quis saber como era. Fui barrado na porta.
Disseram que eu não estava bem trajado. Ameaçaram chamar a polícia para mim. Sai dali chorando. Sob a desconfiança de dois porteiros desconfiados sumi no frio da cidade e dos corações.
Tive várias oportunidades para cair na droga. Muitos amigos foram levados para esse vício.
Eu sempre tive medo, bebida e drogas lembravam meu pai.
Fome era uma constante. Frio era a companhia nas madrugadas. Fugir a única opção.
Mas naquela noite, olhando para uma igreja bem iluminada com o símbolo da cruz pintado na fachada fiz um pedido pela morte.
Eu queria morrer. Pelo menos morto eu poderia descansar. Cansei das agressões da vida, dos olhares tortos, de tudo...
Pedi para morrer e me lembrei do panfleto onde dizia: Pedi e vos será dado!
Havia dois dias que não comia nada. Deitei próximo de uma árvore. A noite estava fria e meus olhos pesaram.
Aquela mulher idêntica à foto que tinha num quadro na casa do meu pai parecia gostar de mim. Se sentir querido alimenta mais do que pão.
Sua presença era fria e ela apenas sorria para mim. Tinham olhos profundos e bem azuis que contrastavam contra sua roupa de tom negro.
Eu estava cercado por toda sorte de deliciosos alimentos e em meu delírio fiquei feliz.
Em meu delírio eu era feliz. Mas ai os médicos me acordaram.
E eu voltei a mim num hospital. Estava com soro numa mão e de tempos em tempos uma enfermeira aparecia.
Logo, apareceu uma assistente social e conseguiu contatar meu pai que veio a contragosto junto com sua esposa.
Quando me viu ficou profundamente contrariado. Mas manteve a aparência até a enfermeira sair do quarto e disse:
_ Em casa eu te acerto!
E voltou a disfarçar. Eu estava apavorado. Quando ganhei alta três dias depois, estava em pânico, tentei lutar para não voltar mas meu pai disse que eu era louco e os médicos e a assistente acreditaram nele.
Caminhei pelo corredor me sentindo morto. Iria ser sangrado igual o vi fazer com um porco.
Abaixei a cabeça e caminhei. Sentia o sangue gelar. Não tentei gritar ou algo do tipo. Enfim parecia que meu desejo seria atendido, mas da pior maneira possível.
No trajeto para casa meu pai e sua esposa pareciam concentrados em discutir. Eu evitava olhar para eles. Tinha medo de ser assassinado ali mesmo.
Pararam em um posto de gasolina e minha madrasta teve a oportunidade de me amedrontar:
_ Pequeno fugitivo! Seu pai quer te matar lentamente! Ele ficou furioso quando soube que você estava vivo!
_ Eu até sinto pena de você. Disse e riu longamente como o guinchar de um porco.
Meu pai voltou e seguimos até sua casa. Era fora de São Paulo e pegamos a rodovia rumo ao interior. Cada metro rodado aumentava meu medo.
Num instante de pavor desejei que o carro perdesse o controle e batesse de frente com uma carreta.
Passou menos de um minuto após eu ter esse pensamento e meu pai atende o celular e começa a xingar alguém do outro lado da linha, ele perde a atenção por um micro instante da estrada quando manda a pessoa do outro lado da linha ir a merda.
O carro gira e sai da pista certa, uma carreta acerta o carro na parte traseira e atravessa o canteiro e é atingido por outro caminhão que pega o carro pela frente.
Eu voei pela janela e fiquei desacordado por alguns minutos. Quando voltei a mim estava machucado, porém conseguia correr.
Não me preocupei com meu pai e sua mulher. Nem sei o que aconteceu a eles.
Sai dali e entrei num matagal bem espesso e pouco a pouco fui me perdendo ali dentro.
No fim próximo a uma árvore gigante eu encontrei novamente com ela e saímos para viver um mundo de fantasias.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Um assassino no clube de dança.

A cidade era apenas um vazio.
Semanas de homicídios sem nenhuma resposta da polícia.
O vazio das ruas era notório.  Patrulhar as ruas era aterrorizante.
Somente uns poucos bares abriam e nestes haviam somente alguns bêbados casuais.
Eu estava andando no centro da cidade. Um local onde normalmente existe vida em abundância e agora estava tudo parado.
Quando ouvi um grito vindo da boate Luna.
Era uma mulher que berrava a plenos pulmões por socorro.
Avisei meu parceiro que estava na outra esquina.
Invadimos o local e conseguimos ver o assassino.
Era um homem velho, com rugas enormes no rosto e cabelos brancos. Porém tinha uma força fora do comum.
Estava montado em cima de uma moça, pequena, loira e frágil.
Tinha uma faca numa das mãos.
Mal pensei duas vezes e atirei na cabeça do suspeito que caiu para o lado sem dar nenhum berro.
A moça conseguiu se libertar, no entanto, saiu correndo dali com alguma dificuldade.
Ficamos sem entender nada até o corpo do criminoso explodir, causando uma nuvem de enxofre que encheu toda a pista.
Apaguei após lutar para achar a saída dali.
Fui encontrado pelos bombeiros horas depois.
Mas meu parceiro não foi encontrado em lugar nenhum e as mortes continuam a acontecer.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Literatura e história

Lidar com texto de fantasia fazendo a ponte para a realidade muitas vezes é explicar uma ampla gama de conceitos e símbolos de um período.
Quando eu falo 1984 de George Orwell não é apenas uma obra de ficção, mas trabalha o imaginário de uma ditadura em essência é literal.
Ali tem todos os elementos do que realmente é um governo autoritário:
_ Controle do pensamento.
_ Controle de natalidade.
_ Toque de recolher.
_ Cerceamento da linguagem.
_ Grupos de fanáticos a defender o regime
_ Controle da educação.

Tem todos esses elementos e outros tantos mais.
Na literatura não há somente monstros e dragões. Existe o contexto de uma época que quando abordado em profundidade e contextualizado traz uma maior capacidade de entender conceitos.
 
A literatura lida com o universo do simbólico que é em uma esfera maior a causa por trás das ações e das formas em cada período histórico.
O ser humano não é somente uma máquina racional. Tem dentro de si uma série de valores e pensamentos que são meramente simbólicos.
Tratarei mais a fundo disso em outros textos aqui.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Por que brancos destroem florestas

A quem quiser eu irei contar.
Debaixo de uma lua clara e um céu cheio de estrelas a cintilar.
Havia há muito tempo atrás uma fada, primeira das criações, tinha o poder da ordem e da constância. Fazia as florestas crescerem, os bebês nascerem e os brotos gerarem.
Um dia ela entrou numa floresta e passou por um índio que não a cumprimentou.
Ciumenta e enervada ela lhe deu um castigo. Tirou dele toda cor. Deixou o branco como a lua.
Aquele homem foi caçoado na tribo e ficou muito irado.
Acabou vivendo nas matas sozinho e por fim a onça o comeu.
Ao chegar até Tupã seu espirito clamou por justiça e o rei dos céus lhe deu uma segunda chance e ainda lhe deu uma mulher para ser sua.
Separou o de sua tribo e o levou a terra longínqua.
Mas ele vingativo quis sempre caçar a fada que o amaldiçoou e desde então destrói todas as florestas até um dia ter sua desforra.

Origem do saci

Há muito tempo atrás.
Quando os homens vieram presos da África para a terra Brasil.
Havia um negro menino que não abaixou a cabeça.  Era melhor que os filhos dos brancos em tudo.
Vivia rindo e mesmo quando chibatado zombava de seus captores.
Era valente e muitas vezes fugia da escravidão.
Um dia uma sinhá ficou louca de raiva quando o menino deu um beijo em sua filha.
Ela mandou levarem ele para a floresta e ali cortarem sua perna e o deixarem para morrer.
O menino foi levado rindo. E mesmo enfrentando a morte não abaixou a cabeça e nem deixou de rir.
Jaci vendo que ele iria morrer e admirada da coragem do pequeno menino lhe deu uma carapuça que caiu da lua e quando o menino a tocou o vento o abraçou e ele se tornou um com ele.
O Iaci Iaterê ou Saci Pererê nasce a partir dali.
O menino que não se inclinou se tornou o protetor de todos os abandonados.
As crianças que se perderam sozinhas se tornam sacis.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Se vendo através do espelho.

Num mundo onde nada faz sentido.
As velhas histórias voltam a ter sentido.
Os monstros do passado hoje cresceram e entraram na mente de todos.
A sabedoria do passado é inedita para muitos que se perderam no reino da matéria.
Assim, muitos permanecem cegos mesmo tendo olhos.
Sofia era assim. Uma pequena menina. Viciada em celulares. Perdida em si mesma, era apenas um monte de ordens e desejos. Não havia nada nela de nobre, de grandioso ou de bom no sentido maior do termo.
Suas amizades eram apenas pedaços disformes e vazios.
Até que um dia, ela se viu forçada a ir para uma fazenda.
Ali, após não ter seu desejo atendido fugiu de casa e encontrou se perdida.
A escuridão era enorme.
Ela havia percorrido horas a fio. Seus pés doíam.
Começou a chorar e a gritar. Quando ouviu ao longe o uivo agudo e profundo de um lobo.
Ficou apavorada e saiu correndo. Indo mais fundo na mata até que próximo ao rio, ela escorregou e caiu na água.
Ali se debatendo sentiu uma enorme criatura a puxando para baixo.
Afundou, afundou, afundou...
Acabou chegando do outro lado do espelho.
Uma dimensão paralela onde somente há sombras e reflexos.
Gritava tentando pedir ajuda mas por todo lado apenas havia o eco de sua voz.
Eram vários caminhos e em todos ela via sua família.
Seus pais tristes e cheios de culpa.
Seus amigos dando graças a Deus por vê la pelas costas. Até sua família não a queria por perto.
Era detestada por todos.
Aquilo a fez se sentir mal. Pela primeira vez sabia que estava sem ninguém ao seu redor e isso era terrível!
De repente um dragão apareceu a ela. Apavorada desmaiou no sonho e acordou na realidade.
Sua família tinha ido atrás dela. Pode ver a todos e se sentiu imensamente feliz.
Encontraram na próximo ao rio. Com a roupa molhada e coberta com uma manta feita de um couro muito estranho. Algo desconhecido das pessoas da região.

domingo, 14 de julho de 2019

Manifesto

Nenhum inimigo é tão ruim quanto um amigo falso.
Fazia meses que eu havia tentado sem sucesso tirar minha mente da traição sofrida.
Um amigo destruiu meus planos. Me deixou sem ter como levar adiante algo que mudaria a história da humanidade.
Sim, eu sou um hacker e tentei causar o maior de todos os escândalos, revelando vários projetos secretos ao redor do globo. Uma teia que envolve todos os poderosos e que não tem fim.
Mas meus planos foram frustrados e eu quase perdi tudo, inclusive a vida.
Escapei por pouco e me tornei um dos inimigos públicos mais procurados do mundo.
Por sorte eu tinha um plano reserva e agora estou em Munique continuando tudo de onde parei. Meus avanços estão mais lentos, porém as peças que tenham ainda são grandes para causar um enorme caos e ainda por cima destruir um traidor.

Eu vejo o ponto fraco em todos os sistemas. A internet é minha casa, e todos os corruptos do mundo não fazem ideia disso.
_ Eu vou expô - los, tirar deles a paz e tentar melhorar a realidade para que ninguém mais sofra.

Estou cansado de ver pessoas boas sendo destruídas por que meia dúzia de políticos resolveu cortar verbas da saúde para aumentar seus salários ou melhorar a qualidade dos seus vinhos.
O mundo está sujo. As pessoas repletas de podridão e ninguém parece se importar. A maioria está cega, vivendo felizes suas vidas sem se importar com nada. Vestem o que lhe mandam, come o que está na moda como porcos comem lavagem.
O caos está por todos os lados. As pessoas só estão cegas demais para perceber a verdade. Entender que são apenas dentes de enormes engrenagens movidas por capitalistas ambiciosos.
Mas eu estou de volta, a caminho do caos, destruirei a sociedade para salva - la.

Esse é o manifesto de um ciber terrorista enviado para a televisão pouco depois dele atacar o sistema financeiro internacional causando o caos em várias bolsas no mundo.
Dezenas de empresas faliram de uma hora para outra.
Não há nada que as autoridades pareciam fazer, mas uma força tarefa internacional foi preparada para realizar um grande ataque.
Essa é a história dos homens e mulheres que lutaram para salvar

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Alucinação?

Eu era um policial recém saído da academia. Não tinha nenhum ideia da realidade das ruas.
Tinha muitos ideais, queria mudar o mundo. Mas os mundos não mudam, apenas nós mudamos nossa visão sobre eles.
Persegui no meu primeiro dia persegui um assaltante que havia acabado de roubar uma bolsa num ponto de ônibus. Eu gritava exigindo que parasse, mas ele continuava a correr. Num determinado perdi o de vista e acabei entrando num terreno baldio.
Ali eu fui emboscado. O homem escondido atrás de uma moita se aproveitou quando eu me virei e desferiu dois tiros contra mim. Um pegou no colete e o outro acertou minha perna. Fiquei ali caído a espera da morte.
Ver seu próprio funeral se aproximando passo a passo é aterrorizante. Me senti perdido. Pensei em tudo que eu ainda tinha por fazer. Não queria morrer, mas o medo me paralisou e tudo que eu conseguia fazer era tremer.
Quando aconteceu algo estranho, do nada começaram a aparecer ratos que cercaram o bandido. E um homem estranho apareceu atrás dele e tentou derruba - lo. Parecia ser um mendigo já bastante idoso. Aquele senhor entrou do nada ali e era como se ele encantasse os ratos que o seguiam conforme uma briga entre ele e o criminoso ia se tornando cada vez mais intensa.
Num determinado momento o criminoso conseguiu tirar o senhor de seu pescoço e ali naquele instante pensei eu que veria um assassinato ocorrer na minha frente. Isso me acordou para a vida e voltei a ter controle do meu corpo. Saquei minha arma e num lance instintivo atirei no bandido.
A minha bala fez o trajeto certo e matou o homem e eu fiquei tão abalado com isso que fiquei com meu emocional totalmente abalado.
Entrei em pânico e desmaiei. Quando me encontraram já era de manhã, eu estava ao lado de um corpo repleto de ratos.
Fui levado ao hospital e depois da minha recuperação tive de dar explicações a corregedoria. Quando contei a eles os trechos daquela noite ninguém acreditou, me mandaram para terapia e nem mesmo o médico me deu ouvidos.
Será que eles tem razão e tudo não passou de uma alucinação e eu fiquei louco?
Não sei o que dizer. Nada naquela noite nada é claro. E eu vou atrás desses detalhes. Quero a verdade e vou obtê-la.

terça-feira, 11 de junho de 2019

A recompensa

Era um planeta devastado. Não havia nenhuma atmosfera existente ali. O sol varria metade do território. Era inóspito e assustador.
Histórias antigas diziam que ali viveram uma raça muito antiga chamada de humanos. Há em algumas bibliotecas espaciais relatos dessa raça estranha.
Eu era um caçador de recompensas e precisava invadir um túnel subterrâneo e roubar a I.A que mantinha um sistema de defesa ainda em funcionamento.
Segundo os dados da missão. Havia ali naquele inferno uma estrutura de titânio protegida por uma inteligência artificial.
Qualquer tentativa de explosão causava um tremor de terra que desestabilizava os estabilizadores da nave arrebentando a contra o solo. Os que tinham tentado antes de mim tinham fugido ou sido incinerados pelo calor do sol.
Eu tinha um plano para passar pela porta de defesa e ser vitorioso.  Contava que meu pulso eletromagnético destruiria a porta.
A descida foi intensa. O calor mesmo na parte fria era terrível.
Cheguei ao ponto mais ao norte e ali desci com os equipamentos.
A nave entrou em piloto automático e voltou ao espaço.  Poderia chama - la a qualquer momento por meio de um controle no meu antebraço.
Caminhei nas rochas ainda ferventes até a porta. Era um pedaço sólido de metal. Grande o suficiente para entrar um veículo de combate e resistente à milhares de graus todos os dias.
O pulso deu certo e as portas se abriram num rangido insano. Alarmes tocavam e luzes cermelhas acendiam por toda parte.
Era como entrar num local muito antigo.
Tudo ali cheirava mal e o calor dentro da estrutura era absoluto.
O ar lá de fora entrou na estrutura aquecendo o chão de metal. Minhas botas começaram a derreter. Fiquei irritado com aquilo. Comecei a correr rápido enquanto pedaços do meu calçado ficavam para trás.
Andei por um longo corredor reto até chegar a uma parede. Ali não havia mais nada.  Fiquei irado ao sentir que fora enganado.
Xinguei muito a mãe do meu contratante em vários idiomas que conhecia.
Naquele instante a porta se fechou causando uma onda de choque terrivel e o chão onde eu estava automaticamente começou a descer.
Mal sabia eu onde estava entrando. Mas tratei de sacar minha arma e de preparar outra carga contra robôs e aparelhos computadorizados no meu EPM portátil.
_ Venha brincar! Eu gritei sorrindo para a escuridão que me cercava.

Como escrever bem nas redes sociais?

Hoje os aplicativos de redes sociais consomem várias horas do nosso dia.
Postamos diversos conteúdos nessas plataformas em busca de curtidas.
Muitos acabam esquecendo de escrever bem e cometem falhas que estragam tudo. Aqui vai algumas dicas para não fazer feio ao escrever para redes sociais:

1 - Evite linguagem chula.
Você pode estar bravo com algo ou alguém.  Mas ninguém gosta de ver palavrões em um texto. Respeite seus seguidores.

2 - Não dificulte as palavras. Seja simples  ao comentar e postar.  Não queira demonstrar conhecimento complicando o idioma.  Isso pode acabar te deixando constrangido caso alguém pergunte o que quis dizer e você não souber responder.

3 - Cuidado com o duplo sentido.
Preze por palavras e expressões claras. Não deixe espaço para interpretações errôneas.  Escreva de maneira que as pessoas vejam nitidamente o que você quer.

4 - Mantenha a etiqueta.
Redes sociais são um espaço público onde várias pessoas vão interagir contigo.
Suas postagens ficarão ali e podem ser usadas por empresas em entrevistas de emprego.
Tenha cuidado ao postar conteúdos adultos, de baixo calão, opiniões políticas, etc...

5 - O bom uso da língua é fundamental!
Escrever corretamente é essencial. Tanto para causar uma boa impressão, quanto para tornar suas idéias mais claras.
Não estou pedindo para ninguém postar somente com um dicionário do lado.
Mas evitar gírias e abreviações mostra respeito para com seus interlocutores e te torna diferenciado.

Espero ter ajudado e até a próxima.

Medo de dormir

Era um beco escuro, eu tinha acabado de atender um cliente particular.
Um funcionário do museu de história, um velho vigia que precisava tomar injeções de medicamentos para tratar suas crises de hipertensão.
Ia até o museu toda noite a pé. Era poucos quarteirões e eu não tinha o menor problema em caminhar um pouco.
Gostava daquele senhor.  Sua voz era gentil e ele mostrava me com entusiasmo cada parte do museu.
Eu ficava sempre fascinado ao andar pelos diversos salões. Era minha diversão toda quarta feira.
Ia embora satisfeito. Mas naquele dia foi diferente. Ao passar na sessão de egiptologia uma múmia estava exposta em uma caixa de acrílico.
Aquela criatura parecia inumana, atemporal e deformada. Ao vê la me assustei muito.
Sai dali sem a mesma euforia. Fiquei impressionado e quando entrei na rua pensei estar seguro.  Doce engano!!!
Eram apenas poucos quarteirões mas em cada sombra eu via aquela múmia.  Sentia seu cheiro e ouvia sons distintos.
Meu peito parecia saltar. Estava amedrontado e logo comecei a alucinar!
Não lembro do que aconteceu a partir daí.
As pessoas disseram que eu alucinei. Sai gritando. Atravessei ruas e avenidas e acabei sendo atingido por um caminhão.
O impacto me deixou tetraplégico e toda noite sou assolado por um pânico profundo. Em sonhos a múmia me persegue e sempre acaba por me destruir.
Fico pensando em me matar para acabar com minha dor. Mas se eu não tiver êxito e ficar pior?
Sobrevivo com medo de dormir. A noite é minha maldição.  Já tentei de tudo. Nem a medicina nem a fé podem me salvar.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Dominado pela culpa



Não havia verdades em nada que ela me disse.
Estava no carro em alta velocidade, queria fugir da cena que vi. Ela e outro cara juntos em uma cama de motel barato.
Nem nos meus piores pesadelos eu imaginava aquilo. Queria somente fugir! Os sentimentos no meu peito eram ódio puro. Não sabia o que pensar. Estava indo para casa, ia por fogo em tudo que era dela. As sirenes atrás de mim pareciam um barulho distante.
Nem percebi quantas pessoas atropelei. Meu velocímetro marcava 240 e eu queria pisar mais. Somente a adrenalina dava algum conforto e evitava a dor.
Numa curva bem fechada eu perdi o controle do carro e ali naqueles poucos instantes quando eu despencava ladeira abaixo senti um alívio louco, a certeza que eu não iria morrer.
Os bombeiros demoraram muito para me tirar dos escombros. Eu estava eufórico. A adrenalina me dava uma força absurda, era como se eu fosse um super-herói.
Sai dos destroços e fui levado ao hospital algemado. Os homens estavam me acusando de múltiplos assassinatos, de crimes de trânsito e outros tantos crimes.
O policial que foi comigo ao hospital num determinado momento começou a me perguntar por que eu tinha matado minha namorada num motel do outro lado da cidade?
Eu olhei para ele sem entender nada. Não me lembrava de ter feito nada daquilo. Neguei com veemência que tinha feito aquilo e então o homem tirou um celular do bolso e pôs bem em minha frente. Era um vídeo que tinha sido postado nas redes sociais logo que começou a perseguição a mim.
Nele eu espancava um homem com uma barra de ferro e depois a enfiava em seu coração e corria atrás de uma mulher, derrubava no chão e com as mãos nuas a esganava e depois que ela desmaiou coloquei a no rumo da roda do carro e dei ré várias vezes deixando para trás apenas um corpo sem crânio.
Eu fiquei em choque depois de ver aquelas cenas. Não conseguia lembrar nada daquilo. Senti-me um monstro.
Meu advogado me tirou da cadeia e me pôs em um sanatório judicial, fiquei ali sendo maltratado por um bom tempo e sai com a certeza de que eu merecia ser mais punido.
Escrevo isso para contar meu lado da história. Voltei para meu apartamento, escrevi essas palavras num papel. E agora estou pensando em como vou terminar minha vida.
Sempre quis reviver a adrenalina daquela perseguição. A janela está aberta. Um último pulo seria maravilhoso. Adeus, e sim meu último ato é motivado pela culpa, a culpa por ter sido um monstro mesmo que não conseguisse lembrar.

Coragem para ajudar

Era difícil viver naquele bairro. Gangues dominavam o local.  Havia tiroteios. A escola era uma zona de guerra.  Eu não tinha amigos e era o alvo preferido dos idiotas.
Meu pai era um bêbado que me batia e em minha mãe. Meu irmão estava na cadeia e minha irmã tinha fugido de casa.
Eu tinha tudo para me dar mal e ir para o submundo. Parecia que meu destino estava selado.
Porém eu me mantinha firme por uma promessa que fiz ao meu avô antes dele morrer que eu não seria o que os outros queriam. Eu teria o controle da minha vida.
E em parte eu estava me mantendo bem nisso. Fugindo até da minha sombra.
Eu era um grilo contra leões.  Não era raro eu tirar as melhores notas e no mesmo dia não era raro ser espancado pelos demais como "prêmio".
Um dia eu voltava para casa e um grupo de moleques decidiu se divertir.  Me cercaram e me mandaram correr depois de mostrarem na cintura terem armas.
Sai disparado e eles vieram atrás.  Tentei gritar mas ninguém me deu atenção.  Num beco eles começaram a atirar. Meu medo quase dominou. E eu pulei o muro de um prédio abandonado.
Era um futuro hospital prometido pelo prefeito. As obras tinham parado quando descobriram a corrupção envolvida.
Eu corri para me esconder em qualquer buraco. No fundo eu sabia que estava acabado e iria morrer ali. Mas algo dentro de mim me disse para continuar.  A imagem do meu avô numa cama de hospital me veio a mente e eu me esgueirei até o que iria ser a sala cirúrgica.
Ali encontrei um velho dormindo calmamente ao lado de um pequeno cachorro.
Era um senhor sujo e fedido. O cachorrinho mal parecia ter cor tamanha a sujeira em que vivia.
Tentei acorda lo mas ele mal se mexia.
Pensei que estivesse chapado ou pior desmaiado.
Sabia que iriam tentar mata lo. Moleques como aqueles não tinham piedade.
Decidi deixar de fugir e lutar.
Fechei a porta onde o velho estava e fui até o depósito.  Os caras que queriam me matar estavam dando tiros a esmo. Queriam me assustar antes de me matar.
Confesso que eu não sabia o por que de não estar apavorado. Mas algo em mim queria proteger aquele senhor e seu cachorro.
Peguei um bisturi e amarrei na ponta de um arame.
Vi vários galões de oxigênio enferrujados num canto. Por sorte estavam cheios.  Abri os e os rolei para o corredor. O gás os fez rolar para o outro lado. O barulho chamou a atenção dos caras que vieram como cachorros na caça.
Eram idiotas e quando me viram começaram a atirar.  O oxigênio médico é altamente inflamável.  E eles começaram um incêndio que os fritou. Começaram a gritar como loucos e eu corri até a sala do senhor e do cachorrinho.  Arrastei até uma maca e juntamente com o cachorro descemos para o segundo andar pela rampa da saída de incêndio. Eu guiava com cuidado e por duas vezes quase acabei esmagado.  Mas não queria correr. Algo maior que eu me impedia de fugir. Ajudei o senhor e o cachorro a saírem. Tive o cuidado de conseguir que o dono de um pequeno restaurante lhe desse comida.
O prédio mal construído desabou antes do incêndio se espalhar.
Os corpos dos caras que queriam me matar não foram encontrados e eu me tornei um herói.
Havia recuperado minha coragem e pela primeira vez as pessoas me viram como alguém digno. O garoto magrelo tinha salvado um homem. Nessa hora inventei uma história de ter ouvido gritos e ido ajudar.  A mentira me pareceu mais sensata do que contar os fatos reais.
No entanto ao voltar para casa meu pai estava bêbado e minha mãe desacordada no sofá.
Ele apenas olhou para mim e riu dizendo:
_Vai para o seu quarto. Já,  já é sua vez de receber disciplina!
Eu fiquei parado e disse não!
Ele avançou para cima de mim e me jogou contra a estante. Bati a cabeça e perdi a consciência.  Sonhei com meu avô sorrindo para mim dizendo:
_ Estou orgulhoso de você!
Recobrei a consciência horas depois. Meu pai tinha tido um ataque do coração e morrerá.
Uma vizinha trouxe a mim e minha mãe ao hospital.
Meu medo acabará.  Minha vida iria mudar para sempre. Nunca me esquecerei daquele mendigo e seu cachorro.
Hoje eu sou um líder comunitário. Sou respeitado por todos e uma das poucas vozes que fala sem medo contra o crime sou eu.
Muitos me dizem que eu posso morrer por ser tão corajoso.
Eles já estão mortos por terem medo. Eu sou o senhor da minha vida! E isso é tudo que um homem necessita.
Essa história é a origem de um dos maiores nomes contra a violência do país e apareceu em um documentário ganhador de vários prêmios internacionais além de ser um exemplo para outros tantos líderes que não se calam diante do mal.

Salvador anônimo

Eu havia passado a noite toda num bar.
Tinha ido beber depois de terminar meu casamento.
Me embebedei muito e perdi boa parte da noite. Quando estava saindo dei de cara com um grupo de homens.
Consegui correr deles e entrei no meu carro. Dei a partida antes de um dos homens me arrancar de dentro do veículo.
Estava muito bêbada para dirigir com alguma proficiência e bati em vários carros e por fim me acidentei quando bati numa árvore.
A visão estava turva. A cabeça doía muito.  Vi os homens que me perseguiram saírem do carro e virem me pegar. Sabia que iria morrer. Nada adiantaria. Meus maiores pesadelos passaram pela minha mente dolorida e em pânico total.
Quando vi aparecer um mendigo gritando umas palavras estranhas.  Pareciam urros guturais animalescos.
Os homens riram dele e o ameaçaram mas ele continuou urrando e gesticulando.
Nessa hora eu perdi a consciência. Voltei a mim no hospital. Tinha sido deixada ali horas atrás.
Na TV passava um grande incêndio na estrada envolvendo três carros.
Quatro homens foram encontrados carbonizados.
Eu fiquei assustada. Mas decidi me calar. Não queria ser envolvida naquilo. Não queria que soubessem o que eu estava fazendo no bar aquela noite.
Conhecia bem a hipocrisia da sociedade que logo iria me chamar de vagabunda e coisas do tipo.
Além disso minha família iria me crucificar.  Por isso me calei perante a todos.  Fingir ter amnésia e voltei para casa depois de dois dias.
Muitas pessoas ficaram preocupadas e eu menti dizendo que tinha tido um mau súbito e um vizinho me ajudou a ir ao hospital.
Tudo corria bem.  Semanas depois eu saindo do trabalho vi o velho mendigo. Pensei ser alucinação. Pensei que eu estava maluca.  Parei e lhe dei todo o dinheiro que tinha.
O homem apenas sorriu, mal tinha dentes, era sujo e fedido. Mas eu me senti tão bem diante dele que não queria sair dali.
Deixei o e fui para casa. Não perguntei seu nome e nem o agradeci direito. Mas sei que aquele homem é especial. Por trás de toda máscara de sujeira existe alguém especialmente bondoso.
Depois desse incidente larguei a bebida e entrei para um grupo de apoio.  Todo bem que recebemos devemos repassar.
Nunca mais vi aquele salvador anônimo.  Queria poder agradece lo. Mas sei que ele está por ai ajudando as pessoas.

O campeão do fliperama

Eu havia conseguido um trabalho de zelador num antigo parque próximo a cidade.
Eu passava as noites limpando o chão e cuidando das máquinas marcadas para manutenção.
Era um serviço tranquilo, não tinha ninguém ali comigo e na maior parte do tempo minha única companhia era um velho cachorro vira-lata que ficava próximo da entrada. Eu o alimentava e colocava o para dentro. Sentia pena do pobre animal ficar ali no frio.
Era um cachorro velho, seus olhos cansados pareciam ter uma profundidade estranha. Um dia ao chegar no trabalho vi o pobre cachorro ferido na altura do abdômen.
Era uma ferida feia. Peguei o e corri para o veterinário.  Nem pensei em como iria pagar por aquilo.
Por sorte o hospital veterinário era 24 hrs. E quando eu cheguei com o animal o levaram para a cirurgia.
Contei toda a história para a atendente. Ela se condoeu de mim e disse que iria tentar me ajudar quanto aos custos.
Voltei para meu trabalho pesaroso. Fiquei me culpando por não deixar aquele aninal morrer ali como qualquer pessoa comum faria.
Contei o por que da minha falta ao segurança.  Ele me disse que o encarregado não tinha ido e bastava eu passar meu cartão que ficaria tudo bem.
Senti em seu olhar uma certa zombaria pelo meu ato.
Aquilo me fez ficar bastante irritado com ele e comigo mesmo.
Entrei para o parque e fui limpar tudo com o mau humor escorrendo pelos olhos.
Quando cheguei aos video-games vi um velho em andrajos. Cheirava mal. Tinha uma mochila a seu lado repleta de livros antigos.
O senhor se divertia num jogo e quando me aproximei vi que ele já passava dos 10 milhões em pontuação.
Aquela máquina era a mais difícil de todo parque. Tinha até um prêmio para quem conseguisse passar dos dez mil pontos.
Fiquei impressionado! Meu espanto se tornou maior quando ele se virou, olhou para mim e disse:
_ Olá Sérgio! Obrigado por salvar meu cachorro!
Fico te devendo essa.
E voltou ao jogo. Pediu que a máquina o fizesse perder anotou a pontuação em meu nome e saiu dizendo somente:
_ Isso deve bastar para o tratamento e o pulguento gosta muito de você. Ele diz que você é especial.
Nenhum humano comum recebe elogios dele.
Eu fiquei ali paralisado. Terminei meu trabalho sem entender nada. No outro dia fui chamado ao parque.  Tomei uma senhora bronca por jogar no expediente. Mas me pagaram o prêmio por vencer o jogo. Fiquei conhecido como o rei do fliperama. Muitos garotos resolveram tirar fotos comigo.
Inventei uma história qualquer sobre minha habilidade naquele jogo.
E assim ganhei uma promoção, salvando um cachorro esfaqueado. Mas o que me interessa saber é: Quem era aquele estranho homem que parecia conversar com máquinas e animais? Será que eu enlouqueci? Precisava contar o que realmente aconteceu e nem mesmo meu terapeuta acreditaria em mim. Por isso coloquei nesse papel.
Quem quer que aquele homem seja. Tenho apenas que o agradecer. O cachorrinho vive comigo. É dócil e de uma lealdade feroz.
E graças a minha exposição na imprensa consegui juntar grana para ajudar os abrigos que cuidam de animais.

sábado, 8 de junho de 2019

O duelo

Eram dois samurais com grande reputação.
Guerreiros experientes que manejavam espadas como se fossem apenas extensões do próprio braço.
Sua fama e seu desejo de serem o maior os fizeram se confrontar.
Mandaram emissários um ao outro marcando um duelo.  O local marcado seria uma ponte na divisa entre dois daimyos rivais.
Iriam cada um representar um lado e assim serviriam para acabar com uma richa que logo poderia virar guerra.
Cada um dos lados chegou no horário certo. Vestiam armaduras completas e estavam prontos a ir até a morte.
Mas um dos senhores envolvidos naquela disputa não queira se arriscar e mandou um arqueiro disfarçado no meio da plateia com ordens de vencer o conflito de qualquer jeito.
Se julgava superior ao seu rival e jamais aceitaria perder.
Os guerreiros tiraram suas espadas e começaram um balé de morte.
O som do choque das armas era tão alto que parecia com os rumores de uma tempestade.
Todos os espectadores mantinham se a uma curta distância, se afastando a medida que os combatentes se aproximavam.
O combate era equilibrado e se manteve assim até o arqueiro pegar um dos oponentes de costas.
Era uma violação do duelo e do acordo.
O derrotado foi acertado nas costas e acabou caindo no rio, manchou as águas de sangue.
O assassino fugiu dali. Sabia que acabaria sendo linchado.
Mas a noticia da traição estava espalhada e logo até os reinos vizinhos se envolveram.
O samurai ofendido iria se tornar um dos maiores comandantes do Japão: Tokugawa.
Um homem que pela ganância de um nobre foi transformado em vingador e no maior de todos os generais!

Fantasmas ou mentira?

O velho bosque no alto da colina era famoso por suas lendas.
Os moradores o evitavam por medo das histórias de fantasmas.
Muitos já diziam ter vistos criaturas e luzes inexplicáveis ali.
Um grupo de criminosos fugindo da capital após um roubo bem sucedido chegou a pequena cidade e por acaso escutou um bêbado contando histórias de fantasmas para um amigo.
Os homens se olharam e decidiram se esconder naquele local, esperando a poeira baixar e os policiais perderem o rastro.
Dirigiram para a colina. Esconderam os carros e encontraram repouso num velho celeiro quase abandonado.
Por alguns dias ficaram ali, assistiam as notícias e quando viram que os policiais já eram ridicularizados pelos jornalistas decidiram que iriam embora na manhã seguinte.
Estavam cansados de dormir mal. Tomar banhos improvisados e comer alimentos frios.
Queriam aproveitar a grana que tinham conseguido.
Ficou decidido então que na manhã seguinte haveria a divisão e cada um seguiria seu caminho.
Dormiram preocupados naquela madrugada.  Todos ficaram acordados com medo de serem roubados.
Não havia a menor amizade entre eles. O menor movimento errado poderia acabar em morte.
O clima de tensão misturado a olhares gananciosos deixaram todos animalescos.
E assim foi até as 3 da manhã quando um barulho estranho deixou todos alvoroçados.
Pareciam passos de uma grande quantidade de homens.
Pensaram que tinham sido descobertos. Cada um pegou sua arma e saiu disposto a matar.
Eram homens brutais e tensos cujos sentidos estavam voltados para a sombra interior. Não havia ali nem sinal de remorso e piedade.
Seguiram por todo o perímetro. Verificaram os carros. Abriram o porta malas, onde estava o dinheiro e quando percebeu se que estava calmo se permitiram relaxar um pouco.  Nesse momento, um dos homens deu um grito agonizante.
Havia sido mordido por uma serpente. E no seu pavor acabou tentando disparar na cobra e acertou o pé.
Caiu para trás e bateu a cabeça numa pedra.
Não havia nada a ser feito. Ele ficou variando por alguns instantes ali numa poça de sangue enquanto seus comparsas voltaram lá para dentro.
Alguns impressionados com o ocorrido. Outros felizes com o fato de terem menos um para dividir.
As 4 da manhã. Sons de trombeta foram ouvidos. Parecia que uma banda estava postada ali do lado de fora.
Aquele barulho estridente e alto deixou a todos apavorados.
Um dos homens saiu correndo do local e foi crivado de balas.
Outro se escondeu atrás de um saco de feno enquanto os demais se mataram.
Quando somente sobrou o que estava escondido houve algo estranho. Ele sentiu se cercado por mãos espectrais. Ele abriu os olhos e viu diversas criaturas negras de formas enevoadas. Suas presenças eram frias. O bandido saiu dali correndo e continuou correndo até ser encontrado por um policial que foi avisado de um homem correndo em pânico na base da colina.
O homem foi detido e não parou de gritar. Precisou ser sedado para conseguir se acalmar.
Quando as digitais foram checadas descobriu se quem ele era. Foi levado a capital e ali ninguém acreditou na sua história.
Procuraram no velho bosque pelo dinheiro e não encontraram.
Os corpos também não foram achados. No velho celeiro havia somente as armas e muitas cápsulas deflagradas.
Todos acharam que o sobrevivente na verdade tinha matado seus colegas, escondido o dinheiro e então se entregado para aproveitar tudo sozinho.
Bem, não posso afirmar nada, apenas escutei essa história e decidi registrar.
Será que o homem teve uma visão paranormal? Ou é apenas um homicida bom de prosa?
Você decidi!

sexta-feira, 7 de junho de 2019

A vida por um fio

Era noite. Eu estava ali fechado dentro de um banco sem esperança alguma de sobreviver.
O local tinha sido invadido por bandidos e eu era o próximo a morrer se a negociação continuasse dando errado.
Sabendo que suas horas estão se acabando qualquer homem começa a olhar para o passado e tentar se arrepender de todos os erros.
Eu nasci numa favela. Lugar sujo e sem esgoto. Minha mãe era uma vendedora numa padaria e não raramente a única comida que tínhamos era pão velho.
Meu avô era um tarado que certa vez tentou estuprar minha irmã mais nova e ela num puro ato de desespero começou a gritar o que fez os vizinhos aparecerem e surrarem o até a morte.
Eu cresci sem pai, não tinha amigos na escola. Acabei tomando gosto por assistir filmes e ler. Algo incomum num local onde o mais perto de cultura que se tinha era o tráfico.
Aos 18 entrei para a marinha e lá fiquei por quinze longos anos. Lutei no exterior em missões de paz. Lutei contra criminosos e ajudei a pacificar zonas inimigas.
Não era fácil, no entanto voltar ao mercado de trabalho depois da dispensa ainda mais quando esta foi por causas psiquiátricas.
Me senti inútil, tinha um monte de medalhas, mas voltava a ser somente um peso para minha mãe que perto de completar 60 anos ainda não tinha conseguido trabalhar, mesmo tendo trabalhado desde os 13.
Naquele instante da minha vida eu me sentia um fracassado. Voltei para a casa ciente que tinha acabado o sonho e a realidade me trouxera a merda de onde eu sai.
Passei uma semana me punindo. Me sentia o pior de todos os fracassados, mal tinha fome, pensei em dois momentos até mesmo em me matar.
Foi quando um amigo da marinha me ligou e disse que tinha me arrumado um emprego como segurança num banco no centro.
Senti a vida voltar a bater dentro de mim. No outro dia acordei as 4h da manhã e sai rumo a agência.
Queria impressionar com minha pontualidade e para isso somente acordando muito cedo para que os trens e ônibus não me atrapalhassem.
Depois de quatro ônibus e um trem cheguei ao meu local de serviço. Entrei e me identifiquei. Uma balconista me mostrou a porta onde ficava o vestiário dos seguranças. Fui ali dentro, me troquei. Quando peguei minha arma de serviço uma voz forte anunciava um assalto.
Tentei fugir dali, mas meu instinto militar falou mais alto e eu retornei.
Esperei um dos assaltantes entrar no vestiário dos seguranças. E quando um deles assim o fez atirei nele, peguei sua arma e o tomei como meu refém.
Mas quando sai para o saguão disposto a tentar matar os demais usando seu aliado como escudo. O líder deles simplesmente atirou no parceiro que eu já havia ferido e nesse instante me vi cercado por cinco fuzis semiautomáticos.
Me rendi e logo fui chutado dezenas de vezes. Fiquei desacordado e quando recobrei os sentidos mal conseguia me virar, provavelmente tinham quebrado minhas costelas nos vários chutes que me deram.
Sentia me fraco e confesso que ali meu medo era enorme. Os policiais já estavam negociando e a situação ficou crítica quando outro segurança foi morto diante da porta principal.
O cara foi cravado de balas. Os bandidos não estavam para brincadeira. Exigiam a libertação do líder de uma das maiores facções criminosas do país ou se não iriam nos matar.
E todos sabiam que eu seria o próximo.
Naquele instante com a vida por um fio eu sabia que não tinha muito tempo. Comecei a pensar numa maneira de salvar me sem que ninguém mais fosse ferido.
Tinha poucas alternativas, mas num lampejo de coragem ou de adrenalina maluca, um dos bandidos se aproximou de mim disposto a me dar mais alguns chutes, nesse instante agarrei sua perna e com as forças que eu tinha consegui derruba-lo e tomar uma pistola que ele tinha no coldre da perna.
Meu instinto tomou o controle dali em diante. O treinamento de um fuzileiro consiste em treinar tanto que quando a hora do combate chega o soldado sabe como agir.
Dei um tiro no cara de quem eu roubei a pistola e corri rumo a porta. Estava cheia de explosivos e eu num ato de pura coragem atirei ali. A explosão me jogou para trás, meus ouvidos estavam com um chiado muito alto, eu caí no chão.
Atrás de mim pude ver os criminosos atirando, a minha frente o fogo e eu ali parado com a mente parecendo uma gelatina.
Quando olhei no alto do prédio e vi um grupo de snipers posicionados. Tive uma ideia, decidi provoca-los e tirar eles dali. Queria que viessem até bem perto de mim para os atiradores abate-los
Comecei a disparar a pistola até acabar as balas, fui alvejado nesse processo várias vezes. Sentia meu sangue esvair se.
Tudo fazia sentido na minha cabeça. Quando eles vissem eu ali quase inerte viriam terminar o serviço dando uma bala na minha cabeça. E foi assim que aconteceu. Eles não perceberam os homens no alto do prédio próximo e vieram três terminar de me matar. Os outros que sobraram ameaçaram os reféns, mas eram poucos e agora a negociação tinha mudado. A tropa de choque tinha entrado e foi questão de minutos até todos se renderem.
Eu fui salvo, tinha sobrevivido somente por que Deus quis. Beirei a morte muitas vezes, mas em nenhuma eu fora tão imprudente.
Queria impressionar e realmente esperava ter conseguido. O banco não foi roubado, nenhum refém ferido. E bandidos morreram.
Era algo que para mim poderia ser descrito como um dia bom. Apesar da perna cheia de platina, dos drenos no estômago e pulmão e de estar com dor até mesmo por existir esbocei um sorriso assim que recobrei a consciência no CTI de algum hospital público.
Ao meu lado não havia nenhum parente ou médico. Apenas um militar de alta patente. Um homem que ao me ver apenas sorriu e disse:
_ Parabéns por sua ação soldado! Vejo que um homem treinado sempre é um homem treinado!
Quando se recuperar eu tenho uma proposta a te fazer. Se quiser um emprego de verdade o governo irá lhe trazer uma ótima proposta. Me procure.
E deixou em minhas mãos um pequeno cartão com seu nome e telefone. Não dizia para quem trabalhava e muito menos que função exercia.
Demorou dois anos recebendo auxílio da previdência até que eu me recuperasse completamente. No dia em que eu voltei ao banco, no entanto, fui demitido! O gerente me agradeceu mas disseram que tinham contratado na minha ausência outro cara.
Voltei para casa frustrado, não teria dinheiro para nada naquele mês e para piorar minha irmã havia abandonado o marido e estava de volta a casa de nossa mãe também junto com 3 sobrinhos.
Decidi que como não tinha mais nada a perder, o homem do cartão poderia ser uma solução viável.
Mal sabia que dali em diante minha vida mudaria completamente e eu estaria completamente envolvido em proteger o país.
_ Olá! A proposta que me fez ainda está de pé?
_ Sim, venha me ver na padaria onde sua mãe trabalha como faxineira.
_ O que? Como assim? Como conhece minha mãe?
_ Venha me ver em trinta minutos e iremos conversar sobre o que estou te propondo.
Ao terminar essa conversa eu estava desconfiado e curioso. Mas decidi arriscar e fui. E a partir daí entrei para a organização.
E isso é tudo que você, caro leitor, pode saber sem que homens do governo venham tentar te matar.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...