domingo, 7 de abril de 2019

Uma questão de família

Naquela manhã o passado voltou para me assombrar.
Tinha saído há dez minutos para comprar pão.
Quando voltei o portão estava aberto, a porta da sala arrebentada e minha esposa e filho mortos.
Na parede ao lado dos corpos havia apenas uma mão feita com o sangue do meu filho.Minha traição  requisitava vingança.
Tentei contatar o meu agente do serviço de proteção a testemunhas, mas ele não respondeu.
Não havia nada a fazer. Rapidamente peguei algumas roupas e documentos coloquei os em uma mochila e sai dali no meu carro.
Tentaria viajar até o consulado, no entanto, minhas chances eram remotas mesmo no melhor dos cenários.
Depois de cinco anos, minha traição iria ser vingada e a honra do meu irmão iria ser levada perante os membros da Yakuza.
Meu nome é Ken Harada, meu irmão é o líder do sindicato Yakuza Sanzo Kumo.
Minha vida é cercada pela violência desde a infância. Cresci num bairro pobre de Tóquio, era uma época de extrema pobreza.
Os horrores que enfrentei me endureceram muito e me tornaram um ladrão e tempos depois assassino.
Minha conduta me tornou famoso entre os criminosos e num grande assalto eu e um bando de homens roubamos o museu nacional e conseguimos por as mãos em vários Rembrandt originais.
Meses depois desse ato ousado, a polícia nos prendeu e recuperou as obras. No entanto, nosso renome no submundo tinha se consolidado fortemente.
Logo eu e meu grupo acabamos recrutados para a yakuza. Nossa posição era baixa nos primeiros anos, mas pouco a pouco fomos aumentando na hierarquia.
Vivíamos bem, tínhamos dinheiro.
Era o melhor do capitalismo, mas aquilo não me satisfazia.
Queria ter uma família, ser pai e sair daquela vida onde o sangue jorrava como água em fonte.
Quando conheci uma jovem brasileira estudando no Japão.
Me apaixonei por ela. Começamos a conversar e eu fui pouco a pouco saindo dos negócios da máfia enquanto meus irmãos começavam desconfiar de mim.

Minha posição ficou insustentável quando eu comecei a receber ameaças por telefone. Diziam que ela iria ser morta se eu não voltasse a me preocupar com o pacto feito.
Meu medo foi tanto que procurei a polícia. Delatei todo mundo e no mesmo dia, liguei para meu amor e contei tudo.
Decidimos voltar para o Brasil e nos últimos anos eu tinha tudo resolvido.
Eu vivi o céu com ela. Nosso filho nasceu e eu me senti um homem completo.
E no fim tudo acabou, o passado sempre volta para cobrar as contas.

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Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...