quinta-feira, 6 de junho de 2019

O último discurso

O general Mattais era um homem acima dos demais.
Sua carreira foi repleta de feitos grandiosos. O reino da Bretanha devia muito a ele.
Manejava uma espada tão bem que seus inimigos o apelidaram de flagelo. E sabia impor moral e ânimo nas tropas.
Diria sinceramente que aquele homem valia por um exército.
Lembro vivamente de seu último discurso antes da derrota contra Joana Dar'c em Rouen.
Motivara nos a lutar mesmo em menor número e cercado pelos exércitos franceses.
Muitos de nós estávamos com medo absurdo e queríamos voltar a Inglaterra mesmo que fosse a nado.
Mas ao ouvir suas palavras alguns encontraram sua coragem perdida.
Estávamos ali isolados e na manhã seguinte os franceses iriam avançar contra a cidade.
Muitos teriam esperado os inimigos dentro dos muros. Mas Mattais queria nos levar a vitória.
Naquela madrugada saímos em formação da cidade.
Marchamos contra o acampamento francês em velocidade.
Nosso movimento pegou alguns soldados despercebidos.
A batalha foi encarniçada. Os gritos e gemidos na madrugada se tornaram comuns após algumas horas com somente som de espadas se chocando.
Conseguimos fugir daquele cerco. Éramos agora somente uma pequena companhia de homens do grande regimento que havia na cidade. No entanto nossa disposição em continuar vivos e livres nos mantinha atentos.
Íamos para o litoral norte de modo a saímos da França e assim conseguirmos ser resgatados de volta a Inglaterra.
Avançamos com dificuldade por prados e bosques. Compravamos comida em pequenas vilas ao longo do caminho.
Fomos impedidos de saquear qualquer coisa dos franceses.
Nosso general era um homem superior que via no roubo e na morte fora da batalha algo incrivelmente ruim.
Não considerava o adversário como alguém que deveria ser destruído.
Mantinha sempre a idéia de poder contar com algum apoio da população pobre se fosse honesto para com estes.
Sabíamos que nossa vida estava ameaçada.  Logo o exército francês iria chegar e não teria a menor piedade de nós.
Vagamos alguns dias tomando o máximo cuidado em evitar todas as patrulhas.
Pelos cálculos do nosso comandante no dia seguinte estaríamos na Bélgica e dali poderíamos voltar para casa em poucos dias.
Mas o nosso destino fora traçado e emboscados na fronteira dezenas de homens nos aguardavam.
Recebemos ordens de recuar e espalharmos pelo país.
Nosso general, no entanto avançou com coragem e audácia.
Corríamos chorando sem olhar para trás.
Um dos maiores homens se sacrificou para que tenhamos chance de ganhar algumas horas e ter uma retirada.
Ali acabava o sonho.
Mas o exemplo de Mattais ficará em todos nós que resistimos.
Muitos seriam presos e executados. Os que conseguiam fugir mantinham contato e por anos ficaram esperando a oportunidade de voltar para casa.
Muitos, no entanto, se integraram a sociedade francesa e ali se casaram.
Eu fui um desses. Consegui documentos falsos e passei a viver em uma vila a leste de Toulose.
Me casei e vivi a ascensão de Joana Dar'c e sua posterior queda.
Estive em Paris quando ela foi queimada.
Quero dizer que amei vê la arder. As palavras do meu amado conandante naquela noite em Rouen e seu sacrifício por nós vieram a memória e eu era um dos mais eufóricos ao ver minha inimiga ser reduzida a cinzas.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...