quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A loucura criadora.

 Não há na história nenhum homem normal que tenha criado nada. Nenhum ser humano que segue seu tempo se tornou grande.

É preciso desafiar a massa, nadar contra a corrente para ser lembrado e esse processo se inicia sempre pela vergonha de ser. Nenhum criador começa a destruir bases velhas sem antes se sentir mal devido aos inúmeros ataques dos defensores da atual ordem que veem naquela mente desconectada um perigo iminente do qual precisam se defender.

Fica isolado nas montanhas da coragem rugindo contra os que lhe atacam com ferrões. Desafia o mundo com sua nova verdade e se tiver sorte consegue ouvidos que se tornam bocas e passam para a frente a sua palavra, gesto ou forma de ver o mundo.

Essa liberdade incomoda os que não querem sair fora das suas pequenas visões de mundo e isso os torna agressivos diante do novo. Nenhum período da história onde houve transições foi livre de muita violência e sangue derramado. 

As massas são um poder avassalador, controla - las garante aos que não desejam a mudança uma força incrível capaz de parar os menos corajosos. O gigante do povo não tem cabeça mas segue atrás das migalhas. E até que a nova forma se torne o normal aqueles que criam são alimento desse grande monstro que adora matar gênios e destruir heróis.

Nada atrai mais a platéia do que a tentativa de destruição de alguém disposto a mudar. Nenhum entreterimento aquece mais os corações da massa do que ver um herói ou um inventor cair em desgraça. A maioria é um abutre paraindo a procura de carcaças recém mortas. Agem como tubarões dispostos a devorar qualquer um ao menor sinal de sangue.

No fundo sentem inveja daqueles que ousam. Não suportam ver que é possível ir além do meramente comum e se tornar algo melhor e entrar para a história criando feitos notórios.

Somente os loucos podem se aproximar do poder de criar que é esfera exclusiva das divindades.


O prazer pelo proibido.

 Nada causa mais satisfação ao coração das pessoas do que a sensação de transgredirem uma norma. Em especial quando envolve um prazer ou um desejo. Todos sabem que não devem mas a vontade de ir contra é plenamente incontrolável.

Poderia aqui facilmente discorrer sobre a causa desse fenômeno e ir dissecar isso tal como um filósofo que escreve dissecando as vontades humanas despojado de todo o sentimento. Mas não estou interessado em ir a academia de Platão. 

Quero apenas dizer que as pessoas que buscam se satisfazer frente ao perigo querem ir além de si mesmas. Desejar é algo maravilhoso e que raras vezes sai impune perante a uma sociedade acostumada a ser ordenada e meticulosamente harmônica.

Frente a essa sociedade limpa que em público joga o desejo como sujeira as pessoas fazem o que mais se espera delas: Vestem uma máscara e tal como antigos atores em um teatro grego se tornam hipócritas e fingem ter todas as virtudes do mundo quando na verdade mal tem uma delas para chamar de sua.

São tratados como imundos todos aqueles que mergulham no desejo e mais ainda aqueles que se perdem nele e acabam morrendo jovens. Desejar é um remédio perigoso e mortal mesmo em doses minimas. Todas as nossas teorias de como viver bem excluem a questão de como desejar de maneira segura e talvez essa questão seja a mais importante de todas.

Essa ausência de uma filosofia que deseje se dá pela religião que coloca quase tudo o que a vida quer na categoria de pecados bastante impróprios e condena os humanos a uma vida a procurar a felicidade na morte e no que virá depois dela criando pessoas desprovidas de amor pelo que a terra produz e por si próprios.

Nenhum religioso consegue suportar a felicidade breve de alguém que está apaixonado ou que conseguiu comprar algo de grande valor. A tudo exige seu quinhão, a sua virtude é como uma severa professora que sempre pune seus alunos com castigos exigindo deles mais do que a obediência pura e simples, torna os em seguidores e repetidores daquilo que aprenderam. 

O diabo tem mais poder educativo do que todos os anjos e santos e sua presença é o que mantém as pessoas presas na roda da virtude. Correm de si mesmas e colocam todas as suas conquistas para sua divindade e tudo aquilo relativo ao corpo a um diabo maldoso que os faz procurar superar a si próprios.

A lei moral cria tantas proibições que nenhum homem saudável pode sustentar sem se sentir demasiado cansado. E muitos fogem para a vida do desejo e se tem sucesso na vida financeira acabam sendo julgados com inveja e desdém por centenas de pessoas que sentem ciúmes da liberdade do próximo. 

Mas se os que fogem são pobres recebem todo o peso da lei da igreja e da sociedade. Jamais conseguem se reerguer. Sua reputação e palavra ficam perdidas e não raro são imolados diante da moral e dos costumes para assim evitar que novos casos aconteçam.

Como é fácil criar demônios.

 Um demônio nasce de um desconhecido. De uma figura pobre ou de alguém que se tornou problemático para os poderosos de um tempo.

Cria se nele as características mais assustadoras do mundo. Tira se dele todo o brilho, todas as boas histórias são devidamente apagadas e aos poucos ele se torna o monstro em baixo da cama de crianças que há muito vivem sozinhas e não tem mais pai nem mãe.

O demônio serve para assustar as pessoas. Sua grande virtude é criar a ordem do mundo. Transforma homens em fiéis criando assim a manutenção da crença na forma que conhecemos.

Sem um demônio forte não há nenhuma religião que possa se firmar enquanto essência. Todas elas dependem dele para continuar fazendo as pessoas acreditarem, por que ele dá aos fiéis um motivo para esconder as próprias culpas. Para se limparem de seus desejos acusando o.

No passado homens que pensavam e mulheres que não queriam a submissão foram queimadas para retirar o demônio do corpo.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...