quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Qual é o maior dos desejos que todos temos?


Viver.
É estranho ver alguém que está a caminho da forca escrever uma carta final para a família, um bilhete de despedida de um mentiroso a beira da morte.


Essa história começa com o meu recrutamento para o centro de inteligência da OTAN, como parte de um programa para a formação de novos agentes de espionagem.
Na época eu era apenas um consultor de história do museu da cidade de São Francisco e um amigo me deu a dica, era um colega do tempo da faculdade que tinha conseguido um cargo menor na secretária da OTAN em Boston.
Eu estava de férias e vi nesse teste algo divertido, não me dei conta do por que estavam realizando essa seleção.
Lembro que na época eu queria apenas me divertir um pouco e levei tudo como uma competição, passei em cada um dos testes apenas por instinto de pura competição e acabei ficando em primeiro lugar.
Após a competição comecei a ser treinado em espionagem, meu cérebro foi infectado por uma bactéria nanotecnológica controlada remotamente que poderia ser acionada por satélite caso eu fosse capturado e por incrível que pareça eu ainda não virei um vegetal, o que significa que eu estou em uma prisão no subsolo, protegida dos satélites que povoam os céus.
Mas acho que avancei um pouco no meu relato, meus primeiros trabalhos para a OTAN, foi no papel de espião na Síria, trabalhava disfarçado de médico da cruz vermelha, enquanto enviava dados sobre a posição das tropas do governo para a organização que as repassava para os rebeldes.
Consegui alguns êxitos e tudo parecia estar bem, até que outra agente me contatou, tinha fugido de um campo de escravas do ISIS e estava ferida, precisava de ajuda urgente.
Consegui um motorista que pegou ela nas ruínas de uma pequena vila, o trajeto de volta parecia estar perfeito, quando fomos avistados por um comboio de jipes cheios de terroristas, estavam numa colina próxima e logo que ela os viu começou a gritar pedindo para o motorista acelerar o carro, não entendi o por que daquele medo, eles pareciam estar longe, mas se aproximaram em instantes de nossa posição, pareciam se fundir a areia e em menos de dez minutos já estavam encostados no nosso carro.
Eu tinha comigo apenas uma pistola e dez carregadores, comecei a atirar seguidamente, não acertei nada.
A agente que eu salvei parecia balbuciar com medo estampado na voz, hassassin, hassassin...
Repetidas vezes, logo eles atiraram nos pneus e a partir daí não me lembro de mais nada.
Acordei numa cela, tinha pontos no meu crânio e tudo parecia estar girando, minha vista estava turva e mal conseguia pensar direito, depois de algum tempo é que consegui ficar em pé.
As paredes do local, eram parecidas com os bunkers que os soviéticos construíram na região, anos atrás, e que muitos consideravam como um mito, visto que somente um desses foi encontrado após o fim da guerra fria.
Uma luz no teto brilhava fraca, tudo ali parecia com um quarto normal, numa vasilha tinha água e num pequeno armário, uma muda de roupa, um pequeno banheiro estava anexo ao meu quarto.
Todo dia, eu recebia comida por uma porta, e a noite a vasilha de água era reabastecida, e uma nova muda de roupas era posta para mim no armário. Não conseguia ouvir ninguém e até duvidei da minha sanidade por algum tempo, mas resolvi não pensar a respeito, comecei a fazer exercícios físicos para passar o tempo e não surtar, e ao longo dos dias consegui fazer uma sequência de mil abdominais
Até que uma noite eu acordei e tinha um caderno aberto e um lápis em cima, e numa das páginas estava escrito, despeça se de sua família pois logo você irá morrer.
Escrevo essas palavras, dizendo que eu amo a todos vocês, e de onde eu estiver, estarei com seus rostos em meu pensamento.


Dia 1 .




Tudo parece meio insano, mas eu ainda estou vivo, as portas da prisão se abriram e não encontrei ninguém ali dentro.
Caminhei pelos corredores do bunker e tudo parecia deserto, as luzes se apagavam conforme eu ia avançando, junto a porta principal que estava aberta, encontrei minha arma, carregada e limpa e uma mochila, contendo uma jaqueta e um pequeno suprimento de ração de água.
Eu rapidamente peguei aqueles itens e sai dali o mais rápido possível, quando eu estava há uns vinte passos, ousei olhar para trás e nada mais existia além da areia do deserto.
Caminhei por várias horas, duvidando de minha sanidade, segui margeando as ruínas de um antigo templo, até chegar a uma vila saqueada pelos homens do estado islâmico.
Estava anoitecendo e eu tive de entrar, por que no deserto a noite é comum tempestades de areia que podem mudar todo o relevo e engolir espaços inteiros.
O local estava cheio de corpos, moscas pareciam dominar os poucos prédios ainda em pé, não consegui ver o motivo para isso até o dia seguinte.
Me deitei em um dos poucos prédios e ali passei a noite, exausto. Só no dia seguinte me dei conta que ali haviam corpos de combatentes do ISIS que haviam sido fatiados, e tudo parecia ser bem recente, visto que os corpos ainda não estavam em estado avançado de decomposição, era possível ver que em vários corpos haviam cortes precisos, como se a carne tivesse sido dilacerada por um instrumento cirúrgico.
E nenhuma munição tinha sido disparada, qualquer fosse o inimigo que os atacou o fez com tal precisão que não deu a menor chance para defesa.
Fiquei impressionado, mas não tive muito tempo para pensar, a fome começava a pressionar e toda minha mente estava a procura de comida.
Comecei a vasculhar os depósitos do que me pareceu ser o arsenal daquele grupo, quando escutei ao longe um barulho de carros se aproximando, logo estava cercado por tropas do exército iraquiano a caminho da embaixada americana.
De algum modo eu tinha atravessado a fronteira entre a Síria e o Iraque e havia chegado até o sítio arqueológico de Palmira, onde os extremistas mantinham uma base avançada de onde partiam para atacar Mossul e outras cidades no Iraque.
No caminho o comandante da tropa, me perguntou quem eu era e como havia parado ali, me identifiquei como sendo médico a serviço da cruz vermelha que havia sido sequestrado próximo a Damasco dias atrás.
Ele me olhou meio desconfiado e só então perguntou:
_ O que aconteceu duas noites atrás naquele lugar? Uma grande luz foi avistada quilômetros dali, e agora que fomos até lá vemos tudo destruído e só você escapou vivo, pode me explicar como isso é possível?
_ Não sei dizer eu estava preso num local afastado dali e fui caminhando até ali com alguma dificuldade, cheguei na noite passada portanto não tenho como saber do fato.
A minha resposta não deixou satisfeito ao militar, mas ele apenas se calou, pude reparar no entanto que a todo momento não perdia nenhum dos meus movimentos de vista nem me deixava sem escolta.
Cheguei em Bagdá seis horas após e logo fui levado para a prisão, me derão água e comida e me puseram numa cela minúscula, pelo menos não me tiraram a mochila, onde surpreendentemente estavam o caderno e o lápis com minha carta de despedida e rapidamente comecei a escrever tudo que havia me acontecido em poucas palavras, na esperança de ainda estar lúcido.


Dia 3


A embaixada americana foi avisada no dia seguinte e logo enviou um advogado que conseguiu me tirar da cadeia, logo fui levado ao prédio da embaixada e para minha surpresa, um dos chefes do estado maior, o General Charles Mac Taylor estava a minha espera.
Todos os agentes tinham um implante em seus corpos e quando eu sumi do radar eles ligaram o meu e o sinal passou a responder de outro planeta, mas após quatro meses eu voltei a emitir sinal da Terra e me tornei prioridade número de todas as agências dos EUA.
Só que naquele momento eu não sabia de nada disso, não sabia que eles tinham implantado uma bactéria nanotecnológica na minha cabeça que não iria apagar meu eu como também destruir toda a vida na cidade de Damasco caso os russos conseguissem vencer a guerra civil ao lado do governo Sírio.
Eu era o plano final e logo entenderia o por que da minha estranha importância, quando após uma entrevista acabei indo parar num interrogatório, onde fui afogado, espancado, eletrocutado, para saber a quem eu havia passado informações, e não adiantou muito dizer a verdade, eles não acreditaram em mim.
E só piorou quando a bactéria dias depois foi encontrada nos EUA, no sul da Califórnia iniciando um princípio de epidemia que logo se alastraria por toda costa sul, atravessando rapidamente as fronteiras e indo para o México e dali para o mundo todo, fui julgado por alta traição e levado para uma penitenciária militar de segurança máxima, não sei onde estão meus papéis e escrevo esse relato com papel de pão e um pedaço de carvão que tem na minha cela, estou na solitária, completamente isolado, toda semana aparece um soldado mandando eu contar e oferecendo a liberdade total.
Numa noite, fui tirado da cela por dois guardas e tive a real situação do mundo, o globo todo estava infectado, o vírus que estava em mim estava alterando toda a estrutura molecular da Terra, as pessoas estavam se transformando, alguns perdiam estatura, outros ganhavam força e resistência, alguns passavam a ter características reptilianas, o mundo inteiro mudou, nada mais é como antes, o vírus que estava em mim de algum modo foi retirado enquanto eu estava naquele bunker no meio do deserto, eu fui salvo da morte na mão dos jihadistas por alguém com poder e força para partir ao meio corpos, eu fui abduzido! Para outra dimensão.
Lembro que quando me levaram até a presença do presidente e tudo isso me foi contado, senti como se minha cabeça fosse explodir a qualquer momento. Sentia cada ponto no meu corpo pulsar em uma nova forma diferente e alguns instantes depois eu estava brilhando, a luz que meu corpo passou a emanar queimou minhas roupas e incinerou os corpos ao meu redor.
As correntes e algemas que me prendiam simplesmente derreteram, minha pele estava emitindo ondas de radiação tão fortes que eu tinha me tornado capaz de derreter uma parede com um só toque, nada fazia muito sentido na minha cabeça.
No mesmo instante um alarme soou em Houston no Texas, várias naves foram vistas a caminho do planeta terra, ao que tudo indicava nosso maior temor que por anos povoou a ficção científica estava prestes a acontecer: Uma invasão alien estava a caminho.




Os aliens chegaram em Melbourne na Austrália pouco tempo após o caso da prisão, o colapso de todo o sistema de governos caíram e todo o mundo se tornou uma perfeita anarquia.
O poder das corporações em alguns locais foi o mais próximo de uma ordem, Londres foi a primeira cidade a reviver, não mais como uma monarquia parlamentar, mas como uma corporação fluindo na defesa dos interesses daqueles que detinham o poder econômico.
A Austrália estava completamente incomunicável, nenhum relato foi transmitido do que estava acontecendo no novíssimo continente.
Mas ninguém se importava, por que todos tinham problemas maiores, os poucos humanos normais que ainda resistiam e tinham acesso as redes sociais postavam relatos absurdos de verdadeiras guerras civis dentro de cada cidade.
Alguns dos maiores chefes de estado e até mesmo o sumo Pontífice tinham problemas constantes com o gás que foi liberado e alterou toda a estrutura dos seres humanos.
Relatos de criaturas lendárias como dragões acordando no meio de florestas perdidas no Sul da América se tornaram comuns e a área ao redor das pirâmides começou a emitir estranhos brilhos, como se tivessem começado a pulsar em uma frequência que aumentava a cada minuto.
O medo e o pânico se espalharam quando vulcões começaram a explodir e o planeta, começou a esfacelar e o clima enlouqueceu, todo o sistema natural alterou se rapidamente, a vida do homo sapiens se tornou impossível e somente os híbridos passaram a sobreviver.
Uma nova era tinha começado e sobre os escombros da sociedade humana novas histórias iriam começar, para o bem ou para o mal um novo mundo tinha sido criado.



terça-feira, 13 de setembro de 2016

Agência de investigações insanidade.

Fui sugado pelo portal e acabei parando em um mundo insano, onde céu e terra não são tão estáticos como no mundo normal.
O pouco que sei do local onde estou é que se chama Sonhar, e detém os sonhos de cada pessoa no mundo, coelhos, pesadelos, serpentes... Tudo aqui é bizarro.
Cai do teto de uma pequena casinha, e ao cair bati forte com a cabeça, quando recobrei a consciência eu estava rodeado de animais e um gato e um coelho vestindo roupas de nobres discutiam a meu respeito:
_ Ele parece ser um humano, tirando o fato que não tem peitos.
_ Será que todo humano tem peitos realmente ou alguns nascem aleijados?
_ Não sei, para mim humanos são tão estranhos quanto as batatas do norte, com aquela língua louca.
Logo que eu acordei ainda com a visão embaçada pelo tombo, perguntei aonde estava e logo começou uma grande confusão.
Todos os animais que me rodeavam além do gato e do coelho começaram a falar cada um mais alto que o outro, até que gerou uma discussão acalorada sobre onde estávamos e logo começaram a trocar socos e todo o lugar quase veio abaixo.
Eu estava atônito vendo animais falantes, minha mente se agitava em milhares de dúvidas tudo estava confuso e confesso que não sei como fui arrastado dali pelo gato.
_ Olha não sei quem você é, mas deveria saber que não se usa perguntas para se responder dúvidas, causam muitos problemas.
_ Na dúvida pergunte para os seus bigodes, disse ele apontando para o meu rosto e desaparecendo como se não tivesse existido.
Caminhei por uma estrada feita de um metal alaranjado que parecia gemer conforme eu pisava em cima das placas, gemidos inaudíveis.
Andei por horas a fio e quando estava cansado e fatigado me sentei no chão e no mesmo momento senti algo mordendo minhas nádegas, a placa onde meu pé estava tinha uma boca e arrancou um pedaço pequeno de minha calça, deixando um pedaço de minha cueca a mostra, sai correndo e no mesmo instante começaram a surgir árvores e uma pequena vila apareceu do nada.
_ Seja bem vindo grande idiota que não procurou estar aqui, mas acabou chegando.
_ Cuidado com os macacos e não alimente os pensamentos.
Na mesma hora ele ficou confuso e tudo começou a desvanecer, se tornando um cenário desértico e escaldante.
Quando uma voz apareceu atrás dele:
_ Eu estou atrasado para ir ao palácio.
Ele olhou, a procura de onde vinha aquela voz, quando olhou aos seus pés um pequeno coelho que pensava ser ele uma árvore.
Quando ele se abaixou para conversar com o pequeno animal, este deu um pulo para trás e lhe pediu muito educadamente:
_ Senhor gigante, pode por favor acreditar na cidade para que ela possa voltar a aparecer aqui? O calor faz mal para meus pés e preciso comprar amoras verdes para a rainha cozinhar um conselheiro que falou mal dela.
Precisei de alguns instantes para entender o que ele dizia, mas resolvi seguir o jogo, tinha muitas dúvidas acerca da minha sanidade, mas precisava encontrar Mordecai para obter respostas:
_ Eu penso na cidade se você me falar onde posso encontrar Mordecai!
O coelho pareceu engolir em seco, e como viu que eu falava sério, respondeu apenas que poderia me levar a quem sabe.
Comecei a pensar na cidade de maneira séria e logo ela reapareceu e conforme eu me esforçava para acreditar mais forte em tudo o que ali estava, mais as formas pareciam se tornar mais reais.
O local desértico virou uma feira livre, onde chuchus suicidas  se ofereciam para serem comidos pelas pessoas que passavam em frente a banca.
O coelho ia caminhando rapidamente em meio a toda sorte de criaturas que pareciam ter saído da imaginação de alguém alucinado.
Tudo fazia barulhos e num determinado ponto, o coelho parou e apontou uma velha loja escura, com o letreiro descascado e vários buracos de tiro, ainda era possível ler o nome do lugar, dizia: Agência de investigações insanidade.
Caminhei devagar para o rumo indicado, quando escutei uma voz que parecia sair de dentro da minha mente, uma pergunta que tomou conta dos meus pensamentos:
_ Você procura Mordecai, mas será que quer realmente vê - lo? Pense bem, nem tudo que sobe permanece no alto.

domingo, 11 de setembro de 2016

Quem é Mordecai?

Duas palavras foi tudo o que seu pai disse enquanto agonizava em um quarto de hospital: 
_ Procure Mordecai. 
Sua mãe não soube lhe explicar o que aquelas palavras representavam, e ele não pensou muito nisso até que começou a perceber que estava sendo seguido por animais e pessoas e que quando olhava muito para elas, pareciam sumir como ilusões.
A princípio pensou que estivesse ficando louco, mas quando sua mãe começou a lhe falar sobre o mesmo fato, ficou preocupado, seu pai sempre teve um vácuo sobre seu passado que nunca foi revelado. 
O primeiro fato que sua mãe sabia dele era o momento que se conheceram, nunca viu ninguém dá família dele, nem mesmo um tio distante, ele reiterava a todo momento que era orfão e como esse assunto parecia mexer muito com ele, com o tempo todos na casa perderam a curiosidade.
Mas com os estranhos acontecimentos que vinham ocorrendo passou a ser importante tentar entender o passado dele.
Havia no porão da casa uma série de bagunças deixadas ali ao longo do tempo, era um grande depósito histórico e um dos lugares onde ele passava a maior parte do tempo, o filho desceu até ali e começou a procurar em meio aquela balbúrdia alguma pista do nome Mordecai, o enterro já tinha acontecido há quatro semanas e começava a temer por si e por sua mãe.
No meio de toda aquela série de objetos bagunçados e ferramentas jogadas, ele encontrou uma caixa de madeira, e com alguns golpes usando um alicate conseguiu abri - la e lá dentro havia somente um espelho e um antigo diário.
Ele tirou os dois objetos de dentro da caixa e os levou para cima, sua mãe tinha saído e ele não tinha aulas na faculdade aquele dia.
Deixou o espelho em sua cama e começou a passar as páginas do livro, no entanto todas estavam em branco, ele estranhou aquilo, e nervoso jogou o livro contra a cama e só então percebeu que o pequeno espelho tinha virado um enorme portal que brilhava convidativamente.
Ele caminhou para ali sem entender nada, sua mente parecia hipnotizada, até o momento que tocou na superfície do portal e o frio que ela emitia o fez gritar de dor.
Seu grito foi tão alto que assustou a vizinha da casa ao lado que chamou a polícia pensando se tratar de bandidos, mas os policiais chegaram junto com a mãe do rapaz que se desesperou ao saber do grito de seu filho e subiu para o quarto do rapaz onde viu o livro jogado num canto e o espelho em cima da cama.
Sabendo que naquela obra havia algo de valor ela começou a folhear suas páginas e ali encontrou duas frases escritas:
Mordecai foi avisado e O herdeiro está vindo.
A senhora se desesperou, tentou gritar e por fim acabou tendo um infarto, morreu a caminho do hospital sem nem imaginar os perigos que seu filho iria passar numa terra completamente nova: O país das maravilhas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Humanos in machina



Num determinado momento da história os seres humanos criaram máquinas, e a partir de então passaram a se prostrar perante aquilo que criaram.
O doutor Matsubasa, um renomado engenheiro mecatrônico japonês fez máquinas com inteligência artificial, baseadas nos mais avançados progressos na ciência.
Desde então ele passou a ser caçado por todos aqueles que começaram a ver em suas criações uma substituição da ordem natural, sua vida foi ameaçada diversas vezes e ele só saía com o apoio do serviço secreto do Japão.
Em visita a fábrica na América do Sul dos seus robôs, ele fez um grande discurso para os funcionários da fábrica e ao final, quando se preparava para descer do palco arrumado, foi atingido com um tiro e morreu na hora.
A bala varou a cabeça e saiu do outro lado, parando poucos centímetros de um dos membros da equipe de segurança, ficando cravada em uma cadeira.
A polícia foi acionada, todos os jornais do mundo assim que souberam do caso mandaram repórteres, o local foi isolado e uma equipe especial da policia federal foi posta no comando do caso.
A bala feita com uma fibra plástica, após poucos minutos começou a se fragmentar, os peritos não puderam sequer descobrir o calibre do rifle de onde o projétil foi disparado.
Muitas imagens mostraram o assassino em vários momentos até o tiro, as câmeras de segurança de um estacionamento próximo, mostraram por vários ângulos a face do criminoso.
Poucas horas depois o suspeito foi identificado pela perícia, seu nome era Misashi Noai, um membro da yakuza, procurado em diversos países, um assassino profissional que carregava uma extensa ficha criminal, com mais de cem mortes.
Todas as medidas possíveis foram feitas para tentar chegar ao assassino, logo o dono de um hotel o identificou como sendo um dos clientes que pagou em dólar dias antes do crime ser ocorrido.
A imprensa ao invés de apoiar as investigações, fez os policiais gastaram tempo seguindo uma série de pistas falsas e trouxe a tona uma série de vários boatos, na tentativa de ligar os fatos por trás da morte do polêmico cientista.
Misashi foi encontrado numa praia afastada da cidade de Santos, o corpo coberto de uma espécie de óleo viscoso. Um relógio foi encontrado ao lado do corpo, marcava meia noite.
Um rapaz ligou para o telefone da polícia e deu toda a localização, a voz na gravação parecia assustada e não tiveram como rastreá – lo.
A importância do caso na imprensa foi caindo pouco a pouco, até que semanas depois houve o lançamento da linha de robôs do doutor Matsubasa, o filho do renomado cientista resolveu seguir com o projeto e logo várias cidades estavam lotadas de máquinas realizando várias funções.
Num comunicado a imprensa, o novo dono da mega corporação Ushikawa, avisou que mesmo com a morte do fundador iria continuar com o legado.
No entanto quando a primeira leva de robôs chegou ao Brasil, começaram a desaparecer todos os envolvidos no caso do assassinato.
Todos eram levados para um antigo galpão desativado, a polícia começou a investigar os desaparecimentos mas não encontrou nenhuma pista.
Quando todos os envolvidos estavam reunidos, os prisioneiros foram libertados de suas celas e conduzidos até uma grande sala, várias armas colocadas em cima de uma mesa.
As luzes se acenderam e eles viram um relógio em contagem regressiva no painel. Os policiais pegaram as armas e tentaram atirar nos trincos das portas, mas estes não cederam e um aviso piscou na tela.
As portas só vão se abrir quando tiver somente um vivo, caso resolvam não se matar os explosivos plantados na base do prédio, um dos policiais começou a atirar nos demais, começou um tiroteio, as testemunhas choravam, enquanto outros tentavam se esconder dos projéteis que voavam por todos os lados.
Por fim somente um sobreviveu e no mesmo instante uma contagem regressiva começou a aparecer na tela e antes que ele pudesse deixar as instalações do prédio acabou sendo implodido junto com as demais vítimas.
Não foram encontrados materiais suficientes pela polícia para fazer a identificação.
Enquanto isso na tela de um computador o filho do doutor Matsubasa assistia as cenas finais daquelas pessoas sorrindo, enfim tinha vingado seu pai, matado a todos os envolvidos que por ação ou omissão tinham permitido que o mal ocorresse a ele e agora estava livre em seu plano para dominar todo mundo, um plano de tornar seres humanos em máquinas controladas!

domingo, 28 de agosto de 2016

Espíritos sugados.




Passeando pelas ruas novamente vi vários jovens usando seus celulares próximos ao rosto. Na tela apareciam pequenos monstrinhos.
A mente deles saía da realidade e todos pareciam felizes e contentes, enquanto isso o programa sugava a energia dos seus usuários.
Os antigos tinham um ditado, os olhos são as janelas da alma, aquilo que vemos enche nosso espírito e molda nossas realidades.
Aquilo que prende sua atenção prende seu corpo, sua mente e seu espírito.
Caminhava pelas ruas olhando o movimento dos carros, a cidade pulsava tanto materialmente quanto espiritualmente e os celulares daqueles jovens estavam sugando os.
Crianças em um parque já estavam quase secas espiritualmente, de tanto olhar para a tela do celular, enquanto seus pais estavam felizes e satisfeitos de as verem quietas e caladas, como seria se soubessem que seus filhos e até eles próprios viraram gado?
Eu não iria me intrometer, eles escolheram viver com as máquinas, escolheram serem escravos de mundos virtuais, que arcassem com sua própria ignorância.
Diversas ordens de magia, poderiam estar por trás desse aplicativo que virou febre mundial, nenhuma delas usaria a energia dos jogadores para algo positivo.
Possivelmente um grande pacto com demônios pudesse estar sendo feito, nas escondidas, mas se eu dissesse isso para alguém seria tratado como maluco.
Os humanos comuns, estão perdendo sua essência, vivem pelas máquinas, são escravos delas há muito tempo. Muitos até duvidam da existência do mundo espiritual, tão cheios de si que ousam afirmar que só há um mundo, aquele que podem tocar.
Criaram sobre seus olhos uma venda que os impede de ver a verdade. Foi no fim da idade média, a renascença fez o homem ficar arrogante, fez todos se sentirem o centro do mundo, ousou criar uma filosofia cujo centro era o próprio homem, o barro chamando a si mesmo de deus.
E de lá para cá tudo piorou, a mente da maioria é fechada até para a própria vida, vivem no automático, sem sonhos, sem imaginação. São apenas máquinas com um coração que pulsa friamente.
E daí que as crianças vão perder seu espírito? E daí se vão ser apenas escravos de novas ordens mundiais? Eles escolheram isso, e eu sigo apenas meu caminho, vivendo em paz na selva de pedra.

sábado, 27 de agosto de 2016

Besouro no chão.



Aquele era um caso estranho, um corpo foi encontrado no meio de um prédio abandonado, os peritos chegaram e nada foi encontrado, nem mesmo um vestígio, uma pegada, uma simples digital.
O corpo não disse muito também, não tinha marcas, ferimentos nem mesmo havia drogas nas veias. Nada foi encontrado nos bolsos, a roupa estava intacta. Era como se ela fosse uma boneca de cera, branca, com cabelos sujos, vestida com uma túnica branca quase transparente, mostrando a forma do corpo torneado e forte da policial.
Parecia que ela tinha sido colocada ali, o prédio estava abandonado e repleto de sujeira, os mendigos que ali habitavam esporadicamente não disseram nada. No entanto nenhum deles podia ser acusado de nada e logo foram liberados para voltar as suas vidas miseráveis.
O único detalhe que a perícia achou foi uma pequena mosca de ouro, que estava presa por um alfinete no vão do elevador desativado.
A identificação da moça, mostrou que ela era parte das forças de segurança do primeiro Ministro Israelense, uma soldado treinada e que estava no Brasil como parte da comitiva que veio para protege – lo durante as olimpíadas e que desapareceu dois dias antes do fim dos jogos enquanto estava em um treinamento junto as tropas de segurança do Brasil.
Várias pessoas foram chamadas para depor, seus testemunhos eram desencontrados e não trouxeram grandes progressos, o único ponto em comum era que todos se lembravam de ter deixado a em frente ao hotel em que estavam hospedadas as forças de segurança de Israel.
Os funcionários falaram pouco acerca da chegada da policial, nas câmeras ficou provado que ela realmente entrou no horário que os policiais tinham relatado.
Um detalhe no entanto chamou a atenção do investigador Cléber, responsável pelo caso, as câmeras mostravam ela entrando, no entanto a porta do quarto dela, que se abria somente com um cartão de acesso ainda estava trancada.
Os funcionários abriram a porta com uma chave extra e ali dentro tudo estava revirado, manchas de sangue estavam por todos os lados e uma mensagem escrita num espelho do banheiro mostrava um símbolo antigo.
O investigador saiu do hotel e chegou em sua casa, logo começou a procurar na internet dados a respeito e só achou em um site de teoria da conspiração sobre uma antiga seita: Os adoradores do escaravelho, uma seita muito antiga que tinha várias ramificações ao longo do Oriente médio, recentemente um de seus locais de culto foi estourado em Israel após a morte de um garoto sequestrado e aniquilado em um ritual místico, a policial responsável era justamente a que foi morta no Rio de Janeiro, que havia levado a prisão um poderoso político do país, envolvido com o grupo e com o assassinato.
O simbolo da seita era igual ao encontrado no vão do elevador, Um símbolo que parecia levar ao assassino.





O corpo sumiu.

Logo pela manhã, o investigador recebeu uma ligação da central, o corpo da policial tinha sido roubado do IML, cinco peritos e um segurança foram encontrados mortos, o centro de necropsia tinha sido atacado a noite por homens fortemente armados.
_Tudo agora se complica, ele pensou após receber as informações da central.
_ Agora não tenho mais corpo, só esse broche e nada mais.
Saiu pela porta de sua casa, e quando começou a dirigir percebeu que estava sendo seguido, acelerou em meio a trânsito do Rio de Janeiro e se evadiu dos seus perseguidores retornando no meio de um túnel em alta velocidade.
Os seus perseguidores logo estariam novamente no seu rastro, abandonou o carro assim que chegou num ponto de ônibus, levou somente uma pequena pochete onde tinha os documentos do carro e o broche, sua arma e a carteira com documentos e dinheiro.
_ Se conseguiram entrar até no IML, que é perto da central, eu iria ser um alvo rápido, seria apenas mais um policial morto serviria apenas para divertir diálogos de esquerdistas maldosos.
A rota do ônibus seguiu, e antes que chegasse na última estação, uma mulher fez sinal e o motorista parou.
Ela deu alguns passos e atirou na cabeça do motorista, no mesmo instante, apertou um botão que estava em uma das mãos e o veículo foi pelos ares no mesmo instante.
Cléber e os demais passageiros acabaram incinerados. As investigações, vasculharam em meio dos escombros e encontraram dentro de um pedaço da pochete, o estranho broche, mas não tiveram a perspicácia de procurar na internet a procura dos dados sobre a origem do objeto.
A seita tinha recrutado anos atrás a jovem que tinha cometido aquele atentado em um sanatório e a guardavam sendo drogada em um quarto fechado, esperando para usa – la a fim de resolver algum problema.
O grão mestre olhou o caso nos jornais e deu um riso, resolveu todo o problema que os assassinos da ordem tinham causado por vingança.
Logo tudo aquilo estaria esquecido e os mortos seriam apenas um número na estatística e um discurso na boca dos hipócritas.
Outra pessoa pegou o jornal de uma lixeira e viu a notícia da morte do policial, olhou para o céu e declamou em alta voz:
_ Deus, poderoso pai do universo, leve para seu seio todos os idealistas, todos os tolos que buscam melhorar o mundo, eles são nobres demais para essa existência medíocre.
A cena poética daquele homem maltrapilho, chamou a atenção de alguns que passavam pela movimentada avenida. Mas logo a rotina os consumiu e eles voltaram a ser cegos a realidade dos desfavorecidos.
Enquanto isso aquele homem, caminhava alheio ao tempo e as pessoas, vagava meditando sobre a vida, apreciando a paisagem, pulava longas alturas e já tinha ajudado muitas senhoras assaltadas por bandidos.
A sabedoria e a paz que ele transmitia eram paradoxalmente opostas a sua própria condição maltrapilha, mas somente aqueles que viram a verdade podem se permitir não ser presos pela imagem dos outros.

domingo, 21 de agosto de 2016

A vibrante cor do sangue

Era uma noite calma na cidade de Paris, Maria passeava pelos ruas apagadas da cidade luz.
Todos tinham ido dormir tarde após a comemoração do ano novo, ela no entanto estava voltando da faculdade e caminhava pensando em todos os projetos que estariam por vir.
Sonhava com uma bolsa de estudo e sua pesquisa no laboratório poderia ajuda - a ir mais longe, talvez um mestrado no Brasil pesquisando o Zika ou na África trabalhando com o Ébola.
Caminhava calmamente do campus da faculdade até sua casa, estava tão focada em seu trabalho que nem se deu conta que olhos na escuridão a seguiam bem de perto.
Estava frio aquela noite, ela chegou a estação de trem alguns minutos depois do fechamento do último trem.
Agora teria de ir a pé para casa, antes que terminasse esse pensamento começou a sentir um frio na espinha, uma sensação de medo se apoderou dela totalmente, começou a olhar ao redor até que viu ao longe um rapaz, pálido e de olhos vermelhos, ele parecia estar meio escondido na penumbra da noite.
Ela começou a andar rápido, mas antes que desse poucos passos viu novamente os mesmos olhos ameaçadores, girou o pescoço ao redor e antes que pudesse perceber estava cercada, um grupo de vampiros se divertia com ela antes de mata - la.
A mente deles sentia o calor do corpo dela, ouvia o bater do seu coração com uma mistura de desejo e fome.
Arnand, Marak e Shabul, eram vampiros árabes que tinham sido atacados antes de virem para a Europa.
Se infiltraram no meio de uma carga do museu de história natural que foi resgatar peças romanas em Palmira antes da cidade ser destruída, e quando o avião dos pesquisadores pousou em Paris para um reabastecimento saíram e começaram a saciar seus instintos.
A jovem era sua quinta vítima, gostavam de atacar moças, brancas e bonitas.
Desapareciam com o corpo antes que alguém pudesse aparecer.
Durante o dia viviam nos esgotos e passaram a se unir como uma matilha.
Os três atacavam a vítima até satisfazerem sua vontade. Mas Maria não iria ser uma vítima.
Ainda na infância a jovem ganhou um pequeno amuleto da avó, uma pedra chamada de a cor do sangue, era um talismã cigano que protegia das criaturas da noite.
Maria não acreditava nessas bobagens, mas ainda sim para não desagradar a avó sempre o usava por baixo da blusa. E foi esse o motivo que impediu ela de acabar sendo somente um cadáver a mais boiando pelo Sena.
Os vampiros resolveram brincar, queriam saciar seus desejos sexuais e antes de morderem ela, rasgaram sua roupa, despindo a em poucos golpes enquanto ela tentava gritar, mas sua voz parecia estar travada no fundo da garganta.
No instante em que se preparavam para violenta - la um deles passou de leve a mão na pedra que ela carregava no pescoço e no mesmo instante começou a queimar.
A jóia começou a emitir uma luz sagrada, como se fosse um pequeno social, irradiando tudo ao redor com uma luz avermelhada.
No mesmo instante os três vampiros começaram a desaparecer, foram pouco a pouco ficando transparentes até que sumiram, deixando somente suas roupas ali.
Depois que eles desapareceram um guarda ouviu os berros da moça, que em estado de choque se agarrava a jóia em seu pescoço, como se ela fosse lhe proteger de um grande mal.
O caso virou manchete dos jornais, a jovem foi tratada como louca, mas daquele dia em diante, voltou se a suas raízes, o mundo da ciência perdeu uma bacteriologista inteligente e a humanidade ganhou uma poderosa conjuradora de magia, uma estudiosa dos segredos arcanos contra os vampiros.
Maria, também como Slayer, despertou naquela noite, onde por pouco ela não acabou se tornando parte da alimentação de um grupo vampírico.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Kundi: Uma busca.

Duelos entre samurais eram sempre uma grande atração, mas aquele prometia ser uma grande disputa de um lado o poderoso Agamoto, o rei das duas espadas, guerreiro valente e dono de uma personalidade irascível.
Do outro lado estava um shaolin, chamado Kundi que o desafiou após ver ele acertar uma jovem que estava em seu caminho com um chute.
A briga para todos seria um massacre e o pequeno monge seria fatiado e colocado nos muros da cidade.
Mas o experiente samurai não conseguia acertar nenhum golpe, sua lâmina sibilava no ar como uma serpente procurando o corpo do jovem, mas este parecia saber o exato momento de desviar.
Assim foram avançando as horas, até que o guerreiro parou de atacar e começou a ficar ofegante, manter se ágil por tanto tempo tinha exigido muito do seu corpo e seus braços estavam em chamas, somente sua raiva parecia estar ainda forte, enquanto cada músculo parecia gritar para que parasse.
Nesse instante ele parou, abaixou as lâminas e procurou respirar e antes que pudesse perceber seu oponente lhe acertou um soco no pescoço, foi possível ouvir o barulho do osso se quebrando e da boca de Ogamoto no mesmo instante começou a jorrar sangue, seu corpo tombou para trás e ele caiu sem vida, para espanto da plateia que tinha se juntado e azar dos que haviam apostado na morte do pequeno monge.

Para se destruir o grande dragão é necessário saber o momento certo de atacar.

Esse conto se inicia num pequeno monte, O mestre de um mosteiro Shaolin estava meditando em busca de paz, quando ouviu ao longe o barulho de uma criança chorando no rio.
O menino vinha enrolado numa pequena barcaça de bambu, reta e forrada com um pedaço de seda.
Ele viu ele de onde estava e reparou que dois ursos vinham seguindo o berço, dispostos a matar a pequena criança.
Rapidamente o mestre se levantou e conseguiu tirar o cesto da água com a ajuda de seu cajado, no mesmo instante os ursos chegaram dispostos a comer a criança, mas antes que pudessem atacar foram acertados por dois golpes do mestre que destruiu todo o focinho, quebrando de uma vez todos os dentes das duas feras.
O mestre pegou a criança do cesto e deu a ele o nome Kundi que no idioma antigo significa a “serpente do rio da vida”.
Kundi foi cuidado pelos monges e se tornou uma espécie de aprendiz das artes. Os shaolin buscavam aprimorar o corpo e a mente, na busca de se unir ao uno, assim sendo a rotina de meditações, estudos e trabalhos corporais desde cedo passou a fazer parte do garoto.
De fato ele nunca foi bom em lutar, não tinha interesse em atacar ninguém, mesmo quando ordenado, exceto quando combatia em prol dos outros.
Sua filosofia pessoal era muito centrada em si mesmo. Não costumava ser desobediente, mas fazia tudo do seu jeito. Até que ao entardecer de mais um dia, o mestre se iluminou e antes de partir disse uma profecia para cada um dos seus discípulos.
Para alguns foi profetizado prosperidade, outros força e que outros teriam vida longa e próspera. Quando chegou a vez de Kundi no entanto a profecia foi vazia:
“A sua jornada é para fora e para dentro, você vai se tornar mestre e um dos seus discípulos irá causar grande destruição”.
Os taoístas controlam a mente e o corpo de tal modo que conseguem viver muitos anos sem aparentar sua verdadeira idade. Sua dieta e exercícios os tornam bastante longevos, ele continuou por muito tempo com uma aparência jovem.
Seu corpo parecia estar harmonizado ao local e a noite era difícil para muitos diferencia - lo da paisagem.
Tudo ainda corria em paz, mas a guerra chegou, o exército do norte devastou o monte onde estava o templo e Kundi só escapou de ser morto, por que se escondeu na sala secreta, protegendo escritos antigos contendo sabedoria de milênios atrás.
Ele não soube o que aconteceu com seus amigos que ali estavam, mas depois de dois dias dentro daquelas paredes precisava sair.
Andou com dificuldade devido a noite estar bastante avançada, carregava com cuidado todos os tesouros. Os guardas já tinham partido e ao longe era possível ouvir gritos de uma pequena aldeia bem próxima, o exército por onde passava era famoso por causar massacres e aquela pequena vila iria compensar a fúria daqueles assassinos, uma vez que o imperador havia exigido que nenhum dos monges fosse morto, apenas carregados em um comboio até a capital.
A idade do imperador já estava avançada e alguns sábios disseram a ele que naquele velho mosteiro estava escondido o antigo tomo da sabedoria que continha a fórmula da vida eterna e logo esse conhecimento se tornou o objetivo de vida do monarca.
Logo as tropas foram enviadas e causaram um verdadeiro massacre até ali chegarem, o exército em marcha era visto pelos camponeses como um grupo enorme de gafanhotos vindos do céu. Eram mais temidos no interior do país do que a mais cruel das maldições impostas pelos magos que viajavam por todo o reino.

Kundi agora via o mundo novo a sua frente, as ruínas do mosteiro todo revirado lhe impulsionaram a andar.
Pegou uma pequena bolsa disposto a proteger os pergaminhos e saiu dali com duas mudas de roupas, sem destino, ele nem se lembrou de levar mantimentos. Sua mente estava tentando entender tudo aquilo em um ciclo de perguntas que parecia não ter fim.
Caminhou até a vila, seguindo somente os desígnios do céu e quando lá chegou foi logo percebido pela sentinela que deu o alarme, gritando: Um monge, um monge! Logo alguns soldados que ainda não tinham bebido demais começaram a despertar.
Riram da figura cambaleante do monge que naquele exato instante tinha entrado num estado de meditação tão forte que era conhecido como projeção. Quando os guardas tentaram cerca - lo, ele desviou de seus golpes como se fosse um pensamento, nem mesmo os mestres samurais tinham tanta agilidade.
Ele jogou um dos soldados longe, com apenas a força dos pulsos, a armadura de couro se rachou em pedaços e a caixa torácica implodiu como se tivesse sido atingida por um projeto de catapulta.
A luta foi rápida em poucos segundos o monge estava sozinho e os soldados que tentaram detê - lo foram jogados ao longe, os corpos pareciam terem sido atingidos por pedras.
Com o barulho os demais membros da guarnição apareceram, mas ao verem o que se passava, saíram correndo como se tivessem visto a um dragão.
O acólito shaolin então caiu e foi socorrido por um grupo de homens que tinha se escondido dos soldados e aos verem sair da cidade, apareceram para o salvar.
Kundi estava desmaiado, sua energia vital estava muito baixa, e mesmo assim foi capaz de invocar a fúria, um estado mental, onde a raiva e a vontade da pessoa passam a ser uma só, e assim um indivíduo comum passa a ter poderes sobre humanos...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Magia não é assunto para crianças.



João apesar da pouca idade era fascinado por bruxas, feitiço e toda sorte de brincadeiras que envolvessem o mundo dos mistérios. Sua família bem que tentou dissuadi – lo desse interesse, mas a proibição teve apenas o efeito de aumentar ainda mais o seu interesse pelo assunto.
Quando fez cinco anos ele aprendeu na escola a usar o computador e começou a pesquisar tudo o que podia sobre o tema, logo se tornou um mágico amador bastante competente e começou a ganhar moedas para fazer truques com moedas e bolinhas, mas isso não era o bastante, ele estava realmente interessado em conhecer mais a magia e resolveu fazer algo que todos não aconselhavam: O jogo do copo.
Era um ritual antigo para chamar espíritos que nos dias atuais tinha se convertido numa espécie de brincadeira para jovens intrépidos e estúpidos. No passado esse feitiço era usado como forma de barganhar com seres que já morreram a fim de conseguir algum benefício e já teve efeitos catastróficos, causando vários casos de mortes sem motivo e internações em hospitais psiquiátricos.
Mas essa parte não era descrita na internet, apenas mostravam a parte legal, e assim João resolveu tentar. Preparou toda a cena necessária, colocou os copos em cima de uma mesa, tarde da noite após os pais terem ido dormir.
Começou a invocar diversos nomes místicos até que por fim perguntou se havia algum espírito na mesa e os copos se moveram e passaram por cima das letras correspondentes a palavra sim, colocadas em cima da mesa.
_ Posso conversar com você? O garoto perguntou sem vacilar a voz, mas com o coração quase saltando pela garganta.
_ Sim, mas você vai se arrepender se continuar. O copo se moveu formando a frase.
O garoto ignorou o aviso e perguntou: _ Me diga seu nome?
_ Jack, os copos se moveram e no mesmo instante a vela se apagou. Alguns minutos se passaram e o garoto já estava removendo os itens para não ser pego pelos pais e acabar de castigo, quando começou um grande alvoroço no quarto da pequena Sofia, a irmã mais nova de João que tinha apenas dois anos.
Os pais correram para o quarto do bebê que ficava ao lado e quando lá chegaram encontraram o corpo da filha completamente esquartejado e uma inscrição na parede ao lado dizia:
_ Obrigado João, você me libertou do inferno! Assinado: Jack o Estripador.
A mãe da criança ficou horrorizada, acabou morrendo em estado de coma profundo, os médicos diziam que a cena tinha sido muito traumática e era provável que a mente dela jamais se recuperasse.
O pai nos meses que se seguiram passou a beber e quase nunca ia a casa, dizia ter medo do filho, falava que o garoto tinha feito um pacto com o diabo e entregará a irmã para ter alguma coisa em troca.
A criança quando soube do ocorrido ficou em pânico, o pai ao vê – lo lhe deu um soco e saiu carregando a esposa para o hospital, os vizinhos o insultaram, até mesmo sua avó tinha o chamado de maldito.
 Nada fazia sentido, vez ou outra o pastor amigo da família vinha até a casa, lhe dava alguma comida, orava, e ia embora. Sempre que ele voltava da escola a polícia passava na porta, até que numa noite a voz de um homem o chamou do lado de fora.
_ Venha João é hora de você se tornar o maior mágico que já existiu!
Interessado em aprender ainda mais, ele abriu a porta, no mesmo instante não havia ninguém na rua, apenas um cachorro de olhos vermelhos. O garoto tentou correr e fechar a porta, mas o cão num pulo caiu em cima dele, impedindo o de se mover.
No instante em que a fera lhe paralisou uma voz entrou em sua cabeça e disse é hora de receber o pagamento pela sua invocação garoto! Não tenha medo afinal você me invocou!
E no mesmo instante a pele da pequena criança ia queimando e pela boca dele o cão ia despejando fogo, mas não para o corpo, mas para a alma. Tudo em magia tinha seu preço e aquelas palavras que ele usará para conjurar o copo eram na verdade um pacto demoníaco para dar a alma dele em troca da liberdade de um prisioneiro, dando até a especificação de quem queria que fosse solto, um assassino que tivesse matado a própria mãe, um dos crimes mais nefastos para a alma, que torna o ser que o comete um pária eterno.
A polícia encontrou o corpo do garoto incinerado na porta da casa, o pai foi avisado e logo que se recobrou da bebedeira comprou gasolina em um posto e embebedou todo o lugar, não deixou nada sem ensopar e depois quando estava do lado de fora acendeu um fósforo e jogou dentro da casa, que no mesmo instante se incendiou.

O homem acabou preso, foi para a igreja, e sempre contava essa história para crianças que gostavam de magia. 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Redenção

A dor de um passado perdido


Amélia era uma mulher que ganhava a vida fingindo ser uma cigana. Atendia em um pequeno estabelecimento na cidade de Sumaré em São Paulo.
Tinha trinta anos e já haviam passado por uma série de situações difíceis, seus pais tinham morrido em um acidente de carro, sua avó tinha falecido de um ataque cardíaco e ela morava com um tio, que já estava perto de morrer.
A filha desse senhor era uma pilantra que roubava o próprio pai descaradamente, fazendo com que a aposentadoria dele não durasse quase nada, enquanto ela aproveitava a vida de bar em bar.
A jovem todos os dias seguia para o seu emprego, o disfarce de madame Sorah tinha sido forjado por um amigo que espalhou um boato que ela tinha poderes místicos, e a partir dos primeiros clientes a farsa foi sendo aprimorada.
Até o ponto em que ela tinha três clientes por dia, cobrando quase cem reais de cada uma para falar coisas sem sentido, profecias de cunho duvidoso que sempre deixavam as clientes, mulheres ricas e crédulas, felizes que teriam o amor verdadeiro.
Mas algo tinha dado errado, o esquema tinha sido descoberto e quando ela chegou ao ponto alugado encontrou a polícia com várias viaturas. Pensou em correr, mas ficaria pior acabou passando ao largo e foi detida, quando seu sócio no esquema criminoso lhe denunciou para os policiais, quando ela passava.

Um pesadelo que não acaba


A noite na cadeia foi horrível, os gritos das presas dentro das celas era aterrador. Amélia estava numa cela especial, na triagem e no outro dia iria para o pavilhão 6 das ladras e estelionatárias, enquanto aguardava julgamento.
Naquela noite o sono demorou a chegar, sua mente vagou por vários cenários até cair adormecida. Mas o sono não trouxe a paz que seu corpo precisava, pelo contrário a levou para um pesadelo de horror, onde seu corpo era queimado por demônios insanos.
E quanto mais ela gritava, mais as chamas ardiam, os gritos dela na cela de triagem assustaram as outras presas, tentaram acorda – la, mas não era possível, sua mente estava presa dentro daquele cenário de horror.
As visões a faziam gritar o tempo todo, foi levada para a enfermaria e lhe aplicaram um sedativo forte, mas erraram a dose e ela acabou tendo um acidente vascular cerebral que lhe deixou imóvel da cintura para baixo.
Quando acordou quase um ano depois, não conseguia mover as pernas, tinha uma longa cicatriz próxima à virilha.
Ela tentou gritar, mas sua garganta não conseguia produzir sons altos, estava em um hospital psiquiátrico, com um diagnóstico de colapso mental severo.
Visões de eventos que haviam ocorrido com ela, iam e vinham em sua mente, se lembrava do estupro que havia sofrido no hospital da cadeia, por um enfermeiro, que tinha conseguido com uns amigos no hospital para onde ela tinha sido transferida, que a criança fosse retirada com sete meses e levada.
Ela chorava lágrimas de pura dor, o ar não preenchia os pulmões, quando viu um enfermeiro chegando para lhe aplicar os remédios.
Quando ele chegou, pensou que ela ainda estava dormindo e tentou acariciar seus seios dizendo obscenidades. Mas sem que ele percebesse a mão direita dela foi até o carrinho e pegou um pequeno bisturi que estava ali para pequenas suturas e sem pensar duas vezes acertou ele na virilha.
O homem ficou sem voz, tentava gritar, mas a dor dos testículos lacerados pela pequena lâmina era forte demais.
Ela pulou da cama e foi se arrastando até uma cadeira de rodas. Ia se matar, não aguentava mais viver daquela forma, era como se tivesse entrado num pesadelo que não acabava.
Conseguiu se ajeitar em cima da cadeira de rodas e rapidamente foi andando pelos corredores. Entrou no elevador de serviço e com alguma dificuldade apertou o botão para ir até o terceiro andar.
O hospital psiquiátrico na cidade onde ela estava era um antigo teatro reformado para atender aos pacientes debilitados mentalmente, por um padre Jesuíta de nome Albert de Lacroix desejoso de cuidar daquelas pobres almas desamparadas da sociedade por volta de 1960.
O prédio tinha sofrido diversas reformas, mas ainda mantinha as características do antigo teatro, tendo três andares, com arcadas gregas e teto em abóbada com temas religiosos pintados.
Sua estrutura era toda projetada para dar um ar de aconchego e tranquilidade para quem ali entrasse, mas quando Amélia chegou até o último andar e se viu defronte a antiga sacada de onde os atores no passado chamavam as pessoas na rua para vir assistir a peça, tinha apenas um objetivo: Se matar!

No último instante a salvação aparece.


Para aqueles que não acreditam em milagre talvez essa parte seja deverás exagerada, mas enquanto Amélia dava as últimas passadas para morrer, alguém lá embaixo já esperava por ela, um homem vestido com simplicidade, apenas uma camisa branca longa, e calça jeans simples, com um sapato surrado e um chapéu de palha que parecia destoar de todo o visual dando a aparência de um caipira com algumas posses, tanto que enquanto esperava olhando para os céus, algumas pessoas de mais idade que o viram sentado num banco próximo ao hospital lhe cumprimentavam com o adjetivo: Coronel, algo que ele não entendia, mas as respondia com toda a educação.
_ Vá com Deus, boa senhora!
_ Que Deus lhe abençoe meu bom ancião.
As pessoas estranhavam a forma culta de falar daquele homem, mas todas saiam com a impressão que ele era um bom sujeito e no fim ficaram felizes por terem perdido alguns minutos para cumprimentar ele.
No exato instante que Amélia apareceu a face na frente do hospital, ele fez um gesto com as mãos e no mesmo instante a cadeira que ia caindo levando para a morte aquela jovem mulher foi parando no ar, até cair suavemente no pavimento do hospital pelo lado de fora.
O coração dela batia acelerado, não acreditava que ainda estava viva e não entendia como as pessoas passavam por ela quase encostando as suas pernas e não a viam, como se ela não existisse.
_ Eu morri? Ela perguntou para aquele homem que a carregava até um carro parado duas esquinas abaixo.
_ Você ainda está viva, ganhou uma segunda chance para salvar o mundo e conseguir aquilo que mais deseja.
_ E o que seria isso que eu tanto desejo?
_ Paz. Ele respondeu laconicamente e dos olhos dela começaram a sair lágrimas. Em nenhum momento tentou reagir, estava sem entender tudo aquilo e aceitou passivamente entrar no carro e ir com ele por uma estrada de terra.
Chegaram num sítio na região de Guarulhos, um lugar afastado cercado por colinas com árvores altas e frondosas.
O lugar era afastado e parecia destoar de todo o resto da paisagem, quando o homem que dirigia saiu do carro, lhe pegou no colo e a levou até uma cadeira na entrada, onde havia uma criança brincando em um berço de palha, um menino lindo, moreno de cabelos encaracolados e olhar doce.
Ao ver aquela criança ela ficou feliz e levou a mão para toca – lo. No mesmo instante aquele homem, veio do carro trazendo a cadeira de rodas.
Vejo que já conhece seu filho não é Amélia? Ele disse sem o menor sinal de ironia ou sarcasmo. No mesmo instante ela sentiu uma felicidade tão profunda que não sabia o que explicar, com muito custo conseguiu pegar a criança e quando a teve em seus braços, o leite em seus seios apareceu como que por puro instinto e ela deu seu leite para o pequeno Jasão, nome registrado por uma criminosa que o tinha conseguido do pai da criança a sete meses e desde então vinha tentando negocia – lo com casais em redes de adoção ilegais pela internet.
_ Ainda quer se matar, Amélia? Ele perguntou sorrindo.
_ Não, nunca, jamais quero cometer uma loucura, agora que tenho-o para mim.
_ Que bom, você ganhou uma segunda chance, cuide bem desse menino e não se preocupe em como irá viver, o padre da cidade irá trazer comida e algum dinheiro para você, já está tudo conversado.
E se aproximando dela deixou uma pasta com vários documentos, seu nome agora é Amanda Meirelles, a criança se chamará Frederico, tome os papéis e lembre se de não ir muito longe daqui, existem pessoas que podem te matar para tentar conseguir a criança, que no futuro será um grande cientista que criará a vacina contra uma epidemia lançada daqui a vinte anos.
_ Que Deus te proteja Amanda, aquele estranho homem disse e sumiu como num passe de mágica, deixando o carro e a casa aos cuidados da mulher que daquele dia em diante viveu feliz, isolada em meio as colinas, orando a Deus todos os dias pela graça concedida a ela.
A história dela terminará em um hospital, sessenta anos depois, sendo velada pelo filho, que desde cedo demonstrou aptidão para biologia e um talento nato para tratar com as pessoas.
Conseguiu uma bolsa para estudar na melhor universidade de São Paulo e foi subindo os degraus da academia até se tornar uma autoridade em matéria de infectologia.
Quando no ano de 2018 o surto de Zika Vírus se tornou incontrolável, ele com quase cinquenta anos dedicados a pesquisa de vírus e bactérias foi um dos responsáveis por conseguir mapear o código genético da doença, criando um antídoto capaz de quebrar as moléculas do vírus no corpo humano, permitindo que o sistema de defesa eliminasse a doença ainda nos seus estágios iniciais.
Fred como era conhecido pelos amigos, foi criado com amor e carinho por Amanda, é o fruto de uma segunda chance dada por Deus a ela por meio de um emissário divino, o guardião da linha do tempo: O agente Paradoxo.



domingo, 31 de janeiro de 2016

Mentira mata.

  • Um marido chega em casa, tarde da noite. A esposa o espera, no sofá e assim que entra cobra explicações:
  • _ Armando! Onde você estava até essa hora da noite! Por que seu celular está desligado?
  • Ela para e olha para a mão dele e berra furiosa:
  • _ Onde está sua aliança? Seu canalha andou saindo com aqueles seus amigos para o bordel novamente?
  • Armando faz uma cara de injuriado e diz pegando um papel do bolso:
  • _Aqui o seu bordel e dizendo isso puxou do bolso um papel, e começou a ler, tinha feito um boletim de ocorrência na delegacia do bairro, poucas horas atrás.
  • Segundo o documento ele tinha sido sequestrado, todos seus pertences roubados e ainda fora ameaçado de morte, sendo solto somente depois dos ladrões conseguirem sacar o dinheiro da conta bancária.
  • A esposa tomou o papel das mãos do marido e começou a chorar de remorso, tinha pensado mal dele, tinha acreditado nas suas amigas que viviam dizendo ser ele um imprestável vagabundo.
  • Os dois se abraçaram, ele tomou banho e ela preparou um belo jantar para tentar se desculpar. Ele dizia estar muito triste com a desconfiança da esposa, mesmo após dez anos de casado e que aquilo estava se tornando um ciúme doentio.
  • Disse até que estava começando a se separar. Depois do jantar, ela para tentar se redimir, colocou a melhor lingerie e fez um strip-tease para ele, seguido de sexo.
  • No outro dia ele foi trabalhar feliz, contente. Quando chegou ao trabalho, o telefone tocou, era a amante, uma mulata linda, filha do escrivão da polícia.
  • Ele saiu disfarçadamente e foi para o banheiro, fingiu por todo o caminho que conversava com um cliente, ao chegar lá começou a rir dizendo:
  • _ Ontem você estava demais minha linda, quando meu casamento acabar prometo que iremos fazer aquilo todos os dias.
  • _ Já decidiu quando vai dar um pé naquela velha?
  • _ Você sabe que não é fácil, quero a fazer sair sem nada para termos uma casa só para nós!
  • _ Não precisa disso amor! Meu pai tem uma casa de aluguel e ele pode muito bem nos ajudar.
  • _ Eu não aceitaria isso do meu futuro sogro! O que ele iria pensar de mim? Que sou apenas um interesseiro quero dar um lar para minha princesa.
  • _ Você é tão romântico amor! Beijos mais tarde vêm para cá, prometo que será inesquecível.
  • _ Pode deixar amor, hoje eu vou pedir para meu chefe ligar em casa dizendo que vou trabalhar até mais tarde. Já fiz isso por ele uma vez e agora vou cobrar. Sou louco por você, beijos.
  • Todos no escritório conheciam a fama do Armando, quando souberam que ele iria se casar com a filha de um pastor, a doce Maria, tiveram pena da jovem, o Oliveira da limpeza até chegou a brincar numa roda entre amigos dizendo:
  • _ Essa menina vai ter mais chifre que uma boiada inteira.
  • E assim as horas foram passando, Armando preparou o plano, seu chefe ligou para a esposa dizendo que ele iria trabalhar até mais tarde e que ela não se preocupasse por que se fosse necessário ele até poderia mandar um segurança para levar ele até sua casa, a pobre acreditou em tudo, sem se dar conta que no prédio onde ele trabalhava só tinham dois zeladores e nenhum segurança.
  • A noite foi quente, foi para o cinema com a amante e depois a levou em um motel, ali fizeram sexo em várias posições, e dormiram ali mesmo, só no outro dia ele foi acordar com o celular despertando. Tinha colocado no silencioso, mas ainda sim o despertador funcionava.
  • Pensou no que iria dizer, provavelmente há essa hora sua mulher já estava na firma, e o seu segredo tinha sido descoberto.
  • Estava apreensivo, sua mente pensava em mil possibilidades, tinha medo de apanhar, de ser castrado e até morto, pois o pai de sua esposa era pastor, mas o filho mais velho tinha se desviado da igreja e jurara que se ele algum dia fizesse sua irmã chorar iria sentir dores em lugares que jamais imaginou que existissem.
  • Chegou a casa depois de deixar a amante no serviço dela, notou que o carro da sua esposa não estava, aproveitou a situação para bolar um plano. Foi até o quarto e tirou uma tábua do assoalho e pegou a carteira e a aliança que tinha escondido ali na última noite após tomar banho e tirar do bolso da calça, os itens.
  • O carro que ele perderá era um gol do sogro, que tinha ficado ali estacionado por muito tempo, por não ter espaço na garagem do pastor Fernando.
  • Na verdade o veículo estava em um estacionamento de um primo, muito bem guardado.
  • Ele entrou em casa e não se deu conta que seu cunhado estava o seguindo, tinha começado a rastrea – lo desde que a irmã se queixou para o pai de que todos na rua a estavam chamando de: “chifruda”.
  • Tinha conseguido recuperar o carro depois de bater num primo daquele cafajeste que tinha contado toda a verdade.
  • Quando soube que sua irmã era realmente traída ficou irada e planejou uma morte para o safado da pior maneira possível.
  • Sua irmã era a única pessoa que ainda gostava dele, se preocupava, e dava conselhos, não merecia aquele safado, mas ela o amava e não perdoaria se ele o matasse.
  • Então ele planejou uma conversa a sós. Assim que viu o canalha entrando na casa, pegou um taco de beisebol e saiu do carro.
  • Ele pulou o muro lateral e foi andando sorrateiramente até a cozinha, onde pegou a chave que estava embaixo do tapete e abriu a porta com todo o cuidado. Andou por toda a casa até chegar ao banheiro, ali ficou escondido atrás da porta.
  • Quando Armando veio pegar sua escova para fugir, recebeu um golpe com toda a força na nuca que o fez bater no espelho do banheiro e cair desmaiado com sangue escorrendo pelo rosto.
  • O cunhado enrolou a camiseta numa das mãos e com toda a força apertou o pescoço do safado até ele começar a sufocar e desmaiar.
  • Depois o arrastou até o carro dizendo que ele estava mal por causa do trauma sofrido ontem no sequestro.
  • Voltou a casa e limpou tudo, deixando um bilhete para a irmã não ir atrás deles que tudo estava bem.
  • Saiu dali, Armando estava desacordado durante todo o trajeto, foi acordado com um chute na virilha, após ser jogado para fora do carro.
  • O coturno de Junior, o irmão de Maria, tinha a ponta de aço e quando bateu nos testículos de Armando esmagou os, a carne ficou reduzida a uma massa amorfa.
  • A dor era intensa e misturada com o medo fez com que ele ficasse estático, não tentou nem sequer argumentar, mesmo quando teve as calças abaixadas e o irmão enfiou com toda a força o taco de beisebol no seu ânus.
  • O sangue passou a jorrar, a introdução do objeto fez com que ele começasse a gritar com as forças que lhe restavam:
  • _ Não me mata! Não me mata, não vai acontecer novamente!
  • _ Não vai mesmo por que você vai se separar dela e pagar uma pensão mensal para ela.
  • _ E dizendo isso tirou o celular da calça dele e ligou para a amante, e assim que ela atendeu gritou:
  • _ Quero falar com seu pai! Agora, sua vagabunda! E não desliga se não conto que você lavrou um boletim falso para todos.
  • A moça temendo ser presa por ter feito tal ato foi até o quarto, onde o pai escrevia um relatório semanal das atividades na delegacia e passou para ele o aparelho.
  • _ Escuta velho! Aqui quem fala é o Júnior, cunhado do namorado da sua filha. Sim a sua garota lavrou um boletim de ocorrência falso usando um papel da sua delegacia.
  • _ Eu posso denunciar ela para o disque – denúncia ou você pode vir até a estrada do Fundão de Baixo e negociar comigo, venha sozinho, a proposta só vai te favorecer.
  • Dez minutos depois o pai da moça veio, viu no chão Armando todo ensanguentado saindo às tripas pelo ânus.
  • _ É esse o safado?
  • _ Sim
  • _ O que você quer para não denunciar minha filha?
  • _ Leve ele preso para a delegacia. Culpe-o pelo roubo do papel, invente uma história e mande o para o xadrez, se possível for espalhe qualquer coisa sobre ele ser pedófilo ou estuprador, isso fará dele alguém muito requisitado na cadeia.
  • _ Eu topo a proposta.
  • Na mesma hora, Junior saiu dali, deixando o policial chamando um reforço e uma viatura do corpo de bombeiros.
  • O caso ganhou repercussão nacional, pelos fatos insólitos, a polícia divulgou para todos que ele era um maníaco que a cinco anos cometeu uma série de ataques contra menores em um lixão, culpando o pelo caso que não conseguiram solucionar.
  • Sua esposa ficou arrasada, mas com o tempo esqueceu-se disso e se casou novamente tendo a pequena Manoela que a fez esquecer completamente sobre o caso.
  • O irmão dela voltou a frequentar a igreja, se reconciliando e depois de muito esforço acabou se tornando policial.
  • A amante se suicidou depois que suas amigas começaram a chama – lá de “a mulher do pedófilo”. E suspeitas começaram a cair sobre ela.
  • E Armando terminou seus dias na prisão, após ser estuprado por quarenta homens dentro de uma cela comum. Seu corpo foi encontrado pela manhã e como ninguém deu falta, acabou enterrado como indigente no cemitério da penitenciaria.



Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...