sexta-feira, 5 de junho de 2015

Apresentação

APRESENTAÇÃO
Aquele era mais um dia como outro qualquer para a detetive Melissa Ferreira, ela morava em São Paulo, estamos no ano de 2050, muito na cidade havia mudado, mas o governo continuava roubando com o aval das pessoas, a taxa de impostos era tão alta que poucos comércios conseguiam se manter por muito tempo devido ao fato que mais de setenta por cento de tudo o que era produzido acabava sendo pago em impostos.
A cidade tinha crescido muito e o número de automóveis era gigante, o que forçou a instalação de proibições de circulação de veículos em zonas de moradia e a instalação de depuradores de ar em prédios residenciais.
Mas como em todo lugar extremamente governado e ditado por políticos tudo se dava um jeito, era comum as pessoas desrespeitarem a lei sem nenhum pudor e quando eram pegas em crimes menores, bastava dar alguns créditos para o guarda que logo tudo se resolvia.
A guerra contra as drogas continuava forte tal como temos nos dias de hoje com tudo, o estado vinha perdendo em todas as formas ainda mais depois que criaram drogas líquidas que imitavam cheiro e gosto de produtos comuns como refrigerantes, detergentes e demais itens comuns na vida das pessoas, até se tentou passar no congresso uma lei que proibisse as pessoas de portarem latinhas de refrigerante em público ou algum tipo de embalagem que contenha líquidos, mas acabou não passando devido a pressão do comércio que temia perder ainda mais clientes.
Desde 2015 a nação se arrastava em uma crise constante, por volta de 2020 quase sessenta por cento da população economicamente ativa não tinha emprego e mesmo assim as cargas de impostos só iam aumentando enquanto o estado ia tomando proporções gigantescas e legislando em favor dos grupos minoritários que tinham até um partido com algum vulto na câmara dos deputados e assim foi crescendo até que em 2022, uma crise geral fez a região sul se sublevar pegando em armas e tentar a separação, as forças armadas e as milícias bolivarianas até tentaram lutar mas acabaram sendo derrotadas, tentando seguir o exemplo São Paulo até tentou pegar em armas, mas ali havia muito interesse do governo e logo os líderes desses movimentos foram mortos, esquartejados e seus nomes apagados de quaisquer registros históricos e suas famílias foram ameaçadas por militantes da Frente para a liberdade, nome que adotaram todos os partidos de esquerda depois da fusão que fizeram por volta de 2017.
O massacre de inocentes e as reparações exigidas pela união ao estado de São Paulo, tornaram tudo ainda muito mais caótico, era comum pessoas desesperada de fome invadirem supermercados e saquearem tudo e duas esquinas depois serem recebidas pelas forças paramilitares com balas, toda semana tinha seu domingo sangrento e em alguns lugares era impossível não sentir o cheiro das carnificinas.
Os cemitérios não cabiam mais pessoas devido ao número de corpos gigante que vinha desses confrontos e muitas das vitimas acabavam indo para açougues clandestinos, onde tinha partes de seus corpos vendidas ou para os crematórios e de lá para as fábricas de sabão ilegais.
As leis garantiam direitos para tudo, regulavam a vida de cima abaixo, contudo não eram respeitada e não era raro um estuprador, serial killer ou criminoso de alta periculosidade conseguisse sair da cadeia com poucos meses enquanto jornalistas e pessoas que pensavam contra o regime da Frente acabavam ficando presas por toda vida, sem direito nem mesmo a banho de sol em casos mais graves.
Melissa era filha do antigo chefe de polícia e tinha conhecimento de como funcionava tudo, pois desde muito cedo o acompanhava na vida do departamento, aprendeu artes marciais, treinou tiro fora do país, pois era proibido o uso de armamentos por parte da população, contudo os criminosos compravam armas com a mais alta tecnologia através das fronteiras que estavam totalmente desprotegidas devido a lei de integração do Mercosul aprovada após pressão do governo brasileiro, e assim era comum pequenos aviões e carros carregados de armas e drogas atravessarem a fronteira da Bolívia e do Paraguai e lotassem os grandes centros brasileiros com drogas e armas.
Os políticos contudo mantinham o discurso dizendo que iriam acabar com a violência, trazer paz para as famílias e ajudar a melhorar a vida de todos, mas quem financiava parte substancial da maior parte das campanhas eram os grandes barões do tráfico que raramente eram incomodados por operações policiais e quando por acaso alguma investigação ameaçava seus negócios, logo o delegado responsável era afastado ou morto pelos serviços das milícias armadas e foi isso que havia acontecido com o pai de Melissa que mandará investigar um criminoso responsável por explorar sexualmente menores, mas que apoiava com largas quantias a campanha do senador de São Paulo e acabou sendo assassinado de modo brutal por um miliciano formado nas universidades de humanas.
A milícia para defesa dos interesses proletários era formada nos cursos de ciências humanas que eram usados para difundir nos alunos ideários comunistas, as salas, os sons e até mesmo a forma dos professores falarem acabava tornando quem saia dali em um fiel militante, adestrado nas mais modernas técnicas psicológicas de coerção da liberdade do pensamento e se tornavam verdadeiras máquinas obedientes aos interesses dos políticos, sendo fanáticos na defesa dos interesses do partido, chegando até mesmo a matar com sadismo absurdo trabalhadores que ousassem contestar a superioridade do partido.
Qualquer um que fosse pego lendo livros que fossem contrários ao marxismo, mesmo aqueles que eram conseguidos por meio da pirataria na rede, estavam sujeitos a tortura e a prisão perpétua com trabalhos forçados por terem contaminado a unidade do partido.
As eleições eram vencidas sempre entre os ideários de esquerda, qualquer político que tivesse pelo menos suspeita de ser da direita era investigado e se houvesse o mínimo indício de sua culpa, ele era decapitado a frente do congresso nacional em meio aos estudantes da ideologia de partido que assistiam aquela brutalidade com uma ânsia intensa, visto que nas escolas não eram tratados como pessoas, nem mesmo podiam se afirmar como homens e mulheres, sendo todos ensinados a odiarem seus pais, suas famílias e amarem incondicionalmente o partido, que era o centro da educação.
Toda sorte de conteúdos permissivos e moralmente contestáveis era ensinado desde cedo e logo toda moral das crianças era subvertida para o interesse da revolução, qualquer um que ousasse questionar recebia severas punições e era açoitado como um cão na frente dos demais alunos, que eram forçados inclusive a lhe dar algumas chicotadas, enquanto ouviam os professores de história dizerem que elas estavam salvando o colega da subversão e que isso era bom para a vida dele.
Não havia ninguém que fosse contra o partido e morasse dentro dos limites do Brasil, aqueles que escaparam da morte fugiram para o restante do globo em busca de lugares capitalistas e liberais que respeitassem suas individualidades, alguns até tentaram protocolar um processo contra a ONU, mas está argumentou que o governo brasileiro estava apenas protegendo seus cidadãos e até felicitou o quando imagens de execuções sumárias foram noticiadas no mundo afora, como se estas fossem garantias para a paz e a estabilidade sólida.
O órgão internacional não tinha conseguido deter a matança de cristãos na Terra média e até mesmo glorificava a mortandade em nome de um relativismo moral que acabou culminando em massacres nos vários países daquela região, alguns jornais satíricos conservadores em países como a Inglaterra costumavam dizer que se quisesse matar milhões sem ser incomodado bastava um ditador falar que estaria fazendo o em nome dos direitos de sua cultura contra os outros povos e tudo estaria perdoado.
E assim a vida foi seguindo, para aqueles que não concordavam e não conseguiam sair, o jeito foi se calar, visto que o exército em quem depositavam fé não era mais nada além de um grupo de homens com armamento mínimo frente ao poder das milícias nas cidades e nos campos.
A reforma agrária tinha sido conduzida arbitrariamente e todos os fazendeiros que tinham quantidades de terra maiores do que era permitido foram espoliados e caso ameaçassem resistir eram mortos em nome da reforma agrária, que na verdade somente serviu para que os políticos mais importantes do partido usassem as milícias para pegar para si quantidades notáveis de fazendas em vários estados e vendessem para o estado com preços extremamente altos comida e itens agrícolas de modo em geral, tornando a corrupção e a fome em alguns lugares um lugar comum para as pessoas de fora da elite do partido, e aqueles que advogavam para si o direito de defender os interesses dos trabalhadores esbanjavam comida, bebiam vinhos caros e iam em viagens mundo afora com dinheiro suados daqueles que não tinham mais nem uma religião séria para recorrer uma vez que somente as igrejas que fossem a favor do sistema eram permitidas no Brasil e a prática de culto das religiões na regulamentadas era vista como um crime passível de morte, assim sendo para o grande público somente as religiões que deixassem de cuidar dos ente sagrados, das chagas de Cristo e passassem a apoiar abertamente os crimes do regime eram permitidos, alguns ainda se arriscavam e mantinham sua fé e tradição, mas o faziam de maneira secreta e discreta para não acabarem sendo mortos pelos membros da milícias urbanas.
Judeus, maçons e reacionários e burgueses eram acusados por todos os problemas do governo e as manifestações que pediam quaisquer pautas não linhadas com o pensamento aceito eram massacradas e serviam por vários anos como ameaças ao status do partido, que via oponentes até no ar, mesmo estando há mais de vinte anos no poder sem interrupções e tendo matado ou exilado aqueles que pensavam contra suas normas e ditames.
Foram abolidos todos os feriados religiosos e o carnaval passou a começar em janeiro e terminar em fevereiro, o governo incentivava toda sorte de promiscuidade mesmo em horários para menores para que assim estes fizessem mais filhos e garantissem as futuras gerações de servos e assim sendo a taxa de natalidade do Brasil se mantinha extremamente alta, ao contrário do resto do mundo onde a quantidade de crianças era de apenas um filho por casal aqui eram quase sempre dois ou três, era sinal de prestígio entre a elite do partido que se tivesse muitas crianças para garantir o futuro da nação.
Contudo isso era elevado a um grau bizarro pois os jovens que desejassem não se casar eram obrigados a aderir as chamadas células homossexuais e a irem nas reuniões, caso contrário o estado poderia escolher alguém para você se casar sem seu consentimento e caso vocês não tivessem um filho depois de um ano eram forçados a passar seis meses num campo de trabalhos forçados para ressocialização.
Para ter de escapar ao casamento compulsório quando atingiu vinte e um anos, Melissa se filiou a uma célula feminista e toda quarta feira era obrigada a ir na reunião delas para poder continuar não casada, era um momento de suplício ver todas aquelas falácias a respeito dos homens, todo aquele discurso contra a sociedade, contra o capitalismo, contra valores morais e éticos, era quase angustiante ter de permanecer casada para não acabar se tornando membro do harém de algum figurão do partido.
Por que a lei do casamento compulsório gerou na verdade foi uma disputa entre vários membros do partido que enviavam soldados das milícias para capturar toda jovem em idade para casar e as leva – va para suas mansões fora das grandes cidades, onde as jovens eram viciadas e forçadas a praticar orgias com os velhos membros do partido, algo completamente contrário a moralidade que pregavam em frente as câmeras, essas casas de escravidão eram comuns e naquela noite de quarta; Melissa presenciou uma jovem sendo levada na porta da organização das feministas, era uma menina nova, branca de olhos azuis profundos, uma verdadeira boneca de porcelana, ela até tentou defende – la mostrando sua carteira de detetive, mas os homens eram da milícia e tinham ordens expressas para levar aquela moça o mais breve possível para um grande expoente do partido que a queria para aquela noite em sua cama.
E justamente por ser uma missão com tempo cronometrado que fez com que aqueles homens não tivessem atirado para matar, afinal não tinham tempo para esconder os corpos e plantar provas forjadas de aquele grupo de feministas era na verdade uma célula terrorista de reacionários querendo destruir as conquistas dos trabalhadores.
Melissa no entanto sabia que tão logo eles levassem a moça, voltariam para matar e uma caçada começaria, afinal elas sabiam da verdade e num lugar onde o estado comanda a vida e a mente das pessoas ser testemunha de qualquer fato que vá contra isso pode ser altamente perigoso.
As mulheres voltaram rapidamente para suas causas anti – homem e esqueceram do episódio, simplesmente nem notaram a falta da moça que acabara de ser sequestrada, Melissa não aguentou aquilo tudo e na primeira oportunidade saiu bem antes das dez da noite, que era o horário normal do fim das reuniões, tinha assinado o controle de presença eletrônico e fugiu dali o mais breve possível, sentia se enojada da hipocrisia daquelas ressentidas que odiavam todos os homens por não ter competência e estarem preparadas para enfrentar o mundo, era um grupo asqueroso, onde ela tinha sido até assediada pela líder da célula que ao receber um soco no banheiro proferiu algumas ameaças que nunca se cumpriram depois que ela usou alguns golpes e a persuasão que tinha aprendido com seu pai ao lidar com gente daquela espécie.
Sua raiva contra aquele movimento acabou salvando sua vida, pois meia hora depois dela sair, quando tinha acabado de chegar em sua casa, ao ligar a TV viu o que já esperava, os homens da milícia haviam voltado e tinham matado em poucos minutos todas aquelas mulheres sob a alegação de serem elas agentes difamatórias que iam contra o culto a memória dos líderes, uma igreja paralela criada por membros da guarda do governo que acreditavam na oração para os principais líderes marxistas como forma de cura para as doenças que segundo eles somente o individualismo poderia trazer.
A crença que orar para Marx, para Lula e para Dilma era capaz de trazer a cura, foi propagada por um líder do ministério da verdade suprema que o partido tinha criado há poucos anos para poder tirar os resquícios da religião e ser a única forma de pensamento aceita na sociedade.
No fim daquela notícia ela viu seu nome e sua foto sendo mostrados como uma subversiva que tinha conseguido escapar e um pedido para que as pessoas a denunciassem para os homens do estado, ela sabia que em menos de 10 minutos seria caçada e morta como um animal sem nenhum direito, tinha que fugir, juntou rapidamente algumas roupas e algum dinheiro e desceu as escadas, enquanto ouvia o som da internacional sendo tocado em alto e bom som em todos as rádios, estatizadas durante a grande marcha, quando os partidos de esquerda se uniram e deram um golpe de estado, as revistas que tentaram se posicionar contra foram incendiadas e seus jornalistas foram espancados até a morte, mas isso era um fato que somente alguns poucos que ainda estavam vivos sabiam descrever e mesmo assim não o faziam por que se não corriam o risco de se tornarem mais um número na enorme estatística de mortos pelo bem dos trabalhadores.

Ela escapou segundos antes da polícia secreta chegar ao seu encalço, entrar em seu prédio e queimar todos os seus itens para a purificação da causa operária, ela não sabia para onde iria, tinha uma vaga lembrança que seu avô tinha um sítio na província de Goiás e esperava conseguir chegar até lá e se esconder da máquina do partido tempo suficiente para planejar o que iria fazer.

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...