domingo, 18 de novembro de 2018

A carta

Minha alma despida naquele olhar.
Tudo se perdeu quando ela partiu.
Em sonhos ainda a vejo.
A lua parece seu olhar.

Encontrei isso quando meu pai desapareceu. Tinha se passado algumas semanas após minha mãe falecer vítima de um câncer terminal.
Desde então vivi na casa de parentes. Cresci, estudei, me formei e hoje trabalho como professor.
Acabei esquecendo de tudo dessa época. Se tínhamos cachorro ou gato, onde morávamos, quem eram meus amigos. Foi tudo para um sotão na mente e lá ficou por longos vinte e seis anos.
Até o dia em que recebo uma carta do correio com um selo do Congo. A encomenda foi entregue junto com as contas habituais e quando olhei o remetente quase tive um troço: Lá estava o nome do meu pai.
Escreverá uma série de poemas sem sentido em pelo menos três idiomas.
As palavras estavam fora de ordem, os tempos verbais pareciam rebuscados demais.
Olhei para aquelas cartas por horas. Naquele dia não fui trabalhar. Aleguei estar passando mal com dor no joelho.
Foram horas a fio estudando e pesquisando para entender as palavras e num lampejo juvenil me passou a ideia de ser um código de espião, algo feito com estenografia. Mas logo meu lado racional e ponderado tomou conta e disse bem alto que era apenas a carta de um esquizofrênico que me abandonou anos atrás.
Tirei fotos dela e guardei num pen drive. Iria pedir para uma amiga que era psicóloga analisar o conteúdo e guardei os papéis dentro da gaveta do criado mudo próximo a minha cama.
Adormeci e sonhei com espiões, códigos e um monte de sinais numa caverna.
Acordei disposto a nunca mais me deixar fantasiar daquela forma para não acabar num hospital psiquiátrico.
Me sentia tonto e achei que era fome.Olhei para o relógio e já se aproximava do meio dia. Tomei um banho e fui até o restaurante almoçar.
Quando volto, minha casa tinha sido arrombada. Estava tudo revirado. Rapidamente disquei o número da polícia e dentro de 30 minutos uma viatura estava parada em minha porta.
Os policiais conversaram com vizinhos, tiraram fotos da casa toda e foram embora já próximo das cinco da tarde.
Nesse meio tempo a minha mente estava a mil. Parecia que o meu corpo estava aceso. Não sabia se era por medo ou adrenalina. Mas a parte de mim que tinha fantasiado mais cedo parecia dizer: "Eu estava certa!"
Me sentei no chão. Pessoas passavam por mim. Algumas tentavam me consolar dizendo que o país estava terrível e que eu tinha sorte de estar com os bens de valor.
Eu respondia no automático. Não me lembro de ter dito nada além de muchochos e acenos de cabeça.
Na verdade eu queria todos fora dali. No fundo eu sabia o por que do roubo. Era a carta que o ladrão estava atrás. E provavelmente ele a levará.
Assim que todos se foram, chamei um chaveiro que me cobrou oitenta reais para trocar a fechadura da porta.
Eu já tinha olhado na gaveta onde tinha deixado a carta e ela fora realmente levada.
Passei o resto do dia arrumando minha casa. Não estava tão bagunçado e logo eu percebi que alguém deveria ter tentado fazer parecer um assalto, quando na verdade sabiam que o carteiro me entregará a carta.
Tentei me controlar mas naquele instante um profundo pavor tomou conta de mim. A paranóia criou ares de verdade e eu me senti como personagem principal de um romance policial barato repleto de clichês de mortes e assassinatos.
A vontade que eu tinha era correr. Sair dali, desaparecer. Meu eu racional tinha tirado férias e eu estava histérico até que a campainha tocou.
O susto foi tão grande que só não urinei me todo provavelmente por que a bexiga não tinha nada.
O gosto amargo na boca cresceu muito. Ouvi chamarem meu nome e uma voz na minha cabeça decidiu se esconder.
Peguei uma bengala que ficava debaixo da cama, tinha sido operado anos antes e usei a na fase final da recuperação. Havia a deixado ali por hábito e um pouco de desleixo com a arrumação.
Fiquei atrás da porta do quarto num ponto cego. Minha respiração estava rápida e eu parecia absorto num frenesi. Mataria minha mãe se ela passasse na minha frente.
Não sei quanto tempo se passou até eu ouvir a porta sendo arrombada. Tentei gritar mas a voz não saiu.
Relembrando desses momentos ao escrever esse texto percebo o quanto eu sou um covarde. Logo eu que afirmava a racionalidade do ser humano fui tomado pela mais antiga de todas as emoções: O medo.
Ouvi passos vinham em direção ao quarto. As pernas tremiam. Num ímpeto de fúria ataquei. e consegui desmaiar aquela que eu acreditava querer me matar.
Liguei a luz e então eu percebi que a mulher que eu praticamente fraturara a cabeça estava longe de ser uma assassina.
Era baixinha, de cabelos castanhos com mechas loiras, um profundo óculos no rosto, olhos provocantes e um nariz adunco. O corpo não era forte, se eu a visse na rua num momento normal acharia a atraente.
Mas ali era diferente, a pancada que eu tinha dado na nuca dela era um ponto roxo visível até por um míope.
Verifiquei se estava armada e só relaxei quando percebi que não estava.
Chamei a polícia e uma ambulância. Não queria ser culpado por um assassinato e estava com medo dela ter reforços do lado de fora  esperando uma ordem dela para me matar.
A viatura dessa vez demorou cinco minutos. Disseram que tinham vindo rápido por estarem em patrulha.
Mas eu notei que um dos policiais estava com um silenciador na arma.
Rapidamente dei um soco nele que caiu para trás, sangrando, o outro saiu atirando para todo lado. Eu fui salvo, não fazia idéia de quem seria.
Daí em diante eu apaguei. Me lembro de acordar na traseira de uma caminhonete indo por uma estrada visceral.
Quem dirigia era a mulher a quem eu agredirá na noite passada.
Ela olhou para mim e sorriu:
"Sou muito boa em me fingir de desmaiada. Seu golpe não me pegou. Esse roxo que você viu foi feito por outra pessoa, professor".
Desmaiei novamente, era muita informação para eu absorver.
Daí em diante minha vida foi uma porcaria de ação o tempo todo. Fugir e me esconder se tornou padrão.

Experimento

2009
Base 4.

Dr. Harvey Cosgrove.

Estudo com a bactéria intitulada K.

Os primeiros testes mostraram que a estrutura do agente bacteriológico é formada de carbono e revestidas por uma espécie de membrana senciente. Qualquer tentativa de retirar parte da mesma resulta numa poderosa reação em cadeia.
Não tem nenhuma semelhança com as demais bactérias já catalogadas.

Sua extensão é de dois metros e se encontra atrelado a uma planta. Impossível detectar a espécime.
Segundo o relatório dos militares, foi encontrado em uma área confidencial.

O agente inócuo se torna altamente letal. Atingindo o cientista que tentou realizar o procedimento, causando sua morte em instantes e depois volta então a se tornar inócua.
Os efeitos no corpo humano são similares ao Ebola. No entanto não há transmissão para outros seres humanos.
 
Foram colocadas duas cobaias para realizar a extração de parte da bactéria. Os dois morreram imediatamente.

A criatura resiste a todos os remédios conhecidos. Sua estrutura molecular pode se adaptar as agressões e evoluir.

Posso afirmar que é um ser consciente. A estrutura dela se adaptou e agora cresceu uma camada de esporos em torno da mesma, sua estrutura já passa dos três metros. Responde a presença de qualquer ser vivo no local. Protocolos de contenção acionados.

Major Manson traz um plano para transformar a bactéria em arma.
Doutor Spencer é contra, e é automaticamente cortado do projeto.
Assumo seu lugar e imediatamente conduzimos testes para criar um padrão de agressão no agente.

Foi inserido na estrutura da criatura, por meio de um robô, algumas moléculas de um vírus para tentar enfraquece - la.
Resultado. O ambiente onde ela está se tornou tóxico.
A fumaça foi extraída e analisada. Altamente letal. Causa em ratos morte instantânea.

Primeiro uso em humanos autorizado. Dezenas de condenados a morte são mortos por esse gás.
Me sinto como se fosse Mengele em Auschwits. É terrível. Os corpos foram testados após a morte. Todos tiveram sintomas parecidos com o Ebola. Apenas um fato diferente ocorreu. Suas células passaram a conter traços da bactéria.
Os corpos foram incinerados cinco horas depois de iniciados os testes, quando foi percebido o crescimento de esporos dentro da cavidade toráxica de um deles.
As roupas de chumbo não nos protegeram totalmente. Quatro cientistas são incinerados após morrerem com efeitos do gás.

A base é lacrada. Estamos sós.
A contenção não é mais suficiente. A criatura continua a se expandir.

Faz quatro dias que estamos isolados de tudo.
Escrever mantém minha sanidade.
Não há nada o que fazer.
Ouvimos apenas o ranger do metal sendo pressionado pela planta.

A porta se rompeu durante a noite...

Trechos de um diário encontrado no meio da selva no Congo. Pelo explorador português Carlos Almeida.



Veneno direcionado

Não há muito para dizer. Todos os alunos daquela classe foram mortos por uma espécie de bactéria que não somos capazes de detectar. O micro - organismo não afeta outras pessoas, além das que pereceram. 
Os exames iniciais atestam que não é algo do planeta. Pelo menos não é catalogado nos bancos de dados da OMS. Nos microscópios a bactéria tem toda a estrutura diferente daquelas já catalogadas.
Todas suas células carregam uma camada de proteção.
O chefe do departamento iniciou os protocolos internacionais para guerra. Os militares levaram todas as amostras. Forçaram os cientistas a assinar termos de confidencialidade.
Tudo que as crianças mortas tocaram desapareceu. As famílias foram levadas, desinfectadas e depois movidas para outras residências. Suas casas tinham sido demolidas. Até mesmo o pequeno laboratório forense em que eu trabalhava desapareceu. Todos fomos aposentados ou transferidos para outras cidades.
Já faz quarenta anos desde esse incidente que foi totalmente abafado.
Mas agora outro grupo foi infectado. Pelos jornais eu acompanho tudo e tenho total certeza é a mesma bactéria.
O problema é: Foi usada num ataque terrorista em nosso país. E devastou todos os idosos de Nova York.
Qualquer pessoa acima dos 60 anos foi eliminada. A velocidade da contaminação é impressionante. Todas as fontes de água, o ar da cidade e até algumas plantas foram atingidas. No entanto somente humanos morreram.
Fui aos jornais. Contei minha história. Não tenho mais medo do governo. A notícia se espalhou e levou a Casa Branca a dar várias explicações. Desde então estou sendo seguido.
Provavelmente se alguém ler isso eu estarei morto.
Então minhas últimas palavras serão: Investigue o que aconteceu com aquelas crianças.
Busquem a resposta que fomos proibidos de procurar

Sons da noite

Caminhar a noite é uma experiência que sempre fascina. Os sons a noite são mais aguçados. É como se a ausência de luz tornasse tudo mais son...