(Nenhum dos fatos aqui narrados tem o menor compromisso com a verdade, sendo apenas uma história fictícia baseada em estudos sobre crimes de psicopatas famosos ao longo da história colocados num cenário de uma Morrinhos hipotética.)
A
história por trás de cada assassinato é sinistra e horrenda.
Nenhuma
morte por modo cruel vem sem um pouco de tortura e cinismo.
Eu
sei disso por que lido com isso o tempo todo, sou um médico legista,
na cidade de Morrinhos, no interior do estado de Goiás.
Me
atrevo a escrever essa história, por que o povo tem a memória fraca
e eu mesmo já não sou lá um menino e queria guardar para a
posteridade a série de fatos que ocorreram a vinte anos atrás.
Uma
sequência de eventos que marcou muito a cidade, mas que hoje se
encontra esquecida, se tornando parte do passado macabro que envolve
cada lugarejo no interior.
Um
assassino serial matou vinte mulheres com requintes de crueldade
extremos, amarrava suas vítimas e as amordaçava e então com um fio
desencapado ia queimando aos poucos até formar uma letra numa série
de cicatrizes que iam do seio direito até próximo aos quadris.
A
meticulosidade do caso era intensa e nada era encontrado nas cenas do
crime que pudesse ajudar a polícia na solução do crime. Eram
tempos onde o serviço policial era muito dificultado, tanto pela
notória falta de recursos, que ainda hoje persiste como também pela
pouca quantidade de técnicas que poderiam ser usadas para se
fornecer indícios para auxiliar as investigações.
Na
época eu era um mero assistente de médico legista, meu trabalho era
apenas medir e pesar órgãos, tomando cuidado para não errar em
nenhum dos cálculos, visto que nunca fora bom em matemática.
Fui
mandado para a pacata cidade de Morrinhos junto com a equipe do IML
da capital, após o governador resolver ajudar, após a carnificina
ter ido parar nos jornais da cidade e ter sido noticiada até mesmo
em um jornal de São Paulo.
Chegamos
a noite depois de uma longa viagem em um ônibus velho, tínhamos
partido pouco depois das quatro horas, recebendo uma série de
instruções do chefe da seção que nos contou sobre todo o caso.
Cinco
jovens já tinham sido assassinadas em locais variados da cidade,
todas de rosto angelical e aparentemente sem nenhuma ligação em
comum.
A
primeira tinha sido deixada num estacionamento próximo a prefeitura,
com diversas escoriações pelo corpo, como se tivesse sido
chicoteada até morrer, a segunda tinha tido todas as unhas
arrancadas e tinha vários cortes pelo corpo todo, em pequenas
incisões que pareciam ter perfurado diversas artérias, o corpo dela
tinha sido encontrado próximo ao muro perto da igreja católica,
estava nua e tinha sido amarrada de modo a ser encontrada numa
posição que lembrava uma oração com as mãos presas e os joelhos
atados com duas estacas de madeira.
A
terceira moça era uma jovem professora, tinha sido vista pela última
vez saindo do colégio as três da tarde e depois desaparecera por
dois dias, seu corpo foi encontrado enforcado num carvalho próximo
ao museu da cidade, tinha os pés e as mãos decepados, os olhos
tinham sido perfurados e pequenas incisões no abdômen tinham posto
para fora o intestino delgado com o qual o assassino tinha enforcado
a vítima, esse caso era o mais interessante, pois a vítima apesar
de ter o tórax a mostra, ainda estava vestida da cintura para baixo,
ao contrário das demais.
A
quarta vítima era uma prostituta conhecida em quase todos os cabarés
da região, foi encontrada nos fundos da casa do juiz da comarca que
no momento em questão estava fora da cidade, devido ao recesso do
fim de ano.
Seu
corpo tinha sido esfaqueado nas laterais em pelo menos quinze pontos,
foi colocada nua em uma cadeira, tinha as pernas quebradas em vários
pontos e seu corpo estava no quintal da casa do magistrado que entrou
em contato com as autoridades da capital para que entrassem no caso,
não sendo ouvido na época.
O
quinto corpo até fora o mais grave, a filha do prefeito da época,
que era casada com um importante deputado na capital foi atacada na
fazenda do seu pai, nos arredores da cidade.
Os
peões que ali estavam moravam num barracão ou em casas próximas e
a empregada no dia em questão tinha ido a cidade mais cedo e devido
a chuva não pudera voltar a tempo deixando a sozinha aquela noite.
Essa
vítima era a que tinha mais detalhes e a primeira onde o bandido
tinha começado a sua estranha prática de arrancar órgãos.
Ela
tinha sido amarrada a uma cadeira, despida usando um facão, o
bandido banhará o corpo dela com um vidro de álcool, encontrado na
cena do crime e a levou para o lado de fora da casa, com uma mordaça
e ali abriu o tórax dela e derramou uma garrafa de whisky dentro do
corpo dela, encontrada na varanda, quebrada e retirou o fígado dela,
deixando o órgão aos pés da jovem e depois ateou fogo a ela, que
teve o corpo completamente incendiado, sendo encontrada por um peão
que sentiu o cheiro da fumaça que já se alastrava pela casa por
meio do piso, todo feito de madeira.
E
após nos contar toda a situação lendo os relatórios enviados
pelos policiais locais, o chefe da divisão da perícia olhou para
cada um de nós e perguntou quem queria ir e que ele entenderia se
alguém resolvesse se recusar, devido a situação e ao risco
envolvido.
O
doutor Tenório, um médico com aparência de Irlandês e uma
seriedade a toda prova disse rapidamente que iria e saiu para atacar
a máquina de café, eu que desde a infância era fascinado por
romances policiais me dispus a ir junto e mais dois colegas recém
chegados.
Ganhamos
as passagens e embarcamos para a cidade, ao chegarmos a rodoviária
que cheirava a desinfetante de um modo intenso, quase lembrando a um
necrotério, fomos recebidos pelo chefe de polícia que nos levou
para o que viria a ser o instituto médico legal hoje, mas na época
era somente um prédio velho com alguma estrutura adaptada, com macas
e aparelhos enferrujados trazidos as pressas de um antigo hospital.
Os
cadáveres dos primeiros corpos tinham sido enterrados após um exame
preliminar do legista da cidade, que não estava nos esperando na
estrutura e que viríamos a conhecer somente quatro dias mais tarde,
pois o mesmo não morava na cidade, por não gostar de barulhos e
luzes elétricas, tendo comprado uma chácara próximo a cidade de
Pontalina.
Fomos
levados a um pequeno hotel, onde a prefeitura iria pagar nossas
despesas ali.
O
vereador que teve a filha assassinada veio nos ver na manhã seguinte
e usando de um português macarrônico, muito formal disse que
esperava uma solução do caso, num café da manhã ali mesmo no
pequeno hotel, estavam ali os investigadores, peritos e nos, os
legistas.
Doutor
Tenório rapidamente saiu do local e nos o seguimos, no corredor que
dava para a saída disse com sonoro mau -humor:
“Os
políticos ainda irão destruir tudo que tem vida nesse país”.
Fomos
caminhando pelas ruas da cidade, por todo lado as pessoas nos viam e
apontavam nas ruas. Nossa chegada tinha sido motivo de muita
especulação.
Tenório
detestava andar de carro, e nós que eramos seus assistentes, não
podíamos desfeitear o mestre. Seguíamos por todos os lado com uma
obediência canina, ouvindo cada palavra que ele dizia, afinal
naquela época ele era a maior autoridade em medicina legal do estado
e ouvi – lo era para nós uma grande oportunidade.
Chegamos
ao local depois de uma hora e nós os assistentes, começamos a
arrumar tudo, enquanto o doutor saiu para brigar com um secretário
que tinha sido posto a nosso serviço o porque ali não havia café
para todos.
Nunca
tinha visto um médico xingar daquele jeito, o pobre secretário
parecia diminuir a cada palavra e saiu rapidamente dali, voltando com
uma garrafa que o doutor logo pegou parecendo trata – la como a um
filho e num tom de deboche ainda disse ao empregado:
“Espero
que esteja bom, ou você vai se ver comigo!”.
Ao
fim do dia tudo estava arrumado, tínhamos até tirado algumas
goteiras do prédio, ajeitando o madeiramento na sala de autópsias
que tinha algumas infiltrações na época, pedimos um pouco de cal e
no dia seguinte terminamos a arrumação de tudo para o doutor
trabalhar, enquanto ele lia o jornal e bebericava o café, soltando
palavrões e sarcasmos a cada notícia da política.
Na
época achávamos engraçado o comportamento do doutor em relação
aos políticos e ríamos dos sarcasmos que ele lançava contra homens
poderosos e do ódio genuíno que sentia pelos poderosos, mas ninguém
sabia que o avô dele tinha perdido tudo após a prefeitura de uma
cidade no interior de Minas resolver tirar as terras dele, jogando o
ancião e sua família na miséria para vender as terras para uma
mineradora.
A
ação de reparação na justiça não deu em nada, além de um
profundo ódio em todos da família pela política e por tudo que ela
representa.
Passaram
se três dias e nós já estávamos impacientes, esperávamos uma
grande ação e ficamos ali parados sem saber o que fazer, um dos
assistentes, um baixinho de aparência germânica chamado Carlos,
ficava fora quase o dia todo e logo apareceu com uma namorada.
Mas
nossa monotonia logo chegou ao fim. Foi encontrada mais duas jovens,
eram irmãs filhas de um sapateiro. O pai tinha ido a igreja as duas
tarde e a mãe estava com uma tia no hospital, a vizinha disse ter
ouvido apenas um grito, mas como era meio surda pensou se tratar de
uma briga entre as irmãs, algo comum quase todos os dias.
Fomos
chamados para o local e ali chegando vimos uma cena que se eu fechar
os olhos ainda consigo ver claramente.
Uma
das jovens tinha o rosto dividido ao meio, o corpo estava no quintal,
próximo a um pequeno cômodo, os policiais encontraram ali dentro o
machado que fora usado para aquela brutal agressão, a irmã tinha
sido encontrada na cama, os seios tinham sido arrancados e se
encontravam na mesa de cabeceira, estava nua e tinha partes do corpo
cobertas por um poderoso ácido.
Nas
mãos foram encontrados sinais de luta corporal, e um pouco de sangue
embaixo das unhas, sinal de que a vítima tinha conseguido pelo menos
arranhar de maneira séria ao seu agressor.
Enquanto
arrumamos os corpos e fotografávamos tudo, o professor com uma calma
absurda ia de lá para cá, ouvindo aos interrogatórios, olhando a
porta e as janelas, parecia quase não dar atenção ao corpo e só
quando a ambulância levou os cadáveres é que voltou a atenção
para nós e disse: “ Vamos embora”, disse ao dono da casa que
logo iria fazer os exames e que em no máximo dois dias teriam os
corpos para fazer o enterro.
Todos
na casa estavam desolados e até mesmo os policiais pareciam se
controlar para manterem uma compostura, visto que estavam bastante
sensibilizados pela trágica morte das duas filhas do sapateiro.
Chegamos
ao local de trabalho em quarenta minutos, o doutor rapidamente vestiu
o avental e entrou na sala onde os corpos tinham sido postos.
Ele
abriu as, retirando com cuidado as roupas de uma delas que ainda
estava vestida e ia retirando órgãos e anotando cada lesão
encontrada, desde pequenas escoriações na pele até os ossos
esmagados.
No
final do primeiro relatório ele abriu um parêntese onde colocou: “A
vítima foi pega de surpresa, ela provavelmente não era o alvo,
visto que foi deixada sem as marcas de torturas comuns.”
Na
segunda jovem, Tenório pegou uma lupa e quase deitou os olhos em
cada parte do corpo da jovem, trouxemos os seios que haviam sido
retirados e todo o resto, ele apertava, cheirava, parecia absorto
totalmente sobre o corpo, dando ordens vez ou outra para que
pegássemos algum instrumento. Prestava atenção aos padrões das
escoriações provocadas pelo ácido e anotou cada detalhe.
Foi
um documento de pelo menos quinze folhas, onde sete eram dos detalhes
técnicos e as demais eram notas, fui mandado assim que tudo terminou
a delegacia para entregar o resultado do caso e dizer que se a
família quisesse já poderiam pegar os corpos para o enterro.
O
delegado recebeu os relatórios com certo espanto e até riu para mim
dizendo “ Não é todo dia que um perito me manda relatórios mais
bem feitos que meus policiais”.
Sai
da sala, sem entender, sou meio lento para piadas e fui caminhando
até o hotel, devido ao fato do doutor gostar de caminhar, em três
dias já tinha na minha cabeça boa parte do mapa da cidade e
conseguia me guiar por meio de algumas referências até o hotel e ao
centro onde trabalhávamos.
As
ruas estavam vazios, nada ficava aberto, nem mesmo bares. Não era
possível escutar o menor ruído que fosse, poucas pessoas caminhavam
nas calçadas e o faziam sempre em grupos, pareciam querer evitar a
todo custo o assassino.
O
medo era tanto que dois dias depois um rapaz querendo amedrontar a um
amigo gritou socorro próximo a casa dele e logo uma multidão se
juntou e ao saberem do caso por pouco não lincharam ali mesmo o
jovem, sendo preciso a polícia intervir, prendendo o para sua
segurança.
A
família fez o enterro na manhã seguinte, Tenório compareceu e eu
fui também, os outros três ficaram trabalhando, o chefe, como nós
o chamávamos parecia estar atento a cada detalhe e a todo instante
em que alguém lhe perguntava algo parecia dar pouca importância a
pessoa, seus olhos pequenos iam de um lado para o outro por trás das
pesadas lentes dos óculos que davam a ele uma impressão
desconfiada, quase militar.
Vestia
uma camisa preta formal que tinha uma camada de perfume muito forte,
que parecia afastar as pessoas em volta deixando num canto próximo a
uma garrafa de café que ele entre uma ida até o salão e outra
acabará por secar.
Parou
e prestou atenção por alguns segundos no zelador do lugar e depois
saiu, eu fiquei muito tempo ali, tinha me interessado numa bela jovem
de aparência frágil que estava num canto e chorava copiosamente.
Ela
estava sozinha num canto e parecia destoar completamente dos demais
por ainda ter um olhar inocente, quase doce, cheguei mais perto e
comecei a consola – la, confesso que sou horrível para ser
emocional, ainda mais que naquele momento eu estava fingindo, mas a
minha falta de jeito era tamanha que fiz com que ela risse ao me
referir a ela como senhora por duas vezes, uma risada tímida quase
forçada. Conversamos por uma hora, e quando sai sabia mais sobre
aquela família do que um mero relatório, tinha uma história
completa das irmãs, pois a jovem era prima delas, não tinha os pais
que haviam morrido em um acidente quando iam para Goiânia conseguir
tratamento para o câncer de pulmão que sua mãe contraíra.
O
doutor ao me ver chegar ao trabalho, quase duas horas depois, sorriu
cinicamente e disse: “ Eis aqui um rapaz que tem o dom de ser
desastrado em matéria de flerte” E riu batendo na barriga e nos
joelhos, enquanto eu e os outros assistentes ficávamos sem entender.
Limpamos
a improvisada sala de autópsias e esperamos. Passou se uma semana
até acontecer mais assassinatos, só que dessa vez foram três
mulheres de uma só vez e os requintes de crueldade eram tão
bárbaros que chocaram até ao doutor.
Era
uma família onde morava a esposa, o marido, o pai dela e a mãe
dele, mais dois filhos, sendo uma moça de cinco anos de idade e um
rapaz de dezoito.
Moravam
numa pequena chácara próximo a rodovia, um local ermo e afastado da
cidade.
O
rapaz e o pai tinham ido para a horta, cuidar da colheita de verduras
que iriam vender no domingo seguinte. Enquanto o avô tinha saído
logo cedo para ir até a igreja, jogar dama mais o padre local,
ficando lá até a hora do almoço, os três acordaram e saíram no
mesmo horário, tendo voltando com pouca diferença a casa onde
estavam, tinham saído segundo seus relatos por volta das seis da
manhã, e voltaram por volta do meio dia, tendo visto a cena toda.
A
mulher tinha sido enforcada e tinha o corpo todo esmagado, um
profundo corte em uma das pernas tinha posto os ossos a mostra, a
senhora idosa estava despedaçada em vários pedaços e a criancinha
tinha sido queimada com ácido no rosto, mas ainda respirava quando
foi encontrada pelo pai.
Rapidamente
chamaram o padre que os levou de carro até o hospital, nenhum dos
três saiu de perto da menina e se recusaram a sequer falar sobre o
que tinham visto.
Dias
depois ela veio a falecer, o pai e o avô acabaram se matando, um deu
um tiro na cabeça e o outro bebeu tanto que acabou sendo atropelado
enquanto atravessava a rua.
O
rapaz após essa série de tragédias ficou louco e foi levado para
um sanatório, onde até hoje ainda vive.
Eram
dez casos e as pistas que tínhamos dado a polícia eram pequenas e
poucos detalhadas, apesar do pesado relatório que o doutor tinha
feito do caso, com quase noventa páginas, tudo era muito
circunstancial até aquele momento.
Passou
se três meses até o último ataque que veio a aumentar ainda mais o
terror na cidade e que levou o assassino para a cova.
Era
mês da romaria da Trindade e várias pessoas saíam em grandes
grupos para pagarem promessas naquele centro religioso, iam a pé ou
em ônibus em excursão para ali, e depois voltavam.
Um
grupo de dez senhoras alugou um ônibus e passou três dias ali na
cidade, o motorista um senhor bastante sério que coxeava era um
policial militar, afastado do serviço após receber uma bala no
joelho que tinha lhe tirado os movimentos da perna.
Era
noite quando elas voltavam, o ônibus foi parado por um rapaz numa
moto, que atirou num dos pneus, fazendo o veículo capotar, bem
próximo a Hidrolândia, após fazer isso, desceu da moto, e atirou
para todos os lados, poupando somente o motorista, que tinha batido
com a cabeça, e não pode fazer nada para defender as senhoras, ali
naquele barranco próximo a rodovia, pois perderá por quarenta
minutos os sentidos.
Ele
acordou no momento que o bandido já estava saindo do veículo que
estava virado de cabeça para baixo, a porta estava com os vidros
quebrados. O ex – policial ainda tinha sua arma de serviço que
guardava embaixo do banco, rapidamente tateou em busca do coldre
colado ali e quando sentiu sua trinta, puxou a ainda tonto e
conseguiu acertar dois tiros que entraram pela nádega do bandido e
foram se alojar próximo a base da sua coluna.
O
criminoso ficou ali parado, estático enquanto o homem saia se
arrastando do veículo, teve ímpetos de matar o criminoso, mas
disparou duas vezes para cima e no momento passava um carro que
chamou a polícia que levou o homem para o hospital, onde um grupo de
populares entrou e massacrou o homem, não deixando nem mesmo cinzas
daquele assassino.
Os
policiais tiveram apenas tempo de identifica -lo como Flávio, era o
zelador do cemitério e tinha sido largado pela esposa cinco anos
atrás, tendo sido suspeito da morte dela meses depois e da filha do
casal.
O
caso deu uma repercussão danada, e depois fomos mandados de volta
para a capital, o doutor Tenório e mais um assistente voltaram e eu
e mais outro ficamos.
Ainda
me encontrei outras vezes com o doutor, ele e eu acabamos nos
tornando amigos, e o engraçado era que quanto mais a idade passava,
mais mau humorado e viciado em café ele ia se tornando, ao ponto de
carregar numa pequena valise duas garrafas dessa bebida conservadas
para casos de viagens onde não pudesse beber o líquido por algumas
horas.
Acabei
me casando com a jovem que encontrei no cemitério e tivemos seis
filhos. Hoje estou aposentado do cargo de legista e escrevo essa
história a pedido de minha esposa, que ao olhar um álbum de
fotografias com as primas pediu para que eu não deixasse essa série
brutal de assassinatos cair no esquecimento.
Vivo
feliz numa casinha próximo a cidade de Morrinhos. Vez ou outra
quando os legistas não entendem algo ou precisam de alguém extra
sou chamado para ajudar e vou, mas minhas mãos já não são mais as
mesmas, adquiri Alzheimer e foi um trabalho penoso relatar isso que
vós escrevo, tive a ajuda do meu neto Marcos que me foi de grande
auxílio, escrevendo o que eu ia falando e digitando as histórias,
procurando nos arquivos da cidade, relatos sobre o caso que ajudassem
minha memória a voltar.
Espero
que sirva para algo essa brutal história, espero que sirva para que
todos vejam o quanto a morte é algo trivial, corriqueiro, que
aprendam a amar e a valorizar a vida.
Doutor
Isidoro Ambrósio Ferro e seu neto Marcos Paulo Arantes Ferro