terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Um Serial Killer em Morrinhos


(Nenhum dos fatos aqui narrados tem o menor compromisso com a verdade, sendo apenas uma história fictícia baseada em estudos sobre crimes de psicopatas famosos ao longo da história colocados num cenário de uma Morrinhos hipotética.)


 
A história por trás de cada assassinato é sinistra e horrenda.
Nenhuma morte por modo cruel vem sem um pouco de tortura e cinismo.
Eu sei disso por que lido com isso o tempo todo, sou um médico legista, na cidade de Morrinhos, no interior do estado de Goiás.
Me atrevo a escrever essa história, por que o povo tem a memória fraca e eu mesmo já não sou lá um menino e queria guardar para a posteridade a série de fatos que ocorreram a vinte anos atrás.
Uma sequência de eventos que marcou muito a cidade, mas que hoje se encontra esquecida, se tornando parte do passado macabro que envolve cada lugarejo no interior.
Um assassino serial matou vinte mulheres com requintes de crueldade extremos, amarrava suas vítimas e as amordaçava e então com um fio desencapado ia queimando aos poucos até formar uma letra numa série de cicatrizes que iam do seio direito até próximo aos quadris.
A meticulosidade do caso era intensa e nada era encontrado nas cenas do crime que pudesse ajudar a polícia na solução do crime. Eram tempos onde o serviço policial era muito dificultado, tanto pela notória falta de recursos, que ainda hoje persiste como também pela pouca quantidade de técnicas que poderiam ser usadas para se fornecer indícios para auxiliar as investigações.
Na época eu era um mero assistente de médico legista, meu trabalho era apenas medir e pesar órgãos, tomando cuidado para não errar em nenhum dos cálculos, visto que nunca fora bom em matemática.
Fui mandado para a pacata cidade de Morrinhos junto com a equipe do IML da capital, após o governador resolver ajudar, após a carnificina ter ido parar nos jornais da cidade e ter sido noticiada até mesmo em um jornal de São Paulo.
Chegamos a noite depois de uma longa viagem em um ônibus velho, tínhamos partido pouco depois das quatro horas, recebendo uma série de instruções do chefe da seção que nos contou sobre todo o caso.
Cinco jovens já tinham sido assassinadas em locais variados da cidade, todas de rosto angelical e aparentemente sem nenhuma ligação em comum.
A primeira tinha sido deixada num estacionamento próximo a prefeitura, com diversas escoriações pelo corpo, como se tivesse sido chicoteada até morrer, a segunda tinha tido todas as unhas arrancadas e tinha vários cortes pelo corpo todo, em pequenas incisões que pareciam ter perfurado diversas artérias, o corpo dela tinha sido encontrado próximo ao muro perto da igreja católica, estava nua e tinha sido amarrada de modo a ser encontrada numa posição que lembrava uma oração com as mãos presas e os joelhos atados com duas estacas de madeira.
A terceira moça era uma jovem professora, tinha sido vista pela última vez saindo do colégio as três da tarde e depois desaparecera por dois dias, seu corpo foi encontrado enforcado num carvalho próximo ao museu da cidade, tinha os pés e as mãos decepados, os olhos tinham sido perfurados e pequenas incisões no abdômen tinham posto para fora o intestino delgado com o qual o assassino tinha enforcado a vítima, esse caso era o mais interessante, pois a vítima apesar de ter o tórax a mostra, ainda estava vestida da cintura para baixo, ao contrário das demais.
A quarta vítima era uma prostituta conhecida em quase todos os cabarés da região, foi encontrada nos fundos da casa do juiz da comarca que no momento em questão estava fora da cidade, devido ao recesso do fim de ano.
Seu corpo tinha sido esfaqueado nas laterais em pelo menos quinze pontos, foi colocada nua em uma cadeira, tinha as pernas quebradas em vários pontos e seu corpo estava no quintal da casa do magistrado que entrou em contato com as autoridades da capital para que entrassem no caso, não sendo ouvido na época.
O quinto corpo até fora o mais grave, a filha do prefeito da época, que era casada com um importante deputado na capital foi atacada na fazenda do seu pai, nos arredores da cidade.
Os peões que ali estavam moravam num barracão ou em casas próximas e a empregada no dia em questão tinha ido a cidade mais cedo e devido a chuva não pudera voltar a tempo deixando a sozinha aquela noite.
Essa vítima era a que tinha mais detalhes e a primeira onde o bandido tinha começado a sua estranha prática de arrancar órgãos.
Ela tinha sido amarrada a uma cadeira, despida usando um facão, o bandido banhará o corpo dela com um vidro de álcool, encontrado na cena do crime e a levou para o lado de fora da casa, com uma mordaça e ali abriu o tórax dela e derramou uma garrafa de whisky dentro do corpo dela, encontrada na varanda, quebrada e retirou o fígado dela, deixando o órgão aos pés da jovem e depois ateou fogo a ela, que teve o corpo completamente incendiado, sendo encontrada por um peão que sentiu o cheiro da fumaça que já se alastrava pela casa por meio do piso, todo feito de madeira.
E após nos contar toda a situação lendo os relatórios enviados pelos policiais locais, o chefe da divisão da perícia olhou para cada um de nós e perguntou quem queria ir e que ele entenderia se alguém resolvesse se recusar, devido a situação e ao risco envolvido.
O doutor Tenório, um médico com aparência de Irlandês e uma seriedade a toda prova disse rapidamente que iria e saiu para atacar a máquina de café, eu que desde a infância era fascinado por romances policiais me dispus a ir junto e mais dois colegas recém chegados.
Ganhamos as passagens e embarcamos para a cidade, ao chegarmos a rodoviária que cheirava a desinfetante de um modo intenso, quase lembrando a um necrotério, fomos recebidos pelo chefe de polícia que nos levou para o que viria a ser o instituto médico legal hoje, mas na época era somente um prédio velho com alguma estrutura adaptada, com macas e aparelhos enferrujados trazidos as pressas de um antigo hospital.
Os cadáveres dos primeiros corpos tinham sido enterrados após um exame preliminar do legista da cidade, que não estava nos esperando na estrutura e que viríamos a conhecer somente quatro dias mais tarde, pois o mesmo não morava na cidade, por não gostar de barulhos e luzes elétricas, tendo comprado uma chácara próximo a cidade de Pontalina.
Fomos levados a um pequeno hotel, onde a prefeitura iria pagar nossas despesas ali.
O vereador que teve a filha assassinada veio nos ver na manhã seguinte e usando de um português macarrônico, muito formal disse que esperava uma solução do caso, num café da manhã ali mesmo no pequeno hotel, estavam ali os investigadores, peritos e nos, os legistas.
Doutor Tenório rapidamente saiu do local e nos o seguimos, no corredor que dava para a saída disse com sonoro mau -humor:
Os políticos ainda irão destruir tudo que tem vida nesse país”.
Fomos caminhando pelas ruas da cidade, por todo lado as pessoas nos viam e apontavam nas ruas. Nossa chegada tinha sido motivo de muita especulação.
Tenório detestava andar de carro, e nós que eramos seus assistentes, não podíamos desfeitear o mestre. Seguíamos por todos os lado com uma obediência canina, ouvindo cada palavra que ele dizia, afinal naquela época ele era a maior autoridade em medicina legal do estado e ouvi – lo era para nós uma grande oportunidade.
Chegamos ao local depois de uma hora e nós os assistentes, começamos a arrumar tudo, enquanto o doutor saiu para brigar com um secretário que tinha sido posto a nosso serviço o porque ali não havia café para todos.
Nunca tinha visto um médico xingar daquele jeito, o pobre secretário parecia diminuir a cada palavra e saiu rapidamente dali, voltando com uma garrafa que o doutor logo pegou parecendo trata – la como a um filho e num tom de deboche ainda disse ao empregado:
Espero que esteja bom, ou você vai se ver comigo!”.
Ao fim do dia tudo estava arrumado, tínhamos até tirado algumas goteiras do prédio, ajeitando o madeiramento na sala de autópsias que tinha algumas infiltrações na época, pedimos um pouco de cal e no dia seguinte terminamos a arrumação de tudo para o doutor trabalhar, enquanto ele lia o jornal e bebericava o café, soltando palavrões e sarcasmos a cada notícia da política.
Na época achávamos engraçado o comportamento do doutor em relação aos políticos e ríamos dos sarcasmos que ele lançava contra homens poderosos e do ódio genuíno que sentia pelos poderosos, mas ninguém sabia que o avô dele tinha perdido tudo após a prefeitura de uma cidade no interior de Minas resolver tirar as terras dele, jogando o ancião e sua família na miséria para vender as terras para uma mineradora.
A ação de reparação na justiça não deu em nada, além de um profundo ódio em todos da família pela política e por tudo que ela representa.
Passaram se três dias e nós já estávamos impacientes, esperávamos uma grande ação e ficamos ali parados sem saber o que fazer, um dos assistentes, um baixinho de aparência germânica chamado Carlos, ficava fora quase o dia todo e logo apareceu com uma namorada.
Mas nossa monotonia logo chegou ao fim. Foi encontrada mais duas jovens, eram irmãs filhas de um sapateiro. O pai tinha ido a igreja as duas tarde e a mãe estava com uma tia no hospital, a vizinha disse ter ouvido apenas um grito, mas como era meio surda pensou se tratar de uma briga entre as irmãs, algo comum quase todos os dias.
Fomos chamados para o local e ali chegando vimos uma cena que se eu fechar os olhos ainda consigo ver claramente.
Uma das jovens tinha o rosto dividido ao meio, o corpo estava no quintal, próximo a um pequeno cômodo, os policiais encontraram ali dentro o machado que fora usado para aquela brutal agressão, a irmã tinha sido encontrada na cama, os seios tinham sido arrancados e se encontravam na mesa de cabeceira, estava nua e tinha partes do corpo cobertas por um poderoso ácido.
Nas mãos foram encontrados sinais de luta corporal, e um pouco de sangue embaixo das unhas, sinal de que a vítima tinha conseguido pelo menos arranhar de maneira séria ao seu agressor.
Enquanto arrumamos os corpos e fotografávamos tudo, o professor com uma calma absurda ia de lá para cá, ouvindo aos interrogatórios, olhando a porta e as janelas, parecia quase não dar atenção ao corpo e só quando a ambulância levou os cadáveres é que voltou a atenção para nós e disse: “ Vamos embora”, disse ao dono da casa que logo iria fazer os exames e que em no máximo dois dias teriam os corpos para fazer o enterro.
Todos na casa estavam desolados e até mesmo os policiais pareciam se controlar para manterem uma compostura, visto que estavam bastante sensibilizados pela trágica morte das duas filhas do sapateiro.
Chegamos ao local de trabalho em quarenta minutos, o doutor rapidamente vestiu o avental e entrou na sala onde os corpos tinham sido postos.
Ele abriu as, retirando com cuidado as roupas de uma delas que ainda estava vestida e ia retirando órgãos e anotando cada lesão encontrada, desde pequenas escoriações na pele até os ossos esmagados.
No final do primeiro relatório ele abriu um parêntese onde colocou: “A vítima foi pega de surpresa, ela provavelmente não era o alvo, visto que foi deixada sem as marcas de torturas comuns.”
Na segunda jovem, Tenório pegou uma lupa e quase deitou os olhos em cada parte do corpo da jovem, trouxemos os seios que haviam sido retirados e todo o resto, ele apertava, cheirava, parecia absorto totalmente sobre o corpo, dando ordens vez ou outra para que pegássemos algum instrumento. Prestava atenção aos padrões das escoriações provocadas pelo ácido e anotou cada detalhe.
Foi um documento de pelo menos quinze folhas, onde sete eram dos detalhes técnicos e as demais eram notas, fui mandado assim que tudo terminou a delegacia para entregar o resultado do caso e dizer que se a família quisesse já poderiam pegar os corpos para o enterro.
O delegado recebeu os relatórios com certo espanto e até riu para mim dizendo “ Não é todo dia que um perito me manda relatórios mais bem feitos que meus policiais”.
Sai da sala, sem entender, sou meio lento para piadas e fui caminhando até o hotel, devido ao fato do doutor gostar de caminhar, em três dias já tinha na minha cabeça boa parte do mapa da cidade e conseguia me guiar por meio de algumas referências até o hotel e ao centro onde trabalhávamos.
As ruas estavam vazios, nada ficava aberto, nem mesmo bares. Não era possível escutar o menor ruído que fosse, poucas pessoas caminhavam nas calçadas e o faziam sempre em grupos, pareciam querer evitar a todo custo o assassino.
O medo era tanto que dois dias depois um rapaz querendo amedrontar a um amigo gritou socorro próximo a casa dele e logo uma multidão se juntou e ao saberem do caso por pouco não lincharam ali mesmo o jovem, sendo preciso a polícia intervir, prendendo o para sua segurança.
A família fez o enterro na manhã seguinte, Tenório compareceu e eu fui também, os outros três ficaram trabalhando, o chefe, como nós o chamávamos parecia estar atento a cada detalhe e a todo instante em que alguém lhe perguntava algo parecia dar pouca importância a pessoa, seus olhos pequenos iam de um lado para o outro por trás das pesadas lentes dos óculos que davam a ele uma impressão desconfiada, quase militar.
Vestia uma camisa preta formal que tinha uma camada de perfume muito forte, que parecia afastar as pessoas em volta deixando num canto próximo a uma garrafa de café que ele entre uma ida até o salão e outra acabará por secar.
Parou e prestou atenção por alguns segundos no zelador do lugar e depois saiu, eu fiquei muito tempo ali, tinha me interessado numa bela jovem de aparência frágil que estava num canto e chorava copiosamente.
Ela estava sozinha num canto e parecia destoar completamente dos demais por ainda ter um olhar inocente, quase doce, cheguei mais perto e comecei a consola – la, confesso que sou horrível para ser emocional, ainda mais que naquele momento eu estava fingindo, mas a minha falta de jeito era tamanha que fiz com que ela risse ao me referir a ela como senhora por duas vezes, uma risada tímida quase forçada. Conversamos por uma hora, e quando sai sabia mais sobre aquela família do que um mero relatório, tinha uma história completa das irmãs, pois a jovem era prima delas, não tinha os pais que haviam morrido em um acidente quando iam para Goiânia conseguir tratamento para o câncer de pulmão que sua mãe contraíra.
O doutor ao me ver chegar ao trabalho, quase duas horas depois, sorriu cinicamente e disse: “ Eis aqui um rapaz que tem o dom de ser desastrado em matéria de flerte” E riu batendo na barriga e nos joelhos, enquanto eu e os outros assistentes ficávamos sem entender.
Limpamos a improvisada sala de autópsias e esperamos. Passou se uma semana até acontecer mais assassinatos, só que dessa vez foram três mulheres de uma só vez e os requintes de crueldade eram tão bárbaros que chocaram até ao doutor.
Era uma família onde morava a esposa, o marido, o pai dela e a mãe dele, mais dois filhos, sendo uma moça de cinco anos de idade e um rapaz de dezoito.
Moravam numa pequena chácara próximo a rodovia, um local ermo e afastado da cidade.
O rapaz e o pai tinham ido para a horta, cuidar da colheita de verduras que iriam vender no domingo seguinte. Enquanto o avô tinha saído logo cedo para ir até a igreja, jogar dama mais o padre local, ficando lá até a hora do almoço, os três acordaram e saíram no mesmo horário, tendo voltando com pouca diferença a casa onde estavam, tinham saído segundo seus relatos por volta das seis da manhã, e voltaram por volta do meio dia, tendo visto a cena toda.
A mulher tinha sido enforcada e tinha o corpo todo esmagado, um profundo corte em uma das pernas tinha posto os ossos a mostra, a senhora idosa estava despedaçada em vários pedaços e a criancinha tinha sido queimada com ácido no rosto, mas ainda respirava quando foi encontrada pelo pai.
Rapidamente chamaram o padre que os levou de carro até o hospital, nenhum dos três saiu de perto da menina e se recusaram a sequer falar sobre o que tinham visto.
Dias depois ela veio a falecer, o pai e o avô acabaram se matando, um deu um tiro na cabeça e o outro bebeu tanto que acabou sendo atropelado enquanto atravessava a rua.
O rapaz após essa série de tragédias ficou louco e foi levado para um sanatório, onde até hoje ainda vive.
Eram dez casos e as pistas que tínhamos dado a polícia eram pequenas e poucos detalhadas, apesar do pesado relatório que o doutor tinha feito do caso, com quase noventa páginas, tudo era muito circunstancial até aquele momento.
Passou se três meses até o último ataque que veio a aumentar ainda mais o terror na cidade e que levou o assassino para a cova.
Era mês da romaria da Trindade e várias pessoas saíam em grandes grupos para pagarem promessas naquele centro religioso, iam a pé ou em ônibus em excursão para ali, e depois voltavam.
Um grupo de dez senhoras alugou um ônibus e passou três dias ali na cidade, o motorista um senhor bastante sério que coxeava era um policial militar, afastado do serviço após receber uma bala no joelho que tinha lhe tirado os movimentos da perna.
Era noite quando elas voltavam, o ônibus foi parado por um rapaz numa moto, que atirou num dos pneus, fazendo o veículo capotar, bem próximo a Hidrolândia, após fazer isso, desceu da moto, e atirou para todos os lados, poupando somente o motorista, que tinha batido com a cabeça, e não pode fazer nada para defender as senhoras, ali naquele barranco próximo a rodovia, pois perderá por quarenta minutos os sentidos.
Ele acordou no momento que o bandido já estava saindo do veículo que estava virado de cabeça para baixo, a porta estava com os vidros quebrados. O ex – policial ainda tinha sua arma de serviço que guardava embaixo do banco, rapidamente tateou em busca do coldre colado ali e quando sentiu sua trinta, puxou a ainda tonto e conseguiu acertar dois tiros que entraram pela nádega do bandido e foram se alojar próximo a base da sua coluna.
O criminoso ficou ali parado, estático enquanto o homem saia se arrastando do veículo, teve ímpetos de matar o criminoso, mas disparou duas vezes para cima e no momento passava um carro que chamou a polícia que levou o homem para o hospital, onde um grupo de populares entrou e massacrou o homem, não deixando nem mesmo cinzas daquele assassino.
Os policiais tiveram apenas tempo de identifica -lo como Flávio, era o zelador do cemitério e tinha sido largado pela esposa cinco anos atrás, tendo sido suspeito da morte dela meses depois e da filha do casal.
O caso deu uma repercussão danada, e depois fomos mandados de volta para a capital, o doutor Tenório e mais um assistente voltaram e eu e mais outro ficamos.
Ainda me encontrei outras vezes com o doutor, ele e eu acabamos nos tornando amigos, e o engraçado era que quanto mais a idade passava, mais mau humorado e viciado em café ele ia se tornando, ao ponto de carregar numa pequena valise duas garrafas dessa bebida conservadas para casos de viagens onde não pudesse beber o líquido por algumas horas.
Acabei me casando com a jovem que encontrei no cemitério e tivemos seis filhos. Hoje estou aposentado do cargo de legista e escrevo essa história a pedido de minha esposa, que ao olhar um álbum de fotografias com as primas pediu para que eu não deixasse essa série brutal de assassinatos cair no esquecimento.
Vivo feliz numa casinha próximo a cidade de Morrinhos. Vez ou outra quando os legistas não entendem algo ou precisam de alguém extra sou chamado para ajudar e vou, mas minhas mãos já não são mais as mesmas, adquiri Alzheimer e foi um trabalho penoso relatar isso que vós escrevo, tive a ajuda do meu neto Marcos que me foi de grande auxílio, escrevendo o que eu ia falando e digitando as histórias, procurando nos arquivos da cidade, relatos sobre o caso que ajudassem minha memória a voltar.
Espero que sirva para algo essa brutal história, espero que sirva para que todos vejam o quanto a morte é algo trivial, corriqueiro, que aprendam a amar e a valorizar a vida.

Doutor Isidoro Ambrósio Ferro e seu neto Marcos Paulo Arantes Ferro


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