quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Qual é o maior dos desejos que todos temos?


Viver.
É estranho ver alguém que está a caminho da forca escrever uma carta final para a família, um bilhete de despedida de um mentiroso a beira da morte.


Essa história começa com o meu recrutamento para o centro de inteligência da OTAN, como parte de um programa para a formação de novos agentes de espionagem.
Na época eu era apenas um consultor de história do museu da cidade de São Francisco e um amigo me deu a dica, era um colega do tempo da faculdade que tinha conseguido um cargo menor na secretária da OTAN em Boston.
Eu estava de férias e vi nesse teste algo divertido, não me dei conta do por que estavam realizando essa seleção.
Lembro que na época eu queria apenas me divertir um pouco e levei tudo como uma competição, passei em cada um dos testes apenas por instinto de pura competição e acabei ficando em primeiro lugar.
Após a competição comecei a ser treinado em espionagem, meu cérebro foi infectado por uma bactéria nanotecnológica controlada remotamente que poderia ser acionada por satélite caso eu fosse capturado e por incrível que pareça eu ainda não virei um vegetal, o que significa que eu estou em uma prisão no subsolo, protegida dos satélites que povoam os céus.
Mas acho que avancei um pouco no meu relato, meus primeiros trabalhos para a OTAN, foi no papel de espião na Síria, trabalhava disfarçado de médico da cruz vermelha, enquanto enviava dados sobre a posição das tropas do governo para a organização que as repassava para os rebeldes.
Consegui alguns êxitos e tudo parecia estar bem, até que outra agente me contatou, tinha fugido de um campo de escravas do ISIS e estava ferida, precisava de ajuda urgente.
Consegui um motorista que pegou ela nas ruínas de uma pequena vila, o trajeto de volta parecia estar perfeito, quando fomos avistados por um comboio de jipes cheios de terroristas, estavam numa colina próxima e logo que ela os viu começou a gritar pedindo para o motorista acelerar o carro, não entendi o por que daquele medo, eles pareciam estar longe, mas se aproximaram em instantes de nossa posição, pareciam se fundir a areia e em menos de dez minutos já estavam encostados no nosso carro.
Eu tinha comigo apenas uma pistola e dez carregadores, comecei a atirar seguidamente, não acertei nada.
A agente que eu salvei parecia balbuciar com medo estampado na voz, hassassin, hassassin...
Repetidas vezes, logo eles atiraram nos pneus e a partir daí não me lembro de mais nada.
Acordei numa cela, tinha pontos no meu crânio e tudo parecia estar girando, minha vista estava turva e mal conseguia pensar direito, depois de algum tempo é que consegui ficar em pé.
As paredes do local, eram parecidas com os bunkers que os soviéticos construíram na região, anos atrás, e que muitos consideravam como um mito, visto que somente um desses foi encontrado após o fim da guerra fria.
Uma luz no teto brilhava fraca, tudo ali parecia com um quarto normal, numa vasilha tinha água e num pequeno armário, uma muda de roupa, um pequeno banheiro estava anexo ao meu quarto.
Todo dia, eu recebia comida por uma porta, e a noite a vasilha de água era reabastecida, e uma nova muda de roupas era posta para mim no armário. Não conseguia ouvir ninguém e até duvidei da minha sanidade por algum tempo, mas resolvi não pensar a respeito, comecei a fazer exercícios físicos para passar o tempo e não surtar, e ao longo dos dias consegui fazer uma sequência de mil abdominais
Até que uma noite eu acordei e tinha um caderno aberto e um lápis em cima, e numa das páginas estava escrito, despeça se de sua família pois logo você irá morrer.
Escrevo essas palavras, dizendo que eu amo a todos vocês, e de onde eu estiver, estarei com seus rostos em meu pensamento.


Dia 1 .




Tudo parece meio insano, mas eu ainda estou vivo, as portas da prisão se abriram e não encontrei ninguém ali dentro.
Caminhei pelos corredores do bunker e tudo parecia deserto, as luzes se apagavam conforme eu ia avançando, junto a porta principal que estava aberta, encontrei minha arma, carregada e limpa e uma mochila, contendo uma jaqueta e um pequeno suprimento de ração de água.
Eu rapidamente peguei aqueles itens e sai dali o mais rápido possível, quando eu estava há uns vinte passos, ousei olhar para trás e nada mais existia além da areia do deserto.
Caminhei por várias horas, duvidando de minha sanidade, segui margeando as ruínas de um antigo templo, até chegar a uma vila saqueada pelos homens do estado islâmico.
Estava anoitecendo e eu tive de entrar, por que no deserto a noite é comum tempestades de areia que podem mudar todo o relevo e engolir espaços inteiros.
O local estava cheio de corpos, moscas pareciam dominar os poucos prédios ainda em pé, não consegui ver o motivo para isso até o dia seguinte.
Me deitei em um dos poucos prédios e ali passei a noite, exausto. Só no dia seguinte me dei conta que ali haviam corpos de combatentes do ISIS que haviam sido fatiados, e tudo parecia ser bem recente, visto que os corpos ainda não estavam em estado avançado de decomposição, era possível ver que em vários corpos haviam cortes precisos, como se a carne tivesse sido dilacerada por um instrumento cirúrgico.
E nenhuma munição tinha sido disparada, qualquer fosse o inimigo que os atacou o fez com tal precisão que não deu a menor chance para defesa.
Fiquei impressionado, mas não tive muito tempo para pensar, a fome começava a pressionar e toda minha mente estava a procura de comida.
Comecei a vasculhar os depósitos do que me pareceu ser o arsenal daquele grupo, quando escutei ao longe um barulho de carros se aproximando, logo estava cercado por tropas do exército iraquiano a caminho da embaixada americana.
De algum modo eu tinha atravessado a fronteira entre a Síria e o Iraque e havia chegado até o sítio arqueológico de Palmira, onde os extremistas mantinham uma base avançada de onde partiam para atacar Mossul e outras cidades no Iraque.
No caminho o comandante da tropa, me perguntou quem eu era e como havia parado ali, me identifiquei como sendo médico a serviço da cruz vermelha que havia sido sequestrado próximo a Damasco dias atrás.
Ele me olhou meio desconfiado e só então perguntou:
_ O que aconteceu duas noites atrás naquele lugar? Uma grande luz foi avistada quilômetros dali, e agora que fomos até lá vemos tudo destruído e só você escapou vivo, pode me explicar como isso é possível?
_ Não sei dizer eu estava preso num local afastado dali e fui caminhando até ali com alguma dificuldade, cheguei na noite passada portanto não tenho como saber do fato.
A minha resposta não deixou satisfeito ao militar, mas ele apenas se calou, pude reparar no entanto que a todo momento não perdia nenhum dos meus movimentos de vista nem me deixava sem escolta.
Cheguei em Bagdá seis horas após e logo fui levado para a prisão, me derão água e comida e me puseram numa cela minúscula, pelo menos não me tiraram a mochila, onde surpreendentemente estavam o caderno e o lápis com minha carta de despedida e rapidamente comecei a escrever tudo que havia me acontecido em poucas palavras, na esperança de ainda estar lúcido.


Dia 3


A embaixada americana foi avisada no dia seguinte e logo enviou um advogado que conseguiu me tirar da cadeia, logo fui levado ao prédio da embaixada e para minha surpresa, um dos chefes do estado maior, o General Charles Mac Taylor estava a minha espera.
Todos os agentes tinham um implante em seus corpos e quando eu sumi do radar eles ligaram o meu e o sinal passou a responder de outro planeta, mas após quatro meses eu voltei a emitir sinal da Terra e me tornei prioridade número de todas as agências dos EUA.
Só que naquele momento eu não sabia de nada disso, não sabia que eles tinham implantado uma bactéria nanotecnológica na minha cabeça que não iria apagar meu eu como também destruir toda a vida na cidade de Damasco caso os russos conseguissem vencer a guerra civil ao lado do governo Sírio.
Eu era o plano final e logo entenderia o por que da minha estranha importância, quando após uma entrevista acabei indo parar num interrogatório, onde fui afogado, espancado, eletrocutado, para saber a quem eu havia passado informações, e não adiantou muito dizer a verdade, eles não acreditaram em mim.
E só piorou quando a bactéria dias depois foi encontrada nos EUA, no sul da Califórnia iniciando um princípio de epidemia que logo se alastraria por toda costa sul, atravessando rapidamente as fronteiras e indo para o México e dali para o mundo todo, fui julgado por alta traição e levado para uma penitenciária militar de segurança máxima, não sei onde estão meus papéis e escrevo esse relato com papel de pão e um pedaço de carvão que tem na minha cela, estou na solitária, completamente isolado, toda semana aparece um soldado mandando eu contar e oferecendo a liberdade total.
Numa noite, fui tirado da cela por dois guardas e tive a real situação do mundo, o globo todo estava infectado, o vírus que estava em mim estava alterando toda a estrutura molecular da Terra, as pessoas estavam se transformando, alguns perdiam estatura, outros ganhavam força e resistência, alguns passavam a ter características reptilianas, o mundo inteiro mudou, nada mais é como antes, o vírus que estava em mim de algum modo foi retirado enquanto eu estava naquele bunker no meio do deserto, eu fui salvo da morte na mão dos jihadistas por alguém com poder e força para partir ao meio corpos, eu fui abduzido! Para outra dimensão.
Lembro que quando me levaram até a presença do presidente e tudo isso me foi contado, senti como se minha cabeça fosse explodir a qualquer momento. Sentia cada ponto no meu corpo pulsar em uma nova forma diferente e alguns instantes depois eu estava brilhando, a luz que meu corpo passou a emanar queimou minhas roupas e incinerou os corpos ao meu redor.
As correntes e algemas que me prendiam simplesmente derreteram, minha pele estava emitindo ondas de radiação tão fortes que eu tinha me tornado capaz de derreter uma parede com um só toque, nada fazia muito sentido na minha cabeça.
No mesmo instante um alarme soou em Houston no Texas, várias naves foram vistas a caminho do planeta terra, ao que tudo indicava nosso maior temor que por anos povoou a ficção científica estava prestes a acontecer: Uma invasão alien estava a caminho.




Os aliens chegaram em Melbourne na Austrália pouco tempo após o caso da prisão, o colapso de todo o sistema de governos caíram e todo o mundo se tornou uma perfeita anarquia.
O poder das corporações em alguns locais foi o mais próximo de uma ordem, Londres foi a primeira cidade a reviver, não mais como uma monarquia parlamentar, mas como uma corporação fluindo na defesa dos interesses daqueles que detinham o poder econômico.
A Austrália estava completamente incomunicável, nenhum relato foi transmitido do que estava acontecendo no novíssimo continente.
Mas ninguém se importava, por que todos tinham problemas maiores, os poucos humanos normais que ainda resistiam e tinham acesso as redes sociais postavam relatos absurdos de verdadeiras guerras civis dentro de cada cidade.
Alguns dos maiores chefes de estado e até mesmo o sumo Pontífice tinham problemas constantes com o gás que foi liberado e alterou toda a estrutura dos seres humanos.
Relatos de criaturas lendárias como dragões acordando no meio de florestas perdidas no Sul da América se tornaram comuns e a área ao redor das pirâmides começou a emitir estranhos brilhos, como se tivessem começado a pulsar em uma frequência que aumentava a cada minuto.
O medo e o pânico se espalharam quando vulcões começaram a explodir e o planeta, começou a esfacelar e o clima enlouqueceu, todo o sistema natural alterou se rapidamente, a vida do homo sapiens se tornou impossível e somente os híbridos passaram a sobreviver.
Uma nova era tinha começado e sobre os escombros da sociedade humana novas histórias iriam começar, para o bem ou para o mal um novo mundo tinha sido criado.



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