domingo, 24 de agosto de 2014
A Joia da Coragem.
A joia da coragem.
Quando sai de Avalon rumo a um novo tempo não imaginava que minha busca começaria de uma maneira tão intensa e nem que eu conseguiria ter em minhas mãos uma das relíquias mais poderosas do mundo.
Tudo nessa história é insano demais, mas não duvide, realmente é real!
O tempo é algo estranho e nem mesmo eu que viajo pelas diversas eras e períodos posso explicar tudo o que ocorre nessa entidade que emerge da ação humana e se mantém através dela num constante girar, por tudo e todos abrangendo tudo o que já houve e tudo o que ainda há de vir a ser!
Eu acordei e pela primeira vez não estava em algum descampado ou em um lugar no meio da sociedade humana protegido pelos meus poderes que sempre havia me permitido me esconder da sociedade como uma mera testemunha de eventos que por vezes, interferia em algumas ações mudando o curso do futuro mesmo que em linhas mínimas, mas o tempo é teimoso e gosta de seguir seu curso sozinho e naquele dia eu senti pela primeira vez algo de estranho em mim, uma mudança que quase foi letal para minha vida.
Ao acordar e abrir os olhos eu me vi num dos piores lugares do mundo: Em um campo de concentração nazista, na Polônia, durante a solução final proposta pelo maldito ditador Adolf Hitler, que queria exterminar todos os prisioneiros, livrando o mundo daquela gente que para ele era menor do que os arianos que ele defendia.
Colocado em meu pescoço estava um estranho colar incrustado com uma jóia vermelha, um rubi que emitia uma espécie de ruído enjoado que pouco a pouco ia entrando em minha cabeça como uma voz distorcida e bastante alterada.
Sem saber muito como sair daquela situação e quem fora o responsável por me colocar em uma cela de vidro, dentro da ala leste, alguns andares abaixo de onde os prisioneiros comuns eram mantidos em casebres imundos e frios encarando o gelo do inverno rigoroso.
Quando eu acordei todos na sala convergiram para mim e um dos meus poderes é o de entender a língua do tempo onde eu estou e assim pude perceber quando eles falavam do outro lado do vidro:
—O que será essa criatura? Disse um dos homens que parecia comandar aquele centro de terror
—Não seria melhor matar ele? Falou um homem que aparentava ser um cientista, pois vestia se com um jaleco em vez de um terno militar como todos os outros.
—Por um acaso está louco? O líder está vindo ver ele! E quer respostas do que seria essa criatura. Além disso, quando o capturamos uma mulher vestida toda de branco desapareceu na floresta há uns cinco quilômetros, portanto essa criatura deve ter algum segredo!
—Seria esse segredo, aquela jóia?
—Não sei! Mas quando meus homens tentaram tirar aquela corrente do pescoço da criatura acabaram mortos, fulminados por isso mandei uma mensagem pelo telégrafo para Berlim e em dois dias, ele será visto pelo comandante supremo.
Ao saber de, pelo menos, uma parte da história que havia ocorrido até o momento do meu despertar, pensei:
—Que ótimo! Tenho de dar um jeito de fugir daqui se não virarei brinquedo na mão de um sádico!
Tentei usar minha habilidade de me teletransportar, no entanto dessa vez ela não me obedeceu e de algum modo da jóia brilhou uma luz que pouco a pouco inflamou minhas mãos com uma chama mística e quando eu apontei as para a porta daquela cela um clarão foi pouco a pouco aparecendo naquela chapa de aço bem densa, passados alguns segundos o metal derreteu e tudo aquilo acabou virando uma mera massa líquida flamejante escorrendo pelo chão.
Quando sai da minha prisão, todos que ali estavam foram tomados pelo medo e logo a sala estava cheia de sentinelas e de algum modo eu poderia sentir todo o ódio que a mente deles carregava em relação aos prisioneiros que eram mantidos no nível acima, de algum modo a jóia me dava à capacidade de sentir as emoções das outras pessoas e isso era muito confuso.
Com a mente confusa por tantas emoções não vi quando eles começaram a abrir fogo e envolta de mim surgiu uma aura de fogo que transformava o chumbo de volta ao seu estado líquido criando em pouco tempo uma enorme poça de metal derretido aos meus pés.
Os homens ficaram parados após sua munição acabar e muitos soldados saíram dali chamando por reforços com o medo estampado na voz e o coração pulsando em velocidades absurdamente altas, os cientistas pelo contrário pareciam extasiados por verificarem a extensão dos meus poderes e em suas mentes tramavam várias formas para tentar me corromper para me usar em seus propósitos funestos de destruição e morte.
Era tanto ódio que eu podia sentir em todo aquele ambiente, tanto desespero e medo que minha própria mente ficou bastante perturbada e não conseguia mais raciocinar normalmente e assim acabei buscando a saída mais fácil que é limpeza de todo aquele lugar!
Não buscava ser herói nem mostrar nenhum feito digno de nota, só queria aplacar a dor que enchia meu peito num ritmo alucinante, queria alívio para todos aqueles sentimentos confusos que enchiam minha mente e quando consegui voltar a pensar com o mínimo de clareza tinha em minhas mãos um verme científico e pude ver seu passado ao olhar em seus olhos e num gesto de puro asco frente a tantas atrocidades cometidas por aquele homem que julgava válido matar em nome de ideais tão sujos como: nacionalismo e raça.
Eu que sempre sofri por minha aparência e fui forçado por meus poderes a viver escondido somente como uma testemunha da história, vivendo nas sombras como um pária.
Agora que ali estava pude sentir a dor dos meus iguais e um sentimento que até então não me importava tomou todos os meus sentidos e movido num furor eu parecia não pensar, somente disparava o fogo de minhas mãos na direção de qualquer soldado nazista qualquer um, desde o carcereiro até o vigia no alto das muralhas, que se divertia matando inocentes que ficavam para trás.
Quando um ato inesperado ocorreu, uns poucos soldados que ainda restavam se renderam diante de mim e vendo eles ali parados, confesso que minha vontade era a de purgar o mundo daquela raça ruim, mas não foi necessário agir, pois os prisioneiros vendo se livres puderam punir a seus captores com o devido rigor e roubaram suas armas e os levaram para as câmaras de gás para um destino trágico e simples: A morte.
Fiquei parado ali, com um pouco de alívio para a dor que afligia meu peito, mas os gritos dos inocentes ainda ecoavam pelos corredores e da terra partia um clamor por vingança por todos aqueles que haviam morrido em vão, o sangue deles clamava por punição e dos meus olhos saiam lágrimas em abundância que molhavam o chão ao meu redor enquanto os homens e mulheres livres eram saudados pelas tropas soviéticas que já avançavam rumo a Berlim e vieram libertar a todos eles.
A história real somente alguns homens sabem, mas o governo Russo receoso de perder seu prestígio lhes deu um ultimato para contar a história do partido que glorificava ao urso russo, mas fui eu por um acaso do destino que acabei libertando aqueles homens e mulheres que mais pareciam farrapos humanos, tamanha fora a tortura a que foram submetidos.
E mesmo no meio de toda a festa que se seguiu eu fiquei ali chorando os mortos, por horas sem que ninguém se lembrasse de mim ou viesse procurar saber qual era a razão do meu pranto.
Até que o senhor apareceu a mim e viu minha tristeza e disse:
—Filho meu! Quando lhe dei esses poderes nem mesmo podia pensar que as minhas mais belas criações poderiam se tornar tão más!
—Eu falhei como guardião da humanidade! Eu falhei como protetor da espécie humana! Tudo isso é culpa minha!
—Não é não! Os seres humanos são imprevisíveis demais e você faz seu melhor, levante se filho! E vá a luta, pois o verdadeiro mau ainda está por perto pairando ao seu redor.
E após dizer isso o senhor me deixou e assim eu me levantei e sai pelo campo até que vi próximo a um túmulo improvisado já fora daquele campo de morte, uma lápide improvisada com a seguinte inscrição:
- “Lute para ser livre! Acredite em Deus e nunca desista de sonhar.”
Uma rosa crescia ali perto e eu apanhei a e coloquei ali naquele túmulo e fiz uma pequena oração pelo morto, mesmo sem saber quem ele era, quais eram seus planos, se tinha pais ainda vivos, um amor e filhos. Não importava saber os detalhes eu só queria orar por aquela vida ceifada de maneira brutal.
Quando terminei minha prece, uma mulher ao longe numa floresta próxima estava olhando para mim, lembrei da fala dos cientistas nazistas de como eles haviam me encontrado e corri atrás dela com todas as forças que tinha, mas quando cheguei perto dela um portal se abriu aos meus pés e eu mal pude senti quando fui tragado para dentro da linha do tempo, mas dessa vez meu dia não tinha se acabado e eu não queria entrar, estava atrás de respostas sobre aquele estranho colar e queria saber por que meus poderes tinham se modificado.
Fui viajando pelo tempo cheio de dúvida, no entanto meio sem entender no fundo do meu coração eu sabia que veria aquela mulher de vestes brancas novamente no novo lugar para onde eu estava indo e dessa vez ela não me escaparia.
29 de abril de 1945, Berlim.
A cidade vive os últimos dias do terror nazista, o feitiço de Hitler começa a se desfazer e por toda parte os alemães acordam das mentiras verdadeiras mostradas por aquele homem que com um discurso maldito fez milhares de vítimas.
O fim da guerra é uma questão de dias e logo todo o império nazista será dividido entre os aliados e a Alemanha irá se tornar somente um território dividido entre as potências vencedoras.
O terror tomou conta da cidade, mas eu não estava ali para ajudar a ninguém!
Eu acordei perto do portão de Brandemburgo e conforme fui andando pelas ruas da cidade e vi no chão de uma rua afastada um jornal caído, provavelmente por alguém que fora se esconder dos bombardeiros que eram constantes por toda Berlim, peguei aquele pedaço de papel e apesar de sujo ainda era visível nele a data: 29 de abril de 1945, um jornal ainda recente e por isso eu sabia que dentro de algumas horas o homem responsável por toda a dor que eu havia visto naquele campo de concentração estaria se matando e não podia tolerar que um monstro como aquele pudesse morrer de uma maneira tão calma.
Parti imediatamente rumo ao Reichstag somente com ódio no peito e uma idéia na cabeça: Eu acabaria com Adolf Hitler e vingar os que morreram ali naquele lugar de onde eu tinha vindo.
Chegar naquela porta daquele prédio mesmo estando destruído era algo penoso, pois novamente muitas vozes gemiam ainda mesmo depois de mortas pelos horrores a que foram submetidas pela polícia secreta do regime que trucidou a todos eles das piores maneiras possíveis.
Os guardas não tiveram nem tempo de reagir, cheguei pela lateral e matei os com uma bola de fogo e não tiveram tempo nem sequer de perceber do que morreram, entrei pela porta da frente, não encarcerado, mas como alguém que vinha para explodir a Bastilha do medo e matar ao rei que tantos condenará.
Entrar por aqueles corredores era horrível para minha cabeça em cada sala pareciam surgir vozes que me atormentavam com seus gritos de dor, descendo pelas escadas até o bunker foi difícil, muitos soldados pereceram em meu caminho mas uma das balas acabou por me atingir na perna e cheguei ao local com sangue escorrendo pelos joelhos mas ainda disposto a cometer minha vingança.
Os subordinados que cercavam aquele monstro tentaram uma reação, porém logo os debelei quando peguei Joseph Goebbels que vinha tentando me atacar com um sabre que enfeitava a parede e num impulso de pura raiva o arremessei contra a lareira causando uma queimadura muito profunda no seu rosto que só não o matou, pois sua esposa que estava ali no recinto o retirou das chamas e com um carpete apagou as chamas.
Todos ficaram estarrecidos com meu rompante de fúria e ninguém mais se atreveu a me parar quando agarrei o monstro pelo colarinho e me preparava para matar ele ali mesmo esganado na frente de todas aquelas testemunhas quando novamente um portal se abriu e eu fora jogado para dentro da linha do tempo, mas dessa vez não era rumo aleatório que eu ia, partia rumo ao princípio de tudo, de volta a criação do mundo para poder ver ao pai pessoalmente.
Não havia percebido que aquela criatura também atravessou o portal, mas os mortais não podem ver o tempo e assim pude ver o seu corpo ser dissolvido ao longo da história, era uma punição justa por tudo que tinha feito.
Quando um corpo é despedaçado daquela forma sua alma também é destroçada por toda eternidade e passa a buscar os pedaços, por todo o tempo, em uma busca infrutífera e vã que vai matando pouco a pouco a energia que ainda resta até não existir nem mesmo um grão de mostarda da energia que compõe o corpo.
Fui arrastado pela linha do tempo até uma antiga cidade feita nas nuvens, no monte de Sião. Ali todos trabalhavam para criar o mundo tal como conhecemos. Milhares de anjos voavam por todos os lados, criando o mundo num ir e vir que parecia ser uma dança de tão bem orquestrado que aquela cena era.
Eu estava na entrada do templo quando vi no alto das escadas um homem que parecia admirar aquilo tudo, absorvido diante da beleza de toda aquela criação. Subindo as escadas eu cheguei face a face com o rei de todos os exércitos e rapidamente pus meu rosto no chão e fiquei ali numa mistura de felicidade e medo, pois a ninguém era permitido ver a ele sem que a morte lhe seja imputada.
Fiquei ali parado até que ele percebeu minha presença e disse:
– Novamente nos encontramos, peregrino e novamente você tem em sua mente culpas que mesmo sabendo seus motivos são difíceis de lhe perdoar!
—Levante – se e venha admirar a minha mais bela criação, eu não irei lhe matar, mas precisamos conversar!
Eu pouco a pouco fui me levantando aos poucos e de cabeça baixa fui olhando para todo aquele esplendor, olhar o mundo todo dali era algo tão lindo que não posso medir em palavras ou sons para dizer o tamanho da maravilha que aquela cena tinha.
Fiquei ali parado só contemplando, quando o ferimento em minha perna voltou a doer e cai novamente ao chão, a dor era forte e cai para trás clamando mentalmente por algum alívio para aquilo, acabei por cair adormecido e quando voltei a mim estava no mesmo lugar.
O ferimento estava melhor, mas quando fui me levantar para agradecer vi que uma perna estava menor do que a outra e percebi que agora eu precisaria mancar para me manter em pé.
Com alguma dificuldade me pus em pé e a cena da criação continuava, mas quando olhei para ele tudo que recebi foi uma resposta que mexeu comigo:
—Você por muitas vezes usou seu poder para o bem, mas em alguns momentos acabou sendo tomado pela ira e por sentimentos de sua natureza humana que ainda estão dentro de seu coração.
—Resolvi deixar sua perna dessa forma, para que você se lembre que apesar de ter nascido humano, sua missão é proteger a humanidade, eu perdoo as suas falhas e temo que a benção da imortalidade concedida a você por mim seja somente para lhe dar labor e tristezas, mas no caminho você encontrará o valor da humanidade e aprender que minhas criações sabem ser boas nos piores momentos.
—Agradeço lhe por perdoar minhas falhas mesmo não sendo eu merecedor e buscarei realizar daqui para frente realizar minha missão com mais força e coragem.
—Não lhe peço força, mas que você tenha paz. A força é a mãe de todas as guerras, por querer se medir contra a natureza, os humanos causarão a destruição da Terra, um dos mundos habitados em todas as galáxias.
—Por querer se medir contra seus vizinhos, farão guerras e por querer se considerar mais fortes do que os outros escravizarão há muitos as vezes até em meu nome se tornarão abomináveis da mais baixa categoria e creio que você possa ser a chave para salvar a essas criaturas de si mesmas, levante se e tome esta bengala.
_ Agora tudo muda, você poderá intervir diretamente na vida humana, chegou a hora de você agir por mais de um dia em cada tempo, contudo cabe lembrar a você que suas ações agora terão real impacto na vida dos homens e sua busca para dar um presente a um amigo pode ser deverás perigosa a você!
_ Vá! Agora! O tempo precisa de você que seu caminho seja abençoado. Depois de dizer isso me entregou uma bengala feita de um metal que eu não fora capaz de precisar que tinha na ponta onde eu apoiava o braço um pequeno domo em forma ovalada com uma pedra preciosa lá dentro e ao olhar para ela sabia que era a pedra do colar. Não havia como entender tudo o que eu estava sentindo, mas agora toda minha história parecia ter mudado frente aquele novo encontro que eu tive com Deus, senti muito por deixar aquela paisagem, pois assim que eu toquei no cajado voltei a linha do tempo rumo a uma nova história.
Mal eu sabia que naquele momento, terríveis exércitos abissais levantavam de suas tumbas, um mal que há muito tempo todos consideravam extinto mas que que agora tinha se levantado novamente para atormentar ao mundo.
Excalibur a espada sagrada do meu amigo Arthur, uma espada que eu e todos os que acreditam na lenda pensava ser algo vindo do passado, mas na verdade aquela arma fora forjada há milhares de anos no futuro e meio que sem entender eu pude perceber isso na minha próxima aventura.
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