Havia ainda alguma chance de tudo mudar!
Bastava ele conseguir chegar até o lugar marcado com aquela carga e o chefe iria lhe perdoar suas falhas.
A carga tinha vários papéis frios e era seguida a distância por um grupo descaracterizado da família, homens que ele pouco tinha visto nesses quatro anos que pertencia aquela organização.
Até que numa curva já atravessando a fronteira a carga é parada, os guardas cercam o caminhão e ele com medo acelera, não sabia o que havia ali, mas a segurança que tinha sido mandada comprovava que era algo vital, pois nunca o chefe arriscava expor mais de dois homens num mesmo plano.
Ao acelerar a carreta, logo uma perseguição se formou e vários homens da polícia foram mobilizados para perseguir aquele veículo.
Os policiais foram seguindo o carro até que chegaram os reforços em dois helicópteros e atiraram nos pneus da frente, desequilibrando o veículo e o fazendo desengatar da traseira e capotar diversas vezes indo parar no meio de uma ponte que estava a poucos metros.
A parte onde estava a carga porém foi atingida por um caminhão tanque que vinha na direção oposta e explodiu com o impacto, lá dentro a perícia detectou que mais de cinquenta pessoas eram transportadas ali, sem documentos ou nenhuma outra referência, aquele era um caso ao que tudo indicava de trabalho escravo e ganhou destaque em vários lugares aqui e no exterior, chegando até mesmo virem agentes internacionais de inteligência para pegar as pistas daquele caso e desarticular quem fosse o responsável por tal ato de barbárie.
O motorista sobreviveu a queda, porém ficou paraplégico e teve partes da mente afetadas no choque, sua família cuidou dele da melhor forma que podia, afinal todos eram pessoas com pouco dinheiro e na comunidade onde moravam tinha se dado uma ordem para quem não quisesse ter problemas: Abandone a família do imbecil ao relento, ninguém lhes ajuda com nada, mesmo que fosse muito pouco.
Somente alguns amigos daquela gente ainda estavam ali dispostos a dar um auxílio mesmo correndo riscos contra sua própria vida, estes estavam felizes em uma comemoração pela volta de Giovanni, o motorista do caminhão, ao lar, tinham umas quinze pessoas ali, quando um táxi parou e ele e sua mãe: a velha mama Hucheri sairão do carro e foram entrando dentro de casa, conversando com todos sem se dar conta que um carro da família tinha os seguido.
As ordens eram claras até demais, vindas diretamente do chefe:
_ Matem todos os malditos! Não quero mais ouvir falar de ninguém dessa família de malditos que pôs o mundo todo de olho nos meus negócios, entendido?
_ Sim, Dom!
_ Ótimo, o pagamento de vocês será feito após matarem todo mundo, durante a volta do desgraçado e queimarem a casa com os corpos lá dentro. Agora vão!
Eles tinham seguido o carro que a mãe dele tomará desde o hospital até a casa deles e agora atravessavam a rua em direção a casa, deixando um terceiro aliado no volante do carro em frente a residência.
Foi uma verdadeira chacina, todos foram mortos e queimados vivos, porém na hora que estavam saindo uma patrulha de polícia estava passando e começou um intenso tiroteio, onde no fim do confronto um dos bandidos estava morto, o outro gravemente ferido e o motorista do carro tinha se rendido sem disparar nenhuma arma e concordará em dizer quem tinha dado aquela missão.
Assim a polícia chegou a Dom Salazar Siknami, um Judeu - Italiano que tinha fugido para o Brasil após seus negócios na Sicília terem sido desbaratados pelas forças policiais.
Com ele foram encontrados vários documentos e gravações contendo propinas que ele pagou a políticos, cenas gravadas contendo atos obscenos de figuras públicas e muitas outras provas.
Seu julgamento foi televisionado para mais de dez países e quando ele entrou no tribunal faltaram cadeiras para seus advogados que naquela ocasião eram mais de cento e cinquenta, mas que conforme o processo se desenrolava foram aumentando até chegarem aos trezentos, por fim ele conseguiu escapar da lei, mas o custo tinha sido alto, as operações no Brasil estavam comprometidas, era hora de mudar de ares e assim que ganhou o processo tentou se evadir do país, mesmo ainda estando sendo investigado em diversos outros delitos ainda não julgados.
A polícia federal interceptou o no aeroporto e um de seus filhos quando viu a polícia cercando atirou na direção de uma delegada, atingindo a com um disparo certeiro bem no meio da testa, que foi fulminante para aquela mulher da lei.
O outro delegado que acompanhava o caso e era casado com a defunta descarregou as balas que tinha no corpo do assassino e os demais policiais entenderam que aquela era uma ordem para abrir fogo a vontade e assim metralharam com mais de duas mil balas o casco da aeronave, todos ali dentro morreram carbonizados quando o combustível do avião foi atingido e ele voou pelos ares, matando vinte agentes que estavam próximos e ferindo o restante com diversos níveis de gravidade.
Os policiais foram processados pela corregedoria, mas inocentados por falta de testemunhas contra eles e por tudo ter começado após a morte de um dos membros da equipe, o juiz entendeu que eles agiram passionalmente e assim a sentença foi miníma para todos: Ou foram transferidos para outras áreas, ou passaram a fazer serviços administrativos, enfim pequenas formas de punição para aqueles homens.
A imprensa caiu de pau, mas a opinião pública brasileira sedenta por ver o sangue dos culpados no patíbulo, os considerou como heróis: páginas criadas nas redes sociais sobre essa equipe, logo bateram o recorde de um milhão de seguidores, em questão de poucas horas, aqueles homens e mulheres foram de anônimos defensores da lei para verdadeiros astros super - star, cada um reagiu de forma diferente, mas um deles não gostou nada daquilo:
Valdir Alvares Cardoso, era delegado da polícia federal há pouco mais de dois anos, sua esposa Ana Cunha Cardoso com quem fora casado por mais de vinte anos é que tinha lhe incentivado a isso, por ver ele sofrendo na polícia civil por perseguições políticas a sua fúria implacável para pegar bandidos.
Ele trabalhou muito e passou no concurso com méritos e de que tinha adiantado? Agora ele estava de licença indefinidamente, o amor de sua vida estava morto e aqueles malditos repórteres infernizavam sua casa e quaisquer outro local que fosse para poder ter uma entrevista comigo, já tinha recebido até cantadas de repórteres querendo uma entrevista em troca de sexo, algo que tinha achado o cúmulo da baixaria com sua imagem, havia mandado todos os jornalistas se danarem e um mais atrevido que tinha posto a câmera dentro da janela para ver sua vida reclusa tinha ganhado uma surra muito bem dada, para aprender a não se meter.
A vida não tinha sentido e somente o álcool aliviava um pouco o vazio, mas ele não podia nem esmorecer e chorar, afinal ainda tinha sua filha para criar: A pequena Heloísa que agora estava na casa da avó materna, ela era o motivo pelo qual ele nas crises de depressão a noite não tinha metido uma bala na cabeça, nem matado aqueles enxeridos que tanto lhe importunavam, ele iria recomeçar em breve e voltaria com carga máxima a ativa para dar a sua filha um mundo melhor, não importa o que fosse necessário fazer.
Por praxe tinha o costume de olhar a caixa de emails todos os dias e naquela manhã, mesmo estando de ressaca ele reparou numa propaganda que estava bem abaixo das mensagens em geral de jornalistas querendo a tal entrevista.
Ele reparou na mensagem da companhia de viagens que estava escrita assim: “A vida pode ter muitos momentos difíceis mas uma viagem muda nosso ponto de vista sobre o mundo, venha hoje conhecer novos lugares”.
Aquelas palavras entraram em sua mente e após poucos instantes já estava entrando no site do banco e verificando que a poupança conjunta que eles tinham feito estava em mais de 100.000 reais, dinheiro suficiente para ele viajar e fez um pacote para conhecer a China, após conseguir alguns descontos e parcelar uma parte para pagar depois ele conseguiu as passagens, com direito a guia, hotel e um roteiro que provavelmente iria lhe trazer a melhora que tanto precisava naquele momento.
A viagem transcorreu sem nenhum problema, foram vinte e quatro horas de paz e sossego afinal poucas pessoas o conheciam e voltar a andar a luz do dia com paz e tranquilidade era aconchegante mesmo que a milhares de quilômetros de sua casa.
Os passeios eram tranquilos, ele se encantará com muitos objetos nos mercados antigos da antiga e milenar Xangai, conhecerá vários pratos estranhos mas principalmente tivera uma experiência de paz que pouco a pouco matou a saudade e durante todo o trajeto ele chorou por sua amada poucas vezes e foi durante um desses momentos de tristeza que lhe ocorreu um dos maiores encontros de sua vida.
Ele estava em um antigo templo budista quando olhando um lago com carpas lembrou se do momento que pedirá sua esposa em casamento e chorou como se nada mais pudesse fazer sentido, uma dor tão profunda que parecia literalmente cortar seu coração ao meio e sentado ali a beira do lago ele chorou e chorou, enquanto o grupo que estava se distanciava para adentrar no templo.
Perdido entre lágrimas nem notou a presença de um monge já bastante idoso que se aproximava e num inglês enferrujado pela falta de uso disse:
_ Quem chora assim como tu, provavelmente é alguém que perdeu tudo.
Ele demorou a entender as palavras do ancião, mas logo recobrou se do choro e disse com voz ainda nasalada:
_ Esse lago me lembrou do momento em que eu era o homem mais feliz do mundo, mas isso já foi a muito tempo, antes da morte tirar tudo de mim.
O homem ficou pensando e respondeu:
_ A morte tirou tudo de você? Por um acaso ainda não está vivo? Por um acaso ainda não está em condições de lutar por novos momentos felizes? Se o amor te abandonar, você ainda pode viver, a dor será imensa mas você ainda pode viver, no entanto se você deixar seu caminho, nada mais fará sentido.
Aquela resposta dita em um inglês devagar e pausado foram rápidas para lhe recobrar o ânimo mas na hora que iria responder algo, um barulho fez lhe virar os olhos e no mesmo instante o senhor ao seu lado em pé tinha desaparecido.
Olhou ao redor e só viu seu guia turístico lhe esperando abanando as mãos, lhe perguntou se tinha visto um velho perto dele e o homem com um risinho respondeu:
_ Você deve ter visto Buda, aquele lago é um local de adoração a ele e dizem por aqui que ele ajuda a todos os que choram mostrando sua verdade a beira do lago.
Aquela resposta comum para um Chinês que lidava com aquilo todos os dias, parecia até legal, mas para ele que estivera naquela conversa fora tudo tão real que aquilo não lhe saiu da cabeça pelas semanas seguintes, tomando todos os espaços e lhe dando a paz que tanto precisava para viver.
Quando a viagem terminou ele desembarcou em casa, ainda extasiado com as experiências e lembrando da lição que receberá. Agora com certeza concordava com o slogan daquela companhia de turismo: viajar muda tudo, até a mente das pessoas!
FIM
Marcos Paulo Arantes Ferro.
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