Goiânia ano 2200
O dia a dia de um policial é algo
completamente arriscado, viver na margem entre a vida e a morte é um
risco que todos sabem.
Famílias
desses profissionais estão sempre com a certeza possível de que a
morte irá chegar e isso é um tormento que os consome como uma
sombra de morte em meio as atividades do dia a dia.
Riscos são uma constante no dia a dia
profissional desses profissionais, que tem de lidar com ele e com o
medo da morte, uma constante de que não podem fugir ou negar!
A polícia no futuro ainda tem um
problema a mais para resolver, após a guerra civil que devastou o
Brasil como a um todo, não é fácil manter as pessoas de acordo com
as regras da lei e nem saudável, muitas áreas foram tomadas por
milicias e guerrilhas que tem seus próprios exércitos, a nação
foi dividida em várias seções e muito pouco sobrou da antiga
sociedade.
Apenas algumas cidades ainda seguem as
regras, seguindo leis e tendo uma constituição própria, nos demais
lugares o crime comandava!
Nos lugares onde ainda impera a lei,
manter os bairros mais pobres sobre controle envolve o uso da força,
as vezes até sem medida, para proteger a ordem, sem se importar nem
diferenciar com as pessoas comuns que vivem nessas localidades.
A violência é uma marca comum por
todos os lados, na rede neural o governo trava a imprensa e muito
poucos tem acesso a verdade por trás dos dados mascarados e ainda
conseguir manter se dentro da privacidade.
Entre estes somente uma garota de
quinze anos tinha criado um software contra tudo o que não era real,
uma estudante de informática avançada que tinha criado um novo
programa que permitia a todos burlarem os sistemas de monitoramento
em massa, permitindo que as pessoas usassem a rede sem serem
rastreadas.
Seu nome era Valéria Maria Perreira,
vivia no setor A-4, uma zona habitacional de baixo risco e foi
encontrada morta depois de disponibilizar sua descoberta para todos
por meio de um servidor para download e vários usuários em várias
cidades, incluindo aquelas em posse de poderes paralelos.
A menina estava nua, apresentava
sinais de estupro e o corpo tinha sido completamente quebrado, não
havia um osso inteiro do crânio aos pés, quem tinha feito aquele
crime queria ter certeza que ela sofreria muito.
Eu era o detetive da área e consegui
pegar várias provas contra o crime, câmeras na rua pegaram os
bandidos saindo do local, no entanto quanto mais eu entrava fundo
nessa história, mas acabava esbarrando nos agentes da força de
proteção, uma super – policia que servia ao estado político –
corporativo e tinha livre acesso para fazer qualquer coisa, sem
limites nem restrições. Além disso comecei a ser ameaçado por
telefone e na minha rede neural de acesso a matriz vários e –
mails mandando eu parar a investigação, todos sem remetente
rastreável ou qualquer dado que pudesse ajudar.
Meu nome é Máximo Gregório e minha
família tinha sido morta num acidente em pleno caos aéreo cinquenta
anos atrás, não tinham a quem ameaçar, não tinham a quem matar e
eu sinceramente abandonei o caso oficialmente, arquivando tudo por
falta de provas, mas na surdina retirei os dados da caixa de provas e
armazenei tudo em um pen – drive criptografado. Minha idade não me
permitia luxos como o de perseguir a polícia secreta em um estado
completamente a favor deles.
No final dos anos 2000 eu fui um
hacker habilidoso e um atirador de elite com certo esmero, fiz parte
de um grupo que reestabeleceu Goiânia como cidade controlado pelo
pequeno estado brasileiro.
Eu fui um herói recrutado entre a
escória mas que aprendeu desde cedo que não havia mentira maior do
que servir aos bandidos em meio ao caos. Minha visão mudou depois de
que vi como dói perder minha família, mas já fazia trinta anos
desde que isso ocorreu e de lá para cá perdi muito de mim mesmo.
Eu tinha velhos contatos na rede e um
acesso seguro para falar coisas indesejáveis, coisas como o software
de Valéria e logo entendi que com aquela proteção online, grupos
terroristas agora tinham uma fonte segura para abrir novos ataques ao
governo e isso tinha deixado o ministro da defesa furioso e por isso
tinham matado a garota com maior futuro em toda a história da bio –
informática dos últimos 100 anos, por que ela tinha criado algo
livre demais.
Meus antigos contatos eram
guerrilheiros hoje em dia, mas no passado tinham sido parte do
governo, nos eramos culpados por aquilo e eu estava tomando o rumo em
direção a destruição da besta que ajudei a moldar.
A família da moça foi morta quatro
semanas depois em um acidente envolvendo um ônibus tripulado
automaticamente que de uma hora para outra deu um problema no sistema
de aceleração e acabou saindo fora da pista, jogando a todos em um
despenhadeiro a mais de mil quilômetros por hora.
Ninguém investigou isso, foi apenas
mais uma falha e a empresa pediu desculpas publicamente, uma semana
depois nem mesmo os mais afoitos por notícias se lembravam do caso.
Eu era um dos poucos que tinha essa
mania de querer me lembrar e de fazer conexões entre um crime e
outro, tal como uma máquina, avaliando os padrões e vendo as
possibilidades.
Todas as testemunhas do caso sumiram,
todos os dados sumiram, todos que sequer tinham contato com a garota
foram desaparecendo e eu fui o último sobrevivente, o único que
sabia, mas na cabeça dos meus inimigos, eles tinham me feito parar,
me calado e eu não seria um problema.
Mas eu ainda era um problema e
consegui através de uma rede que disfarçava o endereço cerebral
para acesso a matriz universal da internet, com o uso dessa
ferramenta totalmente ilegal consegui acessar um servidor pirata que
rodava o software da garota morta, os arquivos estavam intactos, sem
vírus ou ameaças e o servidor mantido por um grupo de guerrilheiros
ensinava a instalar o programa mental substituindo aquele que era
instalado em cada uma das mentes humanas aos cinco anos de idade
ainda na escola primária.
Eu segui passo a passo o que era
necessário e depois de anos sendo rastreado, estava livre para
pensar sem que o governo rastreasse a mim, estava livre para ser eu
mesmo, era assustador e ao mesmo tempo uma das melhores coisas que já
haviam me ocorrido, eu com mais de cinquenta anos poder voltar a ser
livre, pensar palavrão, xingar autoridades que eu sabia serem
corruptas, tudo sem correr o risco de ir parar no paredão ou de ser
transformado em um meta – zumbi nas fábricas de reciclagem que
viciam seus internos em poderosos controladores neurais que permitem
transformar qualquer homem ou mulher num fantoche. Muitos destes
escravos trabalham durante o dia e a noite fazem filhos para as
famílias mais ricas, onde os homens nasceram estéreis devido a
exposição espacial que muitos entre poderosos sofreram quando a
possibilidade de uma ida para o espaço foi cogitada para os que
podiam pagar, no entanto a viagem foi um desastre e muitos ricos
acabaram impossibilitados de ter filhos após as naves que levariam
esses novos senhores do paraíso espacial, como a propaganda
prometia, para o seu novo Éden tecnológico, na verdade acabou
levando os de encontro a uma supernova atômica, uma onda de energia
que não os matou devido aos escudos da nave, mas vaporizou pelo
sistema de ventilação uma onda tóxica que fez os sobreviventes
desenvolverem várias patologias, desde mutações sérias nos casos
mais graves, até a infertilidade para aqueles mais sortudos.
Os escravos eram a base da cadeia de
trabalho, os piores empregos e as mais arriscadas posições eram
feitas por estes zumbis e depois de conseguir me libertar resolvi que
iria fazer o mesmo por estas pessoas, que eram alvo de risadas dos
cidadãos comuns, que riam de sua condição e até mesmo batiam
neles que docilmente não reagiam.
O servidor que alimentava os de
códigos podres para manter seus cérebros completamente inoperantes
ficava em Anápolis e era responsável por toda minha região, eu
pedi férias alegando problemas de saúde, já devidamente atestados,
afinal meu joelho doía a cada passo desde que eu tomei dois tiros em
um atentado ocorrido contra a vida do antigo presidente.
Assim fui para Anápolis e por meio do
programa da garota, consegui reunir um grupo grande dos meus antigos
companheiros para um ataque virtual ao servidor derretendo os
sistemas de defesa para podermos acessar os dados e libertar aquelas
pessoas.
Quando um usuário entra na rede
desabilita ao mínimo necessário as funções de seu corpo e ativa
um avatar na rede, uma persona com poderes bem básicos que são
rodados junto ao programa que os leva a rede, o servidor a ser
invadido era um cio – ice – beta, um sistema de segurança
preparado para fritar avatares e assim destruir nossos corpos que sem
nossa mente ficam verdadeiras cascas vazias.
Reunimos virtualmente no portão do
servidor, um firewall completamente protegido que tinha a função de
não deixar pessoal não autorizado ter acesso aqueles dados, um de
meus companheiros, O Dozzernt, um avatar grandalhão tinha carregado
o powerbomb, um programa que infecta a muralha com uma série de
vírus fazendo o código de proteção explodir abrindo a entrada
para o servidor.
_Os computadores daquele lugar devem
estar apitando como loucos pensei enquanto rodava o programa samurai,
que me permitia usar duas espadas e cortar para valer aos meus
inimigos, por sorte estava em um hotel bem chique e tinha dado ordem
para ninguém o acordar! Por que quando aquilo acabasse ele iria
dormir muito devido ao cansaço mental.
Todos os outros avatares ali reunidos
usavam seus programas de ataque, foi uma luta insana, algo como Davi
versus Golias no mundo digital, no fim apenas alguns poucos
conseguiam chegar até o servidor final, uma pequena parte da equipe
que não tinha sido fritada durante a luta.
Era necessário agir rápido, pois tão
logo a polícia soubesse iriam apagar aquele servidor da rede e tudo
estaria perdido, e assim todos os sobreviventes rodaram o último
código que libertava os escravos, reativando suas mentes e
desativando neles os chips computadores que permitiam a entrada de
dados vindos da rede. O código foi um sucesso e em poucas horas,
escravos na região inteira estavam completamente livres e uma
infecção nos centros de controle das regiões governistas estava se
alastrando.
A missão tinha sido concluída e os
que cairão em combate foram deletados juntamente com os dados de
posição geo global de cada um dos envolvidos.
Passados dois dias de muito luxo e
mordomia, resolvi visitar ao hospital onde um amigo meu vivia
internado desde que tinha tido uma batalha contra os terroristas da
mão da salvação e acabou com parte do cérebro deletada, o que lhe
deixou em uma cadeira de rodas sem capacidade para mover nada da
cintura para baixo, algo que ele não importava muito, exceto a
atividade sexual de que sentia muita falta.
Ao sair do hotel para ir ver a este
meu amigo, notei uma presença estranha que destoava do resto do
ambiente, um estranho carro com aparência diferente do que havia no
restante da paisagem, fui andando até um ponto de aerobus e aquele
carro estava parado juntamente comigo ali no nível um, há trezentos
metros da superfície, o carro foi me seguindo por todo o trajeto e
quando sai do veículo próximo a clínica onde meu amigo estava
internado no sexto nível, dois agentes passaram de carro e
dispararam uma arma laser direto nas minhas costas, no entanto não
me mataram naquele exato momento e nos poucos segundos que meu corpo
resistiu consegui carregar meu cérebro para a rede e assim consegui
sobreviver, meu corpo morreu mas a revolução pela qual eu lutei
ainda não!
Agora a guerra civil que devastou o
Brasil está de volta, não há mais escravos, agora o fogo vai cair
para purificar toda essa imunda nação e teremos de volta o sonho de
conseguir um lugar justo e pacífico.
Você deve estar se perguntando: Como
ele consegui escrever estando sem um corpo humano para acessar um
modo de entrada e saída da rede?
Eu me fundi a rede neural e fui
aprendendo sua estrutura, conheço cada linha do código que compõe
a matriz e consegui criar com alguma ajuda de meus antigos aliados,
um vírus que permite ao meu código enquanto avatar capturar outros
usuários e tomar o controle da mente deles me dando permissão para
voltar ao mundo dos vivos.
E foi assim por exemplo que eu
consegui invadir o sistema da presidência e mostrar para toda a rede
que os gastos do governo estavam elevados por que muitos
parlamentares gastavam verbas destinadas ao povo com strippers em uma
boate no centro de Brasília e assim por diante, eu não era mais
Máximo Gregório, agora eu era o Hackeador mental, um vírus vivo
capaz de acessar qualquer sistema de rede no mundo e no universo, eu
sou a última esperança da verdade, o terror dos ladrões e o
inimigo dos corruptos.
Conheça a verdade e ela te libertará!
Como voltei ao passado?
Na minha primeira história contei a
vocês como eu consegui me tornar o hackeador mental, o modo como meu
assassinato no mundo físico me deu a possibilidade única de levar
minha mente para a rede e assim lutar nos servidores revelando a
podridão do governo que eu tinha ajudado a criar.
Eu destruí diversas bases militares
do governo dando a chance dos rebeldes contra atacarem em diversas
frentes e assim libertarem populações inteiras do jugo do mal
Na minha jornada fui adquirindo vários
conhecimentos sobre os sistemas dos meus adversários e as principais
descobertas que eles haviam feito que permaneciam ainda desconhecidas
para a maioria das pessoas
Códigos virais, armas de destruição
planetária e outros armamentos que eram feitos com o aval da
confederação do Norte que mandava para cá as pesquisas que iam
contra a constituição deles, por ser aqui um estado decadente e
problemático que não se importava até mesmo em testar soros
radioativos em suas populações como o ocorrido em Varginha no ano
de 2100, onde foi jogado um protótipo do soro para alteração do
DNA nas águas da cidade matando milhares de pessoas.
Nessa minha primeira cruzada por
conhecimento um projeto era recorrente em minhas pesquisas: Destino
manifesto, uma base militar onde estaria sendo testado uma série de
componentes novos, não sabia o que estava sendo feito, mas minha
intuição me dizia que ao descobrir isso poderia achar uma grande
fonte de poder.
Mantive me conectado na rede do
governo, invadindo dados e pegando arquivos enviados de modo que duas
semanas depois consegui chegar até um servidor de dados que continha
um endereço na matriz onde estavam os dados relativos ao processo.
Chegar até esse servidor me deu um
trabalho danado, foi preciso rodar o meu programa básico, que
mandava meu corpo entre diversos servidores, mas de uma maneira
criptografada de modo que o servidor do lugar não percebesse se
tratar de uma ameaça até que eu já estivesse lá dentro.
Comecei o processo e logo fui
detectado, no entanto os sistemas de defesa não conseguiam me
destruir e assim pouco a pouco fui entrando no servidor, meus
programas mentais de ataque demoraram a rodar e tive de ir correndo
em meio a uma montanha de dados e metadados sob fogo cerrado dos
programas de defesa que usavam um sistema que dava lhes o poder de
queimar a mim e aos dados do lugar, fritando o invasor ou aquilo que
ele veio buscar.
Depois de quase meia hora já estava
ficando meio sem lugares para me esconder, por sorte o programa de
ataque terminou de ser baixado e assim consegui contra – atacar,
rodei uma espada de códigos e fui combater as bestas.
Para aqueles que não fazem ideia de
como isso funciona, pense nas lendas medievais onde um guerreiro
enfrenta sozinho milhares de inimigos monstruosos, dispostos a tudo
para acabar com sua vida, é quase a mesma coisa, com a desvantagem
que um guerreiro abatido ainda pode ser salvo e no mundo digital
quando se é destruído acaba todas as chances.
A luta foi feroz, arranquei a cabeça
de um dos defensores e lancei no corpo um programa de controle de
modo a torna – lo um zumbi e ele partiu para cima dos demais
programas enquanto eu ficava de longe atacando os meus adversários
já enfraquecidos, acabou se a batalha e as portas estavam abertas,
no entanto atrás de lá pude escanear que havia mais inimigos e
piores em inteligência. Assim rodei um programa bomba no meu
sistema neuro – digital e enviei para a segunda porta como um
protocolo do próprio sistema.
O resultado pode ser sentido quando os
dados do servidor começaram a entrar em colapso e tudo começou a
ruir, as paredes de dados começaram a se quebrar e eu tive poucos
minuto para acessar o lugar descobrir o nome e a localização do
projeto e dar o fora, por sorte eu tive exito em minha missão e
consegui me enviar para um servidor seguro poucos segundos antes do
sistema de dados se esfacelar, digo sorte por que os programadores do
governo lançaram um mega ataque em meio ao caos para se livrarem de
mim com o uso de vírus com IA para afetar meu código fonte, no
entanto eles não contavam com a capacidade singular que eu tenho de
absorver dados e aprender com eles, não sendo afetado por suas
funções nocivas.
E assim consegui sair daquela
armadilha bem e fui direto para a localização obtida, após
triangular a posição daquela instalação militar, localizada no
alto da serra do mar, protegida contra quaisquer tipos de ataques,
uma instalação que em tese estava abandonada, mas quando verifiquei
o redirecionamento de energia da estatal, ali ainda era alimentado
por quase duas usinas de fusão com pequeno porte e tamanho.
Invadi a mente de uma série de civis
de áreas próximas conduzindo me cada vez mais para perto do lugar,
até chegar bem próximo ao invadir um agricultor que tinha um
pequeno chip para saber informações climáticas, ele pouco sabia,
mas estando sob meu controle, ele invadiu a instalação usando um
carro onde transportava suas verduras pelos céus e enquanto ele
furava os diversos bloqueios militares recebendo diversos tiros eu ia
escaneando o local em busca de algum servidor onde pudesse me
instalar, vários galpões não tinham nada além de maquinário e
armamentos, mas em um canto daquele platô havia um sistema de
refrigeração e para lá eu migrei meus dados, pouco antes da mente
do camponês dar curto devido aos disparos que tinha recebido em seu
corpo.
Consegui carregar o principal do meu
código, perdendo alguns dados durante o envio pela mente do rapaz
ter apagado quando ele parou o coração pelo choque dos lasers,
agora eu estava praticamente sem programas em um servidor que pensava
ser perigoso e mortal.
O lugar realmente estava desativado
temporariamente, após um dos testes para a máquina ali projetada
ter dado errado. Invadi os computadores onde relatórios ficavam
armazenados para consulta e o que vi quase me fez perder alguns
dados: Ali dentro daquela base, havia uma máquina do tempo sendo
testada um protótipo que precisava de ajustes, mas segundo eu pude
calcular tinha grandes chances de levar as pessoas ao passado de
fato!
Mas os esforços deles eram
direcionados na transmutação de pessoas em dados, algo impossível
para corpos compostos de carbono, mas para mim que sou apenas uma
reunião de códigos isso era real.
Reativei a base de dados da máquina e
por meio de alguns programas lançados através de minha mente,
consegui religar os sistemas de energia que ligavam aquela máquina,
os militares ficaram atônitos até perceberem que eu estava no
controle de toda a situação, mas quando o fizeram já era tarde e
eu carreguei toda minha consciência no programa da máquina e me
transmutei para o passado, sem muito rumo ou sentido.
Viajar pelo tempo na minha condição
corporal não é lá muito complicado, o transporte de dados pelo
tempo afeta os pacotes que me formam de modo que ao chegar no passado
eu estava um pouco diferente, tinha ficado verde e meu código agora
parecia imbuído de energia, como se eu todo fosse um traje de
energia e mais do que isso quando voltei ao ano de 2014, tinha
novamente um corpo onde habitar, em escala de um vírus, num mundo
tão primitivo que ainda necessitava de máquinas para se acessar a
rede de computadores que também era muito primitiva.
Eu estava me sentindo como se voltasse
para as cavernas, cercado de aparelhos antiquados e pessoas idiotas
que faziam guerras para decidir qual Deus é melhor quando na verdade
nenhum deles pode ser comprovado em preceitos lógicos, pessoas que
vivem em total dependência de energia e que quando está acabar
venderam tudo o que tem para conseguir manter sua vida normal. Não
me chame de cínico mas ver a sociedade de vocês, foi desalentador,
pois pensei que no passado acharia um lugar melhor do que minha
realidade, mas eu me enganei redondamente.
Cheguei nesse tempo e fui logo me
atualizando, consegui entrar no corpo de uma jovem bióloga que
tentou salvar um gato na avenida onde eu aterrissei e acabou pisando
em cima de mim, foi uma viagem épica até eu adentrar pelas
reentrâncias do solado da bota dela e infectar seu pé, passei pelas
camadas da pele até chegar a corrente sanguínea, onde após
derrubar o sistema de defesa do corpo dela em uma luta brutal, onde
acabei eliminando quase todos eles, consegui chegar ao coração da
moça, senti fome pelo esforço feito e para saciar me absorvi o
sangue dela em uma larga quantidade, conseguindo assim estudar a
composição do DNA de minha hospedeira.
Passei a entender todas as falhas
daquele código, os erros que fariam ela no futuro ficar doente,
velha e chegar a morrer, entendi a forma como o cérebro trabalha e
como o sistema de memória nos humanos consegue ser tão falho,
decidi ir adentrando pelo corpo dela até dominar a maior máquina de
código do mundo: O Cérebro!
Chegando ao sistema cerebral, tratei
logo de implementar algumas melhorias naquele corpo onde eu estava,
ajustando o para obter mais poder, força e vitalidade.
Enquanto eu estava dentro do corpo da
bela Mariana Ferrara, fui influenciando suas ações, sua vida,
escolhendo por ela as melhores opções e lhe dando as qualidades
necessárias para ascender em todas as esferas de sua vida, no
entanto eu precisava de um corpo só para mim, um corpo que fosse o
ser humano mais perfeito que já existiu e assim, depois de quase
oito anos dentro do corpo daquela jovem bióloga decidi que era hora
dela engravidar! Assim eu teria a possibilidade de fundir meu código
ao corpo da criança tornando perfeito.
Arrumei um pai perfeito, fiz os dois
se apaixonarem e conduzi mentalmente todo o romance até o momento em
que os dois tiveram a a primeira relação sexual, intensa e quente,
naquele instante eu estava no útero dela e transferi meu código
para o óvulo fecundando, infectando o com minha programação, refiz
cada cromossomo, alterei cada detalhe para aquela criança ser um
humano tão especial que comportasse toda a magnitude da missão que
eu esperava cumprir no passado.
E assim a criança foi crescendo
dentro daquele útero, seu cérebro seria excepcional, ele teria
minha consciência e conhecimentos acumulados por décadas, além
disso seu corpo seria forte como uma rocha, capaz de aguentar
impactos maiores do que um humano comum, isso aconteceria por que a
estrutura de seus ossos seria toda revestida por uma camada de ferro,
permitindo que ele suportasse até mesmo balas de baixo calibre sem
ter os ossos afetados, o coração da criança iria bombear sangue
duas vezes mais rápido, aquele corpo iria necessitar de mais energia
pelo fato de que o metabolismo dele seria mais rápido e eficiente,
permitindo que ele consiga realizar grandes atividades sem muito
esforço, mas forçando o a dormir mais em vista de pessoas comuns.
Os nove meses se passaram tão rápido
que nem percebi, a criança cresceu forte e saudável carregando
minha essência em seu ser, ele não envelheceria acima dos dezoito
anos e suas defesas já estavam programadas para defender aquele
corpo contra toda sorte de doenças.
Eu deixei uma pequena parte inserida
dentro do corpo de minha primeira hospedeira, um código na mente
dela que a tornaria protetora para com a criança ao extremo de modo
a defender minha nova casa contra os riscos que eu correria até ter
idade para me defender e alimentar sozinho.
No dia do meu renascimento, me senti
fantástico, vi a luz do centro médico e mesmo com meu cérebro
ainda com pouca capacidade, consegui calcular a quantidade de luz que
era necessária para prover aquela iluminação, além disso olhei
todos no centro médico e percebi seus padrões de ondas cerebrais
que variavam entre ternura para comigo e cansaço pelo exaustivo
trabalho de parto que realizaram e por fim antes de dormir novamente
verifiquei o homem que eu tinha escolhido para ser meu pai num canto
quase ao ponto de desmaiar de emoção! Achei aquilo engraçado e dei
um chorinho olhando para ele, o que fez meu pai cair duro e precisar
ser levado para tratar a queda de pressão súbita!.
Daquele dia em diante eu me tornei
Marco Ferrara, um garoto excepcionalmente genial que dormia demais
para o restante da família, que realmente não importava, logo aos
três anos já sabia programar, física, matemática avançada e um
pouco de filosofia, aos cinco já sabia de cor a história da
humanidade até aquele momento, tinha noções avançadas de anatomia
e criminalística e assim a cada ano eu ia desenvolvendo mais e mais
até chegar o momento exato do meu ápice evolutivo.
Espero que tenham gostado dessa
segunda parte de minha biografia, dentro de alguns dias contarei mais
histórias sobre minha vida...
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